7 de fevereiro de 2009

aprender com os mansos


Damasceno
Itoculo


O povo macua é um povo manso. Pode dizer-se.
Naturalmente também são capazes de se zangar e de limpar o sebo ao vizinho e, de vez em quando, a população pode atingir um certo estado de efervescência face a alguma situação de injustiça ou de calamidade. Mas, de um modo geral, são todos muito calminhos.
Esta propensão para a tranquilidade reflecte-se na forma como vivem e sentem a sua pertença a uma religião. O fanatismo e o extremismo religioso que grassam noutras sociedades, e no mundo global, passam completamente ao lado por aqui! Numa família é muito frequente o pai ser da religião tradicional, o filho ser cristão, a mulher ser muçulmana, a filha ser protestante… etc. Uma salada russa onde as religiões convivem pacificamente. Inclusive, todos participam nas festas e cerimónias da religião do vizinho com a maior das naturalidades.
Para a construção do nosso centro paroquial toda a areia foi extraída do terreno do xehe Amorani, que é uma espécie de bispo dos muçulmanos desta área de Itoculo. Na festa da inauguração do centro foi ele um dos principais convidados de honra, claro.
Ainda não há muito tempo – contam os missionários mais velhos – era possível, numa área de primeiríssima evangelização, as pessoas que queriam iniciar a sua caminhada catecumenal terem por catequista um muçulmano! Isto porque calhava ser este um dos poucos minimamente alfabetizados lá do sítio. Gentilmente se disponibilizava para auxiliar o padre até ao momento em que algum catecúmeno ou cristão fosse capaz de ler o catecismo e assumir o ministério.
No ano passado os crismas de uma certa região da paróquia realizaram-se precisamente no dia mundial das missões, em Outubro. Sendo festa grande não podiam faltar convidados de todos os quadrantes… lá estavam também os xehes. Foi com um certo espanto e graça que vi na fila para o ofertório um senhor de túnica branca e cófió na cabeça (chapéu típico dos muçulmanos). Aquele muçulmano, sem o saber muito bem, ia contribuir com a sua moedinha para a evangelização dos povos, já que era esse o destino do dinheiro recolhido no ofertório desse dia.
Se os fundamentalistas e intolerantes de outras bandas pudessem e quisessem aprender com a brandura e a docilidade do povo macua, este mundo seria um lugar bem melhor.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Grande "ValedaSanchence"
Nós por cá sempre animados como sabes.Temos grandes planos e muito tempo para os concretizar.
O folar estava bom...
Boas amêndoas
Bjs
Laura

Anónimo disse...

Atão e se o terreno, em vez de areia, tivesse petróleo.. Será que o xehe Amorani seria assim tão amigo?

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...