1 de junho de 2021

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004

«Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir.» (Jo 3, 27. 29-30)


A alegria começou a completar-se a partir do dia 14 de Janeiro 2003 onde houve um encontro com o P. Ambrósio, então responsável por Itoculo A (actual região do Congo), em ordem à transição de toda a área de Itoculo para a responsabilidade dos Espiritanos. Pouco tempo depois (1 de Fevereiro) realizou-se um conselho regional onde foram apresentados oficialmente os Espiritanos como futuros párocos de Itoculo. 

Logo a seguir, no domingo dia 10 de Março de 2003, na comunidade de Namalima fez-se a primeira celebração presidida pelo P. Damasceno nesta área de Itoculo A, com essa mesma finalidade de fazer a transição progressiva. Um processo que se foi alargando ao longo de todo o ano pastoral.

No dia 14 de Janeiro 2004 o bispo D. Germano, depois de alguma pressão, fez uma visita à comunidade espiritana de Netia e anunciou os nomes dos padres que iriam assumir a paróquia: P. Raimundo Ramane e Paulo Raul. Neste dia ficou definida a data da passagem e Tomada de Posse dos novos párocos. Agendou-se também uma reunião do Conselho Paroquial de Netia para o dia 30 de Janeiro, uma reunião que foi presidida pelo Bispo diocesano onde apresentou os novos párocos de Netia e deixou orientações para uma passagem progressiva e acompanhada dos Espiritanos.

Deste modo, pouco tempo depois, no dia 17 de Fevereiro, o P. Ramane chegou definitivamente a Netia para preparar a cerimónia da Tomada de Posse que aconteceu no dia 22 de Fevereiro, onde os Espiritanos cessaram funções em Netia. Tratava-se de fazer crescer os padres diocesanos, tal como falou João Baptista acerca de Jesus.

Entretanto, em Itoculo no dia 17 de Janeiro já se tinha realizado uma reunião com alguns ministérios em vista da unificação da futura nova paróquia de Itoculo. Foi uma reunião muito pacífica com a presença do P. Ambrósio. Mais tarde, a 14 de Fevereiro, os membros dos três Conselhos Regionais (Djipwi, Xihire e Congo) reuniram-se em Itoculo com o Sr. Bispo em ordem à criação e unificação da nova paróquia Itoculo. Nesta reunião ficou determinado que as três regiões vão continuar a ter os seus conselhos regionais havendo depois uma ou duas assembleias anuais onde todos participam em conjunto. No final houve um almoço na casa de um dos enfermeiros de Itoculo.

Por fim, como refere a Provisão do dia 22 de Fevereiro de 2004, no dia 19 de Março de 2004, em Itoculo foi erigida em «paróquia autónoma», desmembrando-se de Mueria, Netia e Carapira. Numa outra Provisão, também de 22 de Fevereiro, nomeou-se o Pároco solidário da recém-criada Paróquia de São José de Itoculo: P. Pedro (moderador) e os padres Alberto, Damasceno e Guilhermo tendo em vista «o melhor bem do crescimento espiritual e material dos fiéis e todos os homens e mulheres de boa vontade da mesma Paróquia».

PRECE: Hoje, Senhor, agradecemos tudo o que de bom aconteceu nas missões onde trabalhamos, e pedimos para que continue a crescer e a dar fruto todo o esforço despendido na evangelização das famílias e comunidades. 

25 - Nos caminhos de Deus

 - Netia/2003

«Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos pelas suas veredas.» (Miq 4,2)


O ano 2003 em Netia começou com a chegada (23 de Janeiro) do jovem espiritano em formação, Saturnino Afonso, cabo-verdiano, que veio fazer o seu estágio missionário. Menos de um mês depois, a 13 de Fevereiro, chegaram as Irmãs Agostinianas que vieram substituir a Irmãs Combonianas, oficializando a sua entrada em Netia no dia 2 de Março. Terminava um ciclo e abria-se outro com novas Irmãs, apontando já para o futuro da missão de Netia, onde em breve outros Padres haveriam de chegar também para esta missão.

Neste ano 2003 houve várias reuniões no Anchilo em ordem a preparar os catecismos das crianças ao nível da Província Eclesiástica de Nampula, que o P. Alberto participou dando a sua colaboração. Mas principalmente o ano ficou marcado pela construção da residência espiritana em Itoculo que obrigou a inúmeras viagens para o acompanhamento da obra. Pelo relato do diarista, isto acontecia quase de forma diária para que a obra não fosse um fracasso.

Igualmente muitas viagens foram feitas para comprar combustível para as moageiras da missão de Netia. Como uma espécie de autofinanciamento, mas parece que pouco valeu… Ao fazer o balanço das contas anuais uma das conclusões que mereceu a repreensão do Superior, foi que «gastamos muito no combustível, mas felizmente poupamos na comida». Na verdade, poupar na comida significava aumentar o risco de estar mais propenso às doenças da malária e outras fraquezas físicas.

O trabalho do transporte de doentes para o hospital distrital a custos da própria comunidade espiritana foi uma realidade muito frequente e quase diária. Mesmo depois dos inúmeros trabalhos pastorais sempre havia alguém necessitado desta ajuda urgente e solidária. 

Uma pequena peripécia aconteceu no dia 29 de Agosto com o P. Alberto que foi a Nampula levar um pequeno gerador para compor de uma avaria. No regresso a casa, já de noite, a porta traseira do carro abriu-se devido aos inúmeros buracos da estrada, e o gerador perdeu-se pelo caminho. Ao chegar a casa e verificar tal perda, mesmo estafado da viagem, ainda voltou atrás vários quilómetros mas nada encontrou. Igualmente de madrugada foi fazer mesmo percurso mas com um resultado em vão, e um grande descontentamento que não tinha outra solução senão aceitar assim mesmo.

Enfim, a nível da Diocese de Nacala, registou-se neste ano 2003, precisamente no dia 9 de Setembro, a inauguração e bênção do Santuário Diocesano, Maria Mãe de África, em Alua, onde anualmente toda a Diocese peregrina para receber a bênção da Mãe do Céu. Um mês depois foi a canonização dos Fundadores dos Missionários Verbitas e Combonianos (5/10), o que levou a fazer grande festa diocesana no Dia das Missões, a 19 de Outubro.

PRECE: Hoje, Senhor, te pedimos por todas as famílias religiosas e missionárias na nossa diocese. A diversidade de carismas é um dom para todos nós. Ajuda-nos a valorizar cada um deles para crescimento da Igreja e consolidação da nossa fé.

24 - No mesmo Espírito

- Grupo/2003

«Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos». (1Cor 12, 4-6)


No dia 6 de Janeiro os confrades de Netia (Pedro, Alberto e Damasceno) partiram rumo a Inhazónia para o Encontro do Grupo, mas logo após passar a cidade de Nampula foram deparados com a derrocada de uma ponte rodoviária que impediu a passagem para a frente. A única solução era regressar a casa, o que aconteceu muito naturalmente.

Por sua vez, no dia 21 de Abril o P. John visitou Netia com a finalidade de reorganizar o Grupo Espiritano e fazer a agenda do próximo Encontro do Grupo a ser realizado no mês de Novembro em Netia. Foi constituída a equipa animadora do Grupo de Moçambique (John, Pedro e Alberto). Também se traçaram os temas a falar no Encontro: a terceira comunidade e a maneira como começar uma pastoral vocacional, o postulantado e a formação inicial foram os assuntos da linha da frente. O regresso a Inhazónia do P. John foi no dia 9 de Maio, havendo tempo ainda para um mergulho nas águas do índico.

Ainda que não seja muito relevante, mas no dia 15 de Abril de 2003 foi criado pela primeira vez um endereço eletrónico para a comunidade de Netia. Deste modo já não precisavam incomodar os missionários Verbitas na vila de Monapo para ver o correio electrónico. O nome escolhido foi: espiritanosdeitoculo@hotmail.com. Um endereço que perdurou vários anos, agora em desuso, mas revelava o desejo e o pensamento de quem já queria estar na missão de Itoculo.

Entretanto, a comunidade de Netia continuou o seu trabalho e a receber as suas visitas. No dia 25 de Maio chegou o P. Paddy, Superior da SCAF (África do Sul), vindo de Inhazónia onde esteve a participar no Encontro da Região Centro-Sul de África. Foi uma visita de simpatia mas coma finalidade de mobilizar o pessoal de Moçambique a participar no Capítulo da SCAF que iria acontecer no mês de Dezembro, e que a nova circunscrição de Moçambique sempre resistiu a ficar ligada a esta região espiritana por diversas razões devidamente justificadas.

Por fim, a 13 de Novembro chegaram a Netia os confrades de Inhazónia (John, Yves, Fran e o estagiário Baltazar) para o VII Encontro do Grupo. Neste Encontro chegou-se à conclusão que a terceira comunidade seria aberta definitivamente na cidade de Nampula. Para tal era necessário providenciar tudo o que fosse essencial para o concretizar, a começar pelo pessoal a integrar a comunidade, a própria residência espiritana e o compromisso pastoral nessa nova frente missionária. O Encontro serviu também para nomear o P. Alberto como primeiro Ecónomo do Grupo por um período de 3 anos (15 de Novembro de 2003). O Encontro terminou no dia 20 de Novembro com o regresso a Inhazónia dos confrades, após um tempo bem passado entre todos.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos rezar por todos os que exercem funções de administração nas comunidades e circunscrições, para que tudo seja feito com amor e compaixão, entrega e simplicidade para o bem da missão.

15 de maio de 2021

23 - Uma nova missão

- Itoculo-antecedentes

«Assim como os novos céus e a nova terra, que vou criar, subsistirão diante de mim, assim também subsistirá a vossa posteridade e o vosso nome». (Is 66,22)


A ideia de deixar Netia e partir para outra missão começou já em 1998, pouco tempo depois do início da presença espiritana em Moçambique. Aí se dizia que Netia é uma das paróquias «mais fáceis» e que devia ser entregue ao clero diocesano que começava a emergir na Diocese de Nacala. Assim, a presença em Netia não deveria ser superior a mais de cinco ou seis anos: «nessa altura prestaremos melhor serviço à diocese se entregarmos a paróquia aos cuidados dos padres locais», escreveram os confrades de Netia a 16 de Abril de 1998.

A reflexão passou a ser feita a nível do Grupo, envolvendo depois a Diocese e por fim chegou ao Superior Geral e seu Conselho. Daqui resultou a decisão final de Roma com a seguinte justificação: «deixar a Paróquia aos sacerdotes diocesanos para assumirem Itoculo B, por ser uma área menos assistida, vai de acordo com o nosso espírito missionário, pelo que aprova e apoia essa iniciativa e encoraja os membros dessa comunidade a ir para a frente com o projecto» (Roma, 30 de Outubro de 2001).

Sem mais esperas, a procura de um terreno avançou e no dia 22 de Novembro 2001 fez-se a compra do terreno em Itoculo tendo em vista a futura residência dos Espiritanos. Foi comprada uma área de noventa mil metros quadrados a dois proprietários de Itoculo: Cássimo Momade João e Bento Veligy. Logo de seguida tratou-se dos documentos para a posse do terreno (DUAT), o qual foi obtido a título definitivo no dia 6 de Dezembro de 2001.

Nos dias 7 e 8 de Outubro 2002, fez-se a abertura do furo de água, que resultou num bom caudal, e garantiu a construção da residência dos Missionários nessa zona. Ao mesmo tempo surgiram outras preocupações ligadas com a construção da nova casa a começar pelo estilo de habitação mais simples ou mais formal. Depois de muito debate e discussão fez-se o rascunho da Planta da casa que uma arquitecta portuguesa (Maria Amélia Cabrita) desenhou e fez chegar a Netia no dia 27 de Dezembro de 2002, precisando depois ser validada pelas autoridades distritais de Monapo. A partir daqui fez-se um orçamento e começou-se a angariar fundos de financiamento.  

No dia 5 de Fevereiro 2003 foi obtida a licença de construção desta nova residência, e foi assinado o contrato de construção com a empresa Ribeiro (Nacala) no dia 14 de Fevereiro com o plano de iniciar os trabalhos no mês de Março. Precisamente no dia 10 de Março colocaram-se as estacas a demarcar o local da construção e logo chegou a equipa de montagem do estaleiro. Um pouco mais tarde, o Conselho Geral (Roma) escreveu uma carta (15 de Maio de 2003) incentivando a prosseguir com as obras e disponibilizando-se a dar um apoio apenas no mobiliário da casa.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos rezar por todos aqueles que contribuíram para a construção da residência missionária de Itoculo, quer material quer espiritualmente. E também por todos aqueles que derramaram o seu suor para erguer e equipar toda a casa que hoje habitamos.

22 - No olhar de Deus

- Inhazónia/2000-2003

«Felizes os que obedecem ao Senhor e andam nos seus caminhos. Comerás do fruto do teu próprio trabalho: assim serás feliz e viverás contente». (Sl 128,1-2)


A comunidade de Inhazónia parecia ganhar alguma estabilidade com a chegada do P. John Kingston no ano 2000. Mas outros imprevistos foram acontecendo. Primeiramente, uma situação delicada deu-se com o P. Anthony que se envolveu com uma mulher casada da vila de Catandica, que obrigou ser transferido de imediato para o Distrito Espiritano do Zimbabwe no dia 3 de Outubro de 2001. Por essa altura também o P. Lawrence tinha apresentado o pedido para fazer um Ano Sabático e em 2002 viajou para os Estados Unidos da América. Deste modo, o P. John ficou sozinho na comunidade espiritana até à chegada do novo confrade, o P. Fran Kearns.

Entretanto, já o jovem padre Eric Ngoy, espiritano do Congo Kinshasa, tinha sido nomeado para o Grupo de Moçambique, devendo chegar em Outubro de 2001 a Inhazónia, mas nunca chegou apesar de terem sido enviados todos os documentos para a emissão do Visto (14 de Maio de 2001). Ao assumir a tarefa de assistente do Mestre de Noviços e Vigário da sua paróquia de origem, por aí mesmo ficou todo o tempo.

Igualmente um outro jovem padre nigeriano, Vitalis Eke, foi nomeado para o Grupo de Moçambique, devendo chegar em 2002, também com destino a Inhazónia, mas nunca chegou a Moçambique e não se conhecem as razões disso. Por sua vez, o jovem padre irlandês, Fran Kearns, chegou e integrou a comunidade de Inhazónia, contrariando os seus dois antecessores. Mesmo assim, não se demorou muito tempo na missão, pois em 2003 regressou à Irlanda, por se ter envolvido com uma jovem na missão, que hoje é «a mulher da sua vida».

Nesta altura foi posta em questão a continuidade da presença espiritana na Diocese de Chimoio por causa das tensões entre a comunidade espiritana e o Sr. Bispo que interferia demasiado na vida dos confrades, tal como refere uma carta do Jerónimo Cahinga (15 de Maio de 2003). Na verdade, houve problemas com os confrades da comunidade espiritana de Inhazónia, mas a maneira de os resolver por parte do bispo diocesano foi imprópria, extrapolando as suas competências e causando mal-estar. Por tudo isto, não é de estranhar que o Grupo Espiritano sempre descartou a possibilidade de abertura de uma nova comunidade na diocese de Chimoio.

Contrariando tudo isto, no dia 10 de Fevereiro de 2003 chegou o P. Yves Mathieu, espiritano da França, após ter passado uns meses em Portugal a aprender português, ficou nesta missão até 2015. Um trabalho de reconciliação e ajustamento foi levado a cabo, e mais tarde ele mesmo foi escolhido para Vigário Geral da Diocese de Chimoio (2009-2015), ficando neste cargo até à data em que foi chamado para fazer um trabalho na Procuradoria espiritana em Paris durante 5 anos. No fim desse tempo regressou de novo a Inhazónia e chegou no mês de Janeiro de 2020. Também para reforçar a comunidade chegou no final de 2002 o jovem estagiário mexicano, Baltazar Hernandez, permanecendo durante um ano e ajudando na pastoral da catequese.

PRECE: Senhor, as contrariedades da vida são muitas e às vezes nos fazem desanimar. Ajuda-nos a colocar em Ti toda a nossa confiança para ver em todas as dificuldades da vida um sinal do teu amor e descobrir nelas uma nova oportunidade. 

21 «Estamos vivos»

 – Netia/2002

«Irmãos, permanecei na caridade fraterna. Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos». (Heb 13, 1-2)


O ano 2002 foi muito preenchido por viagens, visitas e acontecimentos marcantes na paróquia e na comunidade espiritana de Netia. Assim ressalta-se o seguinte:

- De 22 a 25 de Janeiro recebeu a visita do espiritano irlandês Colm Reidy.

- De 18 a 25 de Fevereiro chegou a visita do Bertrand, primo do voluntário Christophe.

- De 21 a 29 de Março foi o passeio do Tiago e o Christophe a Cuamba, na Província do Niassa.

- No dia 11 de Maio o Tiago parte para Africa do Sul onde ficou uma semana e depois seguiu definitivamente para Portugal.

- De 20 de Junho a 6 de Julho os pais e a irmã do voluntário Christophe fazem uma visita a Netia.

- De 21 de Junho a 18 de Setembro o P. Pedro foi de férias a Portugal, passando o último mês na Africa do Sul.

- No dia 21 de Julho foi a ordenação presbiteral do P. Patrício Simão em Netia que durou mais de cinco horas.

- De 27 de Julho a 2 de Agosto chegou o espiritano francês P. Jean Michel Gelmeti que depois seguiu viagem por terra para a Tanzânia.

- De 26 de Agosto a 18 de Setembro o P. Damasceno e o P. Alberto viajam a Durban e regressam juntos com o P. Pedro.

- No dia 2 de Novembro chegaram dois supervisores da DCC (Benoit e Suzana) para fazer um acompanhamento do trabalho do voluntário Christophe.

- No dia 22 de Novembro chegou a Rosa Celeste da APARF, uma associação que apoiava o trabalho do voluntário Christophe.

- De 28 de Novembro a 19 de Dezembro a comunidade recebeu a visita do confrade Fran Kearns de Inhazónia.

- No dia 21 de Dezembro foi a Profissão Perpétua, em Netia, da Ir. Atija da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria.

Enfim, muitas viagens e grandes acontecimentos que também ficaram registados no pequeno boletim - NAKUMI (em macua significa: «estamos vivos»)– um meio de informação da vida missionária da comunidade de Netia, publicada em tamanho A5 com 12 páginas, e uma tiragem de 120 exemplares com o primeiro número em Dezembro de 2002.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos agradecer todas as visitas que chegaram nas nossas comunidades espiritanas. Ajuda-nos a manter sempre as nossas casas de portas abertas, em especial para aqueles que mais precisam da nossa ajuda.

23 de abril de 2021

20. Amar de verdade

- Netia/2002

«Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes». (Mt 25,40)



Ontem como hoje a missão exige um olhar atento aos mais pequenos e frágeis da sociedade. Num contexto de pobreza isto torna-se geral e fica difícil distinguir quem é o mais necessitado, pois qualquer coisa que aparece como uma ajuda tem de ser distribuída por todos porque todos estão carenciados. Mesmo assim, é sempre necessário atender aos mais pobres dos pobres.

Em 2002 a Missão de Netia foi ganhando forma no trabalho de cada dia. Por um lado estavam os casos de polícia que era preciso atender, como aconteceu com o celebrante da capela de Npitokweni em que foi violentamente agredido acusado de feitiçaria. Um caso que chegou até às autoridades distritais de Monapo onde o Juiz condenou os réus a seis meses de prisão ou ao pagamento de 911 mil meticais por cada réu, o que era bastante dinheiro atendendo à realidade precária do povo. Outros roubos no quintal dos padres não faltaram acontecer como foi o caso no dia 11 de Abril quando roubaram os cabritos da comunidade.

Mas o que predominou neste ano 2002 foram as situações de pessoas doentes que era preciso levar ao hospital distrital de Monapo. Isto deveu-se ao facto de haver um enfermeiro na equipa missionária que trabalhava no Centro de Saúde e dava consultas livres nas comunidades onde entrava juntamente com os padres para as celebrações. Um trabalho feito pelo voluntário Christophe da DCC (França) com apoio da APARF (Portugal) que muito beneficiou as comunidades cristãs e a população em geral.

A nível pastoral os encontros e formações dos ministérios preencheram muito tempo da vida dos confrades, quer a nível da paróquia, quer a nível da Diocese. Reuniões do Conselho Económico, do Conselho Presbiteral, do Secretariado de Pastoral, das comissões a Juventude, da Justiça e Paz, da Catequese e novos catecismos… Também é de registar a participação no Curso Bíblico orientado pelo especialista brasileiro Carlos Mesters.

Além disso intensificaram-se as celebrações nas comunidades visto ser uma maneira muito concreta de estar com as pessoas e perceber a sua real situação. Mas eram muitas vezes feitas em grandes dificuldades por caminhos impróprios que obrigava a chegar a altas horas da noite como ficou referido no diário de 30 de Março de 2002: «por volta da uma hora da manhã chegamos a casa, mas com grandes dificuldades devido ao mau estado da estrada».

Para compensar todo o desgaste do trabalho missionário não faltaram alguns passeios realizados e os hospedes que visitavam, o que permitia descontrair um pouco. Igualmente os tempos de retiro no Mosteiro em Nampula eram outros momentos oportunos para o recobrar das forças físicas e espirituais. Mesmo assim não faltaram inúmeras malárias para travar toda vontade de um exercício pastoral evangelizador, com especial incidência no final de Maio do ano 2002.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos rezar por todos os doentes das nossas comunidades cristãs, especialmente aqueles que sofrem sem ter ninguém que os ajude e proteja. Faz de nós missionários sensíveis à dor sofrida dos irmãos doentes.

19. Tudo para edificar

 – Grupo/2001

«Quando vos reunis, e cada um de vós tem um hino a cantar, um ensinamento a proferir, ou uma revelação, ou um discurso em línguas, ou uma interpretação, que tudo se faça de modo a edificar». (1Cor 14,26)



Os encontros e visitas formais e oficiais ao Grupo de Moçambique têm uma finalidade de edificar e fortalecer o projecto missionário assumido em 1996. Com toda a abertura de espírito e dando a palavra a cada um, torna-se possível construir uma nova identidade animada pelo Espirito de Deus para o serviço comprometido dos irmãos.

Assim, nos dias 16 a 25 de Abril de 2001 o novo Conselheiro Geral, P. Jerónimo Cahinga, em substituição do P. Mbilingi que tinha sido nomeado Bispo Coadjutor do Lwena (Angola), visitou o Grupo de Moçambique. Uma visita «muito positiva e satisfatória» com um acolhimento «extraordinário», assim ficou expresso no relatório apresentado. Durante esta visita aconteceu o VI Encontro do Grupo em Netia (24 de Abril) que contou apenas com a presença dos confrades de Netia excepto o P. Alberto que estava em Angola a tratar da saúde (febre tifoide), o P. John Kingston e o Conselheiro Geral, P. Jerónimo Cahinga. Os dois confrades de Inhazónia (Anthony e Lawrence) não vieram por falta de espaço em Netia, pois a casa já estava cheia com os dois estagiários, um diácono diocesano e um jovem voluntário francês.

Um sentimento comum fazia perceber que a presença espiritana em Moçambique ia-se enraizando cada vez mais, e o Conselheiro fez notar que havia «uma grande disposição dos confrades em prosseguir com a missão a que foram chamados e exercer numa vida comunitária alegre, sã e empenhada». O tema da vida comunitária e da actividade apostólica preencheu todo o tempo da visita.

Novamente o assunto da terceira comunidade espiritana ocupou um tempo bastante razoável deste VI Encontro, concluindo por unanimidade que o melhor seria situá-la na cidade de Maputo. Também se falou sobre a real possibilidade de num espaço de três anos deixar a paróquia de Netia e entregar ao clero diocesano, construindo uma nova residência na área de Itoculo.

Falou-se ainda do coordenador do Grupo, uma vez que o P. John Kingston completou um ano ad experimentum. Igualmente os superiores e ecónomos das comunidades deveriam ter uma nomeação oficial de acordo com a Regra de Vida Espiritana, bem como escolher e nomear um ecónomo do Grupo após uma consulta de todos os membros. Assuntos falados entre todos os confrades do Grupo e que o Superior Geral e o seu Conselho convidou a proceder dessa maneira por corresponder à prática organizativa da Congregação. Desta maneira o Grupo começa a ganhar mais normalidade, entrando dentro do esquema de funcionamento geral da Congregação.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos rezar para que nunca nos falte a capacidade de olhar a nossa vida e o trabalho missionário desde uma perspectiva positiva e optimista. Sabemos que muitas vezes a tentação é bem contrária, mas com a força do teu Espírito poderemos vencer esta inclinação natural para trazer mais animação e alegria a todos os irmãos a nossa lado.

8 de abril de 2021

18 - Com todo o coração

 – Inhazónia/2001

«No que fizerdes, trabalhai de todo o coração, como quem o faz para o Senhor e não para os homens, sabendo que é do Senhor que recebereis a herança como recompensa. O Senhor, a quem servis, é Cristo. (Cl 3,23-24)

A comunidade espiritana de Inhazónia em 2001 estava composta pelos padres Anthony (1996) Lawrence (1999) e John (2000). A chegada deste último confrade foi importante para superar muitas dificuldades, a sua presença foi definida como «uma ajuda extraordinária» visto se tratar de «uma pessoa aberta e animadora», que consegue encorajar os outros, tal como ficou escrito no relatório do Conselheiro Geral de 30 de Outubro de 2001.

Devidamente constituída a comunidade espiritana, foi necessário fazer algumas remodelações no interior da residência «para criar um a ambiente mais confortável e agradável para a vida de comunidade». Igualmente com ajuda da Cáritas diocesana foi construída a ponte sobre o rio Mkulumpita que facilitou imenso a entrada na Missão. Apesar de tudo isto ainda continuou alguma dificuldade a nível da vida de oração comum e da programação pastoral, assunto referido pelo Conselheiro Geral.

Entretanto, as actividades pastorais abrangendo uma vasta área territorial envolviam um bom número de catecúmenos, sendo os cristãos uma minoria que não devia passar de uns dois mil. Nesta Missão de Inhazónia, um dos maiores problemas era a variedade das línguas na área da missão, pois existiam quatro línguas principais e não havia nada escrito a nível de catequese e liturgia. Além disso uma grande parte da população era analfabeta o que dificultava ainda mais a formação dos lideres e animadores cristãos.

Nesta altura os confrades espiritanos continuaram empenhados activamente na visita e dinamização das pequenas comunidades cristãs existentes e na evangelização dos catecúmenos. Algumas destas comunidades distavam a duzentos quilómetros do centro paroquial de Inhazónia o que tornava as viagens muito desgastantes. Para minimizar esta situação a Diocese preparava um novo grupo de missionários, os Padres Mexicanos de Guadalupe, que deveriam ocupar a parte norte da área de Inhazónia (Guru e Tambara) o que iria aliviar um pouco o enorme trabalho dos Espiritanos devido à grande extensão da Missão. Do mesmo modo o Bispo contactou com as Irmãs do Sagrado Coração de Maria para passar a residir na Paróquia de Inhazónia-sede.

É ainda de referir que nesta altura começaram a surgir algumas dificuldades de relação da comunidade espiritana com o Bispo diocesano. Ele mesmo tinha sido pároco em Inhazónia e tinha a sua rede de contactos que em muitos casos apenas criava mais instabilidade e obstáculos ao bom entendimento entre as partes. É também neste ambiente que se ouve a infeliz expressão do bispo: «eu não quero os missionários estrangeiros, mas quero o dinheiro deles». Um pensamento deste género revela também o tipo de pessoa e as suas intenções. Mas a missão evangelizadora está bem enraizada e o Espírito Santo protagonista da missão não se deixa vencer pelos homens.

PRECE: Hoje, Senhor, rezamos pelas comunidades que cada Domingo fazem a sua Celebração da Palavra por não haver sacerdote para presidir à Missa. Fortalece e anima cada irmão e irmã nesta caminhada de fé cristã.  

17 - «Vem e segue-me»

 - Netia/2001

«Aproximou-se dele um jovem e disse-lhe: «Mestre, que hei-de fazer de bom, para alcançar a vida eterna?» […] Jesus respondeu: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» (Mt 19, 18.21)

O ano 2001 continuou a ser fecundo a nível das visitas que chegaram a Netia. Mais fecundo foi o compromisso de vida missionária dos jovens, quer diocesanos quer religiosos, como resposta ao convite de Jesus «Vem e segue-me».

Assim, a comunidade de Netia começou por receber a visita do P. John Kingston e do P. Anthony de 12 a 27 de Fevereiro, correspondendo ao IV Encontro do Grupo. Um pouco mais tarde, a 17 de Abril, chegou o P. José Manuel Sabença com estagiário Victor Silva para uma breve visita à Missão. E no dia 20 de Abril chegou o P. Jerónimo Cahinga, Conselheiro Geral, acompanhado do P John Kingston, para uma visita oficial à comunidade espiritana e para realizar o V Encontro do Grupo Espiritano onde estiveram ausentes os padres Lawrence e Anthony por razões de espaço para estadia.

No mês de Julho os dois estagiários Matias e Tiago ficaram todo o tempo na Escola Industrial da Carapira para aprender alguma coisa de mecânica. Mas de pouco valeu para resolver a avaria do carro que os levava a Milevane (Zambézia) onde foram fazer o retiro da comunidade (2 a 8 de Setembro). O carro ficou avariado uma semana em Alto Moloque e no final do retiro foi rebocado para Nampula. Os padres Pedro e Damasceno, que tinham ido a Inhazónia na segunda quinzena de Agosto participar no VI Encontro do Grupo, regressaram para o retiro juntamente com o P. John Kingston que depois também continuou para Netia.

Já no final do ano, de 5 a 27 de Dezembro, os estagiários Matias e Tiago foram a Inyazónia passar uns dias de descanso e ao mesmo tempo preparar o compromisso dos Votos Perpétuos do jovem Matias. Entretanto, no dia 19 de Dezembro chegaram os pais e a irmã do P. Damasceno onde passaram juntos o Natal na comunidade de Netia regressando a Portugal no dia 5 de Janeiro de 2002.

No final do ano, dia 28 de Dezembro, chegou o P. John Kingston, coordenador do Grupo, que veio presidir à Profissão Perpétua do jovem Matias celebrada no sábado dia 29 de Dezembro na igreja paroquial de Netia. Foi uma celebração com reduzida participação do povo e das equipas missionárias, pois no dia seguinte, 30 de Dezembro, aconteceu em Nacala a Ordenação Diaconal do mesmo jovem Matias juntamente com o Patrício Simão e a Ordenação presbiteral de Paulo Raul, estes dois últimos diocesanos de Nacala. Aqui houve grande participação de Padres e Irmãs religiosas, bem como o povo de Deus de Nacala que acorreu ao estádio do Ferroviário de Nacala onde se realizou a Eucaristia. 

PRECE: Hoje, Senhor, rezamos por todos os jovens consagrados e missionários que se entregam de todo o coração ao serviço da evangelização. Te pedimos, Senhor, que continues a suscitar mais vocações missionárias para a tua Igreja. 

16 - Construir sobre a rocha

 – Netia/2001

«Todo o homem que ouve a minhas palavras e as põe em prática é como o homem que constrói uma casa sobre a rocha…» (Lc 6, 47-48)

De acordo com o planificado na comunidade de Netia o ano pastoral de 2001 ficou marcado por uma formação dos ministérios pastorais mais cuidada. Tratava-se pois de solidificar o compromisso dos animadores cristãos e das comunidades cristãs. Várias formações paroquiais foram agendadas ao longo do ano pastoral.

O estagiário Tiago dedicou-se ao ensino na escola oficial em Natete e o estagiário Matias apoiou as escolas comunitárias. O projecto destas escolas comunitárias ganhava cada vez mais força com a finalidade de fazer chegar a toda a população a possibilidade de escolarização. Algumas construções foram efectuadas em Napwiya (Netia) e em Pajó (Itoculo). Tratava-se de criar condições para sair da falta de escolarização, ainda que para tal se tivesse de obrigar os filhos dos cristãos a frequentar a escola para depois serem admitidos aos Sacramentos. Um caminho conjunto de escola e catequese que fazia lembrar o modelo antigo da escola-capela.

As visitas às comunidades foram também intensificadas, mas neste ano as chuvas estragaram muitos caminhos e muitas zonas ficaram isoladas, não podendo receber a visita dos missionários. Por várias vezes o carro ficou atolado na lama, muitas horas foram passadas no caminho em grande dificuldade. Mesmo assim, na semana de 6 a 11 de Fevereiro os padres Pedro e Damasceno ficaram todo o tempo em Itoculo nas comunidades visualizando o filme «Jesus de Nazaré» em língua macua.

Na segunda quinzena de Fevereiro chegou a Netia um jovem francês, Christophe Heveline, enfermeiro de formação, para uma experiência de voluntariado missionário que durou até Abril de 2004. Depois de algum tempo conseguiu os documentos para trabalhar na sua área profissional junto das comunidades. Mais tarde, juntamente com o estagiário Matias frequentou o curso de inculturação no Anchilo durante um mês. Entretanto, no dia 7 de Abril o diácono Pilale despediu-se da comunidade para ir preparar a sua ordenação presbiteral na Carapira, a sua paróquia de origem.

Este ano foi também muito marcado por muitas «malárias» dos confrades na comunidade de Netia. Principalmente nos meses de Março e Abril, obrigando a consultas em Nampula, idas ao hospital em Alua onde havia uma Irmã médica. O P. Damasceno, P. Pedro e o jovem Tiago foram os mais afectados, segundo consta no diário da comunidade.  

Enfim, o ano terminou com uma «mega reunião comunitária» no dia 3 de Dezembro que começou às 8:30h e encerrou ao cair da tarde, onde se fez a avaliação do ano pastoral e se apontaram perspectivas para o ano seguinte. Tratava-se de pensar juntos os desafios e as respostas pastorais tendo em conta uma realidade cultural e tradicional bastante vincada do povo macua.

PRECE: Hoje, Senhor, te pedimos por todos os animadores cristãos das nossas comunidades, para que sejam sempre fervorosos e aplicados no serviço aos irmãos para construir solidamente a Igreja de Jesus Cristo. 

15 - Servir e dar a vida

 – Grupo/2000

«Quanto a vós, não vos deixeis tratar por ‘mestres’, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos… Nem permitais que vos tratem por ‘doutores’, porque um só é o vosso ‘Doutor’: Cristo. O maior de entre vós será o vosso servo». (Mt 23, 8-11)

Com a intenção de melhor servir a missão espiritana em Moçambique, surgiu a necessidade de nomear um novo coordenador do Grupo. O primeiro coordenador interino foi o P. Benedito Cangeno (31/12/1996 até inícios de 1999). Depois ficou o P. Alberto como «pessoa de contacto» com o Superior Geral e o seu Conselho (13 de Março de 1999 a 30 de Março de 2000). Por fim, chegou o P. John Kingston que assumiu esta tarefa no Grupo, primeiramente ad experimentum durante um ano e alguns meses (2000-2001) e depois foi nomeado oficialmente por três anos, segundo a Regra de Vida Espiritana, no dia 1 de Fevereiro de 2002 até à data que foi escolhido para ser membro do Conselho Geral no Capítulo de Torre d’Aguilha em Julho de 2004.

Na verdade, o P. John Kingston foi convidado a integrar o Grupo na missão de Inhazónia. Chegou a Moçambique no dia 31 de Março de 2000 e viajou diretamente para Netia. A sua tarefa como pessoa mais experiente na vida missionária visava fortalecer a comunhão entre todos os confrades e estabelecer mais comunicação e partilha das comunidades. Neste sentido passou várias vezes pelas comunidades com tempo suficiente para estar e ouvir as preocupações dos confrades. Assim, começou por ficar um mês em Netia até ao dia 29 de Abril, e depois viajou com o P. Alberto até Inhazónia onde permaneceram juntos até 18 de Maio. Um pouco mais tarde, de 3 a 25 de Julho, voltou a passar em Netia. Começava assim uma nova maneira de superar as distâncias geográficas na vida do Grupo Espiritano.

De uma maneira mais frequente também se organizaram os Encontros de todos os confrades do Grupo. Assim foi agendado o III Encontro do Grupo Espiritano  para Janeiro de 2000, mas por diversas razões ligadas com a mudança de pessoal foi alterado para o mês de Outubro. Com o intuito de participar neste Encontro os confrades de Netia começaram uma longa viagem de carro na madrugada do dia 13 de Outubro e terminou às 20:30h do dia 14 em Inhazónia, com uma passagem e paragem em Quelimane. Porém, à sua chegada depararam-se com uma situação de doença grave do P. John Kingston que teve se ser transferido para Mutare (Zimbabwe) para tratamento de saúde. Deste modo foi um Encontro sem qualquer reunião de trabalho, apenas se registou um tempo de convívio entre os confrades, conhecendo também um pouco mais a realidade missionária de Inhazónia. E no dia 21 de Outubro iniciou o regresso a Netia tendo chegando a casa às três horas da madrugada do dia seguinte. Sem dar conta pela chegada dos padres, o diácono Pilale ouviu movimentações dentro de casa e pensando que eram ladrões saiu a convocar os estudantes do internato para os apanhar, mas logo ficaram desmobilizados ao ver que eram os padres que tinham chegado de viagem. Grande gargalhada no final de tudo isto.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos rezar por todos os responsáveis e animadores das comunidades e projetos. Que a sua ação seja sempre de serviço gratuito e generoso para o bem dos irmãos e de toda a comunidade humana. 

14 - No Jubileu da Encarnação

 - Netia/2000

«Depois de ter falado de muitos modos pelos profetas, nestes tempos que são os últimos Deus falou-nos por seu Filho Jesus Cristo» (Hb 1,1-2)

O ano do Jubileu da Encarnação em Netia começou com a implantação da cruz na campa do P. Graciano. Um triste acontecimento que contrastou com outros ao longo do ano e que marcaram a vida da comunidade espiritana, da paróquia, da Diocese de Nacala e de toda a Igreja em ano jubilar.

Na sequência do trabalho do ano anterior a comunidade espiritana ganhou o seu ritmo próprio e até realizou o seu primeiro passeio à cidade de Pemba no final de Janeiro. Logo depois a reunião comunitária traçou os assuntos prioritários para o ano pastoral: a conclusão do Projecto Comunitário definindo São José como padroeiro; acolhimento da Ponte dos Jovens Sem Fronteiras; e a construção de escolas comunitárias com três salas de aulas, na área de Itoculo e Netia.

A nível de partidas e chegadas extra-diocese, a comunidade espiritana recebeu em plena Semana Santa, no dia 18 de Abril chegou o P. Eduardo Miranda, Provincial de Portugal, e o P. Tony Neves, permanecendo até ao dia 29 de Abril. Poucos dias depois, a 24 de Maio, chegou também a professora Natália do MOMIP-Portugal para visitar as escolas comunitárias.

A 20 de Julho D. Germano chegou a Netia com o jovem Pilale Muatresse para aí fazer o seu estágio diaconal, uma abertura da comunidade espiritana que acolheu e a apoiou este jovem diocesano. Durante todo o mês de Agosto a comunidade acolheu a Ponte dos Jovens Sem Fronteiras de Portugal (4 rapazes e 6 meninas) acompanhados pelo P. Tony Neves. No dia 9 de Novembro chegou o jovem angolano, António Luís Matias, para fazer o seu estágio missionário, e a 5 de Dezembro chegou o jovem português Tiago Barbosa para o mesmo efeito. Ficou assim composta a comunidade por três padres e três estagiários.

Em pleno ano Jubilar, foram também realizadas várias celebrações evocativas do Jubileu da Encarnação durante o mês de Novembro, primeiramente em Itoculo e depois Netia a nível da paróquia. A grande celebração diocesana deste Jubileu, que contou com a presença de todas as paróquias da diocese, foi nos dias 25 e 26 de Novembro, festa de Cristo-Rei, na Carapira.

Enfim, o ano 2000 ficou marcado por muitos retiros e reflexões orientados pelos confrades nas dioceses de Nacala e Nampula. A nível paroquial pautou-se pelo diálogo, escuta, visita às comunidades e proximidade ao povo. Na longa reunião comunitária de avaliação e programação (7 e 8 de Dezembro) decidiram que no próximo ano deverá haver uma intensificação da formação de ministérios eclesiais. Por fim, prevaleceu o convite aos Verbitas de Monapo que vieram festejar a passagem de ano com a comunidade espiritana de Netia.

PRECE: Hoje, Senhor, te pedimos por todas as pessoas que nos visitam, quer para saudar, quer para permanecer connosco. Enche-as da tua graça e dá-lhes a paz de coração para serem no mundo construtores da paz e do bem, segundo o exemplo de Jesus Cristo, nosso Salvador. 

2 de março de 2021

13 - Unidade no Espírito

- Netia/1999

«Só isto é necessário: comportai-vos em comunidade de um modo digno do Evangelho de Cristo, para que […] permaneceis firmes num só espírito, lutando juntos, numa só alma, pela fé no Evangelho». (Fl 1,27)

Desde o princípio a vida comunitária foi entendida como essencial para a evangelização, segundo o qual Jesus enviou os discípulos «dois a dois» (Lc 10,1). Como resultado prático do Encontro do Grupo ocorrido no início do ano 1999, as duas comunidades espiritanas foram reestruturadas em vista de um equilíbrio necessário e para apaziguar as hostes conflituosas. Assim, ficavam dois confrades em cada missão com a esperança de serem reforçados mais tarde com novo pessoal missionário. Em Inhazónia ficaram os dois nigerianos (P. Anthony e P. Lawrence) e em Netia os dois primeiros obreiros da missão (P. Alberto e P. Pedro).

Entretanto, no final de Maio o P. Pedro foi de férias a Portugal onde participou na ordenação sacerdotal do Damasceno dos Reis a 13 de Junho. Um pouco mais tarde, viajaram juntos para Netia tendo chegado no dia 11 de Setembro numa aventura de carro (o novo Land Cruiser) a partir de Maputo. A chegada do P. Damasceno permitiu uma nova organização da comunidade espiritana com um ritmo de vida mais regular, com reuniões de comunidade mensais, ficando o P. Pedro como Superior e o P. Alberto como ecónomo da comunidade espiritana, e a pastoral passou a ser mais partilhada entre todos, continuando o P. Alberto como pároco.

Neste mesmo ano a comunidade de Netia foi abordada para acolher estagiários espiritanos em formação. Apesar de ainda haver algumas limitações materiais, as condições humanas e formativas estavam garantidas para esta abertura aos jovens estagiários que marcaram um novo ritmo da comunidade espiritana e se prolongou por vários anos com a chegada de diversos estagiários, jovens espiritanos em formação inicial.

Ao nível da paróquia, pela primeira vez, no dia 1 de Agosto, celebrou-se a ordenação sacerdotal de um candidato natural de Netia, o jovem Graciano Agostinho. No mesmo mês de Agosto, no dia 15, uma jovem natural de Netia, Jacinta Abílio, fez os seus Votos Perpétuos na Catedral de Nampula como Irmã da Congregação da Paz e Misericórdia. Foram momentos de grande alegria mas que duraram pouco tempo, em especial para o jovem padre que a 29 de Dezembro teve um acidente de viação que o vitimou quando ia a caminho de Nampula, perto de Anchilo. O enterro foi na sua aldeia natal em Namixalala-Netia.

Com o ambiente pesado em Netia pelo acidente mortal do jovem padre, os Verbitas convidaram os Espiritanos a celebrar a passagem de ano e do milénio na comunidade de Monapo. Uma iniciativa que fortalecia também a comunhão das duas Congregações Missionárias recém-chegadas à diocese de Nacala.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos rezar por todos os jovens que vêm realizados os seus sonhos, e por aqueles que são vítimas de inúmeras situações que trazem a morte física e psicológica. Ajuda-nos, Senhor, a promover a vida e o desenvolvimento de todos, em especial dos mais desprotegidos.

12 - «Tudo nas mãos de Deus»

Grupo/1999 

Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia e dai-nos a vossa salvação… O Senhor dará ainda o que é bom e a nossa terra produzirá os seus frutos» (Sl 84, 8.13)

Este ano 1999 começou com o encontro do Grupo Espiritano de 23 a 27 de Janeiro em Netia, o qual contou com a presença do Conselheiro Geral, o P. Gabriel Mbilingi, vindo de Roma, e permanecendo em Moçambique de 20 de Janeiro a 5 de Fevereiro. No seu regresso ao passar por Maputo encontrou-se com o Cardeal D. Alexandre dos Santos que fez um pedido para ter Espiritanos na sua Arquidiocese. Também no encontro com o D. Jaime, Arcebispo da Beira, recebeu a proposta de uma paróquia a 80km numa zona a norte da Arquidiocese.

No II Encontro do Grupo estavam presentes os três confrades de Netia e o P. Benedito de Inyazónia. O P. Anthony não viajou por razões económicas, mas o P. Mbilingi exigiu a sua presença, e assim se providenciaram as condições para ele viajar e chegar a Netia, o que aconteceu no dia 26 de Janeiro. Neste Encontro, entre outras coisas, falou-se da restruturação das comunidades espiritanas, do coordenador do Grupo e da necessidade de abrir uma terceira comunidade espiritana com a finalidade de trazer mais estabilidade e consolidação ao Grupo. As cidades da Beira e Nampula foram as propostas apresentadas com a finalidade para servir de elo entre as duas comunidades existentes e de apoio logístico, sendo que o Conselho Geral se inclinou para a cidade da Beira, como revela a carta do P. Mbilingi de 13 de Março de 1999.

Na conversa pessoal com cada confrade o P. Mbilingi apercebeu-se das dificuldades de cada comunidade espiritana e mais tarde apresentou uma proposta de restruturação interna das equipas com o aval do Conselho Geral. Daqui resultou que o P. Cangeno deixou Inhazónia e manifestou o desejo de deixar Moçambique, o que aconteceu no final do mês. O P. Lawrence foi nomeado para Inhazónia viajando, mais tarde, a 3 de Maio. O P. Damasceno, em primeira afectação missionária, foi nomeado para Netia. O P. Alberto passou a assumir a tarefa de «pessoa de contacto» com o Superior Geral e o seu Conselho, como refere a mesma carta do P. Mbilingi do dia 13 de Março de 1999.

A necessidade de novos Espiritanos com mais experiência comunitária e missionária e a urgência de um líder para o Grupo capaz de ser ponto de referência e união, era uma maneira concreta de responder à dolorosa experiência comunitária dos primeiros anos em Moçambique. Vários nomes começaram a circular, entre eles o P. Bongo, angolano, o P. John Kingston e P. Paddy irlandeses, e o próprio P. Gabriel Mbilingi também se prontificou a vir para Moçambique logo que terminasse as funções de Conselheiro Geral da Congregação, mas acabou sendo nomeado Bispo de Luwena-Angola ainda antes de terminar o seu tempo de Conselheiro Geral.

Enfim, as coisas começam a mexer no sentido de trazer mais consolidação ao Grupo Espiritano de Moçambique, para que possa dar o fruto desejado, uma vez que a terra é boa e Deus sempre derrama a sua bênção.

PRECE: Hoje, Senhor, queremos rezar por todos aqueles que trabalharam para tranquilizar e harmonizar todas as forças adversas da missão espiritana. Te pedimos que cada um de nós seja sempre um verdadeiro instrumento de paz e concórdia.

15 de fevereiro de 2021

11. «Abençoai-nos e santificai-nos»

 - Netia/1998

«Deus se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto… e chegue o seu temor aos confins da terra» (Sl 66,2.8)

Se o primeiro ano ficou marcado pelo assumir de novas responsabilidades pastorais nas dioceses, neste segundo ano começou a consolidação desses compromissos juntamente com algumas dificuldades de relação interpessoal, o que gerou, de alguma maneira, uma certa instabilidade na Missão e no Grupo Espiritano. Talvez por isso mesmo começou a ser preocupação a necessidade de uma terceira comunidade espiritana que fizesse a ponte entre as duas comunidades de Netia e Inhazónia, requerendo, para tal, novo pessoal e mais experiente na vida missionária.

Em Netia, no mês de Março chegaram duas Irmãs Ursulinas que visitaram Itoculo (Narrupe) para ver a possibilidade de uma nova comunidade religiosa na Diocese. Uma oportunidade para diminuir o isolamento de Itoculo e a necessidade de encontrar soluções para ultrapassar esta dura realidade, o que só aconteceu mais tarde com a chegada das Irmãs Espiritanas em 2005. Pois, quantas mais forças missionárias existem numa determinada área geográfica, mais possibilidades existem para responder com criatividade e dinamismo aos desafios da missão.

A nível de movimentações dos confrades, ressalta-se a viagem do P. Alberto de férias para Angola (20 de Abril a 23 de Julho), sendo uma boa parte do tempo para tratar da saúde essencial à vida missionária. Por sua vez, em Agosto, o P. Pedro foi participar como tradutor no Capítulo Geral de Maynooth (Irlanda). Entretanto, o P. Lawrence já tinha viajado o mês Março para o Zimbabwe e no mês de Julho foi fazer o seu retiro anual ao Malawi. Ainda em Agosto chegou a Netia, com a finalidade de visitar e descansar, o coordenador do Grupo Espiritano, o P. Benedito Cangeno.

A nível da paróquia de Netia, o Bispo Dom Germano fez uma curta vista pastoral nos dias 17 e 18 de Outubro, com celebrações de Crismas, que coincidiu com o dia mundial das missões. Um pouco mais tarde, no dia 1 de Novembro foi ordenado diácono o jovem Graciano Agostinho natural de Netia, fruto de sementeiras anteriores agora colhido pela comunidade espiritana.

Ainda é de ressaltar que no dia 22 de Novembro deu-se em Netia um grande afluxo de gente atacada pela cólera, o que fez com que o Posto de Saúde de Natete ficasse abarrotado sendo impressionante e doloroso ver a quantidade de pessoas a perder a vida por falta de soro fisiológico. A precariedade da vida era uma nota muito saliente no dia-a-dia das pessoas da missão de Netia, e de Moçambique em geral.

Enfim, este segundo ano da presença espiritana, bem como uma parte do ano anterior, ficou ainda marcado por inúmeras formações realizadas pelos confrades a nível da Diocese e nas Congregações Religiosas, com retiros e formações de noviças e postulantes. Concretamente, o P. Pedro e o P. Alberto multiplicaram-se nestes encontros formativos como forma de apoiar a Igreja local. 

PRECE: Hoje, Senhor, te pedimos a bênção para todas as pessoas que se cruzarem connosco e que a nossa vida seja um sinal da tua presença para todos eles. Faz de cada um de nós uma testemunha fiel do teu amor para vivermos intensamente a missão que nos confias aqui e agora. 

10. «Firmes na fé»

Grupo/1997

«Sede sóbrios e vigiai, pois o vosso adversário, o diabo, como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar. Resisti-lhes firmes na fé» (1Pe 5,8-9)

Algumas contrariedades marcaram os começos da vida espiritana em Moçambique. Uma parte foram aquelas coisas simples de cada dia que exigiram um esforço conjunto de recuperação e organização logística e material. Outras coisas dizem respeito ao relacionamento e convivência entre pessoas que numa ou outra situação criaram grandes feridas e foram difíceis de superar. Mas tudo isso também fazia parte do novo projeto missionário em contexto de internacionalidade e de interculturalidade, onde era preciso estar unidos e resistir «firmes na fé».

Entre os imprevistos e dificuldades que aconteceram, sobressaem a chegada retardada do P. Lawrence, apenas no dia 13 de Janeiro de 1997 com dificuldade de obtenção de toda a documentação para entrar em Moçambique. Além disso a sua mala de viagem ficou perdida no aeroporto, sendo obrigado a seguir para Netia desprovido dos seus objectos pessoais mais necessários. Isto obrigou a novas e posteriores viagens a Nampula, mas não passou de imprevistos normais de quem viaja.

Outras contrariedades aconteceram e se repetiram inúmeras vezes, tais como as malárias em que o P. Alberto foi o primeiro a ser «carimbado» no dia 8 de Fevereiro de 1997. As condições de vida precárias, o alto índice de infeção parasitária da malária em Moçambique, os riscos de quem se adapta e ajusta à nova realidade missionária, entre outras coisas, foram factores que favoreceram inúmeras maleitas ao longo dos anos.

Vivendo ainda uma fase de adaptação, tudo se agravou um pouco mais quando o mesmo P. Alberto depois de ter participado na II Assembleia diocesana de Pastoral na Carapira-Nacala, precisamente no dia 17 de Outubro, foi vítima de uma hemorragia gástrica, uma úlcera rebentada no duodeno. Isto fez com que de imediato fosse levado para Nampula e daqui ter viajado para Maputo onde esteve numa clínica durante dez dias sempre acompanhado pelo P. Pedro. Não conseguindo qualquer resultado os dois continuaram viagem para Johannesburg (África do Sul) onde ficou internado durante oito dias, seguindo depois para a comunidade espiritana de Bethelehem, regressando a Netia apenas no dia 20 de Dezembro já recuperado.

Outro contratempo, em que já se fez referência, aconteceu em Maio de 1997, poucos meses após a chegada a Inhazónia, onde se deu a primeira baixa no Grupo, o P. Domingos Vitorino regressou definitivamente a Portugal. Na verdade, não faltaram momentos e diferentes situações de fraqueza humana e material que pôs em risco a missão espiritana em Moçambique. Interesses particulares, pontos de vista muito pessoais, sentimentos de incompreensão, pouca flexibilidade relacional, e outras coisas, apareceram e algumas vezes dominaram. Apesar de tudo isso a missão evangelizadora continuou e os sinais da presença de Deus nunca faltaram ao nosso lado para nos fazer avançar em frente e chegar onde era preciso chegar.

PRECE: Hoje, Senhor, te apresentamos todas as situações de fragilidade que marcam a nossa vida missionária. Ajuda-nos a enfrentá-las e a vivê-las com fé e sentido de esperança, de maneira a fazer de cada dificuldade um verdadeiro desafio de vida.

3 de fevereiro de 2021

9- Unidos no amor de Deus

- 1997

«Caríssimos, edificando-vos uns aos outros sobre o fundamento da vossa santíssima fé e orando ao Espírito Santo, mantende-vos no amor de Deus, esperando que a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda a vida eterna. Tratai com misericórdia aqueles que vacilam». (Judas 1,20-22a)

Desde o princípio o projecto missionário dos Espiritanos em Moçambique estava sob a responsabilidade directa do Superior Geral e do seu Conselho. Uma e outra vez ecoaram pedidos de mais presença e proximidade para um maior apoio e animação. Assim, na segunda quinzena de Agosto de 1997 o Superior Geral, P. Pierre Schouver, visitou oficialmente o Grupo de Moçambique e aproveitou para participar no Primeiro Encontro do Grupo em Inhazónia de 20 a 27 de Agosto. Foi uma oportunidade para estar com os confrades e ver no terreno a melhor maneira de levar à frente a missão espiritana de Moçambique. Ao falar com cada confrade percebeu algumas dificuldades que deixou expressas numa carta escrita a partir de Maputo, quando regressava a Roma, onde concluiu que teve uma «impressão muito positiva» do Grupo.

Nesta carta endereçada aos confrades de Inhazónia (Benedito e Anthony) com uma cópia enviada para a comunidade de Netia, dando a entender que as mesmas recomendações são para ambas as comunidades espiritanas, ele partilhou as suas impressões gerais da visita a Moçambique e deixou algumas «exortações» para a vida missionária. Salientou, também, o esforço de aprendizagem da língua portuguesa e das línguas locais, a integração no trabalho eclesial e os arranjos nas respectivas residências. Um outro desafio apontado foi a constituição de «comunidades internacionais e interculturais» como uma verdadeira aventura missionária que é preciso «cuidar e construir» cada dia.

Apoiado nas palavras Jesus quando Pedro regressava da pesca com os seus colegas numa noite fracassada, insistiu que estas mesmas palavras se aplicam aos espiritanos de Moçambique: «volta a lançar as redes» (Lc 5,4). Ou seja, deixou um apelo para não desanimar nas tarefas de cada dia, mas confiar e ter coragem de arriscar de novo para «uma nova pesca». Acima de tudo foi uma forma de incutir mais esperança em quem estava um pouco desapontado com as dificuldades iniciais da missão em Moçambique.

E concluiu com três exortações bem práticas: «continuar os esforços para estar próximo do povo a quem foram enviados, com grande respeito pelos pobres, falando com eles na sua língua, estudando e tomando iniciativas sempre com eles; continuar os esforços de estar perto do Senhor através da oração diária pessoal e comunitária; continuar os esforços para viver juntos uma vida fraternal, tirando tempo para sentar juntos e comunicar entre si».

O apelo a edificar na fé e a manter-se firme no amor de Deus como forma de responder fiel e criativamente aos desafios da missão, foram as palavras e a presença amiga dos outros dois Superiores Gerais, Jean-Paul Hoch (Dezembro de 2010) e John Fogarty (Dezembro de 2019) que visitaram oficialmente o Grupo de Moçambique.

PRECE: Hoje, Senhor, te pedimos que nos envies o Espírito Santo para que nos mantenha unidos no amor de Deus através do serviço generoso e comprometido com os mais pobres, marcados pela misericórdia, a paz e a alegria de viver juntos como discípulos-missionários. 

8- «Servir e dar a vida»

- Inhazónia/1997

«Quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.» (Mt 20, 26-28)

Em todas as situações Jesus nos dá o exemplo de «servir e dar a vida» como forma de viver hoje a missão. Porém, nem sempre isso que acontece com os seus enviados. Os primeiros anos das comunidades espiritanas foram bastante desafiantes e difíceis, muitas coisas bonitas aconteceram, mas também não faltaram momentos sombrios no referente ao relacionamento e testemunho de vida dos seus membros.

No início da presença espiritana em Moçambique, Inhazónia foi a comunidade mais instável. Na verdade, a chegada dos Espiritanos a Inhazónia representou uma grande esperança para as comunidades locais. Uma vasta área de evangelização foi atribuída aos novos missionários. Muito trabalho pastoral foi realizado apesar das grandes dificuldades de coordenação e com um nível de vida comunitária muito longe do exemplo das primeiras comunidades cristãs narrada nos Actos dos Apóstolos. Aquilo que devia ser mais um elemento no processo de evangelização, «falar como quem tem autoridade» (cf. Mc 1,22), tornou-se muitas vezes um contra-testemunho.

As dificuldades de uma liderança impositiva, a falta de coordenação entre os seus membros, a inexistência de diálogo entre os agentes pastorais da missão, especialmente com as Irmãs da equipa missionária, entre outras coisas, parece que provocaram mais estragos que benefícios. Por isso não é de estranhar que o P. Domingos Vitorino pouco tempo depois da sua chegada a Inhazónia passou a viver na comunidade das Irmãs em Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus em Catandica, regressando depois a Portugal definitivamente no mês de Maio de 1997. Entretanto, o seu coração ficou ligado a Inhazónia, pois logo que chegou procurou angariar fundos (11 mil USD) para a restauração da igreja paroquial que ia celebrar 50 anos em 1998.

Em Setembro de 1998 um grande desentendimento entre os dois confrades (Cangeno e Anthony) ficou agravado quando se insultaram em público. A vida de comunidade que devia ser libertadora, tornou-se um castigo e opressão. Por estas mesmas razões em Janeiro de 1999 o P. Cangeno toma a decisão de deixar a comunidade e o Grupo de Moçambique e regressar a Angola. Em Maio do mesmo ano chegou o P. Lawrence vindo de Netia para constituir comunidade com o P. Anthony na esperança de uma mudança significativa, o que resultou em parte.

Enfim, parece que os primeiros membros da comunidade espiritana poderiam ter sido bem melhores e mais razoáveis no referente ao compromisso missionário assumido com a missão de Inhazónia. Tudo isto também serviu para entender que a missão é obra de Deus e não dos homens, de contrário tudo teria acabado aí mesmo. Mas Deus não se deixa vencer em bondade e misericórdia, e novos caminhos de vida e missão começaram a surgir ao fim de poucos anos.

PRECE: Senhor, hoje, a nossa oração é para pedir perdão pela nossa incapacidade de serviço e comunhão. Perdoa todas as vezes que não sabemos liderar e conviver uns com os outros seguindo as tuas palavras que nos convidam ao serviço gratuito e à humildade sincera como forma de ser discípulo-missionário.  

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...