18 de julho de 2013

PRESENÇA ESPIRITANA EM MOÇAMBIQUE - parte II

PRESENÇA ESPIRITANA
EM MOÇAMBIQUE
(2ª Parte)

Alberto Tchindemba
França

3. Chegada dos espiritanos a Moçambique

O dia 28 de Novembro de 1996 ficou gravado nos anais da história do Grupo Internacional Espiritano de Moçambique, pois marca o início de uma missão ao serviço de uma Igreja jovem e cheia de dinamismo, num país que acabava de sair de uma longa guerra civil que durou 16 anos e que ceifou vidas de muitas pessoas.

Os confrades Benedito Cangeno, Domingos Matos Vitorino e Anthony Ahamba, partem para a paróquia de S. Paulo do Bàrué, Inyazónia, ocupando-se da cura pastoral de quatro grandes distritos, nomeadamente, Bàrué, Guru, Macossa e Tambara, que correspondia a metade da diocese do Chimoio. Trata-se de uma missão de primeira evangelização, onde há 20 anos a população não tinha missionários residentes. As grandes viagens ao encontro do povo para a animação espiritual das comunidades e a formação dos responsáveis das pequenas comunidades cristãs marcaram o dia-a-dia missionário dos confrades. Por seu lado, os confrades Pedro Fernandes, Lawrence N. Nwaneri e Alberto Tchindemba, embarcaram para a paróquia de Nossa Senhora de Assunção, Netia, dedicando-se também na assistência espiritual das comunidades cristãs de Netia e setor de Djipui e Xihire da futura paróquia de Itoculo.

Portanto, é nesta Igreja ministerial que os espiritanos se lançam para mais uma aventura missionária. No seu trabalho missionário, os espiritanos vão contar com o apoio das Congregações Religiosas já com uma vasta experiência de missão em terras de Moçambique para a consolidação da Igreja local. O objetivo da missão passa pelo anúncio de Jesus Cristo, ajudando o povo a «andar com os seus próprios pés», como dizia um dos bispos moçambicanos. Os primeiros anos de missão são inteiramente dedicados à descoberta e aprendizagem da cultura e da língua povo. Os espiritanos, entram na pastoral de conjunto das dioceses onde trabalham. Prestam serviços pastorais a vários níveis: animação das comunidades cristãs, coordenação de comissões diocesanas, animação de encontros, pregações de retiros, etc. Trata-se de um momento de grande trabalho e de espírito de entrega, onde a preocupação era de trabalhar para o desenvolvimento integral da pessoa humana.

4. Dificuldades da primeira hora

A primeira dificuldade que saltou à vista de todos foi a distância que separa as duas comunidades espiritanas e consequentemente a falta de comunicação entre os membros das duas comunidades. Nesta altura, as estradas que ligavam o sul e o norte de Moçambique eram impraticáveis, e a falta de uma ponte sobre o rio Zambeze tornava a ligação norte-sul ainda mais difícil. A travessia do rio Zambeze fazia-se por batelão, ou então devia-se passar via Malawi para chegar a uma das comunidades. Em pleno tempo chuvoso era praticamente impossível pôr-se a caminho! Diríamos que a viagem de Inyazónia a Netia levava pelo menos 3 dias, viajando em péssimas condições e correndo o risco de danificar a saúde, e também o carro. As viagens de avião eram extremamente caras e obrigavam-nos a passar pela cidade da Beira e depois de ‘chapa’ (transporte público) seguia-se para Inyazónia, e vice-versa até Netia. Este isolamento fez com que cada comunidade vivesse as suas dificuldades sem as poder partilhar com os outros. De facto, as duas comunidades comunicavam mais facilmente com o Conselho Geral do que entre si. Para solucionar a questão deste isolamento e falta de comunicação entre as comunidades, o Conselho Geral pôs à disposição de cada comunidade um telefone satélite que apenas servia para uma comunicação urgente, pois era bastante caro.

A par da longa distância entre as duas comunidades (acima de 1.000km) junta-se uma outra dificuldade: a falta de entrosamento entre os membros das comunidades que, a dada altura, levou à reestruturação das mesmas comunidades. Foi a partir deste momento que se verificou o regresso de alguns confrades para as suas Províncias de origem e a chegada de novos confrades para dar continuidade ao trabalho ora começado. Esta situação de chegadas e saídas de confrades provocou uma certa instabilidade que se faz sentir ainda hoje na vida do Grupo Espiritano de Moçambique.

14 de julho de 2013

PRESENÇA ESPIRITANA EM MOÇAMBIQUE - Parte I

PRESENÇA ESPIRITANA 
EM MOÇAMBIQUE
ontem e hoje
(1ª Parte)

Alberto Tchindemba
França

Introdução

Falar da história dos Missionários do Espírito Santo em Moçambique, hoje, é recordar-se de um passado recente (apenas 16 anos de missão) que contou com a dedicação, participação ativa e generosa de muitos confrades que marcaram a história de um Grupo que sempre apostou em fazer conhecer e amar Jesus Cristo, num país conhecido como a pérola do Índico. O objetivo desta resenha histórica da nossa inserção em Moçambique é, antes de mais, uma partilha narrada em primeira pessoa daquilo que foi o tempo de missão espiritana desde as suas origens. Portanto, longe de fazer juízos, críticas ou avaliações, queremos simplesmente narrar o início e o desenvolvimento da nossa missão, olhando para os antecedentes históricos e a nossa inserção na Igreja moçambicana. Evidentemente que este olhar histórico missionário comporta algumas luzes e sombras próprias de uma implantação missionária.

Nesta resenha histórica focaremos a nossa atenção nos preliminares históricos e na preparação próxima da implantação da missão espiritana; da chegada dos primeiros espiritanos; das dificuldades da primeira hora; do projeto Itoculo; a reflexão sobre o redimensionamento da nossa presença nas dioceses de Chimoio e de Nacala; da decisão do Conselho Geral face à questão da distância entre as duas comunidades.

Preliminares históricos
Olhando para a nossa inserção na Igreja de Moçambique, damo-nos conta de alguns antecedentes históricos que, ao longo do tempo, foram preparando a chegada dos espiritanos em terras de Moçambique. Percorrendo o dossier dos espiritanos na secretaria da Arquidiocese de Nampula, deparamo-nos com uma correspondência epistolar de D. Manuel Vieira Pinto, então bispo de Nampula, a pedir missionários espiritanos para a sua diocese. Foi em 1969, poucos anos depois de ter chegado à diocese e confrontado com a imensidão do território sem assistência pastoral, que aquele prelado redigiu, de imediato, uma carta ao Superior Provincial português, P. Amadeu Martins, dizendo: «Venho confiadamente pedir a colaboração missionária dos Padres do Espírito Santo. Desde a minha nomeação para esta Diocese que penso em vós, e no retiro dos Superiores em Lisboa, na primeira semana de 68, falámos da possibilidade de um dia chegar a Nampula a primeira equipa dos Missionários do Espírito Santo. Depois de um ano e meio de trabalho na Diocese, vejo que é urgente aumentar não só os Missionários, mas também o número das Congregações em exercício na Diocese. (…) Sei que a hora é de crise e de penúria; no entanto, estou certo que devemos fazer um milagre para bem da Igreja em Nampula e para bem da Vossa Congregação, pois deve estar presente em Moçambique, para ter no seu dinamismo um pouco de todo o Ultramar. Já bati várias portas e todos me despedem com respeito. Sois uma família numerosa. Espero que esta Diocese entre na Vossa agenda e sobretudo no Vosso Coração». (Carta de D. Manuel Vieira Pinto, Bispo de Nampula, 12.02.1969)

Numa carta bastante fraterna, o padre Amadeu Martins, responde assim: «Recebi a carta de V. Ex.ª Reverendíssima, de 12 do corrente, e confesso com toda a sinceridade da minha alma que desejava corresponder ao apelo angustiante de V. Ex.ª Reverendíssima. Temos, porém, à nossa conta um campo já tão vasto e são também tão veementes os apelos dos Bispos de Angola e Cabo Verde e são tão escassas as nossas possibilidades em pessoal, que não se me afigura possível atender o pedido de V. Ex.ª Reverendíssima. No entanto fi-lo seguir para o Rev.mo Superior Geral da Congregação, pois dele depende a aceitação de um novo campo de apostolado (…)». (Carta do P. Amadeu Martins, Superior da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, 27.02.1969).

O apelo de espiritanos para Moçambique não parou por aí. Assim no pretérito ano de 1976, justamente um ano depois a Independência, o bispo D. Luis Gonzaga, Bispo de Lichinga, escreve ao Conselho Geral, pedindo missionários para a sua vastíssima diocese desprovida de assistência espiritual. De salientar que nesta altura Moçambique vivia um momento particular da sua história. Era o ano a seguir à Independência e naquela altura muitos missionários e missionárias tinham abandonado o país por causa da ideologia marxista e leninista que se mostrava altamente feroz contra a Igreja. Alguns missionários foram inclusivamente expulsos pelo partido no poder que professava um marxismo puro e duro. Acerca do pedido do D. Luís Gonzaga, não dispomos da carta de pedido de espiritanos, nem da resposta do Conselho Geral. Provavelmente a Casa Geral terá mostrado a dificuldade de falta de pessoal disponível para responder ao apelo do bispo. De qualquer maneira, aqui queremos simplesmente sublinhar o facto de que a chegada dos espiritanos a Moçambique circunscreve-se num longo processo que a seu tempo resultou na chegada efetiva dos Espiritanos em 1996.

Preparação próxima da implantação da missão espiritana em Moçambique

Foi o bispo do Chimoio que conhecendo os espiritanos de Mutare (Zimbabwe) dirigiu-se ao Superior do Distrito, pedindo uma equipa de espiritanos. A ideia era de ter uma comunidade espiritana do outro lado da fronteira, onde se situa a diocese do Chimoio. O Superior do Zimbabwe não podendo dar uma resposta ao pedido do bispo – porque a abertura de novos campos de missão é da responsabilidade do Superior Geral e seu Conselho - aconselhou o bispo a ir falar diretamente ao Superior Geral. Assim, em 1994, D. Francisco Silota vai a Roma para apresentar oficialmente o seu pedido. Nesta mesma altura, estava com ele o D. Germano Grachane que precisando também de missionários para a sua diocese, junta-se a D. Francisco Silota. O Conselho Geral olhando para os pedidos dos bispos que correspondiam a uma necessidade concreta e que estava de acordo com o nosso carisma, põe-se a refletir sobre a possibilidade de abrir um novo campo missionário. Tratando-se de um projeto de toda a Congregação, o Superior Geral, apresenta a questão no Conselho Geral Alargado de Dakar, em 1995. É neste Conselho Geral Alargado que se dá o ‘placet’ para a abertura de duas comunidades espiritanas nas dioceses de Chimoio e Nacala, implicando as Províncias espiritanas de Angola, Nigéria e Portugal no que diz respeito ao recrutamento do pessoal. Sem tardar, cada Província põe à disposição deste grande empreendimento missionário dois dos seus membros (Angola: Benedito Cangeno e Alberto Tchindemba; Nigéria: Lawrence Nwaneri e Anthony Ahamba; Portugal: Pedro Fernandes e Domingos Matos Vitorino) para formar uma equipa internacional.

O Conselho Geral depois de ter aceite o pedido os bispos, pediu aos padres Jerónimo Cahinga, então Superior Provincial de Angola e José Manuel Sabença em representação do então Superior da SCAF James Divine (África do Sul), para uma visita às dioceses do Chimoio e de Nacala. Cada um deles deu o seu ponto de vista em relação às missões visitadas e a pertinência da nossa inserção num novo país. Finalmente foi o padre Benedito Cangeno que, tendo visitado também as duas dioceses e, baseando-se nos relatórios dos padres Jerónimo Cahinga e José Manuel Sabença, acabou por escolher as paróquias de Inyazónia (Chimoio) e de Netia (Nacala). Portanto, uma vez escolhidas as paróquias e com o pessoal já nomeado, o Conselho Geral, na pessoa do P. Bernardo Bongo, organizou, no mês de Setembro de 1996 em Lisboa, um encontro de toda a equipa de Moçambique, exceto o Anthony Ahamba, para uma preparação próxima e formação de comunidades. O padre James Divine, então Superior da SCAF, participa neste encontro, porque doravante o Grupo de Moçambique fará parte desta enorme Fundação juntamente com a África do Sul, Malawi, Zâmbia e Zimbabwe.


26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...