O missionário, pelo dom
da sua vida aos outros, é chamado a viver uma profunda e contínua experiência
de partilha: ele partilha a vida, a fé, o pão, a fome, a voz, os limites e
fraquezas… tudo o que ele possui e o seu próprio ser é um dom de Deus e deve
ser dom para os outros. A vida é um constante dar e receber, que a todos
enriquece.
Quando se fala de
partilha a tentação é, inevitavelmente, pensar em coisas materiais. Contudo,
esta semana do mês das missões nos convida a explorar outros horizontes de
partilha onde cada um tem algo para dar e para receber. O missionário é chamado
a partilhar a sua vida com os irmãos, a sua voz com aqueles que não têm voz nem
vez na sociedade, o seu rosto com os anónimos da nossa civilização, o sorriso com
os que estão tristes, o pão com os que têm fome e são vítimas da pobreza; mas
também ele partilha o sofrimento e a dor dos que sofrem, a impotência dos que
não podem resolver todos os problemas e desafios que a vida e a sociedade
apresentam. Dito de outra forma, o missionário partilha a sua presença no meio do
povo onde ele é enviado, independentemente das circunstâncias ou do mérito
individual.
O mês de Outubro nos
convida, cada ano a fazer a festa da missão, da proximidade e da comunhão.
Porém, como fazer a festa sem ter em conta o irmão que sofre e chora ao meu
lado? Como permanecer indiferente face à luta dos irmãos que procuram justiça e
respeito pelos seus direitos e pela sua dignidade? Como ser missionário sem
partilhar estas circunstâncias que nos circundam no dia-a-dia? O missionário
tem que ter olhos e braços abertos para acolher estas situações e estes irmãos.
Mas ter as mãos abertas não é suficiente para definir o missionário, pois a
missão não limita em dar coisas materiais. O que constitui o ADN de um
missionário é ter um coração aberto onde os mais humildes, fracos e abandonados
podem encontrar um refúgio, um abrigo e aceitação. Um coração aberto,
inevitavelmente, faz abrir as mãos para assistir o irmão e dar duas moedas ao
estalajadeiro para cuidar dele e dizer: o que gastares a mais pagar-te-ei quando
eu regressar (cf. Luc 10,35).
Ser missionário é um
estilo de vida: por isso, o coração do missionário deve inclinar-se naturalmente
para o outro, obrigando as mãos a proporcionar a assistência necessária e
ajudar a aliviar o seu sofrimento. Partilha material qualquer pessoa pode
fazer, mas a grande diferença está na atitude, ou seja, partilhar por (e com) amor.
Qualquer dom (independentemente do tamanho ou do valor monetário) que não tenha
saído do fundo do coração perde o seu sentido e valor missionário. Ainda que
nem todos o façam, ser missionário ou ter um coração missionário está ao alcance
de todos e cada um está convidado a sê-lo no dia-a-dia sem ter que sair para
muito longe de casa. Contudo, não podemos esquecer os irmãos que estão mais
longe e que somos chamados a nos fazer próximos, eliminando as barreiras que
nos faz sentir estranho ou inimigo diante do outro.
A pergunta «quem é o
meu próximo?» não pode ser calada no agir de qualquer cristão, nem a nossa
responsabilidade pelo irmão pode ser condicionada pela distância geográfica,
principalmente nos nossos dias em que o mundo está cada vez mais globalizado. Este
mês missionário é para todos nós uma oportunidade de reavivar o verdadeiro sentido
de partilha e nos ajudar a fugir do grande perigo de transformar as
oportunidades de estender a mão para o irmão necessitado em aproveitamento do
outro para o nosso próprio interesse. Isto constitui um grande desrespeito pela
dignidade da pessoa humana.
1 comentário:
Muito bem!
"A minha missão é dar-me sem medida"
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