24 de dezembro de 2008

à luz de candeias pequeninas


Pedro Fernandes
Itoculo



Os últimos tempos têm sido difíceis para o nosso povo, aqui por Itoculo. O fim da estação seca é sempre complicado para as pessoas da nossa paróquia: a água falta, a comida, produzida sempre à tangente, começa a escassear, a tensão social vai aumentando com o crescente sentimento de insegurança e medo. Mas é sobretudo a má qualidade da água que constitui o problema mais grave. Este ano, tivemos mais uma epidemia de cólera e diarreias agudas, com a consequente morte de muita gente, às vezes famílias inteiras. Dói a alma ver crianças morrer em poucas horas e nós sem grande coisa para fazer senão levá-las ao posto sanitário mais próximo, às vezes a várias dezenas de quilómetros; é triste ver um pai caminhar longas distâncias, com um filho nos braços para o levar ao hospital, e chegar ao destino com a criança já morta e ele próprio a ter os primeiros sinais da doença... Este problema não é novo e desde há muito que tentamos, juntamente com o povo, procurar soluções. Tem a ver com a falta de poços de água potável, mas tem a ver sobretudo com hábitos de higiene ainda não adquiridos, com comportamentos de raiz cultural que muito dificilmente se conseguem mudar.
Quando rebentam crises como a deste ano, as pessoas ficam em pânico e a tendência geral é pensar que existem feiticeiros e “envenenadores da água” mancomunados para matar o povo. Não faltam aí as teorias mais rocambolescas, todas nascidas de rebuscados sistemas de superstição popular, para explicar tantas desgraças. É aí que as aldeias se organizam em brigadas populares de verdadeira caça à bruxas e não faltam os acusados de feitiçaria e intenção genocida, que são sumariamente julgados, condenados, executados, por vezes da maneira mais brutal, por turbas excitadas, irracionais, mas sobretudo por gente cheia de medo, perplexa com a morte, desesperada por se sentir a fazer alguma coisa que ajude a parar a epidemia. É a tensão social instalada e somos nós, equipa missionária, a tentar dialogar com o povo, tentando fazer perceber as verdadeiras causas e tentando convidar à mudança de atitudes. Não é nada fácil, até porque a esmagadora maioria das pessoas não é cristã…
Entretanto, as chuvas, graças a Deus, já começaram. Desde princípios de Dezembro que temos tido chuva quase todos os dias, e é bonito ver como em poucos dias a secura desoladora dos meses de estiagem cede lugar a um verde luxuriante, de uma vegetação a explodir fortemente por todo o lado, agradecendo as chuvadas torrenciais e o sol generoso e abrasador. Com as chuvas, num primeiro momento, podem até aumentar os casos de cólera, mas aumentando a água, os sinais da doença começam a diminuir. É nessa etapa que estamos agora, felizmente: os casos mortais são cada vez menos e acreditamos que até ao fim deste mês o problema terá passado.


A Irmã enfermeira, que trabalha na nossa missão, começa a poder dormir normalmente, depois de semanas que não conheceram nem dia nem noite, de trabalho intenso em que os turnos e os horários deixaram de fazer sentido, para atender a avalanche de doentes que não paravam de chegar. É consolador ver que a nossa irmã enfermeira deixou a vida sonâmbula, para regressar ao seu estado normal…
É neste ambiente que nos preparamos para viver o Natal. Aqui, ao contrário do que acontece no ocidente e mesmo noutras zonas de Moçambique, não há grandes sinais de quadra natalícia: nem luzinhas, nem árvores enfeitadas, nem canções festivas, nem presépios… Amanhã iremos celebrar a noite de Natal com três comunidades cheias de gente simples, que percebe pouco de pais-natal ou prendinhas, mas que sabe o que significa o nascimento de Jesus e faz uma longa vigília, toda a noite, festejando, cantando e rezando o Natal. No grande silêncio da noite moçambicana, teremos as nossas capelas de terra e capim apinhadas de gente, na maioria jovens, reunidos à luz de candeias pequeninas, alimentadas a petróleo, que com dificuldade nos permitirão ler o missal e enxergar a água com que baptizaremos algumas dezenas de crianças. Será noite de baptismo de bebés, celebrando a esperança e a alegria de uma vida que, apesar de todas as dores, teima em crescer e se afirmar. É a nossa Igreja de Itoculo, ainda a nascer, mas já cheia de sinais de pujança e vitalidade…
É com estes irmãos, neste ambiente de presépio vivo, que celebrarei o Natal, rezando e dando graças pelo Deus-criança nascido para nos dar vida. Rezarei com eles, por eles e por vós. Neste Natal, rezemos uns pelos outros, lembremo-nos uns dos outros diante deste Deus tão grande que se fez tão pequeno e sintamos que, em Jesus no presépio, todos nos encontramos uns com os outros, deixa de haver distância, porque a comunhão supera todos os tempos e separações. Por isso… por vós e convosco pedirei a Jesus bebé um Natal cheio de Paz para nós todos e um ano de 2009 penetrado dessa paz e dessa luz que quer ficar acesa durante todo o ano. Recebam um grande abraço de Boas Festas, com toda a minha amizade e a promessa da minha oração.

10 de dezembro de 2008

preparando o primeiro Capítulo

Tchindemba
Nampula



Desta vez foi a comunidade espiritana de Itoculo que, de 18 a 21 de Novembro de 2008, acolheu o segundo encontro anual do Grupo. O Yves e o Noel não estiveram presentes, por motivos de férias. Participou pela primeira vez o Edmilson, jovem estagiário cabo-verdiano que acabou de chegar e que fará o seu estágio missionário na missão de Itoculo.
A grande novidade do encontro foi o lançamento do processo preparatório para o primeiro Capitulo do Grupo, a realizar-se em 2010. O objectivo desta fase preparatória, tal como lemos no nosso documento, é de “reflectir sobre as grandes questões referentes à vida dos espiritanos em Moçambique, de modo a permitir um efectivo encontro, em diálogo, dos diferentes modos de ver e sentir a Vida Religiosa Espiritana, à luz da Palavra de Deus, dos Fundadores, da RVE e da Tradição viva da Igreja, no sentido de consolidar a unidade e a comunhão no interior do grupo e de ir preparando as necessárias condições para a concepção de um Projecto Espiritano comum em Moçambique”.
A equipa preparatória começou por explicar a metodologia de trabalho e de seguida, foram apresentadas as grandes questões que dizem respeito à vida espiritana em Moçambique: Identidade Espiritana, Espiritualidade, Comunidade, Formação, Missão e Organização do Grupo Espiritano de Moçambique.
Depois da explicação da metodologia de trabalho e da distribuição dos grandes temas da vida espiritana, cada confrade foi convidado a criar um clima de silêncio e de oração para reflectir sozinho sobre as questões colocadas. Depois de um tempo longo de reflexão individual houve uma partilha informal sobre as opções tomadas por cada um. Foi a partir da elaboração de questionários individuais que demos inicio à preparação do nosso primeiro capítulo. Depois disso, seguir-se-ão outras etapas que culminarão com a celebração do capítulo.
Ao partilhar convosco sobre este grande evento da vida do Grupo, pedimos a cada leitor a sua oração para que o nosso capítulo seja um momento celebrativo e que todas as conclusões que forem tomadas venham contribuir para o avanço da missão em Moçambique.
Que os nossos Fundadores Poullart des Places e Libermann nos acompanhem neste processo de preparação para a realização do nosso primeiro capítulo.

27 de novembro de 2008

how much blood does a computer suck out of your fingers?

Ronan White
Nampula


“The student who is afraid to ask questions is the one who is ashamed to learn”. This was my opening line to the 10 beaming students looking up at me from behind brand new laptop computers in the very first class held, in November this year, in the Mutauanha Computer School in the Mutauanha slum - the only school of its kind in any of the slums in Northern Mozambique. I had spent quite a while the previous night thinking up that line and was quite pleased with myself as I delivered it. I wasn't quite so pleased a few seconds later when a lad in his late teens put up his hand and asked - “How much blood does the computer suck out of your fingers?” None of the other 10 students in the class laughed or indicated in any way that this seemed like a rather odd question – indeed their smiles had given way to solemn stares as they expectantly awaited my response.
My own sense of excitement on this wonderful opening day took quite a dent with this question. How could I possibly attempt to explain the intricacies of hardware, software, applications and memory if the students were under the impression that blood would be let every time they touched a computer? Indeed I was beginning to worry about how they might react on learning that computers transmit viruses!
After some amount of further questioning, however, we managed to get to the root of the problem. It turned out that many adults in the locality, in an effort to warn their children about the dangers of playing with the electric wires that loosely overhang many of the streets in the slum, teach them that if they “touch electricity” it will suck out their blood. This is what almost all of the students had learned from a very young age and for most of them, who have lived all their lives without electricity in their homes, this was one of their first experiences of touching such a vampirish appliance.
Having overcome this and a number of other unforeseen initial hurdles, as well as the expected hesitations and fears, the students got down to business and began moving forward with impressive speed. Now, only two weeks into the course, they can find and open files, launch programs, confidently debate the advantages and disadvantages of a Linux operating system over a Microsoft system, and are touch typing at such a speed that it might just draw blood.

It was the young people themselves who proposed the idea of establishing a computer school in the slum. The need was identified through a study we carried out last year with a large number of young people living here. The study asked one simple question: “What is the single thing you wish you had access to to help to increase your possibilities of succeeding in life”. Over 80% responded that they wanted access to training in computer skills. Although such courses are available in the city centre, they are priced far beyond the possibilities of anyone living in the slums.
Once this need was presented, the local community responded immediately by offering a large room in their community centre for the project. The room was refurbished while the entire centre was upgraded with security gates and windows. Meanwhile the Blackrock College PPU swung into action by donating 10 brand new, as well as a number of second-hand, laptops. Then earlier this year while home on holidays, I was welcomed into the labs of the NGO “Camara” in the Digital Hub where volunteers patiently spent a week teaching me the ins and outs of the Edubuntu operating system, before offering me a number of discs to load the system onto our computers.
The end result, just over a year since the young people presented us with their dream, is that we have our computer school up and running successfully to the great joy and satisfaction of the local community. This would not have been possible without the assistance and collaboration of a large number of people and groups. I would especially like to thank the headmaster of Blackrock College Alan MacGinty and all in the Blackrock PPU – especially Ronan O’Neill who managed to source the 10 new laptops for us, the staff at Camara, the NGO “Serve” which helped to transport the computers, and a generous private donor. The current course, which has 10 students, will run for two months, 2 hours a day, 5 days a week. We are charging the students just enough to cover the costs of electricity and a night watchman. This price of 50MT/month is attainable for almost anyone living in the slum and can be favourably compared to course prices in the city of 1,600MT. We are using the new laptops for the classes, and have put a typing program onto the second hand computers which are available for anyone who wants to drop into the centre and learn how to touch-type properly outside of class hours. Word has travelled fast and although the starting date of the second course has not yet been announced, we have already been inundated with requests from people who wish to participate.
Although I am teaching the present course, we plan to train and accompany one of better students who will emerge from this course to give subsequent ones. We also plan to expand future courses and extend into a second room in the community centre where hopefully next year we will install the internet and open up an internet café. Such a resource would be hugely invaluable to people here, opening up all sorts of new horizons and undiscovered joys for them – although we are only a two hour drive away from the Indian Ocean here, the majority of people here have never seen the sea.
On reflection, the question posed by the young man on the opening day wasn't quite so strange after all. These computers have sucked a lot of “blood” - energy, work, time, and money – from a large spectrum of people and organisations in the realisation of the young people's dream. Now they are putting their own blood into it - in the hours of computer classes and the daily relentless touch-typing drills. I suppose the response I should have given was that if they want to succeed in their goal, the computers will suck a lot of blood - as the famous American football coach Paul “Bear” Bryant once famously said “there’s a lot of blood, sweat and guts between dreams and success”.

19 de setembro de 2008

as festas da missão

Pedro Fernandes
Itoculo


Às vezes a missão também é feita de festas. Em Itoculo, este ano de 2008 tem sido particularmente cheio de festas, e as festas são, aos olhos do povo, momentos fortes de encontro, de cooperação no trabalho e de verificação e fortalecimento do compromisso na comunidade. Na festa, é oferecido aos cristãos um momento forte para reverem a sua experiência de fé e confirmarem a sua pertença à comunidade; a preparação e vivência da festa obriga os cristãos a se unirem para pensar e programar juntos, para pôr em marcha os preparativos e os muitos trabalhos inerentes à festa. Isso implica reunir gente de todas as partes da paróquia, chegando a pé de lugares a dezenas de quilómetros de distância, às vezes em regiões opostas, revendo amigos e reconhecendo irmãos que são pedras de uma mesma construção. A festa é, por isso, um momento de consolidação da unidade paroquial: habitualmente, os cristãos de Itoculo vivem a sua fé centrados na sua pequena comunidade, que é o horizonte normal da sua pertença à Igreja. Quando um acontecimento de nível paroquial os obriga a sair do seu pequeno espaço e alargar o olhar a toda a paróquia, essa é uma experiência significativa da comunhão eclesial e da catolicidade. Por outro lado, a festa, sendo um acontecimento que atrai convidados de outras paróquias e até dioceses, é também uma oportunidade excelente para exercitar a hospitalidade comunitária: os cristãos sentem-se solidários por um acontecimento que os une e os responsabiliza, arregaçam as mangas para defender a honra e a boa imagem da sua paróquia, que querem que fique bem vista por todos aqueles que, de longe, irão chegar para participar num acontecimento que dependerá em quase tudo da boa preparação daqueles que acolhem.

A Inauguração do Centro
Este ano, a primeira grande festa foi a de inauguração do centro paroquial: tínhamos iniciado a construção em Março de 2006, com o sonho de inaugurar em 3 de Dezembro, dia do padroeiro do centro, S. Francisco Xavier. Mas esquecemo-nos do pequeno pormenor de que estávamos em Moçambique, não na Alemanha… e lá recomeçámos a sonhar a inauguração do nosso centro paroquial para 19 de Março de 2007, dia do padroeiro paroquial, S. José. O resto da história é fácil de adivinhar: fomos conseguindo ir arranjando datas significativas para a nossa imaginária inauguração, enquanto o ritmo da construção nos ia fazendo cair na real. A última data foi 8 de Março de 2008 e foi dessa que, em espírito de “ou vai ou racha”, fizemos mesmo a nossa tão sonhada inauguração.
Veio gente de toda a paróquia e os preparativos tinham começado semanas antes. A missa de inauguração seria na capela do centro, pensada em tamanho suficiente para os participantes dos cursos e para a pequena comunidade cristã local. Claro que o espaço era pequeno demais para toda a gente que se esperava, por isso vieram bastantes cristãos de várias comunidades construir um grande alpendre em capim, diante da capela, para acolher todos os “excedentários”. Tão bem feito foi o alpendre que um dia depois desabou todo inteirinho e deixou-nos de boca aberta diante do inesperado fenómeno. Ainda mais inesperado fenómeno foi o ciclone que se abateu sobre a costa nordeste de Moçambique precisamente na véspera da festa: nas aldeias do litoral não ficou uma única palhota de pé; nas zonas mais interiores, como é o caso de Itoculo, muitas machambas foram estragadas e o povo ficou aninhadinho nas suas casas, esperando que passasse o pesadelo. O resultado foi que só na madrugada do dia da própria festa se conseguiu pôr de pé o malfadado alpendre e reactivar os preparativos para que, em poucas horas, a festa pudesse, mesmo assim, acontecer. E aconteceu: vieram cristãos de toda a parte da paróquia, veio o bispo, que presidiu à Eucaristia, e estávamos nós, a equipa missionária, um bocado com o coração nas mãos, depois de todos os perigos que tinham ameaçado estragar a festa. A grande festa, agora, é a do funcionamento permanente do centro que, depois de inaugurado, nunca mais parou de acolher cursistas, para pequenos cursos de formação de líderes leigos para as nossas comunidades cristãs.


A Ordenação

A outra festa foi uma super-festa: a 27 de Abril foi ordenado padre um jovem natural da paróquia de Itoculo, o Bartolomeu Cipriano. É o primeiro jovem desta paróquia a ser ordenado e também a primeira ordenação que a paróquia organizava. Esperavam-se centenas de pessoas vindas de todas as partes da Província de Nampula e mesmo de outras províncias. Dezenas de padres e religiosas, missionários leigos, autoridades civis, toda a espécie de curiosos viriam também… Os preparativos começaram muitos meses antes: sensibilizando as comunidades cristãs para a importância e responsabilidade do acontecimento e mobilizando todos para a sua participação nos trabalhos de preparação. Um dos primeiros desafios foi encontrar um espaço ao ar livre suficientemente grande e com sombras para acolher tanta gente. Depois de alguma hesitação, lá nos decidimos por um terreno mesmo ao lado do centro paroquial, mas foi preciso limpá-lo de todo o muito capim e arbustos que lá estavam. Só isso demorou várias semanas, para passarmos do mato fechado à esplanada grande e bonita que conseguimos no fim. Grandes sombras de cajueiro cobriam algumas áreas do espaço, mas não eram suficientes para proteger do sol todas as pessoas que chegariam, foi por isso necessário o trabalho de dezenas de cristãos, de várias áreas da paróquia, que vieram e levantaram grandes espaços cobertos por capim, assentes em paus levantados, espetados na terra. Ao mesmo tempo, construímos um grande presbitério, coberto com chapa de zinco, que acolheu o altar e todo o espaço litúrgico da celebração.
A liturgia foi preparada desde Janeiro, com um grande grupo coral de jovens, que começaram a vir ao centro da paróquia todas as semanas, alguns deslocando-se quilómetros a pé. A Ir. Félicité, espiritana, ensaiou e preparou estes cantores e um grande grupo de dançarinos, que deram cor e beleza à celebração. Muitíssima comida foi preciso comprar e preparar e para isso estava a Ir Joyce, outra espiritana, que deitou mãos a uma obra colossal, que conseguiu levar a muito bom termo. Toda a equipa missionária e todos os cristãos das comunidades se empenharam a sério e, no fim, todos sentiam o cansaço bom de quem cumpriu a dever. Durante os meses que precederam a festa, todas as comunidades da paróquia se quotizaram para comprar uma mota ao recém-ordenado, que a recebeu no final da Celebração Eucarística, estupefacto pela surpresa que todos, pelo segredo guardado, souberam tornar possível.
Outras festas nos aguardam: a Ir Alice comemora este ano os seus 50 anos de Vida Religiosa e a Ir celebra também os seus 25. Iremos festejar estes dois acontecimentos aproveitando-os como uma boa ocasião de evangelização e formação sobre a Vida Religiosa na Igreja. Teremos também a visita pastoral do bispo, com crismas, para toda a paróquia. Será também esse um novo momento de vivência da unidade paroquial e da responsabilidade de todos. Nem tudo são festas. Mas as festas que vão havendo nos vão fazendo perceber que, apesar das agruras, a vida cristã é a grande festa que Deus nos oferece para tornarmos mais feliz a vida do mundo. Vivam as festas!

15 de agosto de 2008

o nosso encontro

Alberto Tchindemba
Nampula

Habitualmente encontramo-nos duas vezes por ano em assembleia de Grupo Espiritano de Moçambique. Os encontros têm sido momentos de partilha das nossas actividades apostólicas, um olhar sobre o andamento das nossas comunidades, convívio, abordagem das nossas preocupações e tomada de decisões. Portanto, os nossos encontros têm sido verdadeiros momentos de celebração.
Este ano reunimo-nos de 23 a 28 Maio na comunidade espiritana de Inyazónia, situada no centro do país.
É curioso notar que na nossa agenda há assuntos que estão sempre na ordem do dia. Trata-se de questões como o auto-financiamento, o acolhimento e formação de jovens candidatos e a abertura da quarta comunidade espiritana em Moçambique.

A questão do auto-financiamento tem sido um quebra-cabeças para um grupo pequeno como o nosso, sem recursos financeiros e que está totalmente dependente da Cor unum e que pouco a pouco vai reduzindo a fasquia para todos aqueles que apresentam os seus pedidos de ajuda. Que estratégias tomar para que o Grupo tenha uma ‘saúde financeira’ aceitável para dar andamento a todos os seus projectos? A questão das finanças tem sido um grande problema porque por aqui não é fácil “inventar” qualquer coisa que produza boas receitas. Esforços têm sido envidados para conseguir alguma coisa. Algumas das nossas comunidades estão empenhadas na criação de animais e em plantações hortícolas. Recentemente surgiu a ideia de encontrar terrenos na cidade para construir pelo menos um armazém, já que muitos comerciantes andam à procura de espaços para guardar os seus bens. Parece-nos ser algo que se pode fazer e até dá dinheiro. A comunidade de Nampula vai dando passos neste sentido.

A formação de jovens espiritanos é um assunto bastante debatido entre nós. Estamos em Moçambique há doze anos e já é tempo de pensar num postulantado. Muitos jovens vêem bater à nossa porta e nós não lhes damos uma resposta satisfatória porque não temos espaços para os acolher. Pensávamos ter a formação na cidade de Nampula mas infelizmente a casa recentemente comprada é pequena para albergar jovens em formação. Entretanto, temos três jovens que insistem em ingressar na formação espiritana. Para estes estamos a tentar negociar com as circunscrições vizinhas para ver se os enviamos a uma circunscrição da SCAR...

A quarta comunidade é um outro assunto que tem feito correr muita tinta, pois sente-se a necessidade de ter uma comunidade próxima da de Inyazónia para servir de apoio. Ora, a questão que se coloca é do pessoal e de dinheiro para pôr em marcha o projecto. Temos vindo a bater a várias portas mas até aqui não encontramos confrades disponíveis para Moçambique.
Diante destes desafios não desanimamos porque contamos com muitos benfeitores e com a Congregação inteira que permite que a missão espiritana em Moçambique se desenrole sem grandes sobressaltos.

foto do grupo:
da esquerda para a direita, de pé - Yves, Pedro, Ronan, Tchindemba, Oliver e Cayetano
de cócoras - Noel, Damien e Damasceno

26 de junho de 2008

a capulana

Damasceno
Itoculo

Pode-se considerar o traje típico da mulher moçambicana. Sobretudo no norte do país, da mais pobre à mais rica, toda a mulher que se preze anda com uma: é a Capulana. Trata-se de um pano suficientemente largo para se enrolar à cintura e fazer de saia. Há-as de todas as cores e feitios, comemorativas de datas importantes ou com o emblema de algum partido político. Ao nível da Igreja é frequente mandarem-se fazer para marcar algum acontecimento especial, como nos quinhentos anos de evangelização de Moçambique, por exemplo. Nalgumas paróquias, principalmente nas da cidade, grupos de mamãs ou grupos corais organizam-se para ter a sua capulana de modelo único como uniforme.

Na nossa paróquia de Itoculo, a irmã Joyce, espiritana da Nigéria, organizou as mamãs para que pudessem mandar fazer a sua própria capulana. À partida a tarefa não seria fácil, porque para conseguir uma capulana com um desenho exclusivo a preço razoável é preciso encomendar na fábrica (geralmente na índia) um elevado número de peças... é obra que só se consegue ao nível nacional ou, na melhor das hipóteses, a nível diocesano. Mas Itoculo conseguiu.

A dada altura foi preciso projectar e desenhar a capulana. E, no computador, com as possibilidades de um corel paint, ou photo shop – ou lá o que é – não foi difícil. O sonhado foi o que se vê na foto em baixo:



Mas o que veio da fábrica, uns meses mais tarde, era um pouco diferente!



Mesmo assim, as mamãs ficaram contentes. E dá gosto vê-las a todas a trajar de igual e a cantar nas grandes celebrações.

O sucesso da capulana é de tal ordem que, mesmo fora do círculo das mamãs, há quem se tenha afeiçoado a ela!

Salama.

13 de junho de 2008

notre missel, nos jeunes, notre foyer


Yves Mathieu
Inyazonya
Un grand bonjour à tous,

Ici, tout va bien. C’est maintenant le début du deuxième trimestre. Nous sortons de 2 semaines de vacance. Durant ce temps, nous avons donné des petits boulots à 7 jeunes, pour leur permettre de payer leurs études. Certain refont les peintures. Certains font la couture de la reliure de notre nouveau missel. Nous avons enfin terminé le missel en Chibarue. Il fait plus de 400 pages. C’est la fin d’un gros travail. Les gens sont très contents. Nous l’avons fait photocopier. Maintenant, ce sont des jeunes qui font la reliure.

En temps que professeur, durant le temps des vacances, je rejoignait les autres professeurs pour faire les conseils de notes. Je ne sais pas comment ça se fait en France, mais j’ai trouvé que c’était un peu difficile. Nous commençons par mettre toutes les notes de toutes les disciplines sur une grande feuille avec le nom de tous les élèves de la classe. Ensuite, nous regardons : ceux qui ont moins de 2 notes négatives, sont autorisés à continuer pour le deuxième trimestre. Pour les autres, on discute. Sauf quelque rares cas, nous sommes incapable de connaître tous les élèves. Ils sont en moyenne 55 par classe. Nous déduisons donc de l’évolution des notes, savoir si les notes vont en montant ou en descendant… il y a aussi le fait d’être connu. Si l’élève est de la famille d’un prof, les notes remontent plus facilement. De cette manière, nous remontons les notes de certains, pour atteindre une moyenne de 80%. Il faut que 80% de chaque classe soit admit au second trimestre. Le problème est pour les autres. Ceux qui ne sont pas admis pour le 2° trimestre. Ils ne peuvent pas redoubler, car ils leur faut attendre l’année prochaine. Ils ne peuvent pas non plus continuer. Il y a une expression ici qui dit : Je suis assis à la maison. En d’autres termes, ces élèves restent chez eux, sans rien faire, en attendant l’année prochaine pour redoubler. Nombreux d’entre eux désisterons définitivement.
Il y a un autre problème. Parfois les parents n’étaient pas présent au début de l’année scolaire. Si personne n’a inscrit les enfants, ils vont rester « assis à la maison » durant toute l’année. Nous sommes en train d’essayer de faire rentrer 3 enfants en classe, en début de 2e trimestre. Nous les aiderons à rattraper leur retard, mais il faut leur éviter cette année « assis ».

Notre foyer avance tout doucement. Nous attendons le toit du dortoir. La maison du responsable est presque finie. Les fondations de la salle à manger sont déjà commencées. Nous commençons un nouveau projet pour construire, une école maternelle. Il s’agit de rénover de vieux batiments.
Amitiés à tous.

YVES



le foyer en construction
Na foto, o lar para estudantes em construção pelos missionários do Espírito Santo, na missão de Inyazonya, Chimoio

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...