27 de dezembro de 2017

Uma Carta de amor

Meu querido Itoculo,

O momento que eu mais temia chegou e tal como eu temia não estou preparada para ele, chegou a hora de me despedir de ti, de te deixar.

Mas antes de ir quero-te agradecer por tudo quanto me ensinaste, sempre com a tua imensa paciência. 
E algumas coisas que me ensinaste são para levar comigo para a vida.
Agora sei que quando as coisas não correm como planeado devemos lidar com isso com naturalidade, se hoje não deu, amanhã dará, no entanto não te habitues demasiado a isso porque pode ser perigoso, podes deixar de querer lutar e trabalhar por aquilo a que tens direito, tens de ser tu próprio a combater a tua pobreza, pois não vai cair ninguém do céu para o fazer por ti, tu mereces melhor só tens de ter consciência disso, tu mereces ter acesso a escolas competentes, a centros de saúde que se importem contigo, tu mereces ter acesso a água potável, a formação, mereces não ter de passar fome só porque num ano não choveu o suficiente, mereces um governo que ame o seu povo.

Ensinaste-me ainda que apesar dos meus problemas ou das minhas frustações devo viver a vida de forma alegre, apesar de não estar tudo bem, está tudo normal e isso é mais que suficiente para uma boa batucada.

Ensinaste-me que quando estamos no mato e muitas vezes não há rede no telemóvel, passamos a dar valor ao que é importante, damos valor à companhia de uma amigo ou de um familiar a uma boa conversa a um bom convívio.

Ensinaste-me que nem sempre precisamos de falar para comunicar, as tuas mamãs Macuas, que muitas vezes não conseguiram estudar porque tu ainda és um "bocadinho" machista, ou porque tiveram que casar cedo, foram umas excelentes amigas e professoras, sempre nas nossas conversas desajeitadas elas me demonstraram amor, preocupação, companheirismo, foram muitas vezes aquele carinho de mãe que precisava.

Ensinaste-me que devemos ser gratos por aquilo que alcançamos na vida, devo agradecer ter acesso aquilo que chamo condições básicas à vida.

E mesmo na recta final, quando eu achava que já me tinhas ensinado tudo, mostraste-me que posso planear tudo, posso ter tudo bem definido, mas tudo que está planeado pode não acontecer, pode sair tudo furado e a única coisa que não aconteceu foram os furos planeados, mas já sei já sei, amanhã havemos de lá chegar.

Mas a lição mais importante foi a de dar valor às pessoas, à família, à vida, se alguém que conhecemos está doente, devemos-nos unir para estar com essa pessoa, se existe um motivo de alegria na família mata-se uma galinha, um porco, faz-se um bom caril e fazemos uma festa, afinal a vida é demasiado curta e incerta para vivermos sempre tristes e zangados com ela.

Espero também te ter ensinado alguma coisa, pois todo o trabalho que fiz aqui foi com o maior amor, entreguei-me completamente a ti, e em quase quase todos os dias dei o melhor de mim.
Sei que em breve já vais ter outra, trata-a tão bem como me tratas-te a mim, sei que ela será muito feliz, e sairá daqui com um coração muito maior e muito mais aconchegado.

Vou sentir muito a tua falta, do teu calor, da tua fruta, do teu Verde selvagem, dos teus embodeiros, do teu castanho no tempo seco, do teu tá tá vô, mas vou sentir mais falta da tua alegria, tens sempre um sorriso para apresentar, tens sempre um Ihali para oferecer, tens sempre alguém a gritar o meu nome no meio do bairro, provavelmente uma criança feliz.

Espero não ter de trabalhar para uma Economia que mata, espero ter diferentes sinfonias nas minhas tardes, espero ter sempre direito ao meu Bom Dia, espero que comecemos a trabalhar para o bem da nossa casa comum, espero ter sempre o prazer do trabalho voluntário na minha vida.

Eu quero muito voltar para casa, mas não te quero deixar, e só tu e eu sabemos o que esta separação vai custar, mas vou fazer de tudo para voltar a ser feliz, assim como tu me ensinaste.

Foi um ano muito feliz,
Mpáka nihíku nikína,
Com todo o meu amor,
Helena











17 de dezembro de 2017

Quando é Natal?

É Natal quando as crianças famintas são trazidas ao centro nutricional e regressam com barriga cheia, levando ainda o leite e a papinha multimistura para a semana seguinte. 
Felizes os que contribuem para alimentar estes infantes.


É Natal quando um grupo de crianças do bairro aprende a socializar, começam a ler e escrever numa sala de pré-escolar ou simplesmente de ATL. 
Felizes os que se dedicam a alicerçar o futuro.

É Natal quando se acolhem jovens com dificuldades de acesso à escola, e juntos traçam um ritmo de vida e de estudo capaz de vencer o insucesso escolar. 
Felizes os apoiam e acompanham os sonhadores do presente.

É Natal quando um jovem termina um curso médio ou superior e é colocado num emprego, depois de muito esforço e privação. 
Felizes os que permitem fazer do sonho realidade.

É Natal quando um doente, um pobre de uma zona interior, é levado ao hospital, medicamentado e tratado com respeito e amor. 
Felizes o que se esforçam por dar mais dignidade à vida humana.

É Natal quando se tenta encurtar as distâncias para conseguir um balde de água, abrindo poços e furos de água. 
Felizes os que conhecem o valor de um copo de água potável.

É Natal quando uma família desavinda aceita ser aconselhada, reconhece o seu erro e vive o perdão mútuo. 
Felizes os promotores da reconciliação e da paz familiar.

É Natal quando se realizam cursos de formação e desenvolvimento, e se abrem perspectivas com novos valores de combate à pobreza. 
Felizes os que aprendem e ensinam à luz do Evangelho.

É Natal quando um grande número de crianças, jovens e adultos recebem os Sacramentos da fé cristã, e as famílias pedem para baptizar os seus filhos, depois de um tempo de formação e catequese. 
Felizes os que alimentam a fé e a vida das comunidades.

É Natal quando, para fazer tudo isso, cada um deixou de pensar apenas em si, nas suas preocupações e nos seus interesses, e se aproximou, acolheu e ajudou o irmão. 
Felizes os que descobriram que o nosso Deus é Deus-connosco em Jesus.

É NATAL quando acontecem todas estas coisas, e muitas outras parecidas, porque o Natal é Vida. E a Vida acontece em Itoculo.

Boas Festas e sê FELIZ neste Natal. 

30 de novembro de 2017

Ser ou não ser


Há uma altura na vida, ou pelo menos na minha houve, em que pomos em causa ou questionamos muita coisa e a minha religião não fugiu a esse julgamento.

Somos muitas vezes aconselhados a fugir daquilo que é muito diferente de nós e que pode ter uma influência negativa no nosso caminho "Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és".
Acontece que, no meu caso, na temática da religião tem sido o contrário. A maior parte dos meus amigos, diria que muito mais que 70%, não acreditam em Deus, mas são exatamente esses meus amigos que me levam a caminhar mais firme na minha fé.

Estava eu a conversar com uma grande amiga minha, que não acredita em Deus, num momento em que a minha religião estava no chamado "ou vai ou racha" e ela disse-me que tinha estado a conversar com uma outra amiga, do CAB, que lhe disse que para ela ser Cristã era tão simples quanto isto, quando ao longo do seu dia pensava/fazia alguma coisa menos Boa, automaticamente pensava "Não estou a ser uma boa cristã". O ponto de viragem foi exatamente este, quando percebi que a minha religião não fazia sentido para mim se se baseasse apenas em ir à missa aos Domingos, não, a minha religião tinha de ter impacto no meu dia a dia e tinha necessariamente que me tornar melhor pessoa, ou então não fazia sentido. Tive a certeza disto quando uma outra amiga me disse "Eu não acredito em Deus, mas acredito nos valores da igreja Católica".

No outro dia li uma crónica que dizia que o Marcelo Rebelo de Sousa, tem esta compaixão pelas pessoas, correndo sempre para quem está a sofrer, porque é Católico. Também a irmã Eduarda estava a conversar com as famílias daqui e estava a dizer que devíamos respeitar as mulheres, não lhes devíamos bater, nem as tratar como seres inferiores e um papá disse-lhe, "Nós já não fazemos isso, porque nós somos cristãos". É assim simples, ajudar quem sofre e não fazer ninguém sofrer.

Vou terminar com uma última história, durante a minha formação de voluntariado missionário, estivemos 4 dias numa casa de saúde a fazer uma experiência prática de voluntariado e nos primeiros 2 dias tínhamos 2 jovens Italianos connosco, que por acaso não acreditavam em Deus e quando a Catarina os foi levar à estação o rapaz disse-lhe "Eu não acredito em Deus, mas hoje vi-O".

Se as nossas obras, as nossas vidas, enquanto Cristãos não são um reflexo da existência de Deus estamos a fazer qualquer coisa de errado, não estamos a ser bons cristãos. Não é que quem não é cristão, não seja boa pessoa, são para mim na maior parte das vezes motivo de inspiração, mas nós cristãos temos obrigação de o ser e temos de deixar que as nossas obras o provem.

Se algum dia alguém disser, a Helena é assim, ou fez isto, porque é Cristã, vou ficar com o sentimento de dever cumprido.


3 de novembro de 2017

Friends will be friends


Sempre na minha vida me apoiei nos meus amigos para tudo, sempre foram o meu porto seguro, são aquelas pessoas com quem gosto de partilhar tudo, mas principalmente com quem gosto de partilhar as minhas alegrias, as minhas conquistas na vida.

Na série HIMYM (em português “Foi  assim que aconteceu”) o Barney diz-nos “Whatever you do in  this life, it’s not legendary unless your friends are there to see it”. Este pensamento “assombrou-me” desde o momento em que embarquei no avião para entrar nesta aventura, foi o meu maior medo ao deixar Portugal, perder os meus amigos, porque a minha família eu sei que nunca me abandonará, mas a amizade é um amor diferente, precisa de ser alimentado.

Acontece que, como sempre os meus amigos me surpreenderam. Ao embarcar na mais recente loucura de tentar angariar 7232€, apenas da generosidade das pessoas, os meus amigos provaram-me que não existe oceano que nos  separe.

Não consigo quantificar a quantidade de amor que recebi, das mais variadas formas, das mais variadas pessoas, desde que demos início ao nosso projeto “Água é vida”. Toda a gente quer ajudar e partilhar o projecto.

Mas o que mais me impressionou foi o apoio dos meus amigos, que estão tão empenhados que este projeto dê certo como eu. Ouvir  “A primeira coisa que faço quando acordo é atualizar o site”, “Vou criar um evento para toda a gente receber notificações”, "Posso partilhar em grupos", “Já atingimos os 2000€”, “Já atingimos os 3000€”, prova que não fui eu que atingi, fomos nós, juntos. E apesar de não estar fisicamente com eles, eles estão sempre comigo. Com este projeto agitei amizades adormecidas, aquelas  que às vezes pensamos que já não existem, criei amizades novas e fortaleci aquelas que espero que sejam as amizades para a vida, aliás não foi quando criei este projeto, foi quando embarquei naquele avião, a distância faz-nos perceber o que realmente importa e aproxima-nos daqueles que nos fazem bem. Independentemente do desfecho deste projeto, ter tanta gente mobilizada ao ver o sofrimento de outros povos, faz-me ter esperança na humanidade, faz-me ter fé de que nem todos estamos loucos.

Os meus amigos não estão aqui para me ver cair num buraco, não estão aqui para me ver a aprender a peneirar milho, não estão aqui para me ver a fugir de baratas… mas a matar escorpiões. Mas estão aqui, logo já posso dizer que esta aventura está a ser:

legen…wait for it… dairy.


31 de outubro de 2017

VIDAS MISSIONÁRIAS

Ao terminar o Mês Missionário (Outubro), onde fizemos as nossas reflexões centradas nos temas da oração, sacrifício, partilha e vocação, queremos concluir com aquilo que marcou este mês na Missão de Itoculo. Trata-se, essencialmente, da chegada e partida de pessoal missionário.


O início do mês ficou marcado pelo envio missionário da Ir. Argentina Alfredo para o Haiti (América Central). Foi o primeiro envio missionário que aconteceu nesta paróquia-missão. Uma celebração simples em Itoculo-sede marcou este envio para fora de Itoculo-paróquia, para fora de Nacala-diocese, para fora de Moçambique-país, e até para fora de África-continente. Desejamos que esta irmã jovem possa viver aí uma excelente missão junto dos irmãos haitianos.

A meio deste mês missionário chegaram dois reforços à missão de Itoculo. Primeiramente o jovem estagiário Gilberto Borges, seminarista espiritano de Cabo Verde que vem experienciar no concreto a vida missionária, ainda que com tempo determinado devido à sua etapa de formação. Poucos dias depois chegou também a Ir. Paula Caluvi, espiritana de Angola. Depois de ter passado por Cabo Verde e pela Guiné Bissau, onde esteve nove anos como missionária, vem agora dar a sua contribuição na Missão de Itoculo. São dois reforços marcados pela descoberta e a expectativa de quem inicia este tipo de vida, e também pela experiência sólida e serena de quem já percorreu os caminhos da missão. Aos dois desejamos as boas-vindas e boa integração missionária nesta Igreja particular de Nacala.

Agora que termina o mês de Outubro, a nossa equipa missionária despede-se do jovem estagiário espiritano Alexandre Gomes que vai regressar à sua terra de Cabo Verde. Daí irá prosseguir a sua caminhada vocacional e consagrada como jovem espiritano. Foi apenas um ano de presença e acção em Itoculo, mas ficou bem marcado pelo apoio que deu ao Lar de estudantes Beato Daniel Brottier, à formação dos jovens estudantes em preparação para o Crisma, à assistência e formação do ministério da Justiça e Paz nas três regiões da paróquia, ao apoio junto das escolas comunitárias, ao serviço de secretaria e cartório da paróquia, etc... Muito obrigado pelo serviço prestado, pela presença discreta, pela comunhão missionária e amiga. Desejamos continuação de uma boa caminhada e aqui esperamos de volta como padre missionário.

Enfim, estamos numa missão e assim mesmo vivemos este mês missionário. Outras coisas bonitas, muitas e boas, marcaram o ritmo das nossas vidas em Itoculo. Não conseguimos dizer tudo, mas estas são aquelas coisas que quisemos partilhar. Viva a missão. Estamos juntos.

25 de outubro de 2017

Vocação Missionária

VOCAÇÃO MISSIONÁRIA
A principal missão da Igreja (a Igreja entende-se como comunidade de todos os crentes e não tanto como estrutura ou hierarquia) é para ser o sacramento universal da salvação. A Igreja tem obrigação de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo a toda gente para que Deus seja tudo em todos. Devido à sua missão, a Igreja por sua natureza é missionária. Mas quem é a Igreja? Se Igreja designa o povo de Deus, então, pela graça de Deus e pelo dom precioso do nosso baptismo somos missionários. Assim, identidade fundamental de cada baptizado é pertencer a Cristo e sentir-se empenhado a testemunhar o Reino de Deus anunciando-o com a palavra e com os gestos concretos. Pelo baptismo, recebemos a vocação para participar na tríplice missão de Cristo: profeta, sacerdote e rei. Jesus Cristo é o enviado, o missionário por excelência, e todos nós baptizados somos convidados a ser missionários e partilhar a sua missão na comunhão de sua Igreja. Ser cristão é simplesmente estar em missão.

A palavra vocação implica um acto de chamamento. Quem chama e capacita para missão é Deus. Ao Homen como destinatário cabe apenas responder SIM ou NÃO a esta inciativa de Deus. Assim, a vocação missionária não é um chamamento sem opção mas é simultaneamente chamamento e opção. Não é uma espécie de toque mágico que alguns tiveram privilégio de ter nem é para os bons. A vocação missionária é um dom de Deus é a nossa entrega; é uma experiência de amor e fruto de um diálogo. A nossa decisão de assumir o nosso compromisso baptismal para ser colaboradores na missão de Cristo significa não viver em autogestão, por conta própria, mas como embaixadores, como apóstolos de Cristo. Assim, ser missionário, de nome e de facto, exige fidelidade a Deus, que nos chama e nos envia em missão para os mais diversos campos.

Infelizmente, muitos cristãos ainda pensam que os missionários são só os padres, consagrados e consagradas que deixam os seus países de origem ou terra natal para realizar uma missão. Cada cristão na sua maneira e modo de viver é chamado a dar continuidade ao trabalho salvífico de Cristo. Dentro da Igreja existem maneiras diferentes e específicas de colaborar na missão de Cristo. Enquanto alguns são chamados a viver a vida Consagrada ou Laical, outros no sacramento de Matrimónio ou de Ordem. Em qualquer situação que vivemos, nas famílias, com amigos ou na profissão que praticamos devemos sempre ser guiados e motivados pelo amor a Deus e amor pela humanidade. Um verdadeiro missionário vive com paixão pelo Deus que se manifesta na paixão pela humanidade, sobretudo os pobres, os doentes, os pecadores, os marginalizados e todos que sofrem injustiça. Viver a missão sem manifestação concreta do amor a Deus e ao próximo é impensável.

Ao aceitar o desafio de assumir o compromisso da nossa vocação baptismal, aceitamos também as consequências da nossa escolha. Nos textos bíblicos, sublinhamos três atitudes fundamentais dos que foram chamados a realizar missões específicas: a) “Deixar” uma situação ou partir (atitude de partir não deve ser vista só como movimento geográfico, mas também espiritual), b) “Assumir” uma missão e c) “Viver” uma aliança ou compromisso. Missão exige uma caminhada ou saída de nós mesmo ao encontro com Deus, a fonte da nossa missão. O missionário deve acreditar em Jesus Cristo, ter intimidade com a sua palavra, interiorizar e transformar a palavra em actos concretos e evangelizar a partir dessa palavra. Um cristão que não vive a cumprir a sua missão, vive em demissão. Assim, o nosso compromisso precisa de uma
renovação constante e permanente.

O mês missionário e a celebração do Dia Mundial das Missões no penúltimo domingo de outubro recordam-nos que temos que ser missionários de Cristo onde vivemos e no que fazemos. A força para permanecer e cumprir a missão vem de Deus, mas exige a nossa colaboração. Perante a humanidade que grita pela liberdade, justiça, paz, felicidade, igualdade, ambiente saudável etc, não podemos ser indiferentes e apáticos. O mundo precisa os nossos serviços e generosidades. Com a esperança e alegria no coração, vamos, cada um na sua maneira ser autênticos missionários e agentes das mudanças que queremos ver no mundo. O mundo espera-nos.  
 Vin

20 de outubro de 2017

Água é vida

Este fim-de-semana é o dia mundial das missões e decidimos escolhê-lo como mote para o nosso novo projeto: “Água é vida”. 

Quanto tempo tens de andar para ter acesso a água? Aqui na zona de Thamela em Itoculo, as famílias têm de andar em média2/3h para ter acesso a uma fonte de água potável. Consegues imaginar a tua vida sem água?! Este projeto tem como objetivo aproximar das pessoas um bem tão essencial como a água. 

Como é que podes ajudar?


Lá tem toda a informação que precisas, assim como um vídeo que melhor explica o nosso projeto. 
Um projeto de crowdfunding tem várias vantagens, podes fazer um donativo de qualquer valor a partir de 1€ e se o projeto não conseguir atingir 100% de financiamento o dinheiro é devolvido aos apoiantes. 

Estamos a contar com o teu donativo e com a tua partilha do projeto.

Não esperes pelo Natal para ajudar quem mais precisa.

Muito Obrigada!

17 de outubro de 2017

A PARTILHA DO MISSIONÁRIO

O missionário, pelo dom da sua vida aos outros, é chamado a viver uma profunda e contínua experiência de partilha: ele partilha a vida, a fé, o pão, a fome, a voz, os limites e fraquezas… tudo o que ele possui e o seu próprio ser é um dom de Deus e deve ser dom para os outros. A vida é um constante dar e receber, que a todos enriquece.
Quando se fala de partilha a tentação é, inevitavelmente, pensar em coisas materiais. Contudo, esta semana do mês das missões nos convida a explorar outros horizontes de partilha onde cada um tem algo para dar e para receber. O missionário é chamado a partilhar a sua vida com os irmãos, a sua voz com aqueles que não têm voz nem vez na sociedade, o seu rosto com os anónimos da nossa civilização, o sorriso com os que estão tristes, o pão com os que têm fome e são vítimas da pobreza; mas também ele partilha o sofrimento e a dor dos que sofrem, a impotência dos que não podem resolver todos os problemas e desafios que a vida e a sociedade apresentam. Dito de outra forma, o missionário partilha a sua presença no meio do povo onde ele é enviado, independentemente das circunstâncias ou do mérito individual.
O mês de Outubro nos convida, cada ano a fazer a festa da missão, da proximidade e da comunhão. Porém, como fazer a festa sem ter em conta o irmão que sofre e chora ao meu lado? Como permanecer indiferente face à luta dos irmãos que procuram justiça e respeito pelos seus direitos e pela sua dignidade? Como ser missionário sem partilhar estas circunstâncias que nos circundam no dia-a-dia? O missionário tem que ter olhos e braços abertos para acolher estas situações e estes irmãos. Mas ter as mãos abertas não é suficiente para definir o missionário, pois a missão não limita em dar coisas materiais. O que constitui o ADN de um missionário é ter um coração aberto onde os mais humildes, fracos e abandonados podem encontrar um refúgio, um abrigo e aceitação. Um coração aberto, inevitavelmente, faz abrir as mãos para assistir o irmão e dar duas moedas ao estalajadeiro para cuidar dele e dizer: o que gastares a mais pagar-te-ei quando eu regressar (cf. Luc 10,35). 
Ser missionário é um estilo de vida: por isso, o coração do missionário deve inclinar-se naturalmente para o outro, obrigando as mãos a proporcionar a assistência necessária e ajudar a aliviar o seu sofrimento. Partilha material qualquer pessoa pode fazer, mas a grande diferença está na atitude, ou seja, partilhar por (e com) amor. Qualquer dom (independentemente do tamanho ou do valor monetário) que não tenha saído do fundo do coração perde o seu sentido e valor missionário. Ainda que nem todos o façam, ser missionário ou ter um coração missionário está ao alcance de todos e cada um está convidado a sê-lo no dia-a-dia sem ter que sair para muito longe de casa. Contudo, não podemos esquecer os irmãos que estão mais longe e que somos chamados a nos fazer próximos, eliminando as barreiras que nos faz sentir estranho ou inimigo diante do outro.

A pergunta «quem é o meu próximo?» não pode ser calada no agir de qualquer cristão, nem a nossa responsabilidade pelo irmão pode ser condicionada pela distância geográfica, principalmente nos nossos dias em que o mundo está cada vez mais globalizado. Este mês missionário é para todos nós uma oportunidade de reavivar o verdadeiro sentido de partilha e nos ajudar a fugir do grande perigo de transformar as oportunidades de estender a mão para o irmão necessitado em aproveitamento do outro para o nosso próprio interesse. Isto constitui um grande desrespeito pela dignidade da pessoa humana.

9 de outubro de 2017

O SACRIFÍCIO DO MISSIONÁRIO

Nesta segunda semana do mês de OUTUBRO refletimos e rezamos sobre o SACRIFÍCIO.


A vida missionária também tem a sua dimensão de sacrifício, e não se pode negar. O próprio Jesus já tinha dito aos discípulos e a toda a multidão: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la». (Marcos 8,34-35).

O seguimento de Jesus é universal e exigente, proposto e possível para todos, tendo em vista a opção pelo Reino que traz a salvação da vida presente e futura. Trata-se do caminho da cruz, de quantos aceitam descobrir o que significa ser discípulo de Jesus, entregando-se totalmente, como Ele mesmo o fez, sem qualquer tipo de masoquismo, isto é, de procurar o sofrimento pelo sofrimento. Este exemplo de vida e entrega de Jesus é também a referência principal para o missionário.

Mais do que sacrifício, a vida missionária é opção preferencial. Qualquer privação humana e material, própria da vida missionária, tem em primeiro lugar uma escolha de sentido e nível superior, próprio de uma dimensão espiritual. Quando optamos pela vida celibatária, significa que o amor de Deus e o amor aos irmãos já preencheu o nosso coração. Ou quando escolhemos o desprendimento material, significa que Deus é o nosso tesouro. De outro modo a missão seria filantropia e o sofrimento acabaria connosco.

Com isto não significa que negamos as saudades da família, dos amigos e conterrâneos, nem o conforto de um lar ou o bem-estar de outros ambientes sociais mais atraentes. O esforço por compreender uma cultura, hábitos e língua diferentes, a coragem de estar próximo de quem nos é estranho, a tentativa de reduzir as distâncias com amigos e familiares, a insegurança diante do desconhecido, o desconforto pela carência de bens essenciais, entre outras coisas, trazem um sentimento de dor, por vezes interior.

Na vida missionária esta dor encontra remédio na oração diária, feita na intimidade com Deus, e na relação pacífica com os demais. Não se trata de abafar ou ignorar o que sentimos, mas canalizar e encontrar uma forma adequada para estar em paz e com equilíbrio emocional. Significa dar primazia ao espiritual sem negar a dimensão humana e material, mas transfigurando-a para um outro plano que a fé ilumina e faz entender.

Então, o compromisso pastoral em vista de uma Igreja de comunhão e proactiva, a preocupação de empreender projetos de desenvolvimento sustentável, a vontade de virar o mundo ao avesso para defender os mais fracos, e o sentimento de impotência e incapacidade diante de muitas situações limite, são verdadeiros desafios missionários que não nos fazem desesperar, mas permanecer firmes no compromisso transformador. Deste modo, aquilo que aparece como sacrifício ganha um novo contorno de entrega e dedicação carregado esperança, paz e mudança.


Senhor Jesus, neste mês missionário,
aceita o nosso sacrifício missionário,
transforma-o em semente de paz e bem
capaz de mudar o mundo e o nosso coração. 

3 de outubro de 2017

A oração do missionário

Nesta primeira semana do Outubro Missionário deixo aqui uma partilha sobre a oração.


1. Significado da oração

Oração é falar com Deus, é esse o significado que aprendi na catequese desde quando frequentava a 3ª etapa. A sua origem etimológica é oratione, e significa invocação a Deus ou dos santos; reza; meditação que inclui prece e contemplação. Nos documentos oficiais da Igreja a oração é um meio de santificação, elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens que nos são convenientes. A oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo.

Muitos cristãos fizeram esta experiência pessoal com Deus, entre eles está Santa Teresa do Menino Jesus que nos diz que “a oração é um anelo do coração, um simples olhar para o Céu, um grito de reconhecimento e de amor, no meio da provação, como no meio da alegria.”

E para mim, a oração é ligar o meu coração com o coração de Jesus, para ter as mesmas atitudes que Ele, acolhendo o outro na humildade e na simplicidade.

2. Oração de Jesus (Lc 11, 1 - 4)

Jesus pertencia a um povo que sabia rezar. Ele mesmo rezava e ensinou os discípulos a rezar. O Evangelho de São Lucas salienta bem a oração de Jesus, sempre ligada com os momentos mais importantes da sua vida e missão. Ela era a fonte da sua atividade curativa, rezava e depois curava, rezava e depois fazia milagres, rezava e depois multiplicava. A sua vida pública era acompanhada de frequentes retiros em lugares desérticos, no cimo do monte, sozinho, de madrugada, à noite... uma oração de especial intensidade.

3. Oração como motor da missão

Assim como o motor faz o carro andar, assim o missionário precisa da oração na sua vida de cada dia. Se na vida missionária faltar a oração, certamente, que ele vai “desaguentar”. Daí a importância da oração para uma vivência missionária intensa.

Aqui na missão, em comunidade, começamos o dia com a oração de Laudes. Depois quando chegamos nas comunidades ou no centro regional para a formação cristã, a oração é o ponto de partida. A meio do dia, em comunhão com toda a Igreja, rezamos a Hora Intermédia. Ao concluir a jornada celebramos a Eucaristia com Vésperas integradas. Semanalmente temos um tempo de Adoração Eucarística no final de cada domingo. E em cada tempo litúrgico temos momentos de recolecção e retiro espiritual.

A nível da oração pessoal para mim também tenho outros momentos onde me encontro a sós com Deus, louvando, pedindo e agradecendo por todos os benefícios recebidos. Da minha oração faz parte, também, uma prece pelos meus familiares e amigos, e todos os benfeitores que estão em comunhão com a missão. Juntamente com a oração do Terço, a leitura orante da Palavra de Deus e outras devoções particulares, são para mim o dinamismo que me faz avançar.



Ó Maria, Rainha das missões, dai-nos muitos e santos missionários.



30 de setembro de 2017

A dança da libertação

Uma das coisas que mais gosto de fazer por aqui é nos sábados à noite ir observar as meninas do lar a dançar. Digo observar porque o meu jeito para dançar é aproximadamente nulo e sempre que tento é motivo de divertimento para as meninas. No entanto, ainda não perdi a esperança de alguma coisa aprender.

Na última vez que fui, reparei numa coisa muito interessante, até as meninas mais tímidas dançavam de forma livre.
As meninas e mulheres  vivem muitas vezes oprimidas, primeiro porque foram ensinadas a olhar para o chão e depois porque é difícil perceberem que podem levantar a cabeça. Podia-vos falar dos vários tipos de opressão da mulher por aqui, mas fica para uma próxima.

A maior parte do meu trabalho aqui é com jovens e raramente consigo arrancar uma opinião ou até mesmo uma palavra da maior parte das jovens, excepto aquelas meninas que andam ou andaram no lar, deve ser a coisa mais bonita que o lar lhes ensina, a ter uma voz, mesmo assim a maior parte delas acredita que "num combate" com o homem e homem tem obrigatoriamente superioridade.

Existe apenas um momento em que essas formas de opressão deixam de existir e é quando dançam, é uma dança de libertação, são mulheres todas iguais a dançar de forma livre e espontânea, sem opressões. É um momento que me delicia, quem me conhece sabe o quanto eu gosto de igualdade, portanto é um momento que eu gosto de saborear, a libertação da mulher, a libertação da mulher moçambicana. Aqui quando uma mulher dança é livre.

28 de setembro de 2017

CARTA MISSIONÁRIA DE ITOCULO - 2017

Salama

A Equipa Missionária de Itoculo envia uma saudação fraterna e amiga, neste Mês Missionário, a todos aqueles e aquelas que sintonizam e simpatizam connosco. A paz e a alegria do Senhor Jesus estejam convosco.


Porque nos sentimos missionários/as numa terra missionária, queremos partilhar um pouco aquilo que nos enche o coração. Como muitos outros, um dia deixamos a nossa terra de Cabo Verde, Portugal, Gana e República Centro-africana e chegamos à Missão de Itoculo – Moçambique. Aqui procuramos viver a missão como Jesus nos convida. Somos três padres, três irmãs, um seminarista-estagiário e uma leiga voluntária. Uns estão a iniciar, outros já levam vários anos de missão; uns já percorreram diversos países e situações missionárias, outros começam esse percurso; uns são jovens lançados na aventura, outros são adultos e mais experimentados; uns vêm para ficar, outros ficam apenas por tempo determinado; todos somos missionários/as.

Jesus Cristo e o Seu Evangelho são o fundamento da nossa missão junto das 79 pequenas comunidades ministeriais da missão. Anima-nos a força vivificante do Espírito Santo e o exemplo disponível e atento de Maria para responder aos desafios daqueles que vêm ao nosso encontro. Acreditamos que esta é a vontade de Deus, a salvação integral, no corpo e no espírito, de cada pessoa.

Não estamos aqui em nome próprio, nem nos sentimos sozinhos. Fomos enviados por uma Congregação, os Missionários/as do Espírito Santo, trazemos no coração as nossas famílias e comunidades paroquiais de origem, sempre temos presente aqueles muitos irmãos e irmãs que se sacrificam, rezam e partilham com generosidade para fazer esta missão acontecer. Um sentimento de comunidade fraterna e comprometida, universal e sem fronteiras nos envolve.

No coração da nossa missão está Jesus Cristo, com Ele nos identificamos e como Ele nos entregamos. Um estilo de vida que, muitas vezes, contrasta com a realidade local e se torna desafiante para todos. Viver unidos, trabalhar juntos, rezar em comunhão, testemunhar com fidelidade, conviver como irmãos, entre outras coisas, são aquilo que nos preenchem e realizam a nossa vida missionária.

Todos começamos por ser estrangeiros e estranhos quando chegamos. Mas pouco depois vamo-nos aproximando, derrubando as fronteiras da língua, da cultura, dos hábitos. Uma peregrinação que nos leva ao encontro daquelas crianças e jovens que não sabem ler nem escrever, daqueles que têm fome e estão desnutridos, daqueles que mal ouviram falar de Deus e O buscam de todo o coração e daqueles que estão divididos entre a fé e a tradição local. Consideramos serem estas as atitudes vitais da missão que nos é confiada.

Uma das marcas dos nossos encontros e celebrações é o panorama juvenil. Os jovens predominam e são a esperança da missão. A sua adesão e compromisso na fé são um desafio constante, tal como é desafiante a incerteza do futuro para eles. O desejo de paz e a boa convivência são uma marca cultural, formando um projeto de vida iluminado pelo Evangelho.   

Nesta terra que acolhe missionários/as também vão surgindo pequenos sinais de maturidade cristã. Este ano fomos brindados pelos primeiros jovens que professaram na Vida Consagrada. Brevemente faremos o envio da primeira jovem, irmã consagrada, para o Haiti. Somos uma Igreja jovem que dá os primeiros passos nestes novos caminhos. Que Maria, Mãe da Evangelização, nos inspire e ajude a seguir em frente, estimulados pela sua intercessão.

Enfim, desta maneira interpretamos a carta do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões, confirmando que a missão está no coração da fé cristã, e quando há um bom coração a fé fica mais fortalecida e a missão mais animada. Assim queremos continuar sempre unidos «num só coração e numa só alma». Obrigado.

Missão Católica de Itoculo/Moçambique, Outubro de 2017.

A Equipa Missionária de Itoculo,

P. Raul Viana, P. Edmilson Semedo, P. Vincent Ntrie-Akpabi, Ir. Eduarda Brito, Ir. Adelaide Teixeira, Ir. Tatiana Judith, Estagiário Alexandre Gomes e Leiga Voluntária Helena Ferreira.


19 de setembro de 2017

A minha caminhada vocacional

entrevista com o Jovem Professo Juma Mário Henriques

-Como surgiu a sua vocação?
Juma: Eu nasci e cresci numa família cristã no dia 09 de Novembro de 1988 e tenho a sorte de ser o primeiro filho dos meus pais dentre os 7 filhos do senhor Mário Henriques Mucalihene e Luísa Chanfar, a qual já está nas mãos de Deus (que a sua alma descanse em paz). Fui baptizado na comunidade de S. Timóteo Mutiapua no dia 23 de Junho de 1998 pelo Pe. Damasceno dos Reis e recebi o Nome de Yohane (João) Mário Henriques (nome que não aparece no meu registo civil) e tenho como os meus padrinhos Alves Samua e Anastácia Juma.


-Como foi a caminhada vocacional?
Juma: A minha caminhada vocacional começa com o exemplo e o testemunho dos Missionários Espiritanos. Fiquei maravilhado com a vida e a simplicidade destes missionários que trabalhavam nesta Paróquia levando a Palavra de Deus nas zonas difíceis de penetrar e aspirava também entrar na Vida Religiosa para viver como eles, principalmente servindo os mais necessitados. Mas não sabia como. Até que um dia ouvi pela primeira vez a falar da vocação por uma Irmã Espiritana que estava na paróquia. Depois, foi a irmã Felecité que me orientou para entrar em contacto com o animador vocacional para ser incorporado na lista dos vocacionados da paróquia. Assim feito, comecei a entrar em contacto com os Padres, especialmente Pe. Damasceno dos Reis, que na altura era o Pároco em colaboração com Pe. Raul Viana que era animador das vocações.

Depois de concluir a 7ª classe na EPC de Itoculo-Sede no ano 2004, parei de estudar num período de dois anos (2005-2006). Neste intervalo ajudava os meus pais a cultivar a terra e fui alfabetizador com o sonho de prosseguir com os meus estudos secundários. Nos anos 2007-2009 continuei com os meus estudos secundários na Escola Secundária de Monapo, onde continuei a ser acompanhado nos encontros vocacionados pelos padres de Verbitas que trabalham no Monapo. No ano de 2008 comecei a entrar em contacto com os padres da Consolata por intermédio dos seminaristas Noé e Joaquim Caetano que conheci no Monapo num dos nossos encontros vocacionais. A 29 de Janeiro de 2010 entrei no Seminário da Consolata, Casa Allamano, em Nampula, onde fiz três anos de estudos. E nos anos 2013-2015 estava em Maputo para os estudos Filosóficos. Terminada a Filosofia fui enviado para Quénia para estudar a língua Inglesa e depois fazer o Noviciado.

A minha caminhada vocacional foi repleta de alegrias, mas também algumas tristezas por exemplo um dos momentos difíceis da minha caminhada vocacional vivi no ano de 2012 quando recebi uma chamada inesperada no dia 29 de julho com uma mensagem que anunciava a perca da vida da minha saudosa mãe.  Eu, sendo o primeiro filho comecei a pensar em regressar do Seminário para cuidar dos meus irmãozinhos, graças aos conselhos dos missionários e missionárias, dos meus professores, e mesmo do meu pai, me deram a coragem de continuar. Ir Adelaide, que todos nós conhecemos, dizia "Maria mãe de todos nós, vai cuidar dos seus irmãozinhos".

O Segundo desafio na minha caminhada vocacional foi a condição económica e social como muitas famílias de Itoculo que vivem da agricultura. A minha família também se sustenta da agricultura que muitas vezes não chega para responder às necessidades básicas do dia-a-dia, principalmente na área da educação e saúde. Assim, para responder às minhas necessidades académicas, trabalhava nos Padres durante as minhas férias junto com outros estudantes da minha idade, e assim conseguia adicionar com o dinheiro que o meu pai conseguia. As palavras do Pe. Damasceno, que as considero proféticas na minha vida, ele dizia numa das nossas conversas "Se é o chamamento de Deus nunca lhe vai faltar o suficiente para realizar o teu sonho ". E de facto a partir dessa altura nunca faltou o necessário mesmo que por mim acho impossível.

- Como foi a celebração da Primeira Profissão?
Juma: É desta maneira que cheguei a ter os Primeiros Votos Religiosos no dia 08/07/2017 em Sagana -Quénia na Paróquia nossa Senhora da Consolata Sagana Catholic Church, tornando-me assim o primeiro missionário da Consolata desta Paróquia que viu nascer a minha vocação religiosa e missionária. Foi um momento inesquecível e ao mesmo tempo um momento de manifestação do amor de Deus Pai na minha vida. Eramos 18 jovens de quatro nacionalidades, a saber: Republica Democrática do Congo, Uganda, Moçambique e Quénia. A Santa Missa foi dirigida pelo Reverendo Pe. Joseph Waitakha, Superior Regional do Quénia e Uganda. A Profissão Religiosa foi testemunhada por centena de cristãos.

-Que perspectivas para o futuro?
Juma: O meu plano para o futuro próximo é de continuar com estudos, na África do Sul, para fazer a teologia que é a última fase da formação sacerdotal. Depois, ir nas terras de missão onde o Espírito Santo quiser que eu esteja, se esta for a vontade de Deus.

-Que mensagem deixa aos jovens de Itoculo?

Juma: Para terminar quero agradecer a cada um de vós pelas vossas orações e conselhos que me ajudaram a realizar o meu sonho de ser religioso. Ao mesmo tempo pedir a cada um de vós irmãos e irmãs de colocar nas mãos de Deus todos os vossos sonhos pois, Jesus o nosso Senhor, nunca vos abandonará.

6 de setembro de 2017

A BELEZA DA VIDA

entrevista com
Ir. Argentina Alfredo

-Como surgiu a sua vocação?
Ir. Argentina: A minha vocação surgiu através dos encontros dos jovens, com uma frase que diz «Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos seus irmãos». Tudo começou em 2006, a primeira vez que eu participei no encontro de jovens na comunidade São José - Itoculo. Com certeza que na minha caminhada vocacional houve dificuldades. Para entrar na escola secundária, tendo falado com o meu pai, ele disse-me que gostaria que eu continuasse os estudos mas infelizmente não tinha condições. Não parei, e fui falar com o meu irmão. Ele começou a desconfiar de mim, dizendo que isso era um motivo para eu ir na cidade e arranjar um homem para casar, e não para estudar. Lembro-me que um dia chorei amargamente, porque eu falava de uma maneira e ele entendia ao contrário, pois pensava que eu voltaria como grávida.

No início do ano lectivo, depois de uma semana de aulas, onde todos tinham partido para escola, eu fiquei sozinha em casa, e um dia uma Irmã me chamou e me perguntou porque não fui à escola. No meu coração, quando a Irmã começou a falar, eu disse-lhe: «fiz tudo por tudo». Então, expliquei-lhe e ela mandou chamar o meu irmão, e ele disse a essa Irmã as mesmas palavras, que não tinha confiança em mim, pois ir na cidade era apenas para procurar um marido. A Irmã disse ao meu irmão para alugar uma casa, e ele arranjou. Mas sempre manifestava que não estava seguro de mim.


-Como foi a caminhada vocacional?
Ir. Argentina: Onde estudava sempre participei nos encontros dos jovens e dos vocacionados. Nesse tempo o meu sonho era para fazer medicina, trabalhar nos hospitais. Entretanto, comecei a ter contacto com as Irmãs Missionarias do Espírito Santo, interessando-me cada vez mais pelo carisma da Congregação: «Ide por todo mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura». Um dia perguntei a uma Irmã se elas trabalham na área da saúde, pois quem sabe se era lá que o Senhor me chamava a ser também Irmã. Ainda estava a fazer os meus estudos na esperança de que um dia as portas se abririam para mim. Não vacilei e terminei os estudos em 2012.

Em 2013 as Irmãs, como me conheciam, me pediram para entrar e começar a primeira etapa de formação, o postulantado. Porém, antes de chegar a data de entrada na casa das Irmãs, o meu pai morreu e uma crise chegou em mim, pois houve momentos de desolação e fiquei desanimada, já não queria mais entrar nas Irmãs. Eis que experimentei momentos fortes e fracos, momentos de desolação e momentos de consolação. O meu irmão que não queria que eu continuasse os meus estudos, lembrou-me das últimas palavras do meu pai no seu último suspiro, chamou-me e disse-me estas palavras: «minha filha escolheste esta caminhada e isso é bom, mas decide bem se entregas com todo o teu coração». São as últimas palavras do meu pai que guardo no fundo do meu coração. Mas creio como futura Missionária, pois a vida missionária tem a sua hora de renúncia, tem a sua hora de graça. Deus dá as graças necessárias, porque não foi fácil deixar minha mãe sozinha. 

De seguida em 2014 fui para o Senegal onde fiz a segunda etapa do postulantado, e aprendi a língua francesa. Em 2015 fui para a França para continuar a minha formação religiosa, onde fiquei dois anos no noviciado. Um ano chamado ano canónico, e um ano com Deus no deserto, para me concentrar naquilo que eu desejava ser, ou naquilo que o Senhor me pedia para ser ou fazer na minha vida. Um verdadeiro discernimento. Neste segundo ano tivemos um estágio para viver em prática o apostolado, e depois fiz a minha Primeira Profissão Religiosa em França no dia 8 de Julho 2017.

- Como foi a celebração da Primeira Profissão?
Ir. Argentina: Tudo o que vivi nesta celebração da Primeira Profissão Religiosa foi uma marca do amor de Deus. Hoje dou graças a Deus pelo dom da minha caminhada, onde Ele me ajudou a fazer deserto nos momentos difíceis e a descobrir que as dificuldades fazem parte da minha vida quotidiana, mas precisam de ser ultrapassadas e continuar a caminhar para a frente. Importa, por isso, viver com alegria e gratidão numa atitude de abertura e docilidade. Como disse a nossa fundadora «A missão não é correr, é deixar que Espírito Santo seja o único móvel e a única vida em nós». Experimento em mim que no compromisso vivido na fé encontro o Senhor em tudo e tenho plena confiança. Cada dia me coloco esta pergunta a Jesus: «Senhor que quereis que eu faça?». Que se faça sempre a Sua vontade não a minha.

-Que perspectivas para o futuro?
Ir. Argentina: A minha perspectiva para o futuro próximo é saber amar como Jesus amou toda a sua vida aos seus irmãos. Por isso estou pronta para partir para a missão no Haiti.

-Que mensagem deixa aos jovens de Itoculo?
Ir. Argentina: Aos jovens gostaria de deixar uma mensagem de atenção para o chamamento que Deus faz, e deixar-se guiar pelo Espírito Santo e pela Palavras de Deus, não ter medo de dar um ‘sim’, e avançar mesmo no meio das dificuldades. Não importa quem és, nem qual e o teu passado. O Senhor está contigo para ajudar-te a caminhar na vida. A todos convido a experimentar a vida missionaria. Rezemos juntas esta oração:

«Senhor Jesus que viestes a terra não para ser servido, mas para servir, ensinai-me a servir-Vos como desejais, livrai-me de toda a procura de mim mesma. Conservai o meu coração bem liberto de todo orgulho espiritual e concedei-me a graça de nunca atribuir a mim o bem que me permites praticar, fazei que eu seja de tal modo repleta do teu Espírito e o teu amor que dando, me seja a Vós que eu me dou». Amem.


30 de agosto de 2017

O voluntariado é amor

(Este post é inspirado por duas coisas, a falta de inspiração para escrever sobre outra coisa qualquer e a necessidade que senti de um testemunho de voluntariado de longa duração quando estava para realizar este sonho, no entanto, toda a informação é pessoal e intransmissível)


O voluntariado deve ser das coisas mais bonitas do mundo, estamos a doar o nosso tempo em troca de uma gratificação pessoal, não o fazemos por dinheiro e atualmente isso parece uma novidade, não fazer as coisas por dinheiro. Aqui não somos só voluntários, somos voluntários missionários, para além de trazermos a coragem de todos os outros voluntários trazemos também a nossa fé, e como ela cresce por estes lados.

Aqui em Itoculo a vertente do voluntariado funciona muito ativamente, os voluntários vêm uns atrás dos outros, o que é maravilhoso, conseguimos garantir a continuidade do nosso trabalho. Nós trabalhamos numa vertente mais social da missão, usamos o nosso conhecimento científico, até agora muito variado, para cada um contribuir com o seu cunho pessoal para o crescimento da missão.

Mas tal como já disse, pretendo ajudar quem está em fase de decisão, para a realização de um projeto de voluntariado internacional.

Devemos ter a consciência que qualquer projeto que realizámos será essencialmente um projeto de crescimento pessoal, isto porque, para que seja muito mais do que isso, temos de doar 3, 4, 5 anos a esse projeto, daí que na hora de tomada de decisão, a duração do projeto seja um factor muito importante. Quando decidi vir por (quase) um ano o que mais pesou nessa decisão, foi o impacto que queria ter na terra que me iria receber, quem nos vai receber também vai ser afectado, logo devem ser considerados na balança. Porquê um ano? Porque quem nos recebe também se afeiçoa a nós e estar criar um sentimento de pertença por um ou dois meses para mim não fazia sentido, atenção, para mim.

Outro factor que devemos considerar é o medo, o medo de deixar a segurança das nossas casas, o medo de deixar a nossa família, o medo de deixar os nossos amigos. Mas, temos de imaginar que vai correr muito bem, e podem ter a sorte que eu tive de encontrar uma família também aqui, como qualquer família tem os seus defeitos e os seus desafios, mas só isso a torna numa verdadeira família.

Existe ainda a saudade (e quanto ela cresce), mas pior que essa saudade é a certeza de que quando tiver de deixar esta terra vai nascer uma saudade muito mais difícil de resfriar, e isso sim assusta.

No entanto, se estão a pensar fazer, façam, existem momentos menos bons, mas os momentos bons, ai os momentos bons, esses compensam e se compensam.

Iniciamos esta semana de trabalho com o mote Deus é amor. Deus é amor, a missão é amor, o voluntariado é amor.

21 de agosto de 2017

Chegar… e partir

A vida missionária é chegar… e partir. A Irmã Hermínia Calipi chegou a Itoculo em Maio de 2013 para a sua primeira missão após a Primeira Profissão Religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias do Espírito Santo. Hoje está a partir para outra etapa. Foram mais de três anos que Itoculo beneficiou da sua presença e animação.

Nesta hora da partida queremos agradecer pela participação na vida pastoral desta Paróquia/Missão de São José - Itoculo. Especialmente na promoção feminina das mulheres, acompanhando e animando as mamãs da paróquia neste ministério pastoral. Igualmente no ministério da Infância Missionária que foi bem animado, estando agora em franco crescimento e expensão graças ao seu empenho e dedicação.

A nível da pastoral paroquial são dois ministérios abertos ao futuro. Um pela idade dos participantes, crianças e adolescentes da Infância Missionária, e o outro pela importância das mulheres na vida social e familiar que localmente precisam de grande incentivo. Estamos certos que muitas sementes foram lançadas com o seu trabalho e dedicação e que germinarão futuramente. É verdade que não estamos aqui para colher frutos, visto que isso não depende de nós, mas sempre gostamos de sinais desse trabalho, pois nos dá mais ânimo para futuras atividades. E isso já estava a acontecer e acreditamos que irá continuar.

A par deste trabalho de animação pastoral na Paróquia/Missão, estava também a direção e o acompanhamento das meninas estudantes do lar Eugénia Caps - Itoculo. São raparigas que estudam da 8ª à 10ª classe, algumas delas vindas de situações que exigem uma presença firme e amiga para vencer as dificuldades e abrir novos horizontes nas suas vidas. Outra coisa não se pretende com uma obra social, como é o trabalho com estudantes.

No meio de tudo isto, também não faltou o apoio à Escolinha (Pré-escolar), ao Centro Nutricional e muitos outros trabalhos que a vida missionária apresenta. O contacto amigo com as pessoas do bairro, as visitas às famílias são outros pontos a somar na sua vida missionária.

Assim, neste dinamismo da vida missionária (chegar… e partir), desejamos à Irmã Hermínia muito sucesso para a realização do seu sonho missionário, sempre repleto da Graça de Deus, na fidelidade e na alegria. Também como Maria, «a cheia de graça», rezamos para que a Irmã Hermínia esteja sempre disponível para «fazer a vontade de Deus» onde quer que seja enviada.

Koxukuro, mpakha nihiku nikina.

(Obrigado, até outro dia). 

6 de agosto de 2017

A GRANDEZA DAS PEQUENAS COISAS

Um acontecimento/notícia me motiva a escrever esta partilha. O futebolista brasileiro Neymar transferiu-se do Barcelona para o PSG por 222 milhões de euros e o mundo parou: já não se fala em mais nada nas redes sociais. Não digo que seja algo de irrelevante mas por causa disso fiquei a refletir sobre prioridades. É verdade que hoje em dia os milhões é que movimentam o mundo, mas eu tenho vivido uma experiência completamente diferente (e há muitos como eu) e tenho feito descobertas maravilhosas – mas não suficientemente astronómicas para serem relatadas em todos os grandes jornais do mundo.
Não há nenhum homem – por mais poderoso e forte que seja – que não foi um bebé e uma criança vulnerável e dependente. Mas a história é escrita, geralmente, pelos grandes e poderosos (não é uma crítica). Contudo parei para pensar na importância de pequenas coisas e pequenos gestos na nossa vida e que muitas vezes passam completamente despercebidos no meio de tantas glórias e grandiosidades (até porque estas pequenas coisas são gratuitas e não custam 222 milhões de euros).
Será que temos tempo, hoje, para parar e contemplar o brilho que acompanham pequenos momentos – muitas vezes apelidados de insignificantes – como sentar numa mesa e saborear um cafezinho ou passar uma tarde de domingo a pôr a conversa em dia com o nosso grupinho de amigos. Parece que estas coisas estão perdendo lugar diante dos nossos compromissos e trabalhos; as correrias contínuas matam a nossa capacidade de sentir e de saborear os instantes da nossa vida (como diria o professor/doutor José Tolentino Mendonça).
Por isso partilho alguns destes instantes insignificantes da minha vida que me arrancam sorrisos e enchem de alegria o meu coração: eu fico muito fascinado quando passo de carro pelas estradas de Itoculo e as crianças saem a correr para “dar um tata-vo” (uma forma de saudação) ou simplesmente gritar “Patiri” (padre). Não poucas vezes recebemos chamadas ou pessoas que mandam parar o carro só para perguntar “como está o padre?” (apesar de manifestar grande simpatia, quando estamos atrasados ou com pressa é um bocado «angustiante»). Eu que sou um homem com pouca paciência estou a aprender a importância que isso representa para as pessoas que connosco partilham o quotidiano: cada um destes pequenos momentos obrigam-nos a parar e tomar consciência da importância deste instante, em especial.
Por breves momentos somos catapultados para fora das nossas preocupações e stress… ora, não podemos negar que se trata de um grande desafio, mas as pessoas, pela sua grande simplicidade, nos ajudam a descobrir a riqueza das coisas mais simples e de pequenos gestos. Por vezes passamos por um grupo de crianças e um simples Ihali (forma de saudação na língua Macua) desperta gargalhadas e sorrisos no meio delas (não sei se é só por causa da minha pronúncia engraçada!), mas isso tem significado para elas e para mim.
Emociona-me quando brincamos com os bebés e conseguimos arrancar delas aquele sorriso tão genuíno… o que tem isso de especial? Talvez nada! Mas cada acontecimento destes faz com que cada instante tenha um brilho diferente e um valor singular, capaz de nos encher a alma.

A simplicidade é capaz de nos apaixonar, se tivermos tempo e capacidade de encontrar a grande riqueza que se esconde por detrás de cada pequeno momento de simplicidade. Mas precisamos aprender a contemplá-los e a desfrutar estes momentos. Digo-vos que isso vale a pena… mais do que milhões de euros.

23 de julho de 2017

O meu Bom Dia

Existem várias coisas que me fascinam aqui no povo Macua, algumas é um fascínio bom, outras é mais incredulidade, mas uma das coisas que mais gosto neles é o Bom Dia, aqui cada pessoa tem direito ao seu Bom Dia, não existe um Bom Dia geral, se passamos por 5 pessoas, devemos dizer 5 bons dias.


Se repararmos no simbolismo que isso representa nasce o fascínio, a admiração, nós somos suficientemente importantes para termos direito ao nosso bom dia, quantas vezes nos cruzamos com alguém que conhecemos e até o Bom dia nos custa a sair, perdemos o interesse e a motivação em nos aproximarmos do próximo, do outro, deixamos de ter tempo uns para os outros.

Aqui se há coisa que existe é tempo, tempo para estarmos uns com os outros. Se pela tarde formos passear pelos bairros, vamos perceber que os vizinhos estão nas varandas uns dos outros simplesmente sentados a conversar, só isto e isto já é tanto. Talvez a culpa desta disponibilidade seja a inexistência de Instagrams, de facebooks, de distrações que nos dão a ilusão de que temos uma vida social ativa.

A acompanhar o Bom dia vem o Iháli? (Tudo bem?) e esta pergunta vem com verdadeiro interesse em saber a resposta e quando retribuímos a pergunta respondem com tanta sinceridade, contando de verdade o que se passa na vida deles, que muitas vezes a resposta é desconcertante, está tão carregada de verdade que na maior parte das vezes não sei o que responder. Este pequeno gesto surpreende-me porque onde eu vivia há 6 meses atrás não havia tempo, nem disponibilidade, para verdadeiramente responder a esta pergunta, nem verdadeiro interesse na resposta que nos poderiam dar.

Pode parecer um clichê barato, mas aqui damos muito mais valor às coisas banais da vida, damos mais valor à companhia uns dos outros para contar as novidades mais corriqueiras do nosso dia, damos mais valor à vida, porque sabemos o que custa sobreviver, damos mais valor ao amigo, à família, porque o tempo custa a passar sem companhia.

10 de julho de 2017

PARABÉNS JUMA E ARGENTINA

A Paróquia de São José em Itoculo (Diocese de Nacala) começa a dar os primeiros frutos a nível da vocação para a Vida Consagrada. No dia 8 de Julho de 2017 dois jovens (Juma e Argentina) fizeram a sua Primeira Profissão Religiosa. Uma feliz coincidência na data e no compromisso religioso. Parabéns para estes dois jovens e votos de feliz e fiel caminhada na vida consagrada e missionária nas suas novas famílias religiosas.


O Juma Mário nasceu em Muthiapwa-Itoculo em 1988, fez a escola primária em Itoculo, continuou a escola secundária em Nacala-a-Velha, terminando em 2011 a 12ª classe. No ano seguinte entrou no Seminário dos Missionários da Consolata, primeiro em Nampula depois em Maputo onde estudou a Filosofia e fez o Postulantado. Em 2015 foi para o Quénia (Nairobi) onde estudou inglês e fez o Noviciado que terminou com a Profissão Religiosa no dia 8 de Julho de 2017. 

A Argentina Alfredo nasceu em 1990 em Itoculo sede, aí estudou o ensino primário, depois estudou na Escola Feminina de Nacala e na Ilha de Moçambique onde concluiu a 12ª classe em 2012. No ano seguinte entrou na comunidade das Irmãs Missionárias do Espírito Santo em Itoculo e depois foi para o Senegal fazer o Postulantado e aprender o francês. Em 2015 foi para França (Paris) fazer o noviciado que terminou com a Profissão Religiosa também no dia 8 de Julho de 2017.


Em 2009 quando cheguei a Itoculo estes dois jovens integravam o grupo dos vocacionados da paróquia. Acompanhei-os na etapa final antes de seguirem para cada uma das Congregações onde acabaram de Professar. É uma alegria ver o fruto que agora aparece e vai amadurecendo nesta grande árvore da Igreja de Itoculo-Nacala

Trata-se de uma semente que foi lançada á terra e agora começa a germinar. Outras sementes foram lançadas e estão em processo de gestação, e acreditamos que num futuro próximo também irão desabrochar. É o caso de um jovem (Vihene) que está a fazer o seu noviciado nos Franciscanos. Outros jovens estão a fazer o Postulantado e estudo da Filosofia nos Verbitas, nos Salvatorianos, nos Espiritanos e no Seminário Diocesano (12 rapazes), e uma menina está nas Irmãs da Apresentação de Maria.

A Paróquia de Itoculo conta actualmente com um jovem sacerdote diocesano (Pe. Bartolomeu) ordenado em 2008. Desde a criação da Paróquia em 2004, com uma Equipa Missionária residente (Padres, Irmãs, Jovens Estagiários e Leigos Voluntários Missionários), este tem sido um trabalho pastoral ao qual damos muita atenção e carinho. Trata-se, pois, do crescimento e estruturação de uma Igreja jovem que também está aberta a esta forma de vida e consagração. O exemplo destes dois jovens é uma afirmação clara que também irmãs e irmãos consagrados, sacerdotes e missionários podem desabrochar do seio das famílias cristãs de Itoculo. Assim, acreditamos que o exemplo destes primeiros compromissos religiosos vão ser sinal de luz e coragem para aqueles que estão nos Centros Vocacionais a fim de descobrirem a beleza e a alegria deste compromisso de vida.


Enfim, toda a Paróquia de Itoculo se alegra com estes jovens professos e deseja que, na fidelidade e total entrega a Deus e à Igreja, eles possam encontrar a verdadeira felicidade e fazer muitos outros ainda mais felizes pela sua consagração. Parabéns Juma e Argentina.

Ó Maria, Rainha das Missões, dai-nos muitas e santas vocações!

  

4 de julho de 2017

E PORQUE COM OS PÉS TAMBÉM SE REZA…

Este fim-de-semana, vivemos na nossa missão de Itoculo uma experiência maravilhosa de oração, sacrifício e de fé. Realizamos a nossa primeira peregrinação paroquial à comunidade de S. Paulo Monetaca (a primeira capela construída no território que é hoje a paróquia de Itoculo. Foi uma experiência linda fazer aquela caminhada com boa disposição contando e louvando a Deus.


Volvidos cerca de 3h30min estávamos em Monetaca para recuperar o fôlego e continuar com o nosso programa: oração de acolhimento, terço, cânticos e animação, história da comunidade contada pela voz dos mais velhos que a viram nascer. A experiência mais forte para mim foi o tempo de confissões (durante a noite), onde nós os 3 padres atendemos cerca de 500 pessoas que quiseram abraçar a misericórdia e o perdão de Deus através deste sacramento. Mesmo se as condições não garantiram grandes luxos, a noite deu para descansar minimamente e no dia seguinte as 6h00 tivemos a oração da manhã, seguida da Eucaristia às 7h00.

Depois de comer alguma coisinha, pusemos novamente os pés a caminho para os cerca de 20km de regresso a casa. O cansaço e as dores do caminho foram reais, mas a alegria que do coração transbordava não deixava indiferente os que nos cruzavam no caminho. A dureza do caminho foi assim vencida pela alegria, a fé, a confiança, a perseverança e muita oração; porque dos pés brotaram as melhores orações do fim-de-semana e os mais belos hinos de louvor ao Criador… porque com os pés também se reza.

1 de julho de 2017

FORMAR-SE PARA MELHOR FORMAR

A vida é uma escola, onde a morte se apresenta como a graduação. Esta parece ser uma realidade aceite e vivida por todos (principalmente os que já se graduaram). Ora, desde que cheguei a Itoculo, tenho feito esta mesma experiência de um modo intenso, alegre e desafiante. Um dos campos com que tenho contactado muito de perto tem sido o da educação, onde deparamos com alguns desafios e que tentamos dar respostas na nossa missão do dia-a-dia. Quero partilhar, neste pequeno texto, algum do nosso trabalho que acreditamos ser uma pequena contribuição para a construção de um Moçambique melhor e para a edificação de uma Igreja moçambicana que responde aos desafios actuais.
Desde 2009 que a nossa missão de Itoculo conta com um lar feminino que permite, permitiu e, esperamos, continuará a permitir que muitas jovens possam estudar pelo menos até à 10ª classe. Volvido poucos anos, tornou-se evidente a necessidade de alargar essa mesma oportunidade a rapazes que enfrentam os mesmos problemas. Este sonho nosso amadureceu e tornou-se realidade. Estamos a iniciar com o lar masculino que acolhe, este ano, 21 jovens estudantes entre a 8ª e a 10ª classe. Esperamos um número bastante superior a isso no próximo ano.
Esta situação constitui um desafio para mim que, juntamente com o Alexandre, procuro acompanhar estes jovens. Por um lado, apostamos em criar condições para debelar os deficits que possam existir ao nível académico, mas não se esgota aqui a nossa responsabilidade. Reconhecemos que para uma educação de qualidade, precisamos passar da simples instrução (conhecimento académico) para uma formação integral. Este é o nosso grande desafio pois exige-nos uma maior formação da nossa parte ao nível cognitivo, pedagógico, cultural, psicológico e social. Daí que cada dia tem sido para mim uma aprendizagem constante, ao mesmo tempo que vamos procurando incutir nestes nossos jovens os valores humanos, sociais, morais e religiosas (sem proselitismo), que acreditamos ser importantes para a construção de uma sociedade que seja cada dia melhor. A sociedade espera muito de nós e, por isso, todos esperam que os que estão nos lares da nossa missão estejam acima da média dos jovens que estudam aqui mas que estão por conta própria. Somos chamados a ser fermentos na sociedade. Grande responsabilidade a nossa!
Acreditamos que para isso uma educação de qualidade é indispensável. Por isso, sinto a necessidade de me manter sempre aberto para aprender com estes jovens que enriquecem em muito o meu conhecimento e a minha formação humana, cultural, moral, religiosa e académica (e aqui não se pode apoiar na máxima de que «burro velho não aprende caminho»). Esta realidade nos faz sentir vivos, pois constantemente em caminho e visto que os desafios existem para serem superadas, cada dia é, assim, feito de pequenas vitórias (ainda que algumas vezes acompanhada de algumas frustrações). … Assim podemos dizer estamos a fazer caminho!!!

Anima-me saber que procurar respostas para os desafios vale mais do que procurar os limites, pois só quem tem vontade de progredir e de participar no progresso, tem legitimidade para procurar as lacunas e falhas. Que Deus abençoe o pouco trabalho que vamos fazendo.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...