19 de abril de 2011

Um “A”




Damasceno dos Reis
Itoculo

Um mísero “A”.
Quando não se tem mais nada para dizer, quando faltam ideias, um reles “A” pode servir perfeitamente. Além da frequente falta de imaginação para compor um sermão ou para escrever qualquer coisa de jeito para o blog, também pode acontecer que o tempo nos atraiçoe e decida mirrar quando mais precisávamos dele (ou nós provocamos o Deus do tempo adicionando à agenda um irreflectido e desmedido número de compromissos?), por isso esta é uma opção legítima. Escrever um “A”. Quanto mais não seja, evita-se dizer muitas barbaridades.

Pois bem. Não há tempo para responder aos mails dos amigos? não fique uma eternidade sem dar sinal de vida. Dê uma martelada na tecla do “A” e envie. Sempre estará a fazer uma coisa mais personalizada do que muitos que simplesmente reencaminham PowerPoints ou anedotas do Sócrates. Aliás, muitos PowerPoints são uma autêntica seca e acabamos concluindo que abrir tal ficheiro foi perda de tempo (sobretudo para quem não tem net por cabo nem computador com drezagigabytes).

Podemos aproveitar e ir com o mesmo guião até à capela. E, diante do sacrário, dizemos apenas “A”. Nosso Senhor vai ficar contente. Um “azito” para Ele basta. Conhecem a parábola do pobre que não sabia rezar e que se limitava a declamar o alfabeto, para que depois Deus lhe ordenasse as letras numa oração com pés e cabeça? Não é preciso tanto. Com a colaboração do nosso “A” o Senhor nos dará tudo o resto: o AAAAMOR; a VIDAAAA; etecéterAAAA… Além do mais, depois de sair o “A”, não custa nada meter-lhe à frente um “H”. E assim se obtém uma exclamação com tons de louvor: “AH! Como é grande o nosso Deus!” Este “Ah!” pode até transformar-se num sorriso mais escancarado. Toda a gente sabe que Deus é humor. Também se pode acrescentar um “i”. Assim se exprime a nossa dor e recordamos o mistério da cruz. Um “Ai!” sempre vem a propósito (na semana santa).

Este princípio pode servir até para a vida. Se um dia nos levantamos sem energia para muitas falas, esforcemo-nos ao menos em distribuir um meio sorriso. Um pequeno esforço é suficiente para provocar uma reacção em cadeia e alegrar a alma dos que nos rodeiam. É como a sopa de pedra. O ingrediente pedra é apenas um excelente isco para obter umas boas couves… e um fiozinho de azeite, já agora.

Ok. Já sabem – aqueles meus amigos que estão há anos sem dar notícias – não há justificação para tanto apagão... é só digitar uma letra qualquer e enviar-ma assim mesmo, crua e sem tempero, que eu lá a cozinho. Mas não abusem.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...