14 de setembro de 2010

vai de roda em roda



Elson Lopes

Itoculo


Aqui em Itoculo somos uma comunidade espiritana composta por três membros. É uma comunidade de comunhão, de confiança e de alegria. É uma comunidade jovem que vive na “moda”: somos todos ‘magrinhos’, não por falta de comida, mas porque queremos manter a “linha”! Como diz o Dom Germano, bispo da diocese, «os dois padres de Itoculo são magros como Jesus». Pois queremos também seguir o exemplo de Cristo em tudo.

Nesta comunidade partilha-se “tudo”: sofrimento e alegria. E, para melhor vivermos a partilha no que toca ao sofrimento, temos uma “mosquita” (pois são as fêmeas que transmitem malária) que passa de quarto em quarto a levar a malária a todos. Normalmente isto acontece à vez, depois de um tempo mais intenso de trabalho.


Assim, num belo dia, a nossa “amiga” começou o seu serviço de colaboração (ou descolaboração) com a comunidade, seguindo o nosso esquema da animação da liturgia que é rotativa seguindo a ordem dos quartos. Começando no primeiro quarto, onde está o Pe. Raul, ela lá deixou a malária. De seguida, demorando uma semana por causa da distância a percorrer, passou para o quarto da outra ponta, onde está o Elson, aí também deixou a malária. Três dias depois, passou para o quarto vizinho, onde está o Pe. Damasceno, como sempre, deixou a malária. Isso aconteceu por duas vezes consecutivas. Da terceira vez, antes de picar e seguir para o outro, repetiu a dose na mesma pessoa. E, como partilhamos “tudo” e por igual, também todos tivemos duas malárias nesse mesmo mês. Mas, damos graças a Deus porque tem sido sempre um de cada vez e não em simultâneo, pois é preciso cuidar uns dos outros. Nisto tudo, o mais curioso e engraçado é que se torna muito fácil saber quando um de nós tem malária. O primeiro sintoma é que ela interfere naquilo que cada um mais aprecia: quando o Pe. Raul não toma o seu “sagrado” café está com malária, pois ele só não o toma quando tem malária, de resto nada o impede, a não ser a electricidade que às vezes desaparece no momento em que vai ligar a máquina; quando o Elson não come o seu saboroso prato de arroz é porque tem malária, pois só deixa arroz de lado quando tem “cachupa”; e quando o Pe. Damasceno não come o seu delicioso pão é porque a malária o está a visitar. Quando assim acontece, tratamo-la com muito respeito, repousando, pois como diz o Pe. Raul: “ela, a malária, é uma «senhora» que merece muito respeito e atenção”.

Com tudo isto a missão continua e a malária vai sendo cada vez mais familiar!!!

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...