Itoculo
Às vezes a missão também é feita de festas. Em Itoculo, este ano de 2008 tem sido particularmente cheio de festas, e as festas são, aos olhos do povo, momentos fortes de encontro, de cooperação no trabalho e de verificação e fortalecimento do compromisso na comunidade. Na festa, é oferecido aos cristãos um momento forte para reverem a sua experiência de fé e confirmarem a sua pertença à comunidade; a preparação e vivência da festa obriga os cristãos a se unirem para pensar e programar juntos, para pôr em marcha os preparativos e os muitos trabalhos inerentes à festa. Isso implica reunir gente de todas as partes da paróquia, chegando a pé de lugares a dezenas de quilómetros de distância, às vezes em regiões opostas, revendo amigos e reconhecendo irmãos que são pedras de uma mesma construção. A festa é, por isso, um momento de consolidação da unidade paroquial: habitualmente, os cristãos de Itoculo vivem a sua fé centrados na sua pequena comunidade, que é o horizonte normal da sua pertença à Igreja. Quando um acontecimento de nível paroquial os obriga a sair do seu pequeno espaço e alargar o olhar a toda a paróquia, essa é uma experiência significativa da comunhão eclesial e da catolicidade. Por outro lado, a festa, sendo um acontecimento que atrai convidados de outras paróquias e até dioceses, é também uma oportunidade excelente para exercitar a hospitalidade comunitária: os cristãos sentem-se solidários por um acontecimento que os une e os responsabiliza, arregaçam as mangas para defender a honra e a boa imagem da sua paróquia, que querem que fique bem vista por todos aqueles que, de longe, irão chegar para participar num acontecimento que dependerá em quase tudo da boa preparação daqueles que acolhem.
A Inauguração do Centro
Este ano, a primeira grande festa foi a de inauguração do centro paroquial: tínhamos iniciado a construção em Março de 2006, com o sonho de inaugurar em 3 de Dezembro, dia do padroeiro do centro, S. Francisco Xavier. Mas esquecemo-nos do pequeno pormenor de que estávamos em Moçambique, não na Alemanha… e lá recomeçámos a sonhar a inauguração do nosso centro paroquial para 19 de Março de 2007, dia do padroeiro paroquial, S. José. O resto da história é fácil de adivinhar: fomos conseguindo ir arranjando datas significativas para a nossa imaginária inauguração, enquanto o ritmo da construção nos ia fazendo cair na real. A última data foi 8 de Março de 2008 e foi dessa que, em espírito de “ou vai ou racha”, fizemos mesmo a nossa tão sonhada inauguração.
Veio gente de toda a paróquia e os preparativos tinham começado semanas antes. A missa de inauguração seria na capela do centro, pensada em tamanho suficiente para os participantes dos cursos e para a pequena comunidade cristã local. Claro que o espaço era pequeno demais para toda a gente que se esperava, por isso vieram bastantes cristãos de várias comunidades construir um grande alpendre em capim, diante da capela, para acolher todos os “excedentários”. Tão bem feito foi o alpendre que um dia depois desabou todo inteirinho e deixou-nos de boca aberta diante do inesperado fenómeno. Ainda mais inesperado fenómeno foi o ciclone que se abateu sobre a costa nordeste de Moçambique precisamente na véspera da festa: nas aldeias do litoral não ficou uma única palhota de pé; nas zonas mais interiores, como é o caso de Itoculo, muitas machambas foram estragadas e o povo ficou aninhadinho nas suas casas, esperando que passasse o pesadelo. O resultado foi que só na madrugada do dia da própria festa se conseguiu pôr de pé o malfadado alpendre e reactivar os preparativos para que, em poucas horas, a festa pudesse, mesmo assim, acontecer. E aconteceu: vieram cristãos de toda a parte da paróquia, veio o bispo, que presidiu à Eucaristia, e estávamos nós, a equipa missionária, um bocado com o coração nas mãos, depois de todos os perigos que tinham ameaçado estragar a festa. A grande festa, agora, é a do funcionamento permanente do centro que, depois de inaugurado, nunca mais parou de acolher cursistas, para pequenos cursos de formação de líderes leigos para as nossas comunidades cristãs.
Veio gente de toda a paróquia e os preparativos tinham começado semanas antes. A missa de inauguração seria na capela do centro, pensada em tamanho suficiente para os participantes dos cursos e para a pequena comunidade cristã local. Claro que o espaço era pequeno demais para toda a gente que se esperava, por isso vieram bastantes cristãos de várias comunidades construir um grande alpendre em capim, diante da capela, para acolher todos os “excedentários”. Tão bem feito foi o alpendre que um dia depois desabou todo inteirinho e deixou-nos de boca aberta diante do inesperado fenómeno. Ainda mais inesperado fenómeno foi o ciclone que se abateu sobre a costa nordeste de Moçambique precisamente na véspera da festa: nas aldeias do litoral não ficou uma única palhota de pé; nas zonas mais interiores, como é o caso de Itoculo, muitas machambas foram estragadas e o povo ficou aninhadinho nas suas casas, esperando que passasse o pesadelo. O resultado foi que só na madrugada do dia da própria festa se conseguiu pôr de pé o malfadado alpendre e reactivar os preparativos para que, em poucas horas, a festa pudesse, mesmo assim, acontecer. E aconteceu: vieram cristãos de toda a parte da paróquia, veio o bispo, que presidiu à Eucaristia, e estávamos nós, a equipa missionária, um bocado com o coração nas mãos, depois de todos os perigos que tinham ameaçado estragar a festa. A grande festa, agora, é a do funcionamento permanente do centro que, depois de inaugurado, nunca mais parou de acolher cursistas, para pequenos cursos de formação de líderes leigos para as nossas comunidades cristãs.
A Ordenação
A outra festa foi uma super-festa: a 27 de Abril foi ordenado padre um jovem natural da paróquia de Itoculo, o Bartolomeu Cipriano. É o primeiro jovem desta paróquia a ser ordenado e também a primeira ordenação que a paróquia organizava. Esperavam-se centenas de pessoas vindas de todas as partes da Província de Nampula e mesmo de outras províncias. Dezenas de padres e religiosas, missionários leigos, autoridades civis, toda a espécie de curiosos viriam também… Os preparativos começaram muitos meses antes: sensibilizando as comunidades cristãs para a importância e responsabilidade do acontecimento e mobilizando todos para a sua participação nos trabalhos de preparação. Um dos primeiros desafios foi encontrar um espaço ao ar livre suficientemente grande e com sombras para acolher tanta gente. Depois de alguma hesitação, lá nos decidimos por um terreno mesmo ao lado do centro paroquial, mas foi preciso limpá-lo de todo o muito capim e arbustos que lá estavam. Só isso demorou várias semanas, para passarmos do mato fechado à esplanada grande e bonita que conseguimos no fim. Grandes sombras de cajueiro cobriam algumas áreas do espaço, mas não eram suficientes para proteger do sol todas as pessoas que chegariam, foi por isso necessário o trabalho de dezenas de cristãos, de várias áreas da paróquia, que vieram e levantaram grandes espaços cobertos por capim, assentes em paus levantados, espetados na terra. Ao mesmo tempo, construímos um grande presbitério, coberto com chapa de zinco, que acolheu o altar e todo o espaço litúrgico da celebração.
A liturgia foi preparada desde Janeiro, com um grande grupo coral de jovens, que começaram a vir ao centro da paróquia todas as semanas, alguns deslocando-se quilómetros a pé. A Ir. Félicité, espiritana, ensaiou e preparou estes cantores e um grande grupo de dançarinos, que deram cor e beleza à celebração. Muitíssima comida foi preciso comprar e preparar e para isso estava a Ir Joyce, outra espiritana, que deitou mãos a uma obra colossal, que conseguiu levar a muito bom termo. Toda a equipa missionária e todos os cristãos das comunidades se empenharam a sério e, no fim, todos sentiam o cansaço bom de quem cumpriu a dever. Durante os meses que precederam a festa, todas as comunidades da paróquia se quotizaram para comprar uma mota ao recém-ordenado, que a recebeu no final da Celebração Eucarística, estupefacto pela surpresa que todos, pelo segredo guardado, souberam tornar possível.
Outras festas nos aguardam: a Ir Alice comemora este ano os seus 50 anos de Vida Religiosa e a Ir celebra também os seus 25. Iremos festejar estes dois acontecimentos aproveitando-os como uma boa ocasião de evangelização e formação sobre a Vida Religiosa na Igreja. Teremos também a visita pastoral do bispo, com crismas, para toda a paróquia. Será também esse um novo momento de vivência da unidade paroquial e da responsabilidade de todos. Nem tudo são festas. Mas as festas que vão havendo nos vão fazendo perceber que, apesar das agruras, a vida cristã é a grande festa que Deus nos oferece para tornarmos mais feliz a vida do mundo. Vivam as festas!