5 de abril de 2013

breve história de ITOCULO
(PARTE I) 
Bento Veligi

A história de Itoculo está intimamente relacionada com o Régulo Maru-haa e o seu grande regulado. Tratava-se de um Régulo que parece ter vindo da região de Montepuez, Província de Cabo Delgado, o qual tinha o hábito de perfurar o lábio superior inserindo um pírcingue de pau-preto. Uma das interpretações do seu nome é «orelhas grandes», pois as pessoas logo que o viam diziam: «olha que orelhas grandes», isto é «Maru-haa» em língua macua.
  

1.       História Itoculo antes da dominação portuguesa até ao século XIX
 Antes da chegada e da dominação portuguesa não havia grande diferença entre os Mamwene, pois cada um era Mwene na sua própria família. Porém, alguns Mwenes começaram a desenvolver-se mais do que outros, e essa diferença acontecia porque uns conseguiam produzir mais. À medida que aumentavam o poderio, logo começavam a comprar e negociar escravos. Quantos mais escravos tinham, mais comida precisavam, e vice-versa. Com a produção e venda de bens agrícolas, compravam também instrumentos de guerra, pois cada regulado tinha um grupo de pessoas para se defender. Assim o Mwene Maru-haa, conseguia grande produção e tinha um grande número de escravos, e por isso passou a dominar os povos dos regulados vizinhos, aumentando as suas terras que delimitavam com outros Mamwene.

2.       As terras e suas fronteiras:
As terras do regulado de Maru-haa até à colonização portuguesa estavam assim delimitadas: ao lado Este confronta com Namanca de Nacala-a-Velha e com as matas do regulado de Mukuthumunu de Namarral-Mossuril; ao lado Oeste delimitava com o rio Naculwé de Netia; ao lado Sul com o rio Monapo e com o Mwene Mpera; ao lado Norte com o rio Nnukure de Terene que limita com Nacaroa. Portanto, os atuais regulados de Congo, Catheya, Mweri, Monetaca, Mpwata eram parte integrante do regulado Maru-haa. Ou seja, este grande regulado foi dividido em pequenos Régulos, uns deles foram eram familiares do grande Régulo Maru-haa que preferiu entregar as suas terras a alguns familiares para que estes o defendessem dos portugueses, outros por imposição própria como veremos adiante.



3.       A ocupação colonial portuguesa:
Quando chegaram os portugueses e tentaram ocupar toda esta zona, apanharam uma grande resistência por parte do Mwene Marru-haa. Esta resistência começou logo com Mwene Mukuthumunu, que de imediato pediu ao Régulo Maru-haa para ajudar militarmente no combate ao invasor. O Régulo Maru-haa com a sua sede no bairro de Reno organizou-se com a sua guarda e foi juntar-se aos guerrilheiros do Mukuthumunu. Porém, quando o Régulo Maru-haa se apercebeu de que os portugueses já tinham atingido a sua zona, saiu de Namaral e veio combater o invasor na sua própria terra.

Vindos de outras zonas onde tinham sido vencidos (derrotados), os portugueses traziam consigo alguns nativos africanos como seus informadores e apoiantes. É o caso de Mucapera Catheya, Mpwata, Cavalocale e alguns lantins (nome dado ao pessoal do sul de Moçambique).

Na verdade, os portugueses vendo que não era fácil vencer o Mwene Maru-haa, começaram a utilizar as pessoas locais para o apanhar. E foi assim que conseguiram apanhar o Régulo Maru-haa na zona que hoje se conhece por Itoculo. Uma vez derrotado o Régulo Maru-haa, o seu território foi dividido e foram atribuídos partes do seu regulado ao Mwene Mpwata, Cattheya e Cavalocale de Netia. Estes foram os que mais se distinguiram e facilitaram na derrota do Mwene Maru-haa, estando do lado das tropas portuguesas. Podemos dizer que o regulado de Mpwata nasceu de uma traição ao Régulo Maru-haa, e que hoje é o Régulo da Sede de Itoculo. Este regulado confronta a Norte com o Régulo Namicopwe no rio Namalima; a Oeste com o Régulo Maru-haa (Ilha Filipi); a Sul com a Rainha do Congo e o rio Sanhote; a Sudeste com o Régulo Murripa (Mweravale); e a Este com o Régulo Catheya.



Quanto ao Régulo Maru-ha não se sabe ao certo qual foi o seu final. Apenas se sabe que ele foi levado pelos portugueses para a Ilha de Moçambique, e daí nunca ninguém mais soube dele. Entretanto, o seu grande poder e magia continuam vivos nas pessoas do seu regulado. Uma caixa que ele usava para conseguir obter forças especiais continua a existir, sem que ninguém se atreve a abrir, lá na casa onde ele morava (na atual zona de Reno).

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26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...