Já lá vão 25 anos de Profissão Religiosa. Parece que foi
ontem… O tempo passa rápido e, mais um pouco, também eu passo pelo tempo. Houve
tempo para tudo. Sinto que fiz de tudo e mais alguma coisa. Guardo na memória
muitas histórias e situações.
Onde nasci e cresci tenho grata recordação. O ambiente
familiar continua saudável e acolhedor. O encontro e a festa nunca faltaram.
Tal como nunca faltou o apoio e a compreensão. Liberdade e acção, coragem e amparo,
confiança e firmeza sempre estiveram à mesa desse encontro. Agradeço os pais
que me geraram e cuidaram, os irmãos que me acolheram, todos os familiares e
amigos que me fortaleceram.
A caminhada é pessoal, e «o
sonho comanda a vida». Cedo entrei no seminário, e a descoberta foi
acontecendo. A idade avançava e os ideais esclareciam-se. A hora aproximava-se
e a decisão foi tomada. A opção aconteceu e o sonho tornou-se realidade.
Recordo esse dia. Lembro as palavras proferidas. Sinto de novo o mesmo compromisso.
Sou missionário, sou consagrado. Louvado seja Deus.
Uma nova família estava constituída, maior, mais alargada. Novos
horizontes se abriram à medida que se avançava no tempo e no compromisso.
Primeiro foi o estudo, a oração, os pequenos trabalhos locais. Depois veio a
partida, o diferente e o desconhecido, a aventura, o arriscar e desenrascar...
Coisas que a juventude carrega sem medo.
Aquilo que era temporário fez-se permanente. O serviço foi a
primeira ordem recebida. Parecia ensaio mas já era realidade. Não havia tempo a
perder. «Faça-se». Fui então ordenado
para servir e guiar: «crê o que lês,
ensina o que crês e vive o que ensinas». Novo milénio começava, nova etapa
acontecia, uma missão, um missionário. Eu mesmo, padre missionário espiritano.
«Vá para fora cá
dentro», foi a primeira aposta. O despertar vocacional e animação juvenil
marcaram esse tempo. Crianças e adolescentes, jovens e adultos, todos entraram
no meu novo mundo feito de encontros e acampamentos, retiros e jornadas,
peregrinações e caminhadas. A missão era visitar, acompanhar, orientar ou,
simplesmente, estar. O que resultou? Desconheço. Deus o sabe. Apenas um
sentimento de dever cumprido, ainda que pudesse ter sido melhor.
Jovem com os jovens. Sonho e aventura. Animação com vida e
entrega. Dias preenchidos, noites prolongadas, tempo insuficiente para tanta
vida despontada. Coordenação e concentração a norte, sem esquecer outras
regiões, em vista da união juvenil sem fronteiras. Pontes e abraços,
iniciativas e sucessos, fracassos e decepções, alegrias e esperanças…
realidades de um mundo jovem feito de jovens. Terminava assim esta primeira
etapa neste «ad intra» lusitano.
Abrir novos horizontes, voar até outras paragens, conhecer
novas realidades, uma missão a começar. O povo macua, a cultura e as tradições,
a língua e a linguagem, o clima e todo o meio ambiente a descobrir. O
desconhecido foi-se apresentando, o inseguro deu lugar à segurança, a novidade
ganhou confiança, o encontro acabou com as incertezas, e uma nova vida começou
a ser vivida.
A missão tem agora o rosto de crianças sorridentes e simples,
jovens animados mas olhando ainda um futuro incerto, homens e mulheres serenos
e carregados de histórias. A pobreza, muitas vezes a confundir-se com a
miséria, incomoda e desafia. Ficar parado não resolve, é preciso seguir e agir
juntos. Sem esperar grandes mudanças, apenas empenhado em pequenas transformações
cada dia. Trata-se de dar pequenos passos para fazer grandes caminhadas.
Muitos caminhos percorridos. Muitos deles numa verdadeira
aventura. O destino era um encontro, uma celebração, uma sentada. Conversas
espontâneas, informações locais, situações à espera de solução, orientação e
decisões conjuntas, formação pastoral, tudo em vista de uma vivência humana e
cristã comprometida. Depois o regresso, o cansaço, o restabelecer das forças
para começar novo dia.
Resumindo, foram dias a capacitar lideranças, abrir novas
possibilidades, implementar projectos de desenvolvimento, até dar boleia e
ajuda humanitária… ou simplesmente cuidar do ser humano. Mas também
restabelecer laços, reconciliar desavenças, pacificar corações, absolver
sacramentalmente, construindo a Igreja de Jesus. No meio de tudo isso a palavra
do Evangelho e a busca da comunhão divina.
Na verdade, já passaram 25 anos com pessoas e experiências
marcantes. Não sei o que virá à frente. Mais fácil não será. Mas como até agora,
também estou confiante, não estarei sozinho nem isolado, a missão é sempre
plural e comunitária. Essa é a minha missão também. Que Deus me abençoe e me
ajude a ser fiel nesta caminhada, para cada dia começar sempre de novo, aberto
às surpresas de cada momento.
Um obrigado sincero a todos. E, juntos, façamos um brinde à
vida.
2 comentários:
Muitos parabéns Padre Raul, que venham muitos mais sempre com o coração disponívele a vontade de trabalhar por um mundo melhor, um beijinho 😘
Parabéns Padre Raul Viana Barbosa, que Deus continue abençoando você e a sua vocação. Que sempre e sempre haja maior disponibilidade de servir o altíssimo por perto. Abraços.
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