2 de abril de 2017

Uma Economia que mata

A primeira vez que ouvi esta frase estava nas jornadas missionárias de 2016, e desde aí que esta frase me assalta muitas vezes o pensamento, ainda mais agora, que estou a viver numa realidade que não é a que mata, mas sim a que morre.

Nos países desenvolvidos assumimos certas rotinas que, sem nos darmos conta, estão a
prejudicar realmente o mundo onde vivemos e somos de tal forma egoístas que mesmo que os factos nos sejam apresentados, somos incapazes de mudar essas rotinas. A sociedade “desenvolvida” é incapaz de viver sem um smartphone, mesmo sabendo que a exploração de matéria prima necessária para os componentes dos telemóveis é extraída violando um bom número de direitos humanos. Somos ainda incapazes de deixar de comprar roupa nas grandes cadeias, mesmo sabendo que a produção das peças é muitas vezes feita à custa da exploração
da mão-de-obra.

Um grande número de jovens tem como objetivo de vida o enriquecimento pessoal, o que à partida não deveria ser um problema, todos devemos lutar por melhores condições de vida, agora deixarmos que o dinheiro nos domine, e que os nossos objetivos de vida passem essencialmente por grandes e brilhantes carreiras sem nos lembrarmos de tudo o resto que torna a nossa vida rica, a mim em especial deprime-me.

Estamos enfeitiçados pelo dinheiro e vivemos numa ditadura económica sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. Agora que vou viver em Moçambique por um bom número de meses, pergunto-me se efetivamente a consciência dos países desenvolvidos fica mesmo limpa quando injetam dinheiro nestes países, entregar dinheiro sem um verdadeiro rastreio sobre o seu destino é pior do que estarem quietinhos. Há países europeus que financiam a oferta de livros às escolas primárias de Moçambique, mas não lhes interessa saber se as crianças que estão a receber esses livros estão efetivamente a aprender, talvez nem o nome das crianças lhes interesse, o que é bonito é dizer: “O nosso País ofereceu um milhão de livro para que as crianças Moçambicanas aprendam a ler”, quando na realidade existe um bom número de crianças a chegar à 7ª classe sem saberem ler, mas são 7 anos de livros grátis.

Quando estes países alcançaram a independência, foram deixados ao abandono, sem que os colonizadores sentissem o mínimo de responsabilidade pelo povo que durante anos menosprezaram e que por fim abandonaram. Foram deixados sem qualquer formação consistente e sem possibilidades de progressão, o que resultou em guerras constantes e uma corrupção assustadora. Se se tivessem ficado por aí até que nem estávamos muito mal, mas os países subdesenvolvidos continuam a ser ricos em muitas coisas que os países desenvolvidos já perderam. A título de exemplo: uma empresa Japonesa quer se apropriar de 14 milhões de hectares moçambicanos, nesses hectares vivem muitas famílias, mas o que é que isso importa? Prometem desenvolvimento, prometem novas e melhores condições de vida, mas todos nós sabemos o que vai acontecer! Um projeto que antes de iniciar já espelha corrupção, não pode levar ninguém a bom porto. É exatamente esta Economia que mata, andamos constantemente em busca do lucro desmedido e do prazer próprio, não nos interessa quem temos de abalroar para
chegar a um objetivo e quando alcançamos esse objetivo, o objetivo seguinte é ainda mais devastador, é um ciclo sem fim.

Se quem governa, ou gere uma grande empresa, parasse uns segundos para medir e para observar os estragos que fazem durante o processo de crescimento, iriam parar? Quando falo de uma Economia que mata, não é metaforicamente, há mesmo pessoas a morrer pelo egoísmo desmedido de quem devia proteger e trabalhar por um mundo melhor. E isto aplica-se  a qualquer um de nós, todos temos culpa, porque já todos ignoramos o sofrimento de alguém, porque temos os nossos próprios problemas e o outro é sempre alguém inferior a nós,
enquanto não deixarmos de ser o centro do nosso mundinho, não iremos reparar em quem estamos a matar pelo caminho.

“Quase sem nos darmos conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse responsabilidade de outrem, que não nos diz respeito” 
Papa Francisco



Sem comentários:

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...