- Inhazónia/1997
«Quem entre
vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.» (Mt 20, 26-28)
Em todas as situações Jesus nos dá o exemplo de «servir e
dar a vida» como forma de viver hoje a missão. Porém, nem sempre isso que
acontece com os seus enviados. Os primeiros anos das comunidades espiritanas
foram bastante desafiantes e difíceis, muitas coisas bonitas aconteceram, mas
também não faltaram momentos sombrios no referente ao relacionamento e testemunho
de vida dos seus membros.
No início da presença espiritana em Moçambique, Inhazónia
foi a comunidade mais instável. Na verdade, a chegada dos Espiritanos a
Inhazónia representou uma grande esperança para as comunidades locais. Uma
vasta área de evangelização foi atribuída aos novos missionários. Muito
trabalho pastoral foi realizado apesar das grandes dificuldades de coordenação
e com um nível de vida comunitária muito longe do exemplo das primeiras comunidades
cristãs narrada nos Actos dos Apóstolos. Aquilo que devia ser mais um elemento
no processo de evangelização, «falar como quem tem autoridade» (cf. Mc 1,22),
tornou-se muitas vezes um contra-testemunho.
As dificuldades de uma liderança impositiva, a falta de
coordenação entre os seus membros, a inexistência de diálogo entre os agentes
pastorais da missão, especialmente com as Irmãs da equipa missionária, entre
outras coisas, parece que provocaram mais estragos que benefícios. Por isso não
é de estranhar que o P. Domingos Vitorino pouco tempo depois da sua chegada a
Inhazónia passou a viver na comunidade das Irmãs em Reparadoras do Sagrado
Coração de Jesus em Catandica, regressando depois a Portugal definitivamente no
mês de Maio de 1997. Entretanto, o seu coração ficou ligado a Inhazónia, pois
logo que chegou procurou angariar fundos (11 mil USD) para a restauração da
igreja paroquial que ia celebrar 50 anos em 1998.
Em Setembro de 1998 um grande desentendimento entre os
dois confrades (Cangeno e Anthony) ficou agravado quando se insultaram em
público. A vida de comunidade que devia ser libertadora, tornou-se um castigo e
opressão. Por estas mesmas razões em Janeiro de 1999 o P. Cangeno toma a
decisão de deixar a comunidade e o Grupo de Moçambique e regressar a Angola. Em
Maio do mesmo ano chegou o P. Lawrence vindo de Netia para constituir
comunidade com o P. Anthony na esperança de uma mudança significativa, o que
resultou em parte.
Enfim, parece que os primeiros membros da comunidade
espiritana poderiam ter sido bem melhores e mais razoáveis no referente ao compromisso
missionário assumido com a missão de Inhazónia. Tudo isto também serviu para
entender que a missão é obra de Deus e não dos homens, de contrário tudo teria
acabado aí mesmo. Mas Deus não se deixa vencer em bondade e misericórdia, e novos
caminhos de vida e missão começaram a surgir ao fim de poucos anos.
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