9 de maio de 2010

trivialidades (I)
capulanas e bicicletas


Raul Viana
Itoculo


Cada povo tem a sua cultura, e cada cultura caracteriza o seu povo. Cada povo tem a sua arte, e cada génio embeleza o seu povo. Cada povo tem os seus hábitos, mas em cada tempo a moda impõe o seu estilo… Não sei se isto é moda, mas é uma realidade bem presente no seio deste povo: as capulanas e as bicicletas.

Dizem que as capulanas são o artigo de uso mais frequente em África. De facto, raramente encontramos uma mulher sem uma ou mais capulanas. Desde criança até longa idade todas elas usam este rectângulo de pano de várias cores e feitios. A sua diversidade é grande, e para tudo e mais alguma coisa se faz uma capulana evocando um acontecimento ou sendo a marca de referência de um grupo ou comunidade.

Isto mesmo foi feito na Paróquia de S. José de Itoculo. Nós temos uma capulana própria que as mulheres usam nos dias de festa e nos primeiros domingos de cada mês. Com esse mesmo tecido se fizeram camisas para os homens a fim de ficar o casal completo e bem composto! Podemos dizer que essa é a marca referencial, a nossa bandeira. Onde quer que vamos como grupo colorimos o ambiente!

Na verdade a capulana é usada como forma de saia comprida. É usada para tapar a cabeça do sol. É usada para trazer o filho às costas. É usada como toalha ou lençol. É usada como saco ou bolsa com os produtos da machamba/campo. É usada nas capelas e cerimónias. É usada para enterrar os mortos. Enfim, é usada de mil e uma maneiras.

A par deste elemento muito comum entre os africanos, estão também as bicicletas. Tal como as capulanas, há muita diversidade e modelos de bicicletas. Mas acima de tudo, são usadas numa grande variedade de funções.

Servem para transporte pessoal. Servem para levar os doentes ao hospital. Servem para os animadores visitarem as comunidades. Servem para os alunos irem à escola. Servem para dar um passeio ou fazer um treino. Servem carregar os produtos da machamba/campo. Servem para transporte de mercadorias. Servem para inúmeras funções.

Assim, nestes caminhos irregulares (cheios buracos) com troços arenosos que dificultam a marcha, são muitas as avarias e furos que elas sofrem. Porém, o que mais interpela é a carga que elas carregam. Encontramos muitas vezes bicicletas carregando dois ou mais troncos de madeira, três ou quatro sacos de carvão, galinhas penduradas, cabritos sentados, porcos deitados, etc e tal… parecendo autênticos camiões de mercadorias. Isto sem contar as vezes que também parecem um autocarro, onde vai a família completa, ou as vezes em que são transportes de aluguer para viagens um pouco mais distantes.


Enfim, duas realidades que interpelam quem está nestas terras e que fazem parte do quotidiano deste povo. Quanto à capulana, foi-me oferecida uma delas em forma de camisa que uso no dia da festa da Paróquia e da festa das famílias. Quanto à bicicleta, o uso é muito pouco, embora já me serviu de transporte para ir celebrar numa das comunidades aqui perto. Portanto, não estando ainda totalmente inculturado no esquema local, vou tentando aproximar ao comum das pessoas e seus costumes.

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– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...