26 de junho de 2011

encontro do grupo espiritano

em moçambique


Raul Viana


Itoculo


De 20 a 25 de Junho tivemos o nosso encontro anual. Somos três comunidades que nestes dias formamos uma única comunidade espiritana.



O primeiro dia ficou marcado pelas viagens. Da comunidade de Inyazónia (Chimoio) chegaram o P. Damien (Rep. Centro Africana), os jovens estagiários Joseph (Malawi) e o Eduard (Ghana), e os PP. Godefroy (Congo K.) e Nicholas (Zambia), aprendizes de português na Cidade da Beira. Da comunidade de Nampula chegaram o Ir. Ronan (Irlanda), o P. Chrislain (Congo B.) e o jovem estagiário Isaac (Paraguay). Em Itoculo os PP. Damasceno e Raul (Portugal), o P. Desmond (Irlanda) e o jovem estagiário Vincent (Ghana) prepararam e acolheram os que chegavam. Estavam ausentes os PP. Yves (França) e o Alberto (Angola).


No segundo dia, depois de recuperados da viagem, em especial aqueles que precisaram de 17h para chegar, fizemos uma visita local à povoação itoculense. Iniciamos formalmente o nosso encontro relembrando as palavras do Superior Geral na sua carta de Pentecostes: «o espiritano não é definido pelo que faz, nem pelos locais de trabalho, mas por três qualidades fundamentais que fazem dele uma pessoa “laboriosa” (quer dizer trabalhadora), “capaz” (ou seja competente) e “desinteressada” (isto é disponível).»


O terceiro dia ficou marcado pela partilha dos mais velhos e dos mais novos, alguns recentemente chegados. Conhecer a nossa história, partilhar o nosso viver, pensar o nosso futuro… foram assuntos que nos preencheram completamente.


Para mudar de ambiente, aproveitamos o quarto dia para sair de casa e visitar a Ilha de Moçambique, o berço da nacionalidade moçambicana. Sentindo os ares do Índico, não resistimos a um mergulho na praia da Cabaceira.

O quinto dia começou com uma reflexão e meditação a partir de uma carta de Libermann cheia de bons e sábios conselhos para a vida missionária (in ND VII, p.191-195). O fim o dia ficou marcado pela celebração Eucarística com Renovação de Votos do estagiário Joseph e o convívio final que avançou pela noite dentro.


Terminado o Encontro do Grupo cada comunidade logo de madrugada regressou ao seu local de missão. Enfim, foi um encontro intenso e bem vivido com espírito jovem e alegre, onde não faltou o compromisso e comunhão para viver a nossa missão espiritana em Moçambique. Que o Espírito Santo seja sempre a nossa força e a nossa luz.

19 de junho de 2011

régulo mepóva



Raul Viana



Itoculo



Num destes dias visitei um dos nossos Régulos (autoridade tradicional macua) numa das nossas Regiões da Paróquia. A finalidade desta visita incidia na apresentação de um pedido de autorização para extrair pedra dentro do território do seu regulado em vista da construção que estamos a fazer no Centro Regional de Xihir.

Este pedido enquadrava-se, também, no respeito e atenção pela «autoridade tradicional», dono desse território. Como chefe territorial, a ele compete as decisões relativas à exploração da terra.
Acompanhado de um animador cristão, aproximei-me da casa, pedindo licença para entrar. Na varanda da casa estava ele deitado na sua quitanda (cama típica dos macuas) muito recolhido e com familiares à volta. Estava mesmo doente.

Como habitualmente fazemos, começamos pela saudação e respectiva partilha de novidades. Logo ele iniciou apresentando o seu estado doentio, bastante visível. Trocamos algumas palavras e disse-lhe que estava disponível para o trazer ao Centro de Saúde de Itoculo, para fazer um tratamento medicamentoso. Porém, recusou dizendo que o seu estado iria melhorar. Nesse caso adiantei que o carro voltaria a passar nesse caminho dentro de dois dias e, caso não melhorasse, podia seguir para o hospital. Essa seria a nossa colaboração, visto que a sua casa dista do centro de Itoculo cerca de 15km.

No meio de tudo isto ainda hesitei apresentar o pedido que me levava aí sobre a extracção de pedra dentro do seu regulado. Mas ele insistiu no porquê da visita e então apresentei a questão, à qual deu uma resposta imediata e positiva. Nada havia a impedir a não ser a debilidade do seu estado de saúde. E assim falando em macua, disse que podíamos extrair essa pedra, visto que se trata de uma construção que também vai servir o seu povo. Agradecendo a colaboração concedida, nos despedimos desejando as melhoras e rápida recuperação.



Passados dois dias o carro da missão voltou a passar nesse caminho e logo foi mandado parar para informar que o Régulo não podia seguir para o hospital porque primeiro tem de consultar a «Tradição». Ou seja, tem de ir primeiro aos curandeiros e adivinhos, como mandam as regras locais. E assim uma vez mais ficou adiada a sua vinda para o hospital central.

De facto, a situação agravou-se. E a primeira coisa a fazer é recorrer à «tradição» consultar as «forças locais». Deste modo não foi de estranhar a notícia da sua morte passados poucos dias. Tratava-se apenas de uma infecção urinária ou prostatite, que o hospital central podia resolver.

Este Régulo Mepóva é apenas um exemplo dos inúmeros casos que acontecem neste meio sócio-cultural macua. De facto, a «tradição» é muito forte e inflexível, e é a primeira a ser procurada. Posteriormente se recorre aos serviços do centro de saúde e/ou hospitalar. Esta prioridade local é por vezes uma solução eficaz, quando se trata de pequenas doenças que a medicina natural resolve. Mas na maioria das vezes, apenas agrava a situação dificultando ou mesmo impossibilitando a sua cura. Noutros casos, como aconteceu com este Régulo, termina com a morte do paciente.

Mesmo disponibilizando tempo e meios, o peso da «tradição local» dificulta o nosso trabalho pela qualidade de vida deste povo. Isto que se verifica no campo da saúde, cujos os casos são imensos, também se verificam no campo da Pastoral Paroquial. Na verdade, trata-se de um verdadeiro desafio à evangelização que estamos realizando, o qual nos faz ver que a inculturação do Evangelho é ainda um caminho muito longo a percorrer, um processo que requer tempo e entrega.


É assim mesmo, que a Missão continua.

8 de junho de 2011

sol radiante, lua cheia



Damasceno

Itoculo




Passou o mês de Maio. E mais uma vez, como já vem sendo hábito, a comunidade cristã da paróquia de Itoculo se organizou para rezar o terço na casa de uma família diferente cada noite. Para nós, missionários, era um momento privilegiado de encontro com Maria e de confraternização com os fiéis nas suas casas, nos seus lares... depois do jantar, de foco na mão, saíamos, quais peregrinos, às apalpadelas, pelo meio do bairro até chegarmos ao “presépio” dessa noite... qualquer que fosse a família, ou a parte do bairro onde morava, o ambiente era sempre o mesmo: noite apenas iluminada pelo candeeiro a petróleo ou por uma lanterna de pilhas baratas. Mal se viam as caras dos que iam chegando à medida que o terço não começava. A mobília era meia dúzia de esteiras, a condizer com o capim do telhado. E começava o terço. E quando começava não mais parava. Porque era rezado naquele ritmo corridinho que o povo gosta, quase a cantar. Foi bom.

Talvez encantado e lançado por esse ambiente do Maio de Maria veio-mo à cabeça, já em pleno Junho, uma poesia que partilho agora convosco. Não dizem que “de poeta e de louco todos temos um pouco”? Então cá vai:


Sol Radiante, Lua Cheia

Senhor, tu és Sol
Brilhante, iluminas
Dás beleza às criaturas
Senhor, tu és Sol
Para nós te inclinas
Nos afagas das alturas

Senhor, somos lua
Minguante, deserta
Sem coragem de luar
Senhor, somos lua
Crescente, desperta
Ao calor do teu olhar

Senhor, somos lua
Inunda de ouro
O chão que por ti anseia
Senhor, só Maria
Arca do tesouro
Te acolheu em lua cheia

Mosteiro “Mater Dei”, Nampula
07 de Junho 2011

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...