Abaixo segue-se uma carta de desagrado de um grupo de sete Observadores da Paróquia de Itoculo-Nacala pela forma como foram tratados nestas Eleições Gerais de 15 de Outubro de 2019.
MANIFESTO DE INDIGNAÇÃO
Nós, abaixo assinados, cidadãos
moçambicanos do Posto Administrativo de Itoculo, Distrito de Monapo, estamos
indignados e repudiamos a forma como fomos tratados enquanto candidatos a
Observadores das Eleições Gerais do dia 15 de Outubro último. Fomos mobilizados
pela Comissão Diocesana da Justiça e Paz de Nacala e remetidos à EISA-Solidariedade
de Moçambique (Organização da Sociedade Civil com a missão de Observação
Eleitoral) que junto da CNE solicitou os documentos necessários para nos
creditar no serviço de Observadores Eleitorais.
Assim, uma vez aberta a campanha
para a inscrição como Observadores das Eleições Gerais, cada um de nós preparou
e apresentou todos os documentos e requisitos necessários para participar
activa e responsavelmente neste acto cívico. Todas as despesas de documentação
e viagens foram suportadas por nós mesmos, sendo que alguns de nós se distanciam
a mais de 60km da sede distrital de Monapo, usando, para isso, meios de
transporte muito dispendiosos.
Com o aproximar das Eleições sentimos
que a pressão aumentava. Sexta-feira dia 11 de Outubro, 4 dias antes das
Eleições, fomos convocados para uma formação onde nos foi atribuído um dossier/arquivo
com as informações necessárias ao nosso trabalho de Observadores da Sociedade
Civil. Aí permanecemos todo o dia e só à noite regressamos a casa. No dia
seguinte, 12 de Outubro, ao final do dia recebemos nova informação para voltar
à sede distrital para apanhar o restante material. Logo cedo, no domingo, nos
encaminhamos para lá, e nos foi atribuído apenas o colete de Observador, dizendo para aguardar novas informações. Como
somos do Posto Administrativo de Itoculo, alguns de nós sem qualquer familiar na
vila distrital, tivemos de regressar à comunidade mais próxima de Itoculo e
pedir socorro para ser alojado, isto depois de caminhar mais de 15km em pleno
dia de sol intenso, por falta de meios económicos.
No dia 14 de manhã, de novo
voltamos à sede do Distrito para receber novas informações e depois seguir para
os locais de votação atribuídos. Porém, ficamos todo o dia à espera dos
resultados, contactando com os responsáveis, sem nunca nos dar uma resposta exacta.
Foi um dia inteiro à sombra de uma mangueira, sentados numa esteira, sem meios
pessoais para aguentar a jornada, ficando à mercê da caridade de alguns amigos
para comer e beber. Terminou o dia sem nenhuma informação, apenas nos diziam
para esperar. O cansaço e o desgaste físico e psicológico eram muito notórios
em todos nós.
No dia seguinte, 15 de Outubro,
dia das Eleições, continuamos retidos por falta de informação para a entrega
dos Crachás. Entretanto, pelas 10h nos atribuíram as Mesas de Voto onde
poderíamos ser Observadores, e nos entregaram mil meticais em dinheiro e uma
recarga de 200 meticais para comunicar. Um pouco mais tarde, insistiram
connosco para seguirmos para os locais atribuídos sem os respectivos Crachás.
Todos recusamos por haver documentação incompleta, mas acabamos cedendo sem
saber que isso significava correr grande risco de vida podendo ser detidos por comportamento
estranho numa área por nós desconhecida. Assim, pelas 13h saímos para os locais
onde não fizemos nada do que nos competia como Observadores e fomos impedidos
de votar.
Na verdade, aqui a nossa acção
como Observadores resumiu-se a uma simples tarefa de comunicadores de factos
externos, recolhidos sem qualquer controle, apenas apanhando as publicações de
resultados para apresentar no dia seguinte, quarta-feira dia 16, aos nossos
responsáveis da EISA que nos enviaram. Neste mesmo dia levamos essa informação
e entregamos aos responsáveis que nos deviam devolver um valor de 3 mil
meticais pelo trabalho efectuado, mas também não entregaram, fazendo apenas promessa
para o dia seguinte. De novo, mais uma viagem de ida e volta, e no dia 17 ao
final da manhã foram-nos entregues 3 mil meticais.
Assim, a nossa indignação vai
para este procedimento dos responsáveis provinciais da CNE de Nampula por negar
atribuir os Crachás e reter toda a informação até às 13h do dia da votação
provocando um desgaste físico e psicológico de todos nós, deixando-nos
condições sub-humanas, apenas aumentando o nosso sofrimento. Mas pior do que
isto, estamos ainda mais indignados pela insistência desses responsáveis da
EISA em nos enviar aos centros de eleição sem os devidos Crachás, o que levou a
correr grandes e reais perigos de vida, movendo-nos às escondidas e com medo.
Estamos muito indignados porque não
podemos exercer o nosso direito/dever de voto. Estamos indignados também porque
fomos maltratados como pessoas nacionais pelas Autoridades Moçambicanas que nos
deviam proteger. Estamos indignados porque sem qualquer intenção partidária,
mas apenas querendo o bem do nosso País e as eleições justas, livres e
transparentes, fomos renegados e considerados inúteis ao bem da nação. Estamos
indignados porque gastamos inutilmente as nossas escassas economias aumentando
a nossa pobreza. Estamos indignados porque fomos desrespeitados nos nossos
direitos.
Estamos indignados com tudo isto
e muito mais, mas não desistimos dos ideais que nos levam a trabalhar por um
Moçambique diferente. Não vamos desistir nem abdicar daquilo que precisamos
para o nosso País. Os nossos filhos merecem um País muito melhor e com
Autoridades que respeitem aqueles que os elegeram. Acreditamos que amanhã será
diferente. Por isso não vamos desistir, mas procurar juntar mais forças
nacionais e internacionais para combater estes males da nossa sociedade e da nossa
política desonesta.
Moçambique e os moçambicanos não
merecem isto. Nós fomos grandes vítimas este ano. Como nós, também muitos
outros irmãos nossos sofreram idêntica humilhação. Não podemos calar a nossa
dor. Queremos a paz, queremos um Moçambique melhor.
Itoculo, aos 18 de Outubro de 2019.
Os cidadãos eleitores:
- Aminone Gabriel: nº 033169-29041914399 (033169-01/263)
- Atílio Francisco: nº 03169-050441807317 (03169-02/081)
- João Baptista Caetano: nº 03184-03051809539
(03184-02/701)
- Lucas Elias Paulo: nº 03181-22031808239 (03181-01/099)
- Minério Martelo: nº 03174-05041811449 (03174-02/249)
- Nito Manuel: nº 03169-05041811009 (03169-02/249)
- Silvano Ramete: nº 03178-08041807352 (03178-02/367)
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