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Damasceno dos Reis
Itoculo
Noutras partes do mundo – em Portugal, por exemplo – os assuntos das conversas entre as pessoas no momento mesmo em que se encontram podem variar muito. Dependendo dos acontecimentos recentes, do dia em que se encontram, das pessoas que encontram, etc., qualquer tema pode vir ao de cima. O clima: “Bom dia, hoje está um frio de rachar”; o desemprego: “Boa noite, então o seu filho já conseguiu aquele emprego?”; o desporto: “Olá. E o jogo ontem à noite? 4-0 à Espanha foi uma maravilha…”; a política: “Bah! Os políticos são todos iguais…” e assim por diante. Em Nampula, entre o povo macua, o grande assunto que acompanha a saudação ou a conversa imediata após a saudação inicial é sempre o mesmo: as doenças. Cada um apresenta ao amigo o rol exaustivo das doenças que o afectam a si e à sua família no momento presente. Desde a malária, omnipresente, até à simples tosse, passando pela diarreia, pela dor de coluna ou por uma simples unha encravada, tudo é contabilizado e exibido aos demais. Nas reuniões de formação e programação que regularmente se organizam na nossa missão, já sabemos, a primeira meia hora é sempre para os responsáveis das diferentes comunidades cristãs desfiarem o rosário das suas maleitas. Isto revela como a doença é algo que aflige profundamente este povo. Este lamento quase permanente é talvez a solução possível para quem se habituou a não ter por perto nem postos de saúde, nem medicamentos, nem nada. É uma lamúria que traz algum conforto pelo facto mesmo de ser partilhada com os outros…
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No início deste ano apresentou-se na missão uma senhora que sofria de“majini” (doença de maus espíritos). Como é habitual nestes casos tentamos encaminhar a pessoa para o hospital, procuramos certificar-nos de que não se tratava de alguma malária mal curada, por exemplo. Mas neste caso a senhora já tinha seguido esse percurso, e, esgotadas todas as possibilidades, não melhorou nada. O que lhe estava então a acontecer? Segundo o que ela descreveu, ela era visitada por multidões de espíritos que a queriam obrigar a abandonar a fé católica. Ameaçavam-na e provocavam-lhe torturas de várias espécies para fazer com que renegasse a sua fé e regressasse às práticas pagãs.Tinha já dificuldade em participar com a comunidade na celebração do domingo. Fizemos então uma pequena oração, simples. Leu-se a palavrade Deus e o padre impôs-lhe as mãos. Demos-lhe água benta e instruções para rezar em casa sem desistir. Durante bastante tempo a senhora veio à missão para várias sessões de oração de libertação. Por vezes, enquanto se rezava, reagia com tremores e com uma respiração ofegante,mas aos poucos foi serenando. Decidiu também deixar uma situação de pecado em que vivia, confessou-se e passou a comungar regularmente. Foi dando sinais de novo equilíbrio e alegria de viver. Neste mês de Novembro em que se organizam em toda a paróquia os novos grupos de catequese para o próximo ano 2011, ela apresentou-se com uma lista de crianças a quem irá dar catequese. Ficámos contentes e demos graças a Deus que é fonte da verdadeira saúde em Jesus Cristo seu Filho.
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