alguns aspetos
negativos
Raul Viana
Itoculo
Numa das exposições anteriores
falávamos dos aspetos positivos da cultura macua, os quais devemos sempre
considerar e potenciar. Mas, como acontece em qualquer sociedade, há a outra
face da moeda, a parte negativa, aquela que é para nós um desafio pastoral. No
plano religioso, familiar-social e económico não faltam exemplos que merecem
ser purificados e transformados. Vejamos alguns deles:
Dualismo (culto cristão e culto tradicional):
Muitos cristãos macuas
(catecúmenos e batizados) vivem num constante dualismo religioso. Estão
divididos entre a fé cristã e a religião tradicional. Por um lado, ainda vivem
agarrados ao culto dos antepassados onde rezam e fazem as cerimónias
tradicionais (makheia). Por outro, entram na capela para rezar cada domingos
escutando a Palavra de Deus que convida ao verdadeiro seguimento de Jesus. Estão
divididos entre a fé em Jesus Cristo e a crença no adivinho-curandeiro. Apesar
de já haver alguns anos de presença e evangelização cristã, parece que o
Evangelho ainda está longe de ser integrado na cultura, manifestando-se apenas
uma vivência exterior, que se expressa pela frequência e receção dos
sacramentos. Na verdade, entre os cristãos parece que às vezes se acredita mais
nos adivinhos do que em Cristo.
Passividade:
Se a parte pacífica é um
aspeto positivo, já a passividade se considera como negativo. E de facto, diante
de um problema ou dificuldade com uma entidade superior, habitualmente os
macuas não são capazes de reivindicar os seus direitos e contrapor à injustiça
de que estão sendo vítimas. Isto acontece por medo e porque lhes ensinaram que
não se deve dizer «não» a uma entidade superior. Para confirmar tudo isto basta
recordar o provérbio do «sim, senhor», no qual se afirma que «ao mucunha (estrangeiro-patrão)
nunca se diz não».
Casamento precoce:
No meio social onde nos encontramos facilmente encontramos rapazes e raparigas com 14 e 15 anos carregando a responsabilidade pais e mães de família. Mesmo sem o serem de verdade, pois física e corporalmente apresentam sinais de adulto, mas a sua mentalidade e estruturação pessoal ainda não estão suficientemente maduros. Por sua vez, isto provoca muitos males a todos os níveis: primeiro para a criança que vai nascer e que não terá os cuidados necessários para a sua sobrevivência ou, pior ainda, quando acontece aborto provocado; depois para a própria mãe que de imediato tem de abandonar a escola e outras formações para cuidar da criança; por fim, o pai, que sendo ainda jovem, muitas vezes não é responsabilizado pela criança gerada e vive sem valores. Podemos dizer que os ensinamentos familiares e tradicionais, a interioridade e isolamento, a falta de formação e compromisso pessoal, em muitos casos, são geradores de todo este modo de viver.
Mentalidade do mínimo possível:
Se o acolhimento é um elemento
positivo na cultura macua, o abuso do mesmo por parte de alguns familiares
torna-se prejudicial. Não raro acontece quando determinado membro da família
obteve abundantes rendimentos agrícolas devido ao seu esforço e organização
pessoal, de imediato outro familiar, que vive na penúria por descuido ou
preguiça, se vê no direito de hospedar-se na casa daquele que possui bens alimentares
até que a fonte se esgote. Isto cria uma mentalidade de que não interessa
produzir muito, nem possuir muita riqueza, para não ser incomodado por outros
familiares que a tradição obriga a acolher. Ou seja, parece que estamos num
meio que se pauta pelo mínimo desejável, a fasquia baixa que unicamente garante
a continuidade da pobreza e muitas vezes da miséria. Isto agrava-se quando se
introduzem adivinhos e feiticeiros que apenas protegem os malandros e acusam e
exploram os trabalhadores.
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