As mudanças trazem sempre muita novidade. São mutações físicas e interiores que trazem sempre consigo uma vida nova, mesmo que às vezes seja doloroso esse acontecer. Desde que cheguei aqui a Moçambique estou vivendo várias «conversões», e muitas outras ainda estão para acontecer. Assim, de maneira simples e elementar, deixo aqui a versão de algumas delas:
-Conversão geográfica: passar a linha do equador para o hemisfério sul é passar do Norte desenvolvido para o Sul em vias de desenvolvimento. De facto, quem vem desse «cantinho à beira mar plantado» ao chegar aqui encontra um país economicamente pobre e dependente das ajudas externas. Mesmo assim com os seus limites governativos, algo vai acontecendo, ainda que seja a um ritmo lento.
-Conversão climática: do ritmo quaternário das estações anuais bem definidas, ainda que tudo pareça um pouco alterado, passei a um ritmo binário de tempo seco e chuvoso. Mas o predomínio é a seca e a consequente falta de água que este povo vive. Porém, quando chove, o calor e a humidade fazem toda a diferença com o frio do norte, por vezes marcado com a neve.
-Conversão monetária: o poder da moeda europeia (Euro) nada tem a ver com o frágil Metical sempre a desvalorizar. O salário mínimo ronda os 44€ para aqueles que o conseguem ter. A grande maioria das pessoas vive abaixo de um euro (1€) por dia. Assim, a proximidade e identificação com este povo exige muita conversão/renúncia da nossa parte.
-Conversão linguística: embora o português seja a língua oficial de Moçambique, poucos são aqueles a usam dia-a-dia. A língua macua é a que predomina e quem a desconhece tem «muita fraqueza» na vida de relação e comunicação, reduzindo-se a duas ou três frases iniciais. Enfim, sobre isto haveria muito que falar…
-Conversão gastronómica: um cozido à portuguesa, um bom bacalhau, uma sarrabulhada… deu lugar à Xima (farinha de milho cozida) com o seu caril (conduto). Ao fim de algum tempo fica a sensação e até somos capazes de dizer: «nunca comi tanta farinha!». Talvez seja a reduzida variedade de a preparar, pois a diversidade culinária assenta na grandeza do caril que a condimenta.
-Conversão cultural: de um estilo de vida mais cronometrado passei a uma vida mais temporalizada. Mesmo com relógio no pulso, quem manda é o tempo dado a cada pessoa e cada situação. Vindo de uma cultura marcada pela inter-comunicação e globalização entramos numa cultura bastante fechada nos seus ritos e costumes tradicionais que exige conhecimento, cuidado e compreensão.
-Conversão pastoral: aqui deu-se a passagem de uma igreja com «muitos cabelos brancos» para uma jovem igreja cheia de gente nova. Dentro deste campo deu-se ainda outra mudança: da pastoral vocacional e juvenil para uma pastoral paroquial com tudo o que isso implica. A experiência adquirida simplifica o trabalho, mas as novas áreas que se abriram exigem redobrado esforço.
-Conversão pessoal: esta é a principal e a maior de todas, sobre a qual prefiro não vou falar agora, pois ainda estamos a meio da Quaresma…
9 de março de 2010
comversão
Itoculo
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3 comentários:
Grande artigo, meu! Força nas conversões, que tendem a não acabar... Eu estou a fazê-las iguais, mas ao contrário!
Pedro
Fantástico! Eu acho que senti o mesmo quando cheguei pela primeira vez a Iapala, também na província de Nampula, para fazer voluntariado como médica! Deixe-se apaixonar pelo povo e espero que seja pelo menos tão feliz como eu fui aí!
Bom trabalho e muita força, porque também sei que não é nada fácil...
Patrícia Lopes
ola... ainda bem que notas as diferenças e a consequênte necessidade de conversão. é este o caminho de encontro e de integração num mundo que não é o nosso.... isto nos permite experimentar a beleza de ser e de encontrar "o diferente"
eu também estou a viver a mesma coisa, com a diferença do frio que não é pouco...
Abraçoa todos sem excepção
Edy
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