30 de abril de 2013

São José para o Presidente

São José para o Presidente


Damasceno
Itoculo


Aqui deixo a mensagem que acompanhava a oferta que a paróquia de São José apresentou ao presidente na visita do passado dia 27 de Abril:


EXCELENTÍSSIMO SENHOR
PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

Em nome de todos os cristãos membros desta paróquia de São José – Itoculo, apraz-nos oferecer a Vossa Excelência uma pequena estatueta representando o santo patrono desta paróquia: São José, pai adoptivo de Jesus e esposo da Virgem Maria.

Esta estatueta foi esculpida por um artista desta terra. Por um macua. Este povo não tem tradição nesta arte. Mas, é um povo com um coração enorme e uma extraordinária disposição para a hospitalidade. Foi este atributo que tornou possível o estabelecimento de macondes neste território do Posto Administrativo de Itoculo. E esta convivência permitiu um enriquecimento mútuo, no qual se inclui esta aprendizagem na escultura do ébano por parte de alguns macuas. Significativo é igualmente o facto de o escultor ser muçulmano. Apesar de professar uma religião diferente, tem contribuído de forma regular com trabalhos que lhe são solicitados pela comunidade cristã. Tudo isto revela uma atitude extremamente delicada e cordial do povo macua que muito tem contribuído também para a concórdia da Nação. Damos graças a Deus por isso.

São José inspira em todos os cristãos uma grande ternura pela forma humilde e dedicada, discreta e solícita com que desempenhou o seu papel de chefe da sagrada família de Nazaré. Pela fé, sabemos que ele intercede por nós junto de Jesus para que o nosso país possa continuar a caminhar na prosperidade e na paz, e para que todos aqueles que exercem o serviço da autoridade o façam com um zelo sempre renovado e incessantemente busquem o bem de todo o povo moçambicano.

28 de abril de 2013

visita presidencial a ITOCULO


visita presidencial a ITOCULO

Itoculo
Raul Viana

Sábado, 27 de Abril de 2013, o Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, acompanhado de alguns Ministros do Governo, autoridades governamentais de outras Províncias e secretários dos Comités da Frelimo, aterraram na Localidade de Murutho, Posto Administrativo de Itoculo (Monapo). Aterraram porque chegaram de helicóptero (5), enquanto um bom grupo chegou de carro ou camião, e a grande maioria chegou a pé, pois é o único meio de transporte que possui.


Um mar de gente aguardava a visita do Chefe de Estado. Tudo estava enfeitado com bandeiras nacionais, panos coloridos, pedras caiadas… Os grupos artísticos e tradicionais (jovens, crianças e mamãs) executaram os seus cantos e danças. O protocolo e a segurança também cumpriram bem as suas tarefas e tudo correu bem.



Após as formalidades iniciais, com a plantação de uma árvore (m’baua) e a inauguração dos novos espaços da Localidade (Secretaria e Casa do Chefe da Localidade), seguiu-se o «Comício da Presidência Aberta e Inclusiva». Iniciou-se, então, com uma oração cristã e muçulmana feita pelos respetivos responsáveis (pároco da comunidade católica – P. Damasceno – e o xehe da comunidade maometana).

De seguida o Presidente saudou a população e agradeceu o acolhimento e as ofertas recebidas, justificando a sua presença nesta Localidade de Murutho. No seu discurso à população salientou duas coisas: a necessidade e o empenho pela paz e a luta contra a pobreza.
  
Podemos dizer que não foi por acaso que escolheu estes dois temas. De facto, a população local durante a guerra civil dos 16 anos sofreu muito com a guerrilha, pois esta Localidade de Murutho situa-se a meio-caminho entre as duas forças rivais (o centro da Frelimo em Itoculo e a base militar da Renamo em Mariri). Lendo um pouco do «diário de guerra» do P. Gino Pastor, então Pároco de Itoculo, de imediato descobrimos a grande quantidade de mortos, pilhagens, incêndio de casas, medo… e muitas outras atrocidades da guerrilha que aí aconteceram. Assim, quando o Presidente perguntou quantas pessoas tinham sofrido com essa guerrilha, muitas foram as mãos levantadas, e todas manifestaram a vontade de manter a paz alcançada.

Se para manter e trabalhar pela paz o Presidente pedia o empenho de todos, também para a «luta contra a pobreza», tema insistente do atual Governo, se exigia a colaboração de todos. Na verdade, «ninguém nasceu para ser pobre, mas todos devemos viver bem», insistia o Presidente. A riqueza do solo e subsolo moçambicano deve permitir uma maior qualidade de vida para todos: a nível da saúde, da educação, das vias de comunicação, da produção agrícola, etc… «Este será o caminho do desenvolvimento do país», concluía.

Outros pontos foram ainda falados quando o Presidente passou a palavra à população. Assim, além das 35 apresentações por escrito, 10 pessoas usaram a palavra para apresentar as suas preocupações. Sem medo de falar, corajosa e frontalmente, apresentaram a real situação da localidade: má governação e corrupção a vários níveis do Chefe da Localidade (aqui aconteceu a maior ovação de toda a visita presidencial), necessidade de mais e melhores escolas, urgência de um posto de saúde e de uma maternidade, facilitar o acesso a água potável, dificuldades nos salários em atraso, questões de justiça por resolver, necessidade de uma indústria local, etc…

Ouvidos os parlantes, o Presidente resumiu as apresentações feitas e, ponderadamente, disse que esses assuntos serão analisados pelos membros do Governo ali presentes. E com isto terminou o Comício agendado seguindo-se depois um tempo de encontro com as autoridades para averiguar as preocupações apresentadas.



Enfim, tirando algumas vozes «frelimistas» que ainda se fizeram notar por alguns membros dos comités presentes e que continuam a criar confusão entre Partido no poder e Governo, bem como a proibição de tirar fotografias no decurso de toda a visita presidencial, podemos concluir que a visita foi simples e simpática. A população acolheu a visita do seu Presidente, ouviu os seus apelos, expressou aquilo que sentia (falando sem rodeios), e agora aguarda novidades resultantes deste acontecimento.

25 de abril de 2013

visita do Presidente da República


visita do Presidente da República


Itoculo
Raul Viana


O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, visitará no dia 27 de Abril a localidade de Murutho (1º de Maio), no Posto Administrativo de Itoculo – Monapo. Esta visita enquadra-se na edição 2013 da «Presidência Aberta e Inclusiva». Segundo informações gerais, o objetivo desta visita é contactar a população procurando conhecer o grau de execução dos planos de ação de combate à pobreza do Programa Quinquenal do Governo.



Na verdade, tudo está mexendo para que esta visita aconteça. De há um mês para cá a movimentação de carros não cessa de circular por estes lados. Assim, no dia 17 de Março a Governadora da Província de Nampula entrou no local para se inteirar da situação. No mesmo sentido, o Administrador do Distrito de Monapo também não poupa esforços para verificar que tudo esteja conforme às necessidades de acolhimento de tal visita. E cada dia outras entidades passam com escolta policial.



De facto, num curto espaço de tempo novas instalações foram criadas que aguardam a inauguração do Presidente: Secretaria da Localidade de Murutho – Distrito de Monapo; Casa do Chefe da Localidade; Casa de Visitas; palanques para palestras e apresentações artístico-culturais… diversas tendas desmontáveis. Entretanto a escola primária que estava sem chapa por ter sido desviada para outros fins, já está composta, apesar de inacabada. Também os acessos de terra batida estão sendo melhorados, pois há uma grande comitiva a acompanhar, sendo que o Presidente chegará de helicóptero.



Não é fácil perceber o alcance destas visitas. O dinheiro despendido para que tal aconteça é muito, senão demasiado. Em pouco tempo o centro de uma localidade fica completamente transformado. O que poderá aproveitar a população local além de receber a visita do seu Presidente? Penso que a resposta virá posteriormente, aguardamos.

Mas os problemas e preocupações da população são reais e urgentes:
- Falta de escolas e pessoal docente, bem como irregularidades dos mesmos na execução da sua tarefa educativa;
- Falta de condições básicas de saúde: poucos medicamentos nos hospitais e comercialização dos mesmos nas feiras; grandes distâncias entre os centros de saúde existentes;
- Vias de comunicação deficitárias para circulação de bens e pessoas;
- Empregados (onde os há) com salário abaixo o mínimo nacional;
 - Falta de controle nos criadores de gado que devastam as machambas dos pequenos agricultores;
- Concessões de terra a estrangeiros (30 mil hectares) sem considerar a população local;
- Etc…



Evidentemente que a par de tudo isto também existem outras coisas que são boas e positivas, e que mereciam ser ressaltadas. Mas, a vinda do Chefe de Estado faz com que os olhos estejam mais atentos àquelas necessidades que urge dar uma resposta mais imediata e assim conseguir vencer a pobreza que assola esta zona do país. Isto esperamos!

19 de abril de 2013

breve história de ITOCULO
(PARTE III)
por Bento Veligi

10.       Os usos e costumes:
Quando morresse um Mwene o tratamento do defunto era diferente de qualquer outra pessoa. No enterro do Mwene tinha que se preparar farinha de mapira que cada membro familiar punha um pouco na mão do falecido, e cada um pedia o que quisesse, desejando-lhe boa receção no Deus dos deuses. Pois reconheciam a existência do Deus verdadeiro. O último interveniente nesta cerimónia era o sucessor do falecido, e, até hoje, é a pessoa que guarda a ephepa (farinha de cerimónia) que existe em cada tribo. A sucessão no trono pertencia à parte materna (sobrinhos e irmãos), mas nunca aos filhos. Portanto, uma linha matrilinear.

Falando da resolução de problemas sociais, era da responsabilidade do Mwene deliberar de acordo com a gravidade do caso:

- As relações sexuais com mulher do Mwene tinha um castigo severo, podendo ser assado ou queimado vivo; ou então andar enformado ou despido e circular completamente nu no meio da população, como forma de tornar público o mal cometido.

- Os roubos eram punidos e exigiam a total devolução. Aqui envolvia-se toda a família da parte materna que era obrigada a devolver tudo que tinha sido roubado.

- Todo o homem de sexo masculino tinha de ser submetido aos ritos de iniciação, isto é, ser circuncidado e receber conselhos tradicionais durante um longo período de tempo que podia atingir a duração de um ano ou mais. Aqui aprendia algumas táticas de guerra tribal, o modo como proceder nos enterros, a construção de casas, a resolução de alguns problemas familiares, o modo como tratar um doente; o conhecimento de aspetos próprios da mulher, tais como a menstruação e a gravidez.

Por sua vez, as mulheres também faziam os seus ritos e recebiam uma educação para respeitar as pessoas, em particular o marido. Aprendiam, através de alguns sinais, a maneira de mostrar ao marido quando estavam menstruadas. Por exemplo, o uso de roupa vermelha, o facto de mandar o marido meter sal no caril, e outros sinais que eram do conhecimento dos dois.


11.       O traje e o modo de vestir:
- Os homens vestiam mukotha, ou tanga, que tapava apenas os órgãos sexuais, fixando-se através de um cordel na cintura.
- As mulheres usavam um traje melhor do que o dos homens. A sua roupa envolvia toda a nádega, cobrindo as coxas. Usavam ainda missangas à cintura, enquanto que os homens punham apenas ao pescoço.

12.       As lutas tribais:
Os regulados sempre viveram com lutas de poder. Todos os Régulos tinham a sua tropa local de guarda e ataque. Nas lutas tribais usavam armas locais: flechas com ponta envenenada, pedras, fogo, magias, orações... Como fardamento usavam missangas, tatuagens, pinturas na cara, máscaras, chapéus de palha e de penas de aves.


13.       A religião:
Neste tempo a religião cristã ainda não tinha chegado nesta região. E quando chegou com os colonos portugueses, era considerada «religião dos colonos». Por isso, as pessoas rezavam junto dos embondeiros; nas montanhas; nas grandes tocas; junto dos muros de mochem; nos cemitérios onde estavam enterrados os Mwenes. Para todas as orações nunca faltava a farinha, preferencialmente de mapira (ephepa). Usava-se farinha de mapira porque era um dos mais antigos alimentos desta região.

14.       As fases do crescimento de Itoculo (Nakhuka)
Nakhuka começou por ser habitado pelos portugueses no século XIX, no tempo da grande perseguição ao Mwene Maru-haa. Inicialmente fundou-se um quartel em Cotocwane (Thamela). Aqui era a sede que funcionou durante a luta aberta dos portugueses contra os dois Mamwene: Maru-haa e Mukuthumunu de Namarral. Depois da derrota dos dois Mamwene, os portugueses fixaram-se definitivamente zona de Nakhuka, junto ao atual rio Sanhote. Mais tarde, passou à categoria do Posto Administrativo no ano de 1959, quando era Chefe de Posto um cabo-verdiano de nome Carlos Gamboa Matos. Assim, deixou de ser chamado Chefe de Localidade para passar a ser Chefe de Posto.

15.       Uma tentativa de explicação do comportamento das pessoas da área de Nakhuka
Muitos anos antes da dominação colonial as pessoas de Itoculo sofreram muita opressão. Por exemplo, quando morresse um Mwene, no seu enterro tinha que se arranjar uma donzela (emuali) que se enterrava viva com o Mwene; ou quando o Mwene estivesse a comer por exemplo ao meio-dia ou o jantar, alguns escravos tinham que estar perto para logo que o Mwene terminasse de comer, eles lutassem para tirar pratos de junto dele; da mesma maneira, o Mwene não podia fazer uma cova para defecar, mas eram os escravos que deviam tirar as fezes dele e enterrá-las; noutras situações o Mwene sentava-se em cima da cabeça de uma pessoa viva fazendo dela a sua cadeira; os homens evitavam ter uma mulher mais bonita que a do Mwene, senão ele tirava-lhes a mulher; também quando o Mwene cortava o cabelo, logo arranjava uma outra cabeça de pessoa ou leão para se sentar enquanto lhe cortavam o cabelo; por sua vez, ninguém podia ter relações sexuais com a mulher do outro, visto que esta prática estava sujeita à morte ou ao pagamento de grandes taxas ao dono da mulher e ao próprio Mwene.


16.       Nihimus mais comuns
O povo de Itoculo é de raiz macua. Os nihimus mais comuns são: Mirashi, Laponi, Mulima, Celegi, Mirekoni, Lucagi, Mali, entre muitos outros. Este último, Mali, da zona de Xihire, eram os ‘donos’ (operadores) da circuncisão dos rapazes nos ritos de iniciação. Geralmente este nihimus estão relacionados com os regulados. Por exemplo, Maru-haa é do nihimu Laponi, Thamela, Muripa, Mepova são do nihimu Mirashi.

Conclusão:
Esta é uma breve história de Itoculo feita a partir de um conhecimento local e com base num diálogo simples com as pessoas da zona. A única finalidade é ajudar a avivar a memória e fazer que os mais novos conheçam o seu passado e os seus antepassados.

13 de abril de 2013

breve história de ITOCULO
(PARTE II)
por Bento Veligi


4.       A cadeia subterrânea:
A cadeia subterrânea de Itoculo fica situada a 500 metros da Sede do Posto Administrativo Itoculo, na via de Netia, perto do rio Sanhote, rio que antes da dominação portuguesa chamava-se Nakuka. A cadeia servia para prender e torturar os guardas e habitantes do regulado do Mwene Maru-haa, e mais tarde para todos aqueles que não aceitassem a dominação portuguesa. Esta cadeia funcionou antes e depois do Régulo Maru-haa, mesmo depois de ser apanhado.

Nesta cadeia havia várias formas de torturar as pessoas. Os mais antigos contam que ser morto fumegado, não era o único castigo que davam aos presos. Mas havia ainda outros castigos, tais como o enforcamento; espancamento, etc… Um velho residente no regulado de minhalaca-chihiri afirma que ainda se lembra de ter sido morto naquela cadeia o seu irmão de nome Rucuncha, o qual pretendia ir ao Mossuril em busca de sal.

No tempo dos portugueses, a 100 metros antes de chegar à cadeia subterrânea já estavam os soldados acampados, europeus e africanos vindos do sul de Moçambique. O povo do Maru-haa, chamou a esses soldados como alandi (ou lantins em portugês), um nome atribuído a todo aquele que fosse oriundo do sul.

5.       O rio-Mocha (Murathi wa Mocha):
A história deste nome rio-Mocha, está ligada ao facto de ser um lugar onde foi assado ou queimado quem quer que fosse apanhado a prostituir. Esta prática já existia no reinado do Régulo Maru-haa. Este rio situa-se depois do rio Sonhote, mas antes do Bairro de Namiro, na via de Netia.

6.       A subida de Nimalathu (onima-atthu)
Esta subida fica na via de Monapo a 3km da sede do Posto de Itoculo. Segundo contam os mais velhos, na abertura da estrada nacional que ligava a Ilha de Moçambique a Nampula, com um cruzamento para Nacala-a-Velha em Itoculo, as pessoas eram muito oprimidas, de tal maneira que qualquer uma que se achasse incapaz de trabalhar, logo era morta e substituída por uma outra. Assim, o povo chamou aquele sítio Nimala-athu (aqui acabam pessoas).

7.       O nome de Itoculo (Ethukulo)
Ethukulu é uma planta que dá um flor semelhante a uma pinha ou ananás, que geralmente nasce nas zonas pantanosas da savana. Ela serve de alimento às toupeiras, contendo uma seiva escorregadia. Esta planta era muito abundante na zona onde vivia o Mwene Maru-haa. Assi, quando os portugueses chegaram a esse local e procuraram saber o nome do lugar onde vivia o Régulo Maru-haa, as pessoas macuas que não entendiam a pergunta em português, disseram: «é ali onde tem Ethukulu». Então, os portugueses entenderam que o nome da terra do Régulo Maru-haa era Ethukulu (Itoculo).

8.       As origens do nome Nakhuka e instalação dos portugueses em Nakhuka:
Ao longo do rio Sanhote existiam muitas cobras grandes, que em macua se chamam ikhuka (jiboias). Depois da derrota do Mwene Maru-haa, ficou ainda o Mwene Mukuthumunu de Namarral (Mossuril) que também acabou morrendo traído pelos próprios nativos numa das batalhas de Namarral, zona de Mossuril. Tudo isto aconteceu quando o quartel militar português mudou de Muruthu, regulado de Thamela, para Nakhuka-rio, precisamente onde tinha sido feita a cadeia subterrânea destinada aos continuadores da resistência de Maru-haa e de Mukuthumunu. Esta mudança dos portugueses para a zona de Nakhuka facilitou a derrota do Mwene Mukuthumunu.

9.       A alimentação da época:
Nesta zona de Itoculo os alimentos consumidos eram aqueles que se produziam nas machambas: mapira, mexoeira, arroz, marrupi, sal. Também havia alimentos que se conseguiam através da caça de animais. Havia ainda produção e consumo de mel selvagem, a apanha de tubérculos de plantas tais como a trepadeira, murapa, muzage, namathekuma e raízes de embondeiro (mulapa). Nos anos de mais carência alimentar podia-se comer até as raízes de bananeira, de namilepe. Só mais tarde é que apareceu a mandioca, o milho e o amendoim.

5 de abril de 2013

breve história de ITOCULO
(PARTE I) 
Bento Veligi

A história de Itoculo está intimamente relacionada com o Régulo Maru-haa e o seu grande regulado. Tratava-se de um Régulo que parece ter vindo da região de Montepuez, Província de Cabo Delgado, o qual tinha o hábito de perfurar o lábio superior inserindo um pírcingue de pau-preto. Uma das interpretações do seu nome é «orelhas grandes», pois as pessoas logo que o viam diziam: «olha que orelhas grandes», isto é «Maru-haa» em língua macua.
  

1.       História Itoculo antes da dominação portuguesa até ao século XIX
 Antes da chegada e da dominação portuguesa não havia grande diferença entre os Mamwene, pois cada um era Mwene na sua própria família. Porém, alguns Mwenes começaram a desenvolver-se mais do que outros, e essa diferença acontecia porque uns conseguiam produzir mais. À medida que aumentavam o poderio, logo começavam a comprar e negociar escravos. Quantos mais escravos tinham, mais comida precisavam, e vice-versa. Com a produção e venda de bens agrícolas, compravam também instrumentos de guerra, pois cada regulado tinha um grupo de pessoas para se defender. Assim o Mwene Maru-haa, conseguia grande produção e tinha um grande número de escravos, e por isso passou a dominar os povos dos regulados vizinhos, aumentando as suas terras que delimitavam com outros Mamwene.

2.       As terras e suas fronteiras:
As terras do regulado de Maru-haa até à colonização portuguesa estavam assim delimitadas: ao lado Este confronta com Namanca de Nacala-a-Velha e com as matas do regulado de Mukuthumunu de Namarral-Mossuril; ao lado Oeste delimitava com o rio Naculwé de Netia; ao lado Sul com o rio Monapo e com o Mwene Mpera; ao lado Norte com o rio Nnukure de Terene que limita com Nacaroa. Portanto, os atuais regulados de Congo, Catheya, Mweri, Monetaca, Mpwata eram parte integrante do regulado Maru-haa. Ou seja, este grande regulado foi dividido em pequenos Régulos, uns deles foram eram familiares do grande Régulo Maru-haa que preferiu entregar as suas terras a alguns familiares para que estes o defendessem dos portugueses, outros por imposição própria como veremos adiante.



3.       A ocupação colonial portuguesa:
Quando chegaram os portugueses e tentaram ocupar toda esta zona, apanharam uma grande resistência por parte do Mwene Marru-haa. Esta resistência começou logo com Mwene Mukuthumunu, que de imediato pediu ao Régulo Maru-haa para ajudar militarmente no combate ao invasor. O Régulo Maru-haa com a sua sede no bairro de Reno organizou-se com a sua guarda e foi juntar-se aos guerrilheiros do Mukuthumunu. Porém, quando o Régulo Maru-haa se apercebeu de que os portugueses já tinham atingido a sua zona, saiu de Namaral e veio combater o invasor na sua própria terra.

Vindos de outras zonas onde tinham sido vencidos (derrotados), os portugueses traziam consigo alguns nativos africanos como seus informadores e apoiantes. É o caso de Mucapera Catheya, Mpwata, Cavalocale e alguns lantins (nome dado ao pessoal do sul de Moçambique).

Na verdade, os portugueses vendo que não era fácil vencer o Mwene Maru-haa, começaram a utilizar as pessoas locais para o apanhar. E foi assim que conseguiram apanhar o Régulo Maru-haa na zona que hoje se conhece por Itoculo. Uma vez derrotado o Régulo Maru-haa, o seu território foi dividido e foram atribuídos partes do seu regulado ao Mwene Mpwata, Cattheya e Cavalocale de Netia. Estes foram os que mais se distinguiram e facilitaram na derrota do Mwene Maru-haa, estando do lado das tropas portuguesas. Podemos dizer que o regulado de Mpwata nasceu de uma traição ao Régulo Maru-haa, e que hoje é o Régulo da Sede de Itoculo. Este regulado confronta a Norte com o Régulo Namicopwe no rio Namalima; a Oeste com o Régulo Maru-haa (Ilha Filipi); a Sul com a Rainha do Congo e o rio Sanhote; a Sudeste com o Régulo Murripa (Mweravale); e a Este com o Régulo Catheya.



Quanto ao Régulo Maru-ha não se sabe ao certo qual foi o seu final. Apenas se sabe que ele foi levado pelos portugueses para a Ilha de Moçambique, e daí nunca ninguém mais soube dele. Entretanto, o seu grande poder e magia continuam vivos nas pessoas do seu regulado. Uma caixa que ele usava para conseguir obter forças especiais continua a existir, sem que ninguém se atreve a abrir, lá na casa onde ele morava (na atual zona de Reno).

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...