20 de janeiro de 2018

DEPOIS DAS CHUVAS INTENSAS

O dia começou com uma chamada telefónica do animador de uma zona da paróquia a informar que muitas casas caíram com as chuvas que se fizeram sentir esta semana. Dois dias antes o jovem de uma comunidade informava que na sua comunidade caíram 35 casas. No dia seguinte rectificava e dizendo que subiu para 78, e hoje confirmava serem 85 casas, com possibilidades de aumentar nos próximos dias. Tudo isto resultou de um SMS enviado aos animadores para recolherem os dados e trazerem para o Conselho Paroquial a realizar-se no final do mês.

Após o mata-bicho, juntamente com o jovem Gilberto, seminarista estagiário, demos uma volta pelos bairros, era a sua primeira incursão a fundo por Itoculo. Cruzando pelo espaço da escola fomos na direcção do bairro Sanhote. Encontramos o Sr. Bento que estava a sachar o milho num pequeno terreno junto de casa, onde espera apanhar as primeiras massarocas para comer mais tarde. Saudamos e seguimos rumo à casa do chefe do núcleo de Santa Isabel, que encontramos quando regressava a casa com dois torrões de capim para transplantar e resguardar a sua casa das águas da chuva. Uma planta que serve também para afastar os mosquitos e dá um chã agradável para situações de indisposição. 



Este encontro deu-se quando estávamos a saudar o responsável da família da comunidade de São José, que estava a cortar um cajueiro que caiu em cima da sua latrina. Entretanto chegou um jovem que ia visitar um seminarista e combinar a viagem para Maputo. Também o seguimos nesta visita quando vimos que estava uma conjuntivite há já duas semanas. Saudamos toda a família e continuamos viagem, passando pela casa do Sr. Luís que estava de cama. Entramos para saudar e desejar as melhoras, pois já tinha estado bastante mal, pouco tempo atrás.

Por entre as casas do bairro seguimos até apanhar a estrada principal. Aí encontramos três estudantes que também iam visitar o colega que estava doente. Continuamos mais um pouco e cumprimentamos a mamã Lucinda que estava com a sua criança recém-nascida, também ela com conjuntivite. Descemos mais à frente saudando as pessoas e observando as várias casas caídas ou em risco de cair. O nosso objectivo era chegar à casa do Ancião da comunidade, mas ‘encontramos quando ele lá não estava’.

Na volta, tomamos o lado contrário da estrada e passamos pela casa do Sr. Cássimo onde estava apenas a esposa com as crianças, lamentando-se dos estragos que a chuva causou na cozinha e no celeiro. Continuamos viagem e uma senhora nos interpela para saudar e dizer que está mal da garganta, mas, como tinha entrado no hospital, conseguiu algum medicamento que vai tomar. Desejamos as melhoras e seguimos até ao mercado pela estrada central. Passamos por um grande cajueiro que tombou sobre uma casa e que agora estava cheio de crianças penduradas como num baloiço e em forma de trapézio. Aquilo que era uma tragédia para uns, para estes infantes começou a ser um centro de brincadeira e animação. Talvez seja uma maneira alternativa e mais animada para olhar esta triste realidade.

Daí cruzamos para o cemitério dos monhés que estava fechado. Mais à frente entramos na zona do bairro Novo onde muitas casas também sofreram com as chuvas intensas. De seguida penetramos no bairro de Talalane passando por uma grande mangueira que estava a ser bem abanada nos seus frutos ainda verdes. De tanto abanar se encheu todo o chão de mangas verdes, era a fome e a vontade de apanhar mangas comestíveis. O pior é que amanhã não terão outras mangas para comer, porque tudo ficou estragado no chão. Hoje apanham algumas e amanhã não terão nada, apenas mais fome. Esta é a lógica da pobreza que leva à miséria.

Sofrendo da real pobreza estava uma mamã que se aproximou e nos pediu ajuda porque a sua casa caiu totalmente com as primeiras chuvas. Sem ter onde ficar, abrigou-se provisoriamente na casa da filha. Uma situação que se terá de prolongar no tempo, pois este não é período para novas construções. Uma situação provisória por tempo indeterminado.

Continuamos e avançamos até ao núcleo de São Lucas, onde estava o Sr. Paulo com os seus amigos sentados com sinais de quem está a tomar uma ‘primeirinha’ (aguardente local). Também a sua casa foi danificada num dos lados, mas a sala do núcleo estava intacta. Nada de pânico nem alarme, pois ‘Deus enviará o sol para repor tudo no sítio certo’, dizia ele animado pelo espírito da bebida. Aí encontramos também o jovem Okeya, conhecido de todos pela insuficiência mental, mas muito calmo e simpático. Ele nos acompanhou e era o centro das atenções até chegarmos a casa.



Enfim, foi uma volta rápida e atenta que ajudou a ver o estado da situação provocado pelas chuvas intensas de uma depressão atmosférica vindas do Canal de Moçambique. São muitos casos que precisam de uma acção imediata da assistência do Governo local e central com activação do plano de emergência, mas até agora pouco ou nada se fez. E tudo isto situa-se apenas em Itoculo-sede, pois se considerarmos todos os bairros do Posto Administrativo, certamente que iremos ultrapassar as 2500 famílias desabrigadas.

Como Igreja não temos recursos para socorrer estas situações. Mas vamos pensar um plano que possa ajudar na reconstrução das casas. Não apenas na aquisição de material, mas orientação para um tipo de construção que minimize estas situações, onde prevaleçam as casas com cobertura de quatro águas. Mesmo se a maioria das construções são precárias, com adobes de barro amassado, também é possível que sendo bem-feitas elas possam suportar estes fenómenos naturais, vencendo essa precariedade.


«Que Deus nos ajude e seja favorável». É isto que queremos para este ano 2018, quando somos confrontados com situações imprevistas e bastante danificadoras. Ao mesmo tempo, tudo isto representa para nós um desafio à nossa capacidade rigorosa e eficaz de trabalhar. Estamos vivos. Vamos em frente.

1 comentário:

Broda de Jesus disse...

Força e coragem para o povo de Itoculo, unidos em oração...

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...