Carta de Natal
Damasceno dos Reis
Itoculo
Com a vossa ajuda foi possível contribuir para solidificar
um pouco mais esta jovem Igreja e apoiar, com alguns projectos concretos,
pessoas e situações de carência extrema. Fomos publicando no nosso espaço da
internet (www.nakumi.blogspot.com)
alguns desses trabalhos e projectos. Convido-vos a visitar, sempre que possam,
essa página para nos conhecermos sempre melhor.
E agora, como forma de agradecimento, gostaria de partilhar
convosco a seguinte história: Foi uma história que há dias ouvi a uma irmã de
outra missão. Não se trata de uma história extraordinária, mas de um facto
muito simples. Foi na cidade de Nampula. Onde não falta gente. Gente pobre.
Sempre a mendigar.
Como de costume, estando ela no carro à espera de outra irmã
que tinha ido às compras, aproximou-se um desses tantos jovens profissionais da
pedinchice. Muito sensatamente, a irmã não lhe deu moeda alguma. Mas, em vez de
repelir o impostor com um gélido aceno de mão ou de enveredar por um infindável
e desarrazoado debate, ofereceu-lhe algo. Começou-lhe a falar de Jesus. Fez como
Pedro, tal como vem descrito no livro de Actos: “não tenho ouro nem prata, mas
o que tenho te vou dar, em nome de Jesus Cristo…”. E assim começou uma conversa
frutuosa, porque eram mais do que palavras, era o expor franco de uma autêntica
paixão por Cristo, uma partilha daquilo que a irmã mais estimava, a partilha da
sua maior riqueza (esta parte, de si mesma, ela não contou, mas conheço a
irmã…). Até aqui, porém, nada de novo. Ela faz isto muitas vezes, é o seu modo
de ser.
A conversa entre os dois tornou-se tão interessante que em
breve se juntou outro jovem. Um dos muitos que deambulam pelas ruas da grande
cidade à espera de uma migalha oferecida ou de outra momentaneamente “desacautelada”.
E, mais uns minutos depois, já todos os pés-descalços daquela rua se tinham
juntado a estes dois companheiros para assistir à boa nova que a irmã
proclamava do seu púlpito automóvel. Quando chegou a outra irmã e a hora de partir,
apinhavam-se à volta do carro não apenas os larápios, mas também um bom número
de vendedoras de fritos e de transeuntes mais curiosos.
A irmã contava isto com um sorriso satisfeito. Um sorriso
próprio de quem faz a experiência de missão como acolhimento do outro sem se
preocupar com defesas ou contrapartidas. Isto só é possível se primeiro nos
despojamos de falsas riquezas e nos deixamos embeber em Jesus Cristo. Assim,
ensopados n’Ele, sem ouro nem prata, torna-se fácil expormo-nos para que os
outros levem tudo o que realmente precisam. Esta é a verdadeira evangelização. Jesus
faz-se carne (torna-se real) em todos os recantos da nossa vida? Então nem
precisamos de falar. Ele torna-se visível, brilhante mesmo, para todos os que
nos rodeiam.
Estamos a viver o ano da fé e terminou há pouco em Roma um
grande sínodo sobre a nova evangelização, por isso me parece que esta história
vem mesmo a calhar. Esta história fala de uma missão que brota de nós de
maneira espontânea, porque anda sempre connosco.
Feliz Natal