(PARTE I)
Bento Veligi
A
história de Itoculo está intimamente relacionada com o Régulo Maru-haa e o seu grande regulado.
Tratava-se de um Régulo que parece ter vindo da região de Montepuez, Província
de Cabo Delgado, o qual tinha o hábito de perfurar o lábio superior inserindo
um pírcingue de pau-preto. Uma das interpretações do seu nome é «orelhas grandes»,
pois as pessoas logo que o viam diziam: «olha que orelhas grandes», isto é
«Maru-haa» em língua macua.
Antes
da chegada e da dominação portuguesa não havia grande diferença entre os Mamwene, pois cada um era Mwene na sua própria família. Porém, alguns
Mwenes começaram a desenvolver-se
mais do que outros, e essa diferença acontecia porque uns conseguiam produzir
mais. À medida que aumentavam o poderio, logo começavam a comprar e negociar escravos.
Quantos mais escravos tinham, mais comida precisavam, e vice-versa. Com a
produção e venda de bens agrícolas, compravam também instrumentos de guerra, pois
cada regulado tinha um grupo de pessoas para se defender. Assim o Mwene Maru-haa, conseguia grande
produção e tinha um grande número de escravos, e por isso passou a dominar os povos dos regulados vizinhos, aumentando as suas
terras que delimitavam com outros Mamwene.
2.
As terras e suas fronteiras:
As
terras do regulado de Maru-haa até à colonização
portuguesa estavam assim delimitadas: ao lado Este confronta com Namanca de
Nacala-a-Velha e com as matas do regulado de Mukuthumunu de Namarral-Mossuril;
ao lado Oeste delimitava com o rio Naculwé de Netia; ao lado Sul com o rio
Monapo e com o Mwene Mpera; ao lado Norte
com o rio Nnukure de Terene que limita com Nacaroa. Portanto, os atuais
regulados de Congo, Catheya, Mweri, Monetaca, Mpwata eram parte integrante do
regulado Maru-haa. Ou seja, este grande regulado foi dividido em pequenos
Régulos, uns deles foram eram familiares do grande Régulo Maru-haa que preferiu
entregar as suas terras a alguns familiares para que estes o defendessem dos
portugueses, outros por imposição própria como veremos adiante.
3.
A ocupação colonial portuguesa:
Quando
chegaram os portugueses e tentaram ocupar toda esta zona, apanharam uma grande resistência
por parte do Mwene Marru-haa. Esta resistência
começou logo com Mwene Mukuthumunu,
que de imediato pediu ao Régulo Maru-haa
para ajudar militarmente no combate ao invasor. O Régulo Maru-haa com a sua sede no bairro de Reno organizou-se com a sua
guarda e foi juntar-se aos guerrilheiros do Mukuthumunu. Porém, quando o Régulo
Maru-haa se apercebeu de que os
portugueses já tinham atingido a sua zona, saiu de Namaral e veio combater o
invasor na sua própria terra.
Vindos
de outras zonas onde tinham sido vencidos (derrotados), os portugueses traziam consigo
alguns nativos africanos como seus informadores e apoiantes. É o caso de Mucapera Catheya, Mpwata, Cavalocale
e alguns lantins (nome dado ao pessoal
do sul de Moçambique).
Na
verdade, os portugueses vendo que não era fácil vencer o Mwene Maru-haa, começaram
a utilizar as pessoas locais para o apanhar. E foi assim que conseguiram
apanhar o Régulo Maru-haa na zona que
hoje se conhece por Itoculo. Uma vez derrotado o Régulo Maru-haa, o seu
território foi dividido e foram atribuídos partes do seu regulado ao Mwene Mpwata, Cattheya e Cavalocale de Netia. Estes
foram os que mais se distinguiram e facilitaram na derrota do Mwene Maru-haa, estando do lado das
tropas portuguesas. Podemos dizer que o regulado de Mpwata nasceu de uma
traição ao Régulo Maru-haa, e que
hoje é o Régulo da Sede de Itoculo.
Este regulado confronta a Norte com o Régulo Namicopwe no rio Namalima; a Oeste
com o Régulo Maru-haa (Ilha Filipi); a Sul com a Rainha do Congo e o rio
Sanhote; a Sudeste com o Régulo Murripa (Mweravale); e a Este com o Régulo Catheya.
Quanto
ao Régulo Maru-ha não se sabe ao certo qual foi o seu final. Apenas se sabe que
ele foi levado pelos portugueses para a Ilha de Moçambique, e daí nunca ninguém
mais soube dele. Entretanto, o seu grande poder e magia continuam vivos nas
pessoas do seu regulado. Uma caixa que ele usava para conseguir obter forças
especiais continua a existir, sem que ninguém se atreve a abrir, lá na casa
onde ele morava (na atual zona de Reno).
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