14 de julho de 2010

feitiço e feiticeiros



Elson Lopes
Itoculo


Uma das coisas que afecta o povo moçambicano, concretamente aqui em Itoculo, norte de Moçambique, é a crença nos feiticeiros. Uma pessoa faz uma grande “machamba” consegue produzir bem e ter comida para todo o ano. Quando chegar o tempo da seca aquelas pessoas que não trabalharam ou que fizeram um pequena “machamba” e venderam tudo, começam a passar fome, aparecem doenças, sofrimentos, etc. Para justificarem esses males recorrem aos curandeiros para ir ver na comunidade quem é o feiticeiro que está a causar esses males. Combinam com o curandeiro o que devem tirar a esses feiticeiros: bicicleta, cabras, galinhas, milhos etc. Como é óbvio, a quem não tem nada, não podem tirar nada. Então são acusados aqueles que durante o tempo fértil ralaram dias e noites para conseguirem ter alimento suficiente para todo o ano.


Por causa disso, quando falamos que devem fazer mais “machamba” muitos começam a torcer o nariz pois não querem mais tarde serem acusados de feiticeiros. Isto é uma das causas do subdesenvolvimento deste povo.

Temos sensibilizado os cristãos para combatemos esse mal, mas é uma tarefa difícil, pois já lhes está “no sangue”. Qualquer doença demorosa, acontecimentos naturais e comuns, logo é considerado «tradição» (feitiço). Lembro-me um dia em que íamos para um encontro numa das regiões da nossa paróquia, no caminho encontramos um dos nossos animadores que tinha apanhado uma malária muito forte. Parámos para o cumprimentar e perguntar-lhe se já estava bom. O Pe. Damasceno pergunta-lhe: «então a malária já passou?» E ele com toda seriedade e naturalidade responde: «já senhor Padre. Não era malária, era tradição».

Apesar de formações e explicações de que Deus é o Todo-poderoso e que está acima de tudo, inclusive dos feiticeiros, isso não entra na cabeça deles. A cultura, com as suas coisas menos boas, está muito entranhada e é muito difícil de modificar.Acreditamos e rezamos para que, com a força do Espírito Santo, um dia mudem esses pensamentos e crenças e possam acreditar totalmente em Deus.

8 de julho de 2010

Intervenção no fim do Primeiro Capítulo
do Grupo Espiritano de Moçambique



John Kingston
Correspondente do CG para Moçambique

Na oração do Primeiro Capitulo de Mocambique dizemos: “Deus nosso Pai, nós vos pedimos o dom do Espírito Santo. Que Ele nos encha com o fogo do seu amor, e inspire o nosso trabalho, pensamentos, palavras e decisões”.

Penso que neste momento de graça que é o capítulo, a nossa oração foi ouvida e atendida. O Espírito Santo trabalhou em vós e chamou-vos para ultrapassar certas dificuldades de comunicação e vos levou a uma união maior.

A vossa convicção, expressa na mesma oração, é muito significativa: “Estamos determinados a acolher o que for da vossa vontade, e a seguir com coerência, generosidade e alegria o caminho do serviço aos mais pobres e do anúncio do Reino de Jesus Cristo”. É já uma promessa. Estamos a chegar a essa parte da tarefa de acolher as decisões que tomaram com a ajuda do Espírito Santo, e que se transformam na vontade do Pai para vós.

Gostaria de destacar algumas coisas. O relatório do Alberto nos lembrou o que têm sido estes 14 anos de aventura para os espiritanos em Mocambique. No relatório é evidente que, se a vida do Grupo tem sido um tanto como a procissão do ofertório, uns passos para frente e outros para trás, o movimento geral foi para a frente e houve progressos significativos. O relatório nos lembrou que, dos 17 confrades nomeados para cá, 8 saíram cedo e alguns em circunstâncias difíceis. Mas, ninguém que tenha passado por aqui, mesmo por um breve espaço de tempo, saiu sem fazer algum bem.

Apesar dos progressos, a vida do Grupo ainda está ameaçada por algumas fragilidades. Encontrar novos confrades nomeados para cá, jovens ou mais experimentados é um desafio. O financiamento da missão é um desafio para vós como para toda a Congregação.

Penso que a preparação deste capítulo e a sua realização tem sido um exercício muito bom para concentrar a visão do Grupo. Talvez terá ajudado a harmonizar os projectos das comunidades com o projecto do Grupo.

A convicção que tendes da importância da oração e da espiritualidade promete uma maior fidelidade à vocação no futuro. Será bom para a vida de cada um e para a vida do Grupo.

Vos faço um apelo: Que o capítulo seja um alicerce, ou base em que continuais a construir a missao aqui em Moçambique – Ouvi várias vezes a palavra disciplina – Na condução duma circunscrição é necessária muita paciência e disciplina em seguir os procedimentos previstos para fazer as coisas…

No próprio Capítulo, acho que houve um bom espírito de trabalho. Os vários instrumentos ajudaram: o relatório do Superior, o Instrumento de Trabalho e o esboço do plano Estratégico de Desenvolvimento. A moderação firme e flexível do Brendan ajudou a fazer avançar os trabalhos. No equilíbrio entre o trabalho, a oração, o recreio e o descanso acho que o Capítulo foi verdadeiramente uma celebração. Foi como desejava o Alberto no seu relatório: “um momento de acção de graças a Deus que nos chamou para a missão”.

Ao próprio Alberto, neste momento de passar a tarefa do ministério de Superior do Grupo para o Raul, tenho que dizer parabéns e obrigado. Digo isto da minha parte e da parte do Superior Geral e do Conselho. O bom funcionamento do Superior nos ajuda muito na animação e administração da Congregação. O que ele viveu aqui como membro fundador do Grupo durante 14 anos, e como coordenador e superior em vários momentos críticos, foi muito. O que valeu foi a sua maturidade, simplicidade, empenho nos trabalhos e paciência com as falhas dos outros. Eu penso que tudo o que o Alberto viveu ao longo destes anos daria para escrever um grande livro muito interessante da história desta fenomenal aventura com Deus, que tem sido a sua missão em Moçambique. É tempo agora de tomar uma pequena distância no tempo e no espaço, descansar deste tipo de trabalho e renovar as suas forças para a etapa a seguir. A nossa oração acompanha o Alberto na sua nova vida de estudante.

O Raul entra no ministério de Superior do Grupo. Precisa da boa colaboração de todos os membros do Grupo. Vai ter o apoio do Conselho Geral. Terá também de colaborar connosco. Para o ajudar nisto será convidado a participar num encontro de novos superiores na casa Geral durante o ano de 2011. Terá também de colaborar com as outras circunscrições da África Sul-Central na nova União.

Vamos pedir constantemente a Deus a sua ajuda para poderdes florescer como circunscrição da Congregação nesta parte do mundo.

Centro Pastoral de Nazaré, na Beira, Moçambique
22 de Junho de 2010

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...