14 de abril de 2010

visita pascal


Raul Viana
Itoculo

Para um cristão consciente e esclarecido viver a Semana Santa em Braga ou em Itoculo é igual. Trata-se da celebração do mesmo Mistério Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. No essencial não diferenciamos, existem algumas modificações apenas no plano secundário. Isto é, trata-se de manifestações públicas da mesma fé onde se dão contornos próprios à sua celebração marcados pelo tempo e pelo espaço.

Sendo nortenho, aprecio o gesto bonito da Visita Pascal que decorre no Domingo de Páscoa. Não ignoro que muitas vezes tudo parece girar à volta desta visita a qual parece estar acima de qualquer outra cerimónia Pascal. Contudo, é um sinal bonito de levar a alegria de Cristo Ressuscitado de casa em casa, onde se junta a família e os amigos para acolher essa feliz notícia. Isso recordo com saudade.

Porém, aqui em Itoculo não temos essas tradicionais procissões, essas majestosas cerimónias, esses calorosos Compassos Pascais, esses potentes foguetes de festa ou essas alegres campainhas anunciadoras da proximidade de tal visita. Sinais expressivos de um povo e uma cultura, concretamente, desse norte português. O que temos cá, o qual também não trocamos com ninguém, é a vivência simples e profunda de todo este Mistério Pascal. Nestes dias as capelas são pequenas para tanta gente. O tempo decorre em função da vivência, contemplação e celebração do Mistério Pascal. Simpatizantes, amigos, catecúmenos, cristãos, gente de todas as idades, de longe e de perto, celebram profundamente este acontecimento pascal.

Como na Alta Idade Média da Europa, também aqui se foca bastante a dimensão sofredora da Paixão de Cristo. Talvez por uma questão de vivência limitada e sofredora deste povo que encontra na entrega de Cristo um ponto de encontro com a sua situação existencial. Por isso, não é de estranhar a enchente de pessoas que celebram a Via-sacra, ou a demora diante da Cruz de Cristo em dia de Sexta-feira Santa.


Bonito e enriquecedor é a Vigília Pascal de Sábado Santo. Logo de manhã o Ministro da Comunhão, acompanhado por um cristão, percorre cinco, vinte ou trinta e cinco quilómetros para levar o Santíssimo Sacramento para a Celebração da Noite Pascal. Iniciam a celebração ao início da noite e não mais olham para o relógio. À luz da fogueira, símbolo de Cristo Luz do mundo, proclamam todas as leituras bíblicas e sobre elas reflectem o acontecimento dessa Noite Santa. Na falta de Padre, renovam as promessas do baptismo e terminam comungando o Corpo do Senhor Jesus glorioso. Quando há Padre a presidir, a celebração prolonga-se com o rito dos Sacramentos de Iniciação Cristã.

A noite parece pequena e logo desponta a manhã da Ressurreição, o Domingo de Páscoa que fica marcado por uma simples convivência cristã. Faz-se uma visita aos doentes e idosos da comunidade cristã e vai-se interiorizando o mistério da Ressurreição com a alegria e a festa onde não falta o jubiloso ALELUIA.


Continuação de uma Feliz Páscoa para todos

9 de abril de 2010

que bom estar aqui

Elson Lopes
Itoculo

Já lá vão quase 5 meses que cheguei a Moçambique e quase que não dou conta, pois já me sinto macua. Estou mais rico (não de dinheiro) e mais gordo (1kg) apesar de uma malária que foi leve (dois dias de cama).
Agora compreendo o que sempre ouvi dizer aos missionários, estagiários e leigos que estiverem em terras de missão: nada levei e tudo trouxe. Digo o mesmo: nada trouxe e já recebi muitas coisas. Por isso digo que estou mais rico do que quando vim. Muito aprendi e estou aprendendo cada dia que passa com este querido povo moçambicano, concretamente povo de Itoculo. Já tive lições de vida a nível espiritual e material.

Quando vejo este povo que vive com o mínimo para a sobrevivência, às vezes nem isso, a partilhar, a comer do que tem e quando tem, a aproveitar o máximo do que tem sem deixar estragar e a agradecer mais do que reclamar. Comecei a rever a minha vida, pois eu, graças a Deus, tive o privilégio, se assim posso dizer, de ter muita coisa e até de fazer escolhas. E mesmo assim reclamava mais do que agradecia. Este povo fez-me aprender a reclamar menos e a agradecer mais.


Quando vejo este povo a percorrer quilómetros a pé, por vezes ao sol, às vezes com chuva e fome, para se confessarem e participarem na eucaristia, vejo a minha pouca fé, porque nunca tive que percorrer mais de 2km a pé nem de carro para me confessar e participar numa celebração e às vezes ia só para cumprir o meu dever cristão e de seminarista.

Nos tempos litúrgicos fortes (natal e páscoa) há sempre confissões em todas a zonas da paróquia e enquanto o padre confessa aproveito para fazer encontros com os jovens. Uma vez, um jovem fez uma afirmação e depois fez-me uma pergunta que me fez e faz pensar: na bíblia Jesus diz que quem acreditar Nele há-de fazer milagres. Porque que é que nós que dizemos acreditar em Jesus não fazemos milagres?
Isso faz-nos pensar se realmente acreditamos em Jesus. Acho que sim mas é preciso acreditar de todo o coração. Isso é complicado mas é possível.

Uma coisa interessante também é a simplicidade deste povo e sobretudo das crianças que são uns amores. Logo que ouvem o carro a passar saem todos a correr gritando “ta-ta-vo” e dão um sorriso lindo e puro.

É tudo isto que me enriquece, e dá-me forças para procurar amar mais, dar-me aos outros e dizer “NOXUKURO, PWIYA MULUKU”.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...