22 de janeiro de 2009

Um primeiro olhar sobre Moçambique


Edmilson Semedo
Itoculo


























Passaram já quase 3 meses da minha chegada a esta terra maravilhosa, e quero partilhar convosco a minha primeira impressão, ou, como diriam os poetas, dizer um pouco daquilo que me vai na alma. Desde já adianto que não tenho jeito para criar lindas prosas, mas saberei transmitir o que estou a viver nesta abençoada terra africana.
Depois de uma longa viagem, desde Lisboa, eis que aterro em Nampula, onde saboreio o meu primeiro jantar em Moçambique, a 23 de outubro de 2008. De seguida, tomo a estrada de Itoculo, na companhia dos padres Pedro e Damasceno. Mais uma longa viagem, desta feita de carro. Era já noite e as trevas dominam as aldeias, sem luz pública, e de um lado e de outro, só se viam palhotas e as pessoas que caminham, umas a pé e outras de bicicleta. Mais ou menos duas horas do início da viagem, paramos no centro da Carapira onde decorria a reunião do conselho diocesano da pastoral. Passamos lá duas noites, tomamos o caminho de casa, com direito a uma breve passagem pela vila de Monapo, a “capital” do nosso distrito. Ao meio da manhã, chegámos a casa. Começa o primeiro contato com as pessoas, as primeiras apresentações, os primeiros nomes difíceis (que ainda hoje não fixei a todos). O ambiente era de festa (mas não por causa da minha chegada), visto que no dia seguinte era a celebração do aniversário da profissão religiosa das irmãs Alice (bodas de ouro) e Adelaide (bodas de Prata). A celebração da Eucaristia espelhava o ambiente de festa que se vivia. No fim da celebração, os jovens que estavam responsáveis pela animação da festa aproximam-se de mim para me ensinar as primeiras palavras na língua macua. Passou estes tempos e comecei a inteirar-me da vida da paróquia, e claro, o que nunca falta é muteko (trabalho), mas tudo corre maravilhosamente, pois enquanto há vida, há lida (trabalho). Há sempre tempo para uns toques de bola, com os jovens daqui.
Nestes 3 meses não posso deixar de dizer que o povo me aceita com muita abertura e simplicidade, que é uma das muitas caraterísticas deste povo. Uma das perguntas frequentes que me fazem é «onde fica Cabo Verde?» ou «Cabo Verde é aqui em Moçambique?». As crianças estão sempre contentes e eu gosto sempre de lhes dar “trela” então começo a brincar com elas, mas estão sempre a troçar do meu macua mal pronunciado, e depois ensinam-me palavras novas... são muito simpáticas.
Apesar de ser também de uma terra africana, noto diferenças; primeiramente o clima: estamos agora em pleno verão; apesar de não ter chovido muito, até agora, quando chove é chuva à sério, tudo parece escuro e a chuva cai com toda a força. A natureza aqui parece que tem mais força. Outra diferença não podia deixar de ser a cultura, a história deste povo e sua maneira de pensar são sinais de sua singularidade, logo diferentes do meu país.
Isto mostra aquilo que eu dizia no início: este é um povo escolhido e amado por Muluko (Deus).

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...