Raul Viana
Itoculo
Para um cristão consciente e esclarecido viver a Semana Santa em Braga ou em Itoculo é igual. Trata-se da celebração do mesmo Mistério Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. No essencial não diferenciamos, existem algumas modificações apenas no plano secundário. Isto é, trata-se de manifestações públicas da mesma fé onde se dão contornos próprios à sua celebração marcados pelo tempo e pelo espaço.
Sendo nortenho, aprecio o gesto bonito da Visita Pascal que decorre no Domingo de Páscoa. Não ignoro que muitas vezes tudo parece girar à volta desta visita a qual parece estar acima de qualquer outra cerimónia Pascal. Contudo, é um sinal bonito de levar a alegria de Cristo Ressuscitado de casa em casa, onde se junta a família e os amigos para acolher essa feliz notícia. Isso recordo com saudade.
Porém, aqui em Itoculo não temos essas tradicionais procissões, essas majestosas cerimónias, esses calorosos Compassos Pascais, esses potentes foguetes de festa ou essas alegres campainhas anunciadoras da proximidade de tal visita. Sinais expressivos de um povo e uma cultura, concretamente, desse norte português. O que temos cá, o qual também não trocamos com ninguém, é a vivência simples e profunda de todo este Mistério Pascal. Nestes dias as capelas são pequenas para tanta gente. O tempo decorre em função da vivência, contemplação e celebração do Mistério Pascal. Simpatizantes, amigos, catecúmenos, cristãos, gente de todas as idades, de longe e de perto, celebram profundamente este acontecimento pascal.
Como na Alta Idade Média da Europa, também aqui se foca bastante a dimensão sofredora da Paixão de Cristo. Talvez por uma questão de vivência limitada e sofredora deste povo que encontra na entrega de Cristo um ponto de encontro com a sua situação existencial. Por isso, não é de estranhar a enchente de pessoas que celebram a Via-sacra, ou a demora diante da Cruz de Cristo em dia de Sexta-feira Santa.
Bonito e enriquecedor é a Vigília Pascal de Sábado Santo. Logo de manhã o Ministro da Comunhão, acompanhado por um cristão, percorre cinco, vinte ou trinta e cinco quilómetros para levar o Santíssimo Sacramento para a Celebração da Noite Pascal. Iniciam a celebração ao início da noite e não mais olham para o relógio. À luz da fogueira, símbolo de Cristo Luz do mundo, proclamam todas as leituras bíblicas e sobre elas reflectem o acontecimento dessa Noite Santa. Na falta de Padre, renovam as promessas do baptismo e terminam comungando o Corpo do Senhor Jesus glorioso. Quando há Padre a presidir, a celebração prolonga-se com o rito dos Sacramentos de Iniciação Cristã.
A noite parece pequena e logo desponta a manhã da Ressurreição, o Domingo de Páscoa que fica marcado por uma simples convivência cristã. Faz-se uma visita aos doentes e idosos da comunidade cristã e vai-se interiorizando o mistério da Ressurreição com a alegria e a festa onde não falta o jubiloso ALELUIA.
Continuação de uma Feliz Páscoa para todos