4 de junho de 2009

falar sonhando ou sonhar falando...

Raul Viana
Itoculo



No momento em que termino o curso de língua macua, dou-me conta que isto foi apenas uma introdução geral, a qual vai exigir de mim mais esforço e continuidade. De facto, todos nós que participamos no curso, tivemos acesso ao estudo da gramática, à leitura ritmada, ao conhecimento e significado de muitas palavras… Porém, o verdadeiro estudo começa agora, nos encontros de cada dia, no contacto com a realidade do povo que vai ensinar e formular o conteúdo desta língua completamente nova e exigente.

Contudo, este primeiro contacto deu para começar a ler em macua, mesmo que gaguejando! Na segunda etapa vou procurar entender o que as pessoas falam. Posteriormente, tentarei dialogar, começando a falar em macua. Por fim, (já depois de muito saber!!!) será a parte dos sonhos em macua. Portanto, sequencialmente e sem limite de tempo, assumi este programa: ler, entender, falar e sonhar.

Só para perceber um pouco, os macuas são o grupo étnico mais numeroso dos povos que integram Moçambique. Por isso mesmo, a língua macua é também a mais falada neste país, concretamente, na região norte. Abrange uma área geográfica considerável: Províncias de Nampula e Zambézia, e partes das Províncias de Cabo Delgado e Niassa. Isto faz com que haja também algumas diferenças dialectais (macua do interior, macua-meto, macua-lomwe, macua do litoral…), mas tudo parte de um mesmo tronco comum.

Tanto quanto pude perceber, o macua é uma língua que precisa de ser estudada e estruturada pelos linguistas e outros especialistas. Foram feitos alguns trabalhos neste sentido, mas revelam-se insuficientes. Este parece ser um dos pontos que dificulta a aprendizagem da língua, pois falta uma gramática e um método próprio, válido e consensual e, ao mesmo tempo, gente capacitada para o ensinar. No entanto, parece haver sinais de um futuro promissor.

No meio de tudo isto, não podemos esquecer que o esforço de muitos Missionários neste campo foi, e continua sendo, bastante considerável. A eles se deve muito do que existe na actualidade e que são bons instrumentos para quem quer aprender. Por outro lado, as publicações existentes em língua macua são prevalentemente de carácter religioso (bíblico e litúrgico e pastoral). Na verdade, são poucos os escritos nesta língua, o que faz pensar que a língua macua existe para ser falada mais do que para ser escrita.

Sinto que tenho um grande trabalho pela frente (ler, entender, falar e sonhar em macua) em vista daquilo que me faz estar nestas terras. Por outro lado, olhando a realidade envolvente à paróquia de S. José de Itoculo, regozijo-me e aprecio os meus colegas e confrades (PP. Pedro e Damasceno) que, neste esforço de aproximação, conseguem falar fluidamente a língua do povo. À excepção dos padres diocesanos autóctones, não são muitos os que conseguem fazer semelhante proeza. Portanto, uma rica e bonita herança para quem fica por estes lados.

4 comentários:

Anónimo disse...

Há gente que, dominando o português, não se atreve a pisar terreno em lingua alheia... Há gente que até para falar inglês fica com azia, quase à beira do colapso nervoso...

Bom saber que há heróis como vocês..!

Vera disse...

Desde Alvarães, e como elemento do Grupo Ajuda Itoculo de Alvarães, os nossos parabens pelo vosso trabalho e entrega e esperamos que continuem com essa força, e corage de entrega aos outros.
Parabens tambem para as Irmas espiritanas

Unknown disse...

Feliz de leer noticias del P Raul. Desde Mexico, te felicito...
Y por mi parte avanzo muy "k´ayum" (lentamente) en el aprendizaje del Tenek, la lengua de la mision donde estoy.
Te vaya bien,... y cuidado con no adelgazar tanto!!!

Anónimo disse...

Para o meu Mestre essa aprendizagem vai ser fácil assim que tiver o 1ºsonho em Macua partilhe.
beijos da Ana Rita

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