25 de dezembro de 2012


Carta de Natal


Damasceno dos Reis

Itoculo


Esta é a altura também em que a nossa comunidade se senta para fazer um balanço do ano. E, como é hábito, deparamo-nos com os donativos que fomos recebendo em favor desta missão. É impressionante e comovente verificar a quantidade de grupos da LIAM e de pessoas particulares que se solidarizam com este povo e também connosco, humildes servos nesta missão.

Com a vossa ajuda foi possível contribuir para solidificar um pouco mais esta jovem Igreja e apoiar, com alguns projectos concretos, pessoas e situações de carência extrema. Fomos publicando no nosso espaço da internet (www.nakumi.blogspot.com) alguns desses trabalhos e projectos. Convido-vos a visitar, sempre que possam, essa página para nos conhecermos sempre melhor.


E agora, como forma de agradecimento, gostaria de partilhar convosco a seguinte história: Foi uma história que há dias ouvi a uma irmã de outra missão. Não se trata de uma história extraordinária, mas de um facto muito simples. Foi na cidade de Nampula. Onde não falta gente. Gente pobre. Sempre a mendigar.

Como de costume, estando ela no carro à espera de outra irmã que tinha ido às compras, aproximou-se um desses tantos jovens profissionais da pedinchice. Muito sensatamente, a irmã não lhe deu moeda alguma. Mas, em vez de repelir o impostor com um gélido aceno de mão ou de enveredar por um infindável e desarrazoado debate, ofereceu-lhe algo. Começou-lhe a falar de Jesus. Fez como Pedro, tal como vem descrito no livro de Actos: “não tenho ouro nem prata, mas o que tenho te vou dar, em nome de Jesus Cristo…”. E assim começou uma conversa frutuosa, porque eram mais do que palavras, era o expor franco de uma autêntica paixão por Cristo, uma partilha daquilo que a irmã mais estimava, a partilha da sua maior riqueza (esta parte, de si mesma, ela não contou, mas conheço a irmã…). Até aqui, porém, nada de novo. Ela faz isto muitas vezes, é o seu modo de ser.

A conversa entre os dois tornou-se tão interessante que em breve se juntou outro jovem. Um dos muitos que deambulam pelas ruas da grande cidade à espera de uma migalha oferecida ou de outra momentaneamente “desacautelada”. E, mais uns minutos depois, já todos os pés-descalços daquela rua se tinham juntado a estes dois companheiros para assistir à boa nova que a irmã proclamava do seu púlpito automóvel. Quando chegou a outra irmã e a hora de partir, apinhavam-se à volta do carro não apenas os larápios, mas também um bom número de vendedoras de fritos e de transeuntes mais curiosos.

A irmã contava isto com um sorriso satisfeito. Um sorriso próprio de quem faz a experiência de missão como acolhimento do outro sem se preocupar com defesas ou contrapartidas. Isto só é possível se primeiro nos despojamos de falsas riquezas e nos deixamos embeber em Jesus Cristo. Assim, ensopados n’Ele, sem ouro nem prata, torna-se fácil expormo-nos para que os outros levem tudo o que realmente precisam. Esta é a verdadeira evangelização. Jesus faz-se carne (torna-se real) em todos os recantos da nossa vida? Então nem precisamos de falar. Ele torna-se visível, brilhante mesmo, para todos os que nos rodeiam.


Estamos a viver o ano da fé e terminou há pouco em Roma um grande sínodo sobre a nova evangelização, por isso me parece que esta história vem mesmo a calhar. Esta história fala de uma missão que brota de nós de maneira espontânea, porque anda sempre connosco.

Feliz Natal

21 de dezembro de 2012


Feliz NATAL


Os Missionários do Espírito Santo em Moçambique desejam a todos os seus familiares, amigos, colaboradores e conhecidos um SANTO e FELIZ NATAL de JESUS SALVADOR.


Igualmente para todos um Próspero Ano 2013 repleto das bênçãos de Deus.


Unidos «num só coração e numa só alma».

13 de dezembro de 2012


Um poço de água


Raul Viana
Itoculo


No dia 8 de Dezembro na região paroquial de Congo-Itoculo decorreu a inauguração oficial do poço de água subvencionado pela Escola Secundária Henrique Medina de Esposende – Portugal. Um apoio levado a cabo pela professora Ernestina Falcão, missionária (leiga voluntária) em Itoculo em 2010-2011, a quem recordamos calorosamente e agradecemos sinceramente. 


Os trabalhos iniciaram no dia 18 de junho com a última pesquisa para obtenção de água em Djipwi-Itoculo, e no dia 4 de julho começaram os trabalhos de abertura do furo de água. A população local apareceu e colaborou bem neste serviço. Oito dias depois já se encontrava a primeira água com 18m de profundidade. Grande alegria para todos os presentes. Porém, ainda não se tinha atingido a profundidade suficiente para garantir uma quantidade de água que permita instalar uma bomba manual. Continuou-se a aprofundar, mas aos 19m atingimos uma zona rochosa que não nos permitiu prosseguir no aprofundamento do furo. Ainda procuramos outro sítio no mesmo terreno, mas sem sucesso. Propusemos abrir um poço no local onde a população apanha água, mas os locais não estavam interessadas. Desta maneira terminamos os trabalhos em Dijipwi e avançamos para a região do Congo.


Assim, no dia 2 de agosto estivemos com os técnicos no terreno e decidiu-se abrir um poço manual. Os trabalhos reiniciaram no dia 13 de Agosto, com pá e picareta, e ao fim de alguns dias já atingia 4 metros de profundidade. Mas uma camada de ao chegar de saibro muito duro travou os trabalhos. Impossibilitados de prosseguir, decidiu-se abrir num outro sítio, relativamente perto. Mas também aqui ao fim de 5m nos deparamos com o mesmo problema.

Finalmente, no dia 1 de outubro reiniciamos os trabalhos, sendo que ao fim de 3,50m já havia sinais de água, o que animou o prosseguimento dos trabalhos de perfuração que atingiu 5,40m de profundidade. Uma vez que apanhava água suficiente e começava a dificultar a dureza do terreno saibroso, decidimos iniciar o fabrico de manilhas de cimento para garantir que o poço não vá aluir no tempo das chuvas e que haja água potável.


Iniciou-se o trabalho de busca de areia e pedra para as manilhas. Concluído o fabrico das mesmas, procedeu-se à sua instalação no dia 5 de Novembro. Depois fez-se a base para a instalação da bomba manual de água. No dia 10 do mesmo mês instalou-se a bomba manual de água e entregou-se a um grupo de pessoas a responsabilidade de cuidar deste bem comum.

A nossa palavra final é um sentido agradecimento aos alunos e à Escola Henrique Medina – Esposende, lembrando uma vez mais a nossa irmã e amiga leiga voluntária, Ernestina Falcão. Ao mesmo tempo, agradecemos a todos os que se empenharam para que isto mesmo acontecesse: trabalhadores, assistentes e ajudantes, cozinheiros, etc… Não queremos esquecer ninguém.


Sabemos que este poço não vai resolver todo o problema da água em Itoculo, mas acreditamos que é uma ajuda eficaz que faz parte da nossa missão como cristãos nesta terra. Muitas gotas de água enchem o mar, e esta é mais uma gota que queremos acrescentar, para que as pessoas possam aceder mais facilmente a este líquido precioso e essencial.

Enfim, fazemos votos para este poço seja bem estimado e cuidado. Ele servirá o nosso Centro Regional do Congo e também servirá a população em redor, sendo coordenado por um comité de água devidamente formado. Esperamos e rezamos para que a água nunca se esgote neste poço e para que haja sempre boa coordenação entre todos os responsáveis e utentes.

25 de novembro de 2012

Espiritanos em Moçambique
- 2012 -
 
Raul Viana

Itoculo


O dia 28 de novembro de 1996 marca o início efetivo da presença missionária espiritana em Moçambique. Um grupo de seis missionários (dois portugueses, dois angolanos e dois nigerianos) chegaram a estas terras. Foi a resposta afirmativa da Congregação do Espírito Santo ao pedido dos bispos D. Francisco Silota da Diocese do Chimoio e D. Germano Grachane da Diocese de Nacala.
 

Precisamente nestas duas Dioceses assumimos as missões de Inyazónia e de Netia, e aí começamos a viver o carisma espiritano com este povo acabado de sair da guerra civil e com grande vontade de percorrer os caminhos da paz e do desenvolvimento. Uma realidade que marcou a nossa presença missionária, a qual desde o início sempre apostou na promoção social e compromisso eclesial.

Estas duas missões distanciadas geograficamente por mais de mil quilómetros exigiram um estilo de missão assente na vida comunitária espiritana. Para tal não faltaram alegrias e dificuldades, como também foram grandes os desafios enfrentados, e que hoje continuam a ser parte integrante da nossa maneira de viver a missão. Apesar de nos termos localizado longe dos grandes centros urbanos, onde era necessário percorrer difíceis vias de comunicação, também marcados pelo isolamento e precaridade, havia esta certeza de estar com o povo simples e com ele caminhar, vivendo o carisma da missão espiritana.
 

Com o decorrer dos tempos novas realidades surgiram e novas decisões foram tomadas. A missão/paróquia de Netia cresceu, estruturou-se e foi entregue ao Clero local em 2004. Entretanto, ao lado surgiu um novo projeto que precisava ser assumido e consolidado. Tratava-se da missão/quase-paróquia de Itoculo, onde nos encontramos atualmente em processo de consolidação social e eclesial. É uma missão rural onde é preciso percorrer as 77 comunidades ministeriais, formar e capacitar os animadores cristãos nos diferentes âmbitos da fé e do compromisso social, potenciar e colaborar no desenvolvimento integral dando preferência aos mais desfavorecidos.

Ao mesmo tempo, para romper o isolamento sentido pelos missionários espiritanos, inicia-se um outro projeto em Nampula-cidade para responder às necessidades da Igreja local num dos bairros periféricos (Mutawanha-Paróquia de S. João de Deus). Aqui também a missão é entendida como desenvolvimento humano integral. Além da assistência religiosa pastoral, surgiu uma aposta séria em projetos de desenvolvimento (centro nutricional, sala de corte e costura, biblioteca, cursos de informática, sala de acesso à internet…) especialmente para aqueles que são excluídos, que não têm possibilidade nem capacidade de aceder aos meios comuns de cada dia.

Em Inyazónia (Chimoio) a missão espiritana também está marcada pelos grandes desafios da precaridade de vida das pessoas, da carência de meios e das grandes distâncias a percorrer. O apoio local a pequenos projetos de desenvolvimento a par do anúncio do Evangelho numa larga extensão territorial com cerca de 50 pequenas comunidades é a ocupação e a vida dos missionários aí presentes. A nossa decisão e a vontade de abrir uma nova comunidade espiritana na cidade da Beira permitiria diminuir o isolamento sentido por estes missionários, bem como o reforçar o sentido da missão espiritana, disposta a iniciar um processo formativo para jovens moçambicanos candidatos à vida espiritana.

 
Enfim, passados 16 anos, a missão espiritana continua viva e atual. Não apenas queremos manter, mas aumentar a nossa presença, respondendo às necessidades desta igreja local em geral e da missão espiritana em particular. Por isso, a todos os nossos colaboradores queremos agradecer o apoio e comunhão que recebemos, os quais são fonte de muitas outras iniciativas. Tal é o caso do centro formativo-pastoral de Xihire-Itoculo que as Paróquias de Vitorino dos Piães, Poiares e Navió (Arciprestado de Ponte de Lima-Portugal) ajudaram a erguer. Um agradecimento que se une com uma prece missionária para que haja mais jovens atentos à voz de Deus e se decidam a avançar e a partir em Missão.

6 de novembro de 2012


Ano da Fé em Itoculo


Raul Viana

Itoculo


O dia 11 de Outubro em Roma, o dia 18 na Catedral de Nacala e o dia 4 de Novembro na Paróquia de S. José de Itoculo, em diferentes níveis, estiveram marcados pela mesma iniciativa: celebração de abertura do Ano da Fé.

 Na nossa paróquia de Itoculo quisemos marcá-lo com um sinal exterior, fazendo uma PORTA, por onde entramos e onde devemos passar ao longo de todo o ano, recordando a entrada inicial do nosso batismo na fé da Igreja. (NB: Agradecemos à voluntária Joana Cruz e à sua família que nos possibilitaram esta bela iniciativa).


Como afirma o Papa Bento XVI, o Ano da Fé será um momento oportuno para reavivar e fortalecer a fé e incentivar à transmissão da mesma. A nível interno queremos que seja também será um tempo para recordar a história da evangelização e o surgimento de cada comunidade na nossa paróquia.

Assim, olhando as origens da evangelização em Moçambique, vemos que tudo se iniciou a 11 de Março de 1498, dia em que se celebrou a primeira Missa em terras moçambicanas, participada por Vasco da Gama e os navegadores na primeira viagem marítima para a Índia.

Descoberto este caminho, outros navegadores, e com eles os missionários, chegaram a estas terras. Assim, no ano de 1505 em Sofala, encontramos a primeira igreja em solo moçambicano, onde se começou a ensinar as coisas da fé aos povos locais, celebrando-se em 1506 os primeiros batismos. 


Em 1560 iniciou-se a evangelização para o interior de Moçambique com o P. Gonçalo da Silveira e seus companheiros jesuítas a entrar no reino de Monomotapa. Seguiu-se um tempo de evangelização (1640-1940) com altos e baixos… No séc. XIX dá-se um grande ressurgimento missionário em África que envolverá toda a Igreja, com a tomada de consciência internacional do triste espetáculo da escravatura, que levou à formação de um forte movimento antiescravagista, e onde a Igreja assumiu um papel pioneiro e libertador.

Em 1940, com a assinatura da Concordata e do Acordo Missionário, consegue-se uma nova orientação missionária para a Igreja em Moçambique. São criadas três dioceses (Maputo, Beira e Nampula) e mais tarde são ordenados bispos moçambicanos que assumem essas mesmas dioceses. No interior, as Missões tornam-se verdadeiros polos de evangelização e desenvolvimento.

Centrando-nos agora na nossa diocese de Nacala, temos a dizer que ela foi criada na véspera dos Acordos de Paz, desmembrada da Arquidiocese de Nampula e canonicamente ereta no dia 5 de Novembro de 1991, pelo Papa João Paulo II. No dia 29 de Dezembro de 1991 D. Germano Grachane assumiu a sua cátedra.


A Diocese de Nacala abrange a parte costeira marítima da província de Nampula, partindo do rio Lúrio (a norte) até ao Mongincual (sul). Sendo uma das mais pequenas dioceses territorialmente, com uma superfície de 26.000Km2, compreendendo 9 distritos (Namapa, Nacaroa, Monapo, Mongincual, Mossuril, Ilha de Moçambique, Memba, Nacala-a-Velha e Nacala-Porto), ela é uma das mais densas a nível populacional.

A nossa Diocese tem como padroeira Nossa Senhora da Boa Viagem, um patrocínio e um templo pensados para os marinheiros e navegantes que partiam e/ou chegavam ao Porto de Nacala. As 22 paróquias que compõem a Diocese são também uma expressão da sua riqueza. As mais antigas são as paróquias de Nossa Senhora da Conceição de Mossuril (1524) e de Nossa Senhora da Purificação da Ilha de Moçambique (27/08/1700). A mais recente são as paróquias de S. João Batista de Nacala-Cidade Alta (29/08/1994) e de S. José de Itoculo (19/03/2004).


A nossa paróquia de S. José de Itoculo divide-se em três regiões (Djipwi, Xihire e Congo) e em 15 Zonas pastorais com 77 Comunidades cristãs. Queremos que cada Comunidade cristã conte a sua história, sabendo que a Comunidade cristã mais antiga está a completar 50 anos de existência: S. Paulo Monetaca. O que significa que estamos perante uma igreja jovem e cheia de esperança.

Enfim, temos aqui um breve resumo desta Igreja onde estamos inseridos. Mas, acima de tudo, importa perceber que atrás de nós muitos outros já caminharam e testemunharam a sua fé. Hoje somos nós que temos de dar continuidade a essa história cristã, e nesse sentido manter acesa a chama da fé erguendo bem alto a luz que nos ilumina. Como afirma o Papa Bento XVI, «a fé só se mantém viva quando se partilha». Então, saibamos ser suas testemunhas e anunciadores pela palavra e pela ação, e que Nossa Senhora da Boa Viagem nos acompanhe neste peregrinar.

19 de outubro de 2012

Centro Regional de Xihire

 
Raul Viana
Itoculo


No dia 7 de Outubro de 2012 fez-se a bênção e inauguração dos novos espaços de Xihire, tal como confirmam as imagens da postagem anterior a esta. Aqui apenas queremos ressaltar algumas partes do Relatório final apresentado nesse dia. Na verdade, foi um dia de festa porque se concluía um processo longo e custoso, bonito e necessário.

 
LONGO

Foi um processo «longo», porque iniciamos em 2010, precisamente a 24 de Maio de 2010 contatamos o P. Cláudio Belo, Pároco de Santo André de Vitorino dos Piãos, S. Tiago de Poiares e Santíssimo Redentor de Navió (Ponte de Lima – Portugal). Apresentamos-lhe a situação da inexistência de um espaço digno para reuniões dos cristãos e animadores desta Região. Pouco tempo depois, a 2 de Julho ele nos respondeu dizendo: «Em relação à obra não te preocupes que faço aqui um peditório e leio a tua mensagem. Pouco ou muito conta sempre com ajuda deste povo». E na verdade a 19 de Julho de 2010 as comunidades paroquiais nos deram uma oferta de 3.020,00€. Hoje queremos expressar a todos esses cristãos, irmãos nossos, um grande sentimento de gratidão, porque partilharam connosco uma grande oferta.

 
Então, a 16 de agosto do mesmo ano iniciamos os trabalhos fazendo formas para fabricar os adobes para queimar, no qual todas as comunidades da Região participaram. Vendo que seria insuficiente, e procurando uma solução mais sólida, a 29 de Outubro optamos por fazer blocos de areia e cimento.

O projeto visava restaurar a casa-cozinha já existente mas em estado decadente e fazer um novo salão e sala anexa. Mais tarde vimos a necessidade de recuperar a Capela e fazer uma latrina melhorada com laje de cimento. Assim, a 4 de Março de 2011 fizemos o primeiro contrato com o pedreiro Sr. Domingos Wasseya para restaurar a cozinha. E porque ele nos deu bons sinais de confiança lhe entregamos, a 15 de Julho, a construção do novo salão, juntamente com outro pedreiro chamado Mário, que se encontra atualmente enfermo.

Enfim, foram mais de dois anos de trabalho que tivemos aqui nesta Região e que agora vemos os resultados.

 
CUSTOSO

Um projeto «custoso», porque envolveu muito dinheiro e muito esforço humano. A grande ajuda veio do exterior, como já referi, dos cristãos de Vitorino, Poiares e Navió, e também de outros amigos da Paróquia de Nossa Senhora del Encuentro da Espanha e de Portugal. Somando um total de 6.175,00€ (=216.125,00MTM). Outra parte surgiu do esforço daqui, das comunidades, em especial a comunidade de Xihire, e de muitas outras pessoas que trabalharam para que isto acontecesse. Assim gostaria de mencionar o Sr. Régulo que nos deu a areia, os homens que partiram pedra, os que fizeram os blocos, os que trouxeram as tábuas e barrotes, e principalmente os pedreiros e ajudantes. De todos eles sentimos muito esforço e dedicação que também queremos agradecer.

Assim, o resumo das contas foi de 29.640,00Mtc para recuperar a casa-cozinha; 9.200,00Mtc para recuperar a capela (com a participação de 500Mtc da comunidade de Xihire); 8.380,00Mtc para fazer a latrina melhorada; e 168.905,00Mtc para o salão e sala anexa. Junto com tudo isto está também o concerto e entrega da bomba de água da fontenária de Xihire em 27 de maio de 2011 onde gastamos 2.040,00 Mtc.
 
BONITO

Uma obra «bonita», porque ao olhar agora para o Centro Regional de Xihire está todo ele mais bonito e completo. As fotografias de ontem e as de hoje têm um grande contraste. Mas queremos que as fotografias de amanhã sejam ainda mais bonitas, onde se possa ver muitas pessoas a frequentar este Centro, a usar estes espaços e a cuidar deles para que todos se sintam bem, em melhores condições.

A beleza deste espaço será ainda maior quando estiver cheio de pessoas, animadores dos diferentes ministérios, a participar nos encontros de formação humana e cristã. Não nos interessa ter casas bonitas e vazias, novas e abandonadas, grandes e sem pessoas. Por isso, fica aqui um apelo renovado a toda a Região de Xihire, e a cada ministério em particular, para participar ativamente nos encontros aqui agendados.

 
NECESSÁRIO

Um espaço «necessário», porque estávamos limitados nos espaços para as nossas reuniões. Agora, quer faça sol, chuva ou vento, podemos fazer os nossos encontros e receber a formação necessária para os nossos ministérios e as nossas comunidades cristãs. Antes estávamos mais limitados nos nossos espaços de encontro, aproveitando as sombras dos cajueiros ou das mangueiras, mas agora já temos outras condições que nos permitem fazer mais e melhor.

Estas infraestruturas podem ser o ponto de partida para outras iniciativas locais em vista do desenvolvimento integral de toda a Região. Assim mesmo, manifestamos aqui a nossa vontade de trabalhar juntos com as autoridades locais em vista do bem comum, respeitando as diferenças e trabalhando pela unidade e a paz, quer a nível religioso, quer a nível social. Neste sentido, agradeço as autoridades aqui presentes, desejando, sempre que possível, que juntos possamos fazer coisas boas e bonitas, capazes de trazer mais dignidade e qualidade de vida para cada pessoa e todas as famílias.

 
Enfim, caros cristãos de Xihire, o vosso Centro Regional tem agora melhores condições que os outros Centros Regionais da nossa Paróquia. Porém, queremos que tudo isso corresponda também a um maior empenho de toda a Região na vida da Paróquia e na animação de cada comunidade. Obrigado pela presença e participação de cada um vós, e que Nossa Senhora do Rosário que hoje celebramos vos acompanhe sempre no vosso caminhar e vos fortaleça no compromisso e seguimento do Seu Filho Jesus Cristo.

12 de outubro de 2012

XIHIRE novo e renovado

Sala de formação e Salão de Reuniões com capacidade para grandes celebrações, construído de raiz.


Pouco a pouco foi crescendo...


Assim ia ganhando forma...


Por fim veio a «formusura»...



CAPELA de Xihire datada de 1954.



CASA-Cozinha para apoio a toda a Região.



Por fim, uma latrina melhorada para necessidades básicas...


Xihire, 7 de Outubro de 2012.



XIHIRE em FESTA

Mensagem alusiva ao dia 7 de Outubro de 2012
Data da Padroeira desta Região de Xihire, Nossa Senhora do Rosário.

Nesta Festa da nossa Padroeira, hoje também coincidiu a inauguração das nossas salas e Centro Regional de Xihire.

Boas vindas…

Nesta nossa festiva que hoje celebra aqui na nossa Região, estamos contentes porque é pela primeira vez que a nossa Região aqui vai celebrar. É uma festa inaugurativa. Um Centro fundado no ano de 1954 pelos missionários Combonianos que vinham conduzir-nos antigamente. Os Padres que fundaram o Centro foram o Padre João e o Padre Martinho. Nesse tempo os nossos irmãos sofreram muito pelas distâncias que corriam para Mueria onde era na Paróquia. Era difícil ter uma celebração Eucarística, nem Celebração da Palavra tinham. Nos domingos rezavam o Terço. Nestas celebrações incluía por 6 Regulados. Todos os cristãos rezavam aqui mesmo no Centro Regional de Xihire.

Nesta data agradecemos muito aos missionários Espiritanos que olharam e pensaram de construir novas salas e reabilitar a Capela e a cozinha do Centro Regional de Xihire. Estamos ainda a agradecer aos missionários Espiritanos pela força do Espírito Santo que existe no meio deles, quando na parte de evangelizar assim como dos sacramentos e formações que recebemos em todos os dias. Missionários que não se cansam, mesmo no tempo chuvoso.

Nos anos atrás sofríamos nos dias chuvosos na sala do encontro coberta de capim. Agora já temos sala de encontros coberta de chapa de zinco. Por essa força, pedimos a Deus que nos leve para a frente. Agradecemos muito aos Padres e Irmãs da nossa Paróquia de Itoculo, e pedimos que essa iluminação que seja contínua.

Agradecemos também às Missionárias Espiritanas que sempre conseguem instruir as mamãs da nossa Paróquia, seja nas cerimónias femininas, na costura e nos nossos lares, da forma como educar os nossos filhos, na religião, na escola assim como na saúde mesmo na sociedade. Agradecemos pelo Congresso das Mamãs realizado este ano.

Por último estamos a agradecer aos animadores regionais, zonais, anciãos, catequistas assim como todos os responsáveis de vários ministérios e cristãos desta Região de Xihire que em conjunto colaboramos a única fé de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que seja a fé contínua olhando os 10 Mandamentos da Lei de Deus.

Obrigado
Animadores do Conselho Regional
Xihire aos 7 de Outubro de 2012.

8 de outubro de 2012

MOÇAMBIQUE
20 anos de paz

Raul Viana

Itoculo

Cada ano em Moçambique o dia 4 de Outubro é sobejamente festejado para celebrar o tempo da paz, o fim da luta armada nacional. Este ano celebramos o vigésimo aniversário (1992-2012) deste grande dia de bênção para todo o povo moçambicano.
 
Na nossa Paróquia de S. José de Itoculo, Diocese de Nacala, começamos por recordar uma das vítimas mortais antes de chegar esse grandioso dia. Trata-se do Irmão Alfredo Fiorino, missionário comboniano, médico de profissão, que no dia 24 de Agosto de 1992 foi atacado e morto por guerrilheiros quando regressava a casa. Foi a última vítima missionária da luta armada nacional moçambicana.
 
Alguns anos antes, nesse mesmo lugar, uma outra irmã comboniana, Teresa, também foi vítima de uma emboscada semelhante, juntamente com 22 pessoas locais. Pouco tempo depois, os cristãos dessa zona pastoral, chamada Mweravale, para recordar o sangue derramado dos missionários mortos durante a guerra civil, construíram aí uma capela, que hoje serve como centro de culto nessa mesma zona pastoral.

 
Dia nacional da paz

Os 20 anos de paz são expressão de um tempo bonito e próspero. É um acontecimento que está marcado na memória de todo o povo, visto que enorme foi o sofrimento que a guerra provocou no seio das famílias e em muitas aldeias. Ainda hoje não deixa de ser impressionante a maneira como as nossas comunidades cristãs vibram quando entoam o canto da paz na celebração dominical. 
 
Mas celebrar 20 anos de paz é também o momento para contemplar e avaliar as mudanças produzidas em todo o país e em todos os sectores da vida social. Desde o campo político e económico, passando pelo social e cultural, culminando no plano religioso e missionário, muitas transformações se operaram como expressão de uma paz tão ansiada.
 
É verdade que nem tudo foi conseguido como seria desejado. Muitos desafios permanecem e têm de ser enfrentados para que a paz seja de verdade um tempo próspero para todos. A situação de pobreza extrema em que muitas pessoas se encontram são a expressão mais forte desta urgência desta paz efetiva.
 

 
Paz e desenvolvimento
 
Apesar de vivermos num país democrático com eleições livres, não deixa de ser questionável a confusão entre partido no poder e respetivo ato governamental. Igualmente, uma oposição política alternativa é essencial em todo este processo. Mesmo assim, se notamos que há muito caminho a percorrer neste campo político, também é verdade que muito já foi conseguido, ainda que a «Primavera árabe» pareça algo de temível.

Um olhar atento da realidade atual mostra também que Moçambique vive uma situação social e política aparentemente estável. Já o mesmo não se pode dizer no plano económico. O país está invadido por multinacionais em busca do carvão de Tete, do gás natural de Inhambane, das areias pesadas de Moma (Nampula), do petróleo na bacia do Rovuma (Caba Delgado), de pedras semipreciosas, de madeira exótica, etc… Tudo isto, porém, contrasta com o 184º lugar do ranking mundial de desenvolvimento em que o país se encontra.

Sendo que a verdadeira paz envolve tudo e todos, facilmente percebemos o número excessivo de excluídos. A pobreza extrema ainda é uma realidade bem presente nestas terras, mesmo que o Governo tenha como objetivo erradicá-la até 2015, de acordo com os Objetivos do Milénio. Porém, não deixa de ser também um sinal evidente de uma paz ainda em construção.

Segundo Mia Couto, um dos maiores escritores moçambicanos, e também uma das vozes críticas atuais da sociedade, «a maior pobreza de Moçambique hoje é não conseguir produzir um discurso inovador. Este discurso sobre a pobreza é um discurso pobre, repetitivo, feito de estereótipos e de frases populistas. Por isso não atinge a realidade, não convence as pessoas, não vai ao fundo do problema». Ou seja, parece que é preciso encontrar um novo estilo e método para consolidar a paz para que seja verdadeiro desenvolvimento.

Por sua vez, urge «fazer acontecer» o desenvolvimento, o que implica necessariamente uma ação e atitude participativa. Como afirmaram os Bispos moçambicanos é importante uma «nova catequese realista, mais ativa e participativa». Ou seja, os cristãos como parte integrante deste processo terão de ser verdadeiramente «sal da terra» e «luz do mundo» (Mt 5,13-14).

 
A paz que desafia

O papel da Igreja em todo o processo para a obtenção da paz foi determinante e peculiar. Esta é uma bandeira conquistada que trouxe prestígio e credibilidade, um crescimento e estabilidade da prática religiosa, inclusive a possibilidade de criar instituições próprias nos vários campos da educação, da saúde e na formação dos seus agentes de pastoral.

Porém, se durante o tempo da luta armada os cristãos perseguidos manifestaram grande coragem e firmeza de fé, já o mesmo parece que não se verifica neste atual tempo de paz. Na verdade, a voz profética da Igreja e dos Missionários, segundo o parecer de alguns membros mais críticos, parece ter resfriado um pouco.

Logo que a paz chegou, a Igreja Católica empenhou-se em recuperar os seus bens perdidos do tempo marxista. De imediato se dedicou a construir e reconstruir seminários e casas de formação, a voltar-se mais sobre si mesma. Neste sentido, a liberdade religiosa parece ter sacrificado o espírito de denúncia profética e o verdadeiro sentido de ser e fazer missão. Por sua vez, este silêncio da Igreja consentiu o desabrochar da corrupção exagerada aos mais altos níveis, uma corrida fácil e generalizada ao poderio e riqueza individual, entre outras coisas que se verificam na atualidade.

Deste modo, grandes desafios se apresentam a toda a Igreja em Moçambique: presença crítica onde proliferam as multinacionais, participação no meio do povo e ao serviço dos mais pobres, empenho contra todas as formas de pobreza, luta por um futuro sustentável, promoção da reconciliação, justiça e paz, capacitação dos agentes pastorais, entre outros elementos de referência.

 
Espiritanos em tempo de paz

Com a instauração da paz nacional muitas Congregações Religiosas e Missionárias entraram e se instalaram em Moçambique. Por exemplo, na nossa Diocese de Nacala no início da década de 90 existiam 5 Institutos Religiosos, hoje ultrapassam as duas dezenas.  O mesmo se verifica a nível nacional onde já atingimos o total de 116 Institutos de Vida Consagrada. Por sua vez, Moçambique é também o país onde se encontra o maior número de voluntários missionários portugueses.

Nós, Missionários Espiritanos, somos parte integrante deste tempo novo. Iniciamos a nossa presença missionária em Moçambique a 29 de Novembro de 1996, em pleno tempo de construção da paz moçambicana. Apanhamos o germinar e desenvolver da árvore frondosa que não cessa de crescer neste jardim cultural de Moçambique.

O nosso compromisso missionário onde nos encontramos pretende ser um sinal vivo e eficaz da construção da verdadeira paz que encontra em Jesus o modelo mais sublime. Não temos outro projeto a não ser o das Bem-aventuranças, «dos pacíficos que serão chamados filhos de Deus» (Mt 5,9), onde os mais pobres são escutados e onde tentamos colmatar a dificuldade pela falta de obreiros do Evangelho.

A exigência e o rigor da missão que assumimos com este povo são grandes e desafiantes. Dificuldades não faltam, como também é grande a confiança e o apoio recebido. Por isso, resta expressar um sentimento de imensa gratidão por tantos sinais de verdadeira comunhão missionária e continuar a acreditar que a paz gera transformação.

27 de setembro de 2012

Nota Pastoral do Bispos de Moçambique


Raul Viana
Itoculo 


Por ocasião do 20º aniversário da assinatura do Acordo Geral de Paz os Bispos de Moçambique publicaram uma Nota Pastoral com o título: “CONSTRUIR A DEMOCRACIA PARA PRESERVAR A PAZ”. Trata-se de um documento dirigido a todas as comunidades cristã e aos homens e mulheres de boa vontade, publicada no dia 16 de agosto deste ano. A sua pertinência é atual e corajosa pois ousa dizer o que muitos vêm e sentem, mas que não têm voz, nem vez, para se fazerem ouvir.

 
Os Bispos, na primeira parte da Nota Pastoral, afirmam que “os frutos da paz são a justiça e o bem comum”. Com base nisso enumeram alguns frutos alcançados: reconciliação nacional, democracia, liberdade de expressão, afirmação da sociedade civil e a reconstrução e expansão de algumas infraestruturas sociais e económicas.

 Na segunda parte, falam das ameaças à paz e a uma convivência democrática. São os «males» e «fraquezas» da atual situação política em Moçambique onde se multiplicam práticas autoritárias dos partidos políticos «retoricamente democráticos»; onde reina o “fraco espírito de diálogo e tolerância pelo diferente”; onde prevalece a absolutização dos partidos e o culto da personalidade; e onde a usurpação das riquezas do país são restritas a uma elite.

 
“Comprometer-se com a reconciliação, com a justiça e com a paz” é a última parte deste documento que convida a repensar as prioridades e valores em exercício. Aqui, os Bispos apelam a fazer de Moçambique “uma casa para todos os moçambicanos e não um mercado para os mais espertos”. Para tal, urge superar a pobreza não só económica, mas também espiritual; repensar a política dos «Megaprojetos» para se evitarem «Megaproblemas»; «educar para os valores da solidariedade, partilha e comensalidade»; e trabalhar com responsabilidade para com as gerações futuras.


 Enfim, é uma Nota Pastoral bastante clara na análise e na denúncia de uma governação que põe em risco a democracia e os valores pelos quais foi assinado o Acordo Geral de Paz em Roma, a 4 de Outubro de 1992. Talvez fosse mais profética se apresentasse algumas indicações concretas para uma pastoral que responda aos grandes desafios apresentados. Contudo, é uma iniciativa louvável e de boa qualidade que desperta para a realidade e compromete a Igreja na construção de um mundo mais fraterno.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...