Dar graças a Deus é nosso dever e nossa salvação, rezamos nós em cada eucaristia… Pois bem, aqui estou eu para dar graças a Deus neste dia. Não são bodas de ouro, de diamante, de prata ou de papel, mas as bodas do cordeiro imolado que, com o seu sangue derramado na cruz, me escolheu e ungiu para ser ministro e sacerdote na ordem de Melquisedec.
Passaram 5 anos e as memórias estão muito frescas e presentes (talvez por ser tão pouco tempo); as azáfamas, os preparativos vespertinos, os rostos e sorrisos de todos, que não medem o trabalho e os esforços, despertam, ainda hoje, em mim tamanha felicidade.
Olhando hoje para atrás, ainda vejo aquele dia e revivo cada instante daqueles momentos que deixaram na minha vida uma marca indelével. Apesar da tranquilidade da noite, dormir foi missão árdua e quase uma tarefa impossível; mas finalmente o chuvisco daquela noite deu lugar à tímida luz do sol que espreitava por entre as nuvens, qual sorriso que faz nascer brilhos no olhar. Era novo dia, era 29 de Novembro de 2015.
Aquele dia trazia em si muita novidade: era novo ano litúrgico. Sim, tal como hoje, estávamos no primeiro domingo do advento e iniciava o ano C do calendário litúrgico. O tom roxo e branco domina toda a ornamentação dos espaços preparados e do grande palco montado para o evento nunca dantes visto na nossa querida freguesia de Nossa Senhora da Luz de Santiago. Talvez por isso houvesse tão grande multidão vindo de muitos lados para testemunhar o momento.Palavras são insuficientes para descrever com exactidão os momentos que vivi, juntamente com os meus colegas (Elvino Borges e Elson Lopes); foram momentos únicos que renovo em cada recordação e na minha caminhada missionária, que vai dando os primeiros passos: É como se ainda hoje sentisse as mãos de D. Paulino (e dos sacerdotes presentes) sobre a minha cabeça e a sua voz cantando a oração de consagração sacerdotal… não são momentos para se lembrar mais tarde, mas sim acontecimentos para nunca se esquecer.
Foi tal a intensidade deste dia que eu parecia ter os pés suspensos entre o céu e a terra, e lembro-me que, no dia seguinte (já com um dos pés no chão), dei por mim diante do espelho a procurar o que mudou e certifiquei-me de que o reflexo no espelho continuava sendo o mesmo (tirando um sorriso mais ou menos estupidificado). Mas hoje vejo que a transformação foi de tamanha grandeza que na altura não fui capaz de enxergar. Cada dia destes cinco anos tenho aprendido a ver, a viver e a transparecer essa mesma graça em mim, mas não só para mim… ela é para ser vivida com e para o povo a que sou enviado, neste caso, o povo macua, especialmente nesta missão de Itoculo. Os buracos, os saltos, as malárias e companhias mais do que obstáculos no caminho vão sendo ocasiões para renovar o sim que dei nesse dia e que me fizeram entregar a minha vida toda nas mãos de Deus a quem pertenço plenamente.
Cada dia que passa agradeço a Deus a graça que me concedeu e peço que continue a guiar os meus passos na missão que Ele mesmo escolheu para mim. Hoje, como em cada dia, renovo o sim que dei no dia 29 de Novembro de 2015