23 de outubro de 2019

Outubro Missionário: do encontro ao encontro


Neste Mês Missionário Extraordinário, partilhamos as palavras de um dos muitos missionários que passaram pela missão de Itoculo e que, mesmo longe, continua connosco e com o povo desta terra. Obrigado pela tua partilha e comunhão! Estamos juntos!


Outubro Missionário: do encontro ao encontro



É do encontro ao encontro que nasceu a Igreja Missionária, a Igreja de Cristo. Um encontro pessoal que desemboca num encontro comunitário. O primeiro encontro é o de acender: preparar a tocha e acendê-la dentro de nós mesmos; o segundo é o de partilhar as chamas aos demais que precisam de luz para ver o caminho.

Quando vamos ao encontro ou alguém vem ao nosso encontro, já não vamos sozinhos, alguém vai connosco e doravante fazemos um caminho partilhado. A isto chamo de missão. Convém salientar que não é aquilo que levamos na mão para oferecer que é o mais importante. Missão é montar a tenda no meio de tantas outras tendas, palhotas, casas de chapas e ser testemunho do grande Mestre, que nos diz: "Ide por todo o mundo anunciar a Boa Nova", ou seja, levar a luz, que é a Palavra de Deus, aos que andam nas trevas, e simultaneamente ser luz no meio deles. Mas esta ótica missionária está cada vez mais difícil de alcançar por causa dos limites que estabelecemos. Houve um tempo em que fomos chamados a sair da nossa zona de conforto para nos dispormos ao serviço da Igreja, mas pouco resultado se notou. Penso que não é preciso sair da zona de conforto para estar ao serviço da Igreja, é apenas preciso mudar da nossa zona de conforto para uma zona de conforto infalível, em que haja um contacto real com diferentes realidades, no meio dos pobres e desanimados, a quem vamos confortar e beneficiar do mesmo conforto, tendo assim a coragem de chamar todos, não para a última, mas para a primeira ceia! 

  

Uma missão é marcante, mas o que é que nos marca? Claro, a pobreza de um povo, de uma família, dos bens, das estruturas, das políticas, das organizações, do espírito. E como já parece ser tradição, no fim de cada experiência missionária, possuídos  pelas emoções e sentimentos de compaixão, criam-se campanhas para tudo e mais alguma coisa, mas, no que toca a pobreza espiritual, nada se faz. É preciso um "STOP" (“Somos Todos Obrigados a Pensar”) neste cruzamento traiçoeiro; há que parar de considerar uma pessoa pobre só porque esta não tem uma sanita em casa. Sendo a pobreza uma dificuldade, antes de mais, que não chega a ser um mal, há que resolvê-lo; ora isso obriga-nos a ir à raiz e os curiosos que lá chegam verão que, de facto, a pobreza espiritual é a mãe e origem de todas as outras situações negativas que caracterizamos ou denominamos como pobreza disto ou daquilo. 

              

É preciso também cultivar na missão que nos é confiada o bom espírito, um espírito de luta e conquista, paz e justiça, perante os desafios do dia-a-dia. Mas tudo isso não descarta a hipótese de dar os primeiros passos. A primeira missão fazemo-la no seio familiar, na nossa comunidade. Muitos entendem a missão apenas como saída para uma terra estrangeira, ir à outra margem, em prol do anúncio da Palavra de Deus, porém, antes dessa saída além-fronteiras, é preciso sairmos de nós mesmos. Caso contrário, sem essa saída de nós mesmos, sem uma atitude de conversão, a nossa missão não passa de uma prestação de serviço, ao passo que a missão é estar sempre ao serviço, seja dentro ou fora da nossa própria casa.

                       
                            
A missão é este “encontrar-se”, é este encontro verdadeiro com Deus e com os outros, e assim, do encontro ao encontro, vamos construindo a Igreja Missionária, a Igreja de Cristo!

Pro-Missão VI

18 de outubro de 2019

Eleições 2019


Abaixo segue-se uma carta de desagrado de um grupo de sete Observadores da Paróquia de Itoculo-Nacala pela forma como foram tratados nestas Eleições Gerais de 15 de Outubro de 2019.


MANIFESTO DE INDIGNAÇÃO

Nós, abaixo assinados, cidadãos moçambicanos do Posto Administrativo de Itoculo, Distrito de Monapo, estamos indignados e repudiamos a forma como fomos tratados enquanto candidatos a Observadores das Eleições Gerais do dia 15 de Outubro último. Fomos mobilizados pela Comissão Diocesana da Justiça e Paz de Nacala e remetidos à EISA-Solidariedade de Moçambique (Organização da Sociedade Civil com a missão de Observação Eleitoral) que junto da CNE solicitou os documentos necessários para nos creditar no serviço de Observadores Eleitorais.

Assim, uma vez aberta a campanha para a inscrição como Observadores das Eleições Gerais, cada um de nós preparou e apresentou todos os documentos e requisitos necessários para participar activa e responsavelmente neste acto cívico. Todas as despesas de documentação e viagens foram suportadas por nós mesmos, sendo que alguns de nós se distanciam a mais de 60km da sede distrital de Monapo, usando, para isso, meios de transporte muito dispendiosos.

Com o aproximar das Eleições sentimos que a pressão aumentava. Sexta-feira dia 11 de Outubro, 4 dias antes das Eleições, fomos convocados para uma formação onde nos foi atribuído um dossier/arquivo com as informações necessárias ao nosso trabalho de Observadores da Sociedade Civil. Aí permanecemos todo o dia e só à noite regressamos a casa. No dia seguinte, 12 de Outubro, ao final do dia recebemos nova informação para voltar à sede distrital para apanhar o restante material. Logo cedo, no domingo, nos encaminhamos para lá, e nos foi atribuído apenas o colete de Observador, dizendo para aguardar novas informações. Como somos do Posto Administrativo de Itoculo, alguns de nós sem qualquer familiar na vila distrital, tivemos de regressar à comunidade mais próxima de Itoculo e pedir socorro para ser alojado, isto depois de caminhar mais de 15km em pleno dia de sol intenso, por falta de meios económicos.

No dia 14 de manhã, de novo voltamos à sede do Distrito para receber novas informações e depois seguir para os locais de votação atribuídos. Porém, ficamos todo o dia à espera dos resultados, contactando com os responsáveis, sem nunca nos dar uma resposta exacta. Foi um dia inteiro à sombra de uma mangueira, sentados numa esteira, sem meios pessoais para aguentar a jornada, ficando à mercê da caridade de alguns amigos para comer e beber. Terminou o dia sem nenhuma informação, apenas nos diziam para esperar. O cansaço e o desgaste físico e psicológico eram muito notórios em todos nós.

No dia seguinte, 15 de Outubro, dia das Eleições, continuamos retidos por falta de informação para a entrega dos Crachás. Entretanto, pelas 10h nos atribuíram as Mesas de Voto onde poderíamos ser Observadores, e nos entregaram mil meticais em dinheiro e uma recarga de 200 meticais para comunicar. Um pouco mais tarde, insistiram connosco para seguirmos para os locais atribuídos sem os respectivos Crachás. Todos recusamos por haver documentação incompleta, mas acabamos cedendo sem saber que isso significava correr grande risco de vida podendo ser detidos por comportamento estranho numa área por nós desconhecida. Assim, pelas 13h saímos para os locais onde não fizemos nada do que nos competia como Observadores e fomos impedidos de votar.

Na verdade, aqui a nossa acção como Observadores resumiu-se a uma simples tarefa de comunicadores de factos externos, recolhidos sem qualquer controle, apenas apanhando as publicações de resultados para apresentar no dia seguinte, quarta-feira dia 16, aos nossos responsáveis da EISA que nos enviaram. Neste mesmo dia levamos essa informação e entregamos aos responsáveis que nos deviam devolver um valor de 3 mil meticais pelo trabalho efectuado, mas também não entregaram, fazendo apenas promessa para o dia seguinte. De novo, mais uma viagem de ida e volta, e no dia 17 ao final da manhã foram-nos entregues 3 mil meticais.

Assim, a nossa indignação vai para este procedimento dos responsáveis provinciais da CNE de Nampula por negar atribuir os Crachás e reter toda a informação até às 13h do dia da votação provocando um desgaste físico e psicológico de todos nós, deixando-nos condições sub-humanas, apenas aumentando o nosso sofrimento. Mas pior do que isto, estamos ainda mais indignados pela insistência desses responsáveis da EISA em nos enviar aos centros de eleição sem os devidos Crachás, o que levou a correr grandes e reais perigos de vida, movendo-nos às escondidas e com medo.

Estamos muito indignados porque não podemos exercer o nosso direito/dever de voto. Estamos indignados também porque fomos maltratados como pessoas nacionais pelas Autoridades Moçambicanas que nos deviam proteger. Estamos indignados porque sem qualquer intenção partidária, mas apenas querendo o bem do nosso País e as eleições justas, livres e transparentes, fomos renegados e considerados inúteis ao bem da nação. Estamos indignados porque gastamos inutilmente as nossas escassas economias aumentando a nossa pobreza. Estamos indignados porque fomos desrespeitados nos nossos direitos.

Estamos indignados com tudo isto e muito mais, mas não desistimos dos ideais que nos levam a trabalhar por um Moçambique diferente. Não vamos desistir nem abdicar daquilo que precisamos para o nosso País. Os nossos filhos merecem um País muito melhor e com Autoridades que respeitem aqueles que os elegeram. Acreditamos que amanhã será diferente. Por isso não vamos desistir, mas procurar juntar mais forças nacionais e internacionais para combater estes males da nossa sociedade e da nossa política desonesta.

Moçambique e os moçambicanos não merecem isto. Nós fomos grandes vítimas este ano. Como nós, também muitos outros irmãos nossos sofreram idêntica humilhação. Não podemos calar a nossa dor. Queremos a paz, queremos um Moçambique melhor.

Itoculo, aos 18 de Outubro de 2019.

Os cidadãos eleitores:
- Aminone Gabriel: nº 033169-29041914399 (033169-01/263)
- Atílio Francisco: nº 03169-050441807317 (03169-02/081)
- João Baptista Caetano: nº 03184-03051809539 (03184-02/701)
- Lucas Elias Paulo: nº 03181-22031808239 (03181-01/099)
- Minério Martelo: nº 03174-05041811449 (03174-02/249)
- Nito Manuel: nº 03169-05041811009 (03169-02/249)
- Silvano Ramete: nº 03178-08041807352 (03178-02/367)

10 de outubro de 2019

MISSÃO DE ITOCULO - 2019


Em pleno Mês Missionário Extraordinário – Outubro 2019 – queremos partilhar, uma vez mais, a vida e o ritmo da nossa Missão de Itoculo, que muitas pessoas e grupos missionários conhecem e têm ajudado generosamente.


A Missão Católica de São José – Itoculo, situada na Diocese de Nacala, no litoral norte de Moçambique, conta com uma Equipa Missionária composta de Padres (2 espiritanos e 1 diocesano do Porto), de Irmãs Consagradas (total de 4 espiritanas) e Leigas Voluntárias (uma de Braga e outra de Fiães-Porto), que assiste as 83 pequenas comunidades cristãs espalhadas pela área do Posto Administrativo de Itoculo.

Começamos este ano 2019 acolhendo as duas Leigas Missionárias Voluntárias, e em Agosto chegou o P. Mário João, da Diocese do Porto, também para um ano de experiência missionária nestas terras de Moçambique. No passado mês de Julho, durante três semanas, acolhemos um outo padre diocesano com um grupo de 11 leigos da Unidade Paroquial de Navió-Poiares-Vitorino dos Piães, da Diocese de Viana do Castelo. Foram, e estão sendo, momentos muito bonitos e enriquecedores para todos nós e para a Missão de Itoculo em geral.

O trabalho pastoral propriamente dito nas comunidades cristãs, que marca o nosso dia-a-dia, centra-se na formação de animadores e lideranças cristãs e no acompanhamento de ministérios eclesiais (Catequistas, Jovens, Famílias, Infância Missionaria e outros) e de ministérios sociais (Justiça e Paz, Cáritas, Saúde, Comunicação Social, Economia, etc). A par disso, as celebrações e visitas às comunidades são outro momento forte de evangelização que assumimos e que urge dar continuidade por forma a solidificar a fé destas jovens comunidades cristãs.

A comunidade de São Paulo, em Monetaca, ainda não completou 60 anos de fundação e é a comunidade mais antiga da nossa missão. Aqui mesmo realizamos este ano, pela terceira vez, a nossa peregrinação paroquial com grande participação das comunidades. Algumas celebrações jubilares de 50 anos de matrimónio vão aparecendo como sinal da caminhada desta Igreja local. Somos parte de uma Igreja em caminhada com muitos pontos a considerar e fortalecer para a sua estruturação.

Neste momento estamos numa fase de reajuste das áreas regionais da Missão de Itoculo, criando um novo centro de formação regional para atender aos irmãos mais distantes de um centro mais vasto (Djipwi). Assim, em 2020 prevemos iniciar com o centro regional de Monetaca composto de 3 zonas pastorais e 15 comunidades cristãs. Ainda não temos estruturas materiais para este centro formativo, pois queremos iniciar com a animação e solidificação das comunidades cristãs locais. Posteriormente, quando conseguirmos um bom nível de maturidade cristã, poderemos então pensar e avançar na construção de algumas estruturas físicas.

Na sede da Missão, em Itoculo, continuamos com o Centro Nutricional para apoio às crianças desnutridas e a formação pré-escolar que as Irmãs Espiritanas coordenam, e se apresentam como obras verdadeiramente necessárias devido à grande pobreza que se verifica nesta área. Não fomos afetados diretamente pelos ciclones (Idai e Keneth), mas começamos já a sentir os seus efeitos secundários, pois eles destruíram muitas colheitas e os celeiros familiares ficaram por encher, e assim começam a surgir os primeiros sinais fraqueza. Mas o tempo mais crítico da fome irá chegar nos meses de Dezembro e Janeiro. Que Deus nos seja benevolente.

Na área da educação temos em funcionamento duas residências de estudantes (de 50 meninas e 45 rapazes) oriundos das zonas mais interiores da Missão e que são uma verdadeira ajuda aos jovens em dificuldades. Além disso, trabalhamos também para que estes lares de estudantes sejam uma escola de vida onde se aprendem e exercitam os valores humanos e cristãos da boa convivência. A par disso, está o apoio e reforço escolar que a Biblioteca da Missão oferece aos estudantes em geral. E pela grande afluência dos estudantes a estes espaços de leitura e estudo, tivemos a necessidade de ampliar as salas, criando também um espaço para acesso ao material escolar que o ensino exige.


Enfim, para levar a cabo as tarefas evangelizadoras e sociais, que englobam projetos de verdadeiro desenvolvimento humano, trabalhamos em Equipa Missionária. Somos um bom grupo (3 padres, 4 irmãs e 2 leigas), onde ninguém está desempregado, mas todos nos sentimos envolvidos, cada dia, na vida do povo e desta Missão. Importa dizer, também, que neste exercício missionário contamos essencialmente com as ajudas solidárias que nos chegam do exterior. A contribuição local é muito reduzida, apesar de indispensável, em vista de uma colaboração e participação. Neste sentido, queremos manifestar o nosso sincero agradecimento por todo o apoio material concedido, e dizer que tudo fazemos para que ele se multiplique ainda mais. Ao mesmo tempo, confirmamos a nossa comunhão espiritual, confiando a Deus todos os benfeitores desta Missão.

Em nome da Missão de São José – Itoculo, agradecemos, uma vez mais, toda a ajuda monetária que nos ajuda a prosseguir nos trabalhos missionários. Deus seja louvado nos seus servos generosos, e que a celebração deste Mês Missionário Extraordinário nos mantenha unidos neste compromisso de fé cristã.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...