23 de junho de 2017

Problema n°1

O desenvolvimento de qualquer sociedade deve começar pelo desenvolvimento e pelo fortalecimento do seu sistema de educação, não há outra forma de um país evoluir a não ser pela educação e alfabetização dos seus cidadãos.


Por estes lados, ainda não se chegou a esta conclusão básica, ou melhor, não se interessam por esta condição básica. A educação moçambicana deixa muito a desejar e o pior é que toda a gente tem consciência disso, mas é vantajoso que a população não seja capaz de argumentar, que não seja capaz de fazer perguntas e de exigir mudanças. Enquanto tiverem uma população incapaz de ler e assimilar informação, não vão ter muitas pessoas a questionar as suas acções. Segundo o ministério da educação e desenvolvimento humano 50,4% da população Moçambicana é analfabeta (dados de 2007), o que claramente não é verdade nem agora, nem na altura. Este número é certamente muito superior, porque ninguém "entra" aqui no mato para recolher dados reais.

Agora a grande questão é, assumindo que, esses dados são verdadeiros, será que os 49,6% sabem verdadeiramente ler??? Eu duvido muito, visto que muit@s menin@s chegam à oitava classe sem saberem ler e o mais incrível é que conseguem passar de classe, na realidade os critérios dos professores, são um pouco suspeitos. Passou um notícia no telejornal daqui, em que um professor universitário estava a ser questionado sobre a eficiência dos seus alunos, ao que ele respondeu que os alunos não tinham competências porque não sabiam o hino nacional!! O que é isso tendo em conta que esses alunos não sabem fazer um interpretação crítica de um texto simples!

O nosso trabalho por cá

A escolinha da irmã Adelaide é um dos projetos da missão que tenta combater a péssima qualidade deste sistema de ensino. É um pré-escolar que primeiro começa por familiarizar as crianças com o português o que já é um grande passo para uma melhor aprendizagem das letras, depois começa por ensinar as cores, os números, algumas letras, ensina a tarefa básica de pegar num lápis, muitos menin@s chegam à minha biblioteca sem sequer conseguir segurar direito um lápis.


É urgente combater estes sistemas de ensino que beneficiam com a ignorância dos seus alunos, é urgente combater a corrupção na profissão do professor que muitas vezes, aceita tangerinas, aceita capim, aceita dinheiro e entre outras coisas para simplesmente passar os alunos, nesta que devia ser uma das profissões mais nobres, não é bonito ensinarmos alguém a crescer? A desenvolver o seu sentido crítico? Não há maior fonte de riqueza que uma boa educação.

"Uma criança, uma professora, uma caneta e um livro podem mudar o mundo" 
Malala Yousafsai



13 de junho de 2017

"Look, this old man cannot speak Macua"

Few days after arriving at my Mission in Itoculo, Mozambique, I decided to have a little chat with some kids one afternoon after lunch. The kids were anxiously waiting under the trees outside our community for their afternoon lessons with Helena Ferreira (a Portuguese volunteer). I asked each of the kids to mention their names after I had introduced myself. But since I could not speak the local language- Macua, I asked the oldest among them to be the translator. However, a small kid about four years old said something and the whole group burst out laughing. I was curious to know what provoked the laughter so I asked my translator to explain. The reason for their laughter was amazing. The small kid said, “Look, this old man cannot speak Macua”. I was surprised at the statement but after reflecting for sometimes, I said the boy was right. I am above thirty years and yet could not speak a language that even a two year old boy could speak fluently. These kids could not comprehend why an African like me, with a skin colour similar to theirs could not understand or speak Macua. This experience, however, reminded me of a huge task ahead of me- to learn and speak the local language.


My encounter with these kids also reminded me of a discussion I had with my immediate former Superior General Jean-Paul Hoch in Saverne, France in 2015. I asked him to tell me the secret of a successful missionary life. One of the indispensable elements he mentioned was the learning of the local language. One cannot underestimate the importance and the necessity of local language in the evangelization process.

Effective evangelization necessarily implies the rooting of the Gospel message into the culture of the people in such a way that Christ becomes the principle that guides decisions and transforms the lives
of people. To understand the “soul” or the core values of a people, one must speak and understand their mode of communication. As such, language is the gateway to a comprehensive understanding of the worldview of a people. Without it we cannot render the Gospel more meaningful and more practical to people. Any attempt to evangelize people in a foreign language without taking into consideration their local language is an attempt to evangelize people outside their culture; it is like soaking a stone in water, the water does not penetrate through the stone.

Learning a new language can be a humbling experience but could also be very frustrating; sometimes, we are stretched to the limits of our capabilities. Learning a new language needs a lot of time, patience and courage. Kindly pray for me so that in the shortest possible time, “this old man” can understand, speak and evangelise in Macua. Counting on your prayers and support. Remain Blessed.
Vincent Ntrie-Akpabi C.S.Sp.

1 de junho de 2017

Com o Espírito Santo

A vida cristã com a luz e a força do Espírito Santo tem uma marca particular e diferenciada. Atenágoras, patriarca ortodoxo de Constantinopla, no seu poema/oração sobre o Espírito Santo ajuda-nos a ver isso mesmo, e confirma-se a partir de Itoculo.



SEM O ESPÍRITO SANTO:

- «Deus fica longe». Os adivinhos, a feitiçaria e os santuários tradicionais tomam o primeiro lugar.

- «Cristo permanece no passado». Os costumes e ritos tradicionais impõem-se à novidade cristã.

- «O Evangelho é letra morta». A mudança é difícil, e ouve-se sempre o mesmo refrão: «somos pobres!».

- «A Igreja é uma simples organização». Tudo está em função dos números e estatísticas. Até os Sacramentos são por interesse.

- «A autoridade é poder». Quem manda é aquele que tem o cartão do partido, e os outros são inimigos a abater.

- «A missão é propaganda». Não há formação gratuita para quem dá, nem para quem recebe: «o que vou ganhar com isto?».

- «O culto é uma velharia». Também o material litúrgico é descuidado (livros estragados, imagens desfiguradas, capelas descuidadas, etc...).

- «O agir cristão, é uma obra de escravos». Repetem-se os casos de poligamia, adultério, divórcio, desânimo… destruição das famílias cristãs.




COM O ESPÍRITO SANTO:

- «O mundo transforma-se em Reino de Deus». Os sinais de Deus acontecem, como foi o caso do casal infértil que recebeu a imagem da Sagrada Família e foi abençoado com um filho.

- «Cristo ressuscitado torna-se presente». Aquele recém-nascido (e já órfão de mãe) é acolhido na família e recebe o apoio do centro-nutricional.

- «O Evangelho faz-se vida». Aqueles que não sabem ler, começam a soletrar, é o efeito imediato do apoio aos estudantes. Uma aposta no desenvolvimento.

- «A Igreja realiza a comunhão com Deus e com os irmãos». Estar com os mais pobres quando chegam os megaprojetos (agronegócio) e usurpação das terras.

- «A autoridade transforma-se em serviço». Trabalhar por uma Igreja ministerial que ganha mais força quando todos têm um serviço na comunidade.

- «A missão é um Pentecostes». A proposta é clara: «Jesus Cristo é o Senhor», lê-se na parte da frente de um mini-bus.

- «A liturgia é festa». Cantos e danças, ao ritmo do batuque bem animado, num colorido cheio de vida e juventude, onde o tempo não tem limite e a alegria se espelha no rosto de todos.

- «O agir humano é um agir de filhos de Deus». A fé e a fidelidade a toda a prova, como aquele marido que acompanhamos e tudo faz para que a sua esposa volte ao lar: perdão sem limites.

Assim, valorizando a ação do Espírito Santo, trabalhamos para que as situações onde Ele está ausente se transformem em vida nova. Alguma coisa vai acontecendo porque também temos a ajuda e colaboração direta de muitos amigos e benfeitores da Família Espiritana e outros. Para todos os que partilham e sintonizam com a Missão em Itoculo invocamos o Dom do Espírito Santo para continuarmos unidos, firmes e fortalecidos. Obrigado.



26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...