Damasceno
Itoculo
Itoculo está desde finais de Agosto deste ano sem leigos missionários. Não é a primeira vez que tal acontece no decorrer dos já oito anos de vida desta missão espiritana. Mas é, mesmo assim, estranho. Esta missão já se habituou a eles. É a missão dos leigos, e a ausência deles como que a descaracteriza. Os missionários e missionárias do Espírito Santo ficam desamparados quando se dá um tal interregno. Felizmente está para breve a chegada da Joana Cruz, já em Janeiro próximo.
Os leigos são fundamentais na missão de evangelização da Igreja. Esta é uma certeza que nós verificamos de um modo absolutamente inequívoco aqui em Itoculo, tal a imensa riqueza que os leigos missionários já nos trouxeram. O seu testemunho é único: pelo facto de não serem nem padres nem irmãs, eles conseguem uma credibilidade diferente junto do povo, conseguem outro tipo de aproximação. A sua influência evangelizadora faz-se sentir até nos próprios religiosos com quem os leigos convivem, edificando-os com a sua vida de oração e fé. Além do mais, os leigos têm geralmente uma especialização profissional, uma qualificação técnica que muito contribui para a eficácia da actividade missionária: como saber que a areia para construção tem uma determinada granolometria… ou entender que as sementes podem ser dicotiledóneas! Tudo coisas muito úteis. – Estes são exemplos caricatos, evidentemente…
Uma das apostas do trabalho pastoral em Itoculo nos últimos dois anos tem sido a criação e promoção de grupos de oração e de renovado envolvimento eclesial. Ora, até neste plano, o papel dos leigos se tem revelado determinante. Senão vejamos:
Estão a funcionar neste momento dois grupos da Legião de Maria. Todos os sábados se reúnem para rezar, para planear e avaliar as suas actividades de evangelização. São eles que vão, dois a dois, de porta em porta, cada semana, à procura de ovelhas tresmalhadas ou em auxílio de pessoas em situação de extrema necessidade. Este é claramente um movimento de leigos e, além do mais, foi pensado e fundado por um leigo, que nunca pôs os pés em Itoculo, um irlandês, Frank Duff. E já lá vai um par de anos.
Raul Marcos. É um jovem leigo espanhol que há alguns anos trabalha como director da universidade Católica de Pemba, província de Cabo Delgado. Com bastante frequência, e aproveitando o escasso tempo que lhe permite a sua posição na universidade, viaja até Nampula (a mais de 400 Km de Pemba) para assistir grupos de oração ligados à comunidade de Jerusalém, do Renovamento Carismático, a que ele próprio pertence. Trata-se de uma dedicação comovente, que por si só já nos evangeliza. Em meados deste ano propôs-se vir também a Itoculo orientar alguns dias de oração e de reflexão com alguns dos nossos animadores. Nasceram, a partir desta experiência, alguns grupos de oração carismática na paróquia, que semanalmente se reúnem para uma oração mais espontânea e ao sabor do Espírito de Pentecostes.
A Ernestina, leiga missionária que esteve connosco no último ano, deixou-nos a herança dos encontros de Taizé. Incutiu nos jovens o gosto pela oração cantada a várias vozes, à maneira dos coros celestiais. E, agora, como ela já cá não está e nós nem sempre encontramos vagar para preparar o esquema da oração e organizar ensaios, são os jovens que nos recordam: “Então? Este mês não temos oração de Taizé?” E temos mesmo que nos mexer.
Enfim, quando se menciona o termo “leigo missionário” logo surge em nós um sentimento de agradecimento: obrigado ao Christophe Héveline, à Celeste Reis, ao Hugo Rodrigues, à Joana Pedro e à Ernestina Falcão, que desde 2004 por aqui passaram e aqui viveram. Agradecemos ainda a tantos que se preparam ainda para vir. Mas damos uma palavra de apreço também àqueles que, de forma muito discreta, na retaguarda, se interessam pela missão. São aqueles que, mesmo sem apanhar o avião, atravessam outros “mares”, transpõem as fronteiras dos seus próprios interesses para atender às imensas necessidades de um próximo que vive tão longe. Com a sua oração, sacrifício e solidariedade material “empurram” para a frente os missionários que se encontram no terreno. Obrigado à LIAM e a tantos que, mais ou menos anonimamente, nos têm apoiado.
Recentemente estive na África do Sul. Lá reencontrei amigos de longa data. E entre a comunidade portuguesa que vive naquele país, tive a sorte de experimentar a mesma hospitalidade que o apóstolo Paulo exalta nalgumas das suas cartas. Naquelas terras muitas famílias cristãs continuam a dar testemunho de comunhão com os mais pobres e com os missionários. Este testemunho é tanto mais assinalável quanto sabemos que nem sempre estas famílias vivem economicamente desafogadas. Obrigado.
O pequenino menino Jesus deve sentir-se muito confortável no enorme coração destes leigos.
Feliz Natal 2011 e um santo ano 2012
Damasceno