22 de maio de 2009

três três três...
DIFICULDADES SÃO DESAFIOS


Raul Viana
Itoculo


Ao completar 3 meses da minha chegada a Moçambique, no 3º Domingo da Páscoa, nós os 3 Padres de Itoculo fomos celebrar em 3 zonas diferentes da Paróquia e para isso precisamos de 3 carros. Saindo de manhã cedo chegamos a casa pelas 3h da tarde... Não vou fazer aqui uma reflexão sobre o número 3, até porque o carro que conduzia apenas tinha 4 rodas!

Desta vez a Celebração Dominical era numa zona relativamente perto e com caminho acessível, e por isso dava para arriscar afim de que a comunidade não ficasse sem celebração, embora o carro que levava estivesse sem pneu sobressalente. Com todo o cuidado para que tudo rolasse bem, fiz uma viagem tranquila e cautelosa. Mas ao chegar junto da capela, precisamente ao estacionar, ouço um ruído forte de ar. Fui ver o que era e em pouco tempo percebi que se acabaram as esperanças de regressar a casa de carro.

Saudamos os cristãos aí presentes, preparamos e iniciamos a Celebração. Diferente dos outros Domingos, neste dia eram apenas 3 catecúmenos apresentados para os Sacramentos de Iniciação (Baptismo, Crisma e Eucaristia), sendo que 2 deles também celebraram o Matrimónio. Este reduzido número condiz com a fraca participação das 4 comunidades desta zona. Uma realidade que precisa de ser revista!

Após o almoço, como se faz no fim de cada Celebração, apenas restava regressar a casa. Entretanto, o Animador da Comunidade insistiu para que visse o espaço para a construção da nova Capela. Talvez esteja aqui um dos factores da reduzida participação. Lá nos deslocamos, pensando que encurtávamos caminho, apenas retardamos e não resolvemos nada, pois não havia consenso unânime na escolha do terreno.

Por fim, lá nos metemos a caminho de casa. Os 20km percorridos com o carro, eram reduzidos a cerca de 12km de corta-mato. Seguindo com quem conhece o caminho, com o sol no seu esplendor, os passos eram decididos, apesar do espanto de alguns transeuntes. Fatigado da caminhada para a qual não estava devidamente equipado, logo que cheguei procurei refrescar e recobrar as energias que deram espaço a novo alento.

Enfim, tudo isto para partilhar alguns imprevistos da vida e da missão, onde nem sempre tudo corre bem, mas onde é preciso seguir de forma decidida. Por outro lado, tudo isto me fez pensar no que aprendi nos últimos anos: «Dificuldades sempre haverá… o importante é fazer delas verdadeiros desafios». Ou seja, descobrir em cada imprevisto, dificuldade ou problema um desafio ajuda a superar obstáculos e a progredir no caminho, permite enfrentar cada situação com espírito positivo e renovador. Assim se vai vivendo por estes lados!

8 de maio de 2009

A missão é uma festa


Edmilson Semedo
Itoculo


Esta frase não é minha, já alguém tinha descoberto esta verdade muito antes de mim, mas isso não me impede de usar este slogan, pois estou a viver neste momento a experiência disso mesmo.
Desde que cheguei nesta terra maravilhosa, encontrei coisas diferentes, e mesmo estranhas, mas aconcheguei-me na abertura e simplicidade de um povo manso e bom: As crianças sempre simpáticas, querendo pegar na mão do “irmão Edmilson”, ou dar um “tá-tá” (adeus) quando passo na estrada. A festa grande é mesmo quando paro para perguntar “ihali?” (novidades?). Os gestos de simplicidade não ficam por aqui. Vou relatar um episódio recente:
Estava a voltar do campo de futebol e encontrei a irmã Adelaide a conversar com umas crianças que vinham da escolinha. Então pus-me a conversar com elas, apesar de não ser capaz de o fazer em macua por muito tempo. Depois comecei a ver os seus desenhos e a elogiar a capacidade artística de cada uma delas. No fim segui para a casa, com a irmã Adelaide, depois de dar os “tá-tás”. Elas começaram a saltar e a cantar “patiri, patiri” (padre, padre), em dois coros, e a acenar.

Estes gestos simples é que nos ajudam a fazer de cada momento um convívio que faz a missão ser festa sempre e em cada dia. Estes momentos não nos deixam indiferentes e por isso, sentimos uma grande alegria interior, que nos ajuda a superar os momentos menos agradáveis e a superar as saudades. Resumindo, isto nos faz sentir bem onde estamos. Muitas vezes, temos a tentação de esquecer e não valorizar estes pequenos gestos, mas são estes sinais que fazem a nossa festa.
Os adultos têm a sua maneira de se expressar e de comunicar, mas também nós, as crianças, o fazemos à nossa maneira, não menos importante que os adultos. Eu reconheço a grandeza destes gestos dos pequeninos, porque de outra forma é quase impossível a comunicação, porque não compreendo macua e elas não sabem “ekunha” (português). Nestes casos a linguagem simbólica assume um papel indispensável, pois torna possível a nossa festa: A MISSÃO.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...