30 de agosto de 2017

O voluntariado é amor

(Este post é inspirado por duas coisas, a falta de inspiração para escrever sobre outra coisa qualquer e a necessidade que senti de um testemunho de voluntariado de longa duração quando estava para realizar este sonho, no entanto, toda a informação é pessoal e intransmissível)


O voluntariado deve ser das coisas mais bonitas do mundo, estamos a doar o nosso tempo em troca de uma gratificação pessoal, não o fazemos por dinheiro e atualmente isso parece uma novidade, não fazer as coisas por dinheiro. Aqui não somos só voluntários, somos voluntários missionários, para além de trazermos a coragem de todos os outros voluntários trazemos também a nossa fé, e como ela cresce por estes lados.

Aqui em Itoculo a vertente do voluntariado funciona muito ativamente, os voluntários vêm uns atrás dos outros, o que é maravilhoso, conseguimos garantir a continuidade do nosso trabalho. Nós trabalhamos numa vertente mais social da missão, usamos o nosso conhecimento científico, até agora muito variado, para cada um contribuir com o seu cunho pessoal para o crescimento da missão.

Mas tal como já disse, pretendo ajudar quem está em fase de decisão, para a realização de um projeto de voluntariado internacional.

Devemos ter a consciência que qualquer projeto que realizámos será essencialmente um projeto de crescimento pessoal, isto porque, para que seja muito mais do que isso, temos de doar 3, 4, 5 anos a esse projeto, daí que na hora de tomada de decisão, a duração do projeto seja um factor muito importante. Quando decidi vir por (quase) um ano o que mais pesou nessa decisão, foi o impacto que queria ter na terra que me iria receber, quem nos vai receber também vai ser afectado, logo devem ser considerados na balança. Porquê um ano? Porque quem nos recebe também se afeiçoa a nós e estar criar um sentimento de pertença por um ou dois meses para mim não fazia sentido, atenção, para mim.

Outro factor que devemos considerar é o medo, o medo de deixar a segurança das nossas casas, o medo de deixar a nossa família, o medo de deixar os nossos amigos. Mas, temos de imaginar que vai correr muito bem, e podem ter a sorte que eu tive de encontrar uma família também aqui, como qualquer família tem os seus defeitos e os seus desafios, mas só isso a torna numa verdadeira família.

Existe ainda a saudade (e quanto ela cresce), mas pior que essa saudade é a certeza de que quando tiver de deixar esta terra vai nascer uma saudade muito mais difícil de resfriar, e isso sim assusta.

No entanto, se estão a pensar fazer, façam, existem momentos menos bons, mas os momentos bons, ai os momentos bons, esses compensam e se compensam.

Iniciamos esta semana de trabalho com o mote Deus é amor. Deus é amor, a missão é amor, o voluntariado é amor.

21 de agosto de 2017

Chegar… e partir

A vida missionária é chegar… e partir. A Irmã Hermínia Calipi chegou a Itoculo em Maio de 2013 para a sua primeira missão após a Primeira Profissão Religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias do Espírito Santo. Hoje está a partir para outra etapa. Foram mais de três anos que Itoculo beneficiou da sua presença e animação.

Nesta hora da partida queremos agradecer pela participação na vida pastoral desta Paróquia/Missão de São José - Itoculo. Especialmente na promoção feminina das mulheres, acompanhando e animando as mamãs da paróquia neste ministério pastoral. Igualmente no ministério da Infância Missionária que foi bem animado, estando agora em franco crescimento e expensão graças ao seu empenho e dedicação.

A nível da pastoral paroquial são dois ministérios abertos ao futuro. Um pela idade dos participantes, crianças e adolescentes da Infância Missionária, e o outro pela importância das mulheres na vida social e familiar que localmente precisam de grande incentivo. Estamos certos que muitas sementes foram lançadas com o seu trabalho e dedicação e que germinarão futuramente. É verdade que não estamos aqui para colher frutos, visto que isso não depende de nós, mas sempre gostamos de sinais desse trabalho, pois nos dá mais ânimo para futuras atividades. E isso já estava a acontecer e acreditamos que irá continuar.

A par deste trabalho de animação pastoral na Paróquia/Missão, estava também a direção e o acompanhamento das meninas estudantes do lar Eugénia Caps - Itoculo. São raparigas que estudam da 8ª à 10ª classe, algumas delas vindas de situações que exigem uma presença firme e amiga para vencer as dificuldades e abrir novos horizontes nas suas vidas. Outra coisa não se pretende com uma obra social, como é o trabalho com estudantes.

No meio de tudo isto, também não faltou o apoio à Escolinha (Pré-escolar), ao Centro Nutricional e muitos outros trabalhos que a vida missionária apresenta. O contacto amigo com as pessoas do bairro, as visitas às famílias são outros pontos a somar na sua vida missionária.

Assim, neste dinamismo da vida missionária (chegar… e partir), desejamos à Irmã Hermínia muito sucesso para a realização do seu sonho missionário, sempre repleto da Graça de Deus, na fidelidade e na alegria. Também como Maria, «a cheia de graça», rezamos para que a Irmã Hermínia esteja sempre disponível para «fazer a vontade de Deus» onde quer que seja enviada.

Koxukuro, mpakha nihiku nikina.

(Obrigado, até outro dia). 

6 de agosto de 2017

A GRANDEZA DAS PEQUENAS COISAS

Um acontecimento/notícia me motiva a escrever esta partilha. O futebolista brasileiro Neymar transferiu-se do Barcelona para o PSG por 222 milhões de euros e o mundo parou: já não se fala em mais nada nas redes sociais. Não digo que seja algo de irrelevante mas por causa disso fiquei a refletir sobre prioridades. É verdade que hoje em dia os milhões é que movimentam o mundo, mas eu tenho vivido uma experiência completamente diferente (e há muitos como eu) e tenho feito descobertas maravilhosas – mas não suficientemente astronómicas para serem relatadas em todos os grandes jornais do mundo.
Não há nenhum homem – por mais poderoso e forte que seja – que não foi um bebé e uma criança vulnerável e dependente. Mas a história é escrita, geralmente, pelos grandes e poderosos (não é uma crítica). Contudo parei para pensar na importância de pequenas coisas e pequenos gestos na nossa vida e que muitas vezes passam completamente despercebidos no meio de tantas glórias e grandiosidades (até porque estas pequenas coisas são gratuitas e não custam 222 milhões de euros).
Será que temos tempo, hoje, para parar e contemplar o brilho que acompanham pequenos momentos – muitas vezes apelidados de insignificantes – como sentar numa mesa e saborear um cafezinho ou passar uma tarde de domingo a pôr a conversa em dia com o nosso grupinho de amigos. Parece que estas coisas estão perdendo lugar diante dos nossos compromissos e trabalhos; as correrias contínuas matam a nossa capacidade de sentir e de saborear os instantes da nossa vida (como diria o professor/doutor José Tolentino Mendonça).
Por isso partilho alguns destes instantes insignificantes da minha vida que me arrancam sorrisos e enchem de alegria o meu coração: eu fico muito fascinado quando passo de carro pelas estradas de Itoculo e as crianças saem a correr para “dar um tata-vo” (uma forma de saudação) ou simplesmente gritar “Patiri” (padre). Não poucas vezes recebemos chamadas ou pessoas que mandam parar o carro só para perguntar “como está o padre?” (apesar de manifestar grande simpatia, quando estamos atrasados ou com pressa é um bocado «angustiante»). Eu que sou um homem com pouca paciência estou a aprender a importância que isso representa para as pessoas que connosco partilham o quotidiano: cada um destes pequenos momentos obrigam-nos a parar e tomar consciência da importância deste instante, em especial.
Por breves momentos somos catapultados para fora das nossas preocupações e stress… ora, não podemos negar que se trata de um grande desafio, mas as pessoas, pela sua grande simplicidade, nos ajudam a descobrir a riqueza das coisas mais simples e de pequenos gestos. Por vezes passamos por um grupo de crianças e um simples Ihali (forma de saudação na língua Macua) desperta gargalhadas e sorrisos no meio delas (não sei se é só por causa da minha pronúncia engraçada!), mas isso tem significado para elas e para mim.
Emociona-me quando brincamos com os bebés e conseguimos arrancar delas aquele sorriso tão genuíno… o que tem isso de especial? Talvez nada! Mas cada acontecimento destes faz com que cada instante tenha um brilho diferente e um valor singular, capaz de nos encher a alma.

A simplicidade é capaz de nos apaixonar, se tivermos tempo e capacidade de encontrar a grande riqueza que se esconde por detrás de cada pequeno momento de simplicidade. Mas precisamos aprender a contemplá-los e a desfrutar estes momentos. Digo-vos que isso vale a pena… mais do que milhões de euros.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...