Nota Pastoral do Bispos de Moçambique
Raul Viana
Itoculo
Por ocasião do
20º aniversário da assinatura do Acordo Geral de Paz os Bispos de Moçambique
publicaram uma Nota Pastoral com o título: “CONSTRUIR A DEMOCRACIA PARA
PRESERVAR A PAZ”. Trata-se de um documento
dirigido a todas as comunidades cristã e aos homens e mulheres de boa vontade,
publicada no dia 16 de agosto deste ano. A sua pertinência é atual e corajosa
pois ousa dizer o que muitos vêm e sentem, mas que não têm voz, nem vez, para
se fazerem ouvir.
Os
Bispos, na primeira parte da Nota Pastoral, afirmam que “os frutos da paz são a
justiça e o bem comum”. Com base nisso enumeram alguns frutos alcançados:
reconciliação nacional, democracia, liberdade de expressão, afirmação da
sociedade civil e a reconstrução e expansão de algumas infraestruturas sociais
e económicas.
Na
segunda parte, falam das ameaças à paz e a uma convivência democrática. São os
«males» e «fraquezas» da atual situação política em Moçambique onde se
multiplicam práticas autoritárias dos partidos políticos «retoricamente
democráticos»; onde reina o “fraco espírito de diálogo e tolerância pelo
diferente”; onde prevalece a absolutização dos partidos e o culto da
personalidade; e onde a usurpação das riquezas do país são restritas a uma
elite.
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“Comprometer-se
com a reconciliação, com a justiça e com a paz” é a última parte deste
documento que convida a repensar as prioridades e valores em exercício. Aqui,
os Bispos apelam a fazer de Moçambique “uma casa para todos os moçambicanos e
não um mercado para os mais espertos”. Para tal, urge superar a pobreza não só
económica, mas também espiritual; repensar a política dos «Megaprojetos» para
se evitarem «Megaproblemas»; «educar para os valores da solidariedade, partilha
e comensalidade»; e trabalhar com responsabilidade para com as gerações
futuras.
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Enfim, é uma Nota Pastoral bastante clara na análise e
na denúncia de uma governação que põe em risco a democracia e os valores pelos
quais foi assinado o Acordo Geral de Paz em Roma, a 4 de Outubro de 1992.
Talvez fosse mais profética se apresentasse algumas indicações concretas para
uma pastoral que responda aos grandes desafios apresentados. Contudo, é uma
iniciativa louvável e de boa qualidade que desperta para a realidade e
compromete a Igreja na construção de um mundo mais fraterno.