30 de abril de 2009

biblioteca
Paróquia S. João de Deus


Os espiritanos de Nampula instalaram recentemente uma biblioteca na paróquia de São João de Deus. Quem dirigiu estes trabalhos foi o Ronan e a maior parte dos livros foram conseguidos através de uma campanha organizada pelos Jovens Sem Fronteiras em Portugal. Deixamos algumas fotos que dão conta dos vários trabalhos de remodelação/readaptação do espaço do centro paroquial S. João de Deus que serve agora de biblioteca.






















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depois



















22 de abril de 2009

a minha primeira Páscoa em macua


Raul Viana
Itoculo



Na alegria de Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado partilho a vivência da minha primeira Páscoa entre os macuas e em macua. Não há nada de especial, apenas em jeito de simples partilha missionária marcada pelo curto tempo, mas intensamente vivido, deixo aqui algumas palavras sentidas nesta Páscoa.

Na verdade, já lá vão dois meses e meio, por isso, começava a ser tempo de arriscar. A ausência inesperada de um padre colega aqui na paróquia fez com que tivesse de assumir as Celebrações da Semana Santa e da Páscoa. Quando recebi esta notícia estremeci, pois não me sentia minimamente à vontade para presidir às grandes Celebrações Pascais numa língua completamente nova. Mas com treino intensivo lá fui afinando o ouvido e a língua de forma a ser entendível! Só sei que no Domingo de Páscoa à noite dormi muito bem!!!

Tudo isto começou no Domingo de Ramos. Aqui celebrei a minha primeira Missa em macua, que coincidia com o Encontro Paroquial de Jovens. É verdade que este tempo agora ainda é quente e húmido, mas a transpiração não era devida apenas ao clima!...

Na Quarta-feira Santa tivemos a nossa Missa Crismal na Sé Diocesana da cidade de Nacala com o nosso Bispo D. Germano e todo o Clero (32 padres Diocesanos e Missionários). Celebramos o dia do Sacerdócio que culminou com um almoço convívio entre todos nós: asiáticos, latinos e norte-americanos, europeus e africanos. Esta diversidade geográfica, cultural e juvenil dos sacerdotes, foi um dos pontos que me chamou a atenção.

Quinta-feira Santa: Presidi à Celebração da Última Ceia que teve como particularidade a Consagração Eucarística que posteriormente seria distribuída por toda a Paróquia. O altar ficou cheio de Cibórios que, depois, no sábado seriam distribuídos pelas diferentes comunidades cristãs que iriam celebrar a Vigília Pascal sem Padre. Foi uma sensação de muita comunhão que apenas Jesus Eucaristia é capaz de fazer.

Na Sexta-feira Santa, a Celebração da Paixão do Senhor foi às 15h numa comunidade do interior, a 45km do centro da Paróquia, para o qual foram precisas 2:30h de viagem. Uma grande comunidade de cristãos nos esperava à sombra de uma Mangueira onde decorreu a Celebração, para a qual também foram precisas mais 2:30h. Já de noite regressamos a casa para um descanso merecido.

No Sábado Santo, de manhã, fui levar o Santíssimo à região de Djipwi a 30Km do centro. Aí nos aguardavam os Ministros da Comunhão que receberam devidamente os Cibórios e logo partiram para as suas comunidades para celebrarem a Vigília Pascal. À noite na sede da Paróquia presidi à Vigília Pascal onde os cristãos se congregaram à volta do Lume Novo, da Palavra de Deus, da Fonte Baptismal e da Eucaristia da Ressurreição.

No Domingo de Páscoa todas as celebrações foram nas comunidades do interior da Paróquia. Nesta altura as capelas são demasiado pequenas, por isso nos reunimos sempre debaixo de uma Mangueira, sentados no chão ou em troncos de árvores. Foi a minha primeira Celebração Eucarística em macua com Baptismos e Primeiras Comunhões. Ao fim da tarde, após um tempo de Adoração Eucarística, toda a Equipa Missionária de Padres e Irmãs nos reunimos para o jantar pascal onde não faltou a alegria e uma mesa mais recheada que o normal.

Enfim, esta partilha apenas tem de especial a novidade do primeiro impacto de quem é novato nestas terras e para quem se deixa surpreender com pouca coisa! É uma impressão inicial, que vale apenas por isso mesmo. Outras coisas me vão interpelando, tais como o rigor e exigência que pedem a cada cristão que na sua simplicidade acatam e colaboram. Da mesma forma, o esforço que fazem para participar na formação e celebrações cristãs, revela um bom e grande compromisso com Jesus e a Sua Igreja. Ressalta ainda uma grande dependência material, que mais parece um vício adquirido no passado, contra o qual estamos lutando no sentido de buscarem formas de auto-sustento. Mas na verdade, são imensas as limitações e muitas dificuldades por que este povo passa, que de forma resignada vai aceitando as contrariedades da vida.
Termino com uma saudação muito fraternal e de plena comunhão na Vida e na Missão. Que Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado tal como apareceu e se encontrou com seus Discípulos também nos encontre reunidos como Igreja viva e comprometida com a causa dos mais desfavorecidos e com vontade de O seguir generosamente. Seja Ele a iluminar cada um de nós e cada família na fé, esperança e caridade.
furos e Avé-Marias


Damasceno
Itoculo
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Escrevo alguma coisinha só para contrariar o monopólio do Raul (o gás com que está agora há-de passar).
No outro dia viajando para Nacala tive um furo. Nada de extraordinário, não fosse o facto de também o pneu suplente ter o mesmo problema. Ainda assim, a situação não seria desmesuradamente grave, tendo em conta que hoje em dia os prontos-socorro estão ao alcance de um telemóvel. Só que, mal digitei os primeiros números, a bateria foi-se! Um azar nunca vem só. Antes de começar a pedir boleia, dirigi-me às palhotas das redondezas para contratar alguma alma “caridosa” que, por um preço razoável, pudesse ficar de olho no carro enquanto eu levava o pneu à oficina. Assim que saí da estrada passou um carro conhecido que me teria dado boleia se me tivesse visto. Isto doeu-me sobretudo quando, depois de meia eternidade à torreira do sol, me apercebi que dos raríssimos carros que passavam nenhum dava sequer sinais de abrandar (a estrada ali era boa e proporcionava velocidades desportivas)...

Enfim, decidi que podia rezar o terço para não dar o tempo por completamente perdido. E – não sei já em que Avé-Maria foi, mas foi no primeiro mistério – eis que um carro novinho em folha, de homem com dinheiro, atendeu a minha prece. Depois de lhe agradecer, o condutor respondeu-me que a sua intenção era cumprir o evangelho de Jesus e socorrer os irmãos. Tratava-se de um cristão, mas não de um qualquer. Era da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. – Mas porque é que a Mãe de Deus, neste milagre, me foi enfiar no carro de um herege? – perguntava o meu preconceito.

Depois de mais uns quantos dedos de conversa ecuménica, fiquei também a saber que o homem era um alto quadro a trabalhar no ministério das finanças. Talvez por isso cheirava tanto a luxo, quer o carro quer o fato dele. Na despedida convidou-me a visitá-lo no local de trabalho. Se calhar a Providência também previu isto! Ter amigos nas finanças vem mesmo a calhar!

13 de abril de 2009

hotini!

Raul Viana
Itoculo
Na língua macua a resposta que se dá a quem pede licença para entrar, é «Hòtini!» (Faça favor!). Com esta permissão dei início ao segundo momento nestas terras moçambicanas, dedicando o meu precioso tempo ao estudo da língua macua. No meio de uma conversa sobre a possibilidade e a disponibilidade de frequentar o curso de língua macua, um missionário experiente interveio justificando a importância do mesmo com uma história muito simples:

«Um certo dia dois jovens foram ao bosque. Era um grande bosque de árvores frondosas cujos ramos podiam ser cortados para suavizar o frio inverno que se aproximava. Em jeito de desafio, apostaram qual deles conseguiria cortar maior quantidade de ramos. Ambos tinham idêntico

instrumento para a sua tarefa: uma simples serra. Deram entre si o sinal de partida e logo treparam por diferentes árvores. Pouco tempo depois começaram a cair os primeiros ramos cortados. Cada um procurava fazer o seu melhor, de tal maneira que os dois em pouco tempo já transpiravam por todo lado. Tomando consciência da sua situação, um deles decidiu parar e descer da árvore. O outro ao vê-lo descer, intensificou o seu trabalho esforçando-se por aumentar o seu número. Entretanto o que descera, sentou-se junto da árvore e estrategicamente começou a limar a sua serra, pensando que desta forma poderia cortar facilmente mais galhos. E assim aconteceu. Voltou a subir à árvore e com menos esforço, dentro do tempo determinado, conseguiu cortar mais rápido que o seu colega. No fim somou maior quantidade de ramos cortados, vencendo o desafio».

Não me foi difícil descobrir a lição desta pequena história. De facto, aquilo que aparentemente parecia ser um atraso na concretização de uma missão, acabou sendo um avanço considerável. A preparação, na sua aparente perda de tempo inicial, pode desembocar num maior e melhor crescimento. Equipar-se devidamente para uma grande viagem permite vislumbrar outras tantas possibilidades para chegar muito mais longe.

Na verdade, esta história fez-me considerar a minha posição actual em relação à aprendizagem da língua macua. Olhando a realidade da paróquia de S. José de Itoculo (Diocese de Nacala), tal como a realidade das demais paróquias do interior, sem o conhecimento da língua local é muito difícil contactar e dialogar com as pessoas. Aqui o português, embora sendo a língua nacional de Moçambique, é insuficiente para fazer qualquer acção pastoral séria e responsável com garantias de algum resultado positivo. «Entender e ser entendido» é um ponto de partida essencial para qualquer acção humana. Assim, também, sinto que preciso de aprender a língua e a linguagem das pessoas macuas.

Não escondo que a tentação é de partir de imediato para o trabalho. Na verdade, são grandes e urgentes as necessidades com que os missionários se deparam a todos os níveis. Já muito foi feito e ainda há muito para fazer. Porém, sem cair no erro de viver num esforço constante mas com reduzida «eficiência e eficácia», se é que se pode falar de evangelização nestes termos, é importante estar bem preparado e apetrechado com os instrumentos necessários.

Como um instrumento de que Deus se serve para visualizar o Seu Amor, sinto-me chamado a viver bem esta missão como uma exigência do compromisso assumido. Para tal preciso de me equipar com os meios necessários para levar a cabo a missão confiada: aprender e ensinar, receber e partilhar, conviver e amar, evangelizar, ser e estar… em «união prática».

Acredito e peço a Deus, Senhor da Vida e da Missão, que nos fortaleça e ajude a viver intensamente este Tempo da Ressurreição que acontece uma vez mais para todos nós. Assim, o silêncio e a morte são vencidos para dar lugar ao canto festivo da paz e da alegria de Cristo Vivo em cada coração.

Empaka nihiku nikina, Muluko ajaliwà! (Até outro dia, se Deus quiser!)

4 de abril de 2009

O baptismo das colinas
o meu segundo caminho de cruz
depois da Tanzânia

Chrislain Bintsitou
Inazonya
O padre Chrislain Bienvenue BINTSITOU, CSSp, é originário da Região espiritana de Congo Brazzaville. Vindo da Província da Africa Central pela SCAF. Está a aprender o português e, para por em prática o que já aprendeu, partilha connosco alguns pormenores da sua chegada a esta missão.

No dia 27 de Dezembro 2008, cheguei no chão Moçambicano. Entrava por Pemba no dia 27 de Dezembro, depois de ter passado pela Tanzânia. Passei por Nampula no mesmo dia e fiquei lá durante 3 noites; Entretanto, visitei a comunidade de Itoculo e passei lá uma noite; Voltei a Nampula. No dia 30 passei pela Beira e Chimoio. Finalmente, cheguei em Inhazonia no mesmo dia 30 às 18h30.

Na ausência do Pároco, fui recebido pelo Padre Damien, Irmão Oliver (estagiário Espiritano) e irmã Albertina que representava a equipa pastoral e os cristãos. Fui bem recebido em todas as comunidades da Paróquia São Paulo de Bárué.
Depois da recepção pelas comunidades, durante as missas, começou o meu Baptismo das colinas, um Baptismo de fogo. Não conhecia as línguas: português e bárué (a língua local). Estava lá como um menino que não podia falar e andar. Neste momento, era para mim o primeiro Baptismo das “colinas e montanhas”.

Com efeito, é lá a parte da iniciação que começou. É a fase da observação e iniciação à vida das comunidades da paróquia, à cultura Moçambicana em geral e da Diocese em particular. Para mim, a prioridade é a aprendizagem da língua, pois, por enquanto “sou um menino que deve aprender a andar e a falar; um menino que deve aprender os costumes de Moçambique”. Sozinho, não posso. Os meus confrades e também outras pessoas podem ajudar-me. Sem eles, sou como um rio que tem curvas por falta de um guia. Não é fácil. Portanto a Missão é a mesma; mas os meios da aplicação dependem do contexto. Primeira evangelização tal é a minha “constatação” depois de dois meses que cheguei aqui.

No fim de contas, dizia: “que Baptismo das colinas e montanhas?”. Pouco a pouco, o homem que sou vai criando um lugar entre os Moçambicanos. Um lugar social, antropológico, “Eclesial” ou “Igrejal”… Estou consciente do trabalho que está à minha espera.

Que Maria, a mãe da missão e Jesus o missionário por excelência estejam comigo nos caminhos da missão.
Que o Espírito Santo me queime para abrir em mim as vias da missão, pois o Espírito diz-me: “Levante-te e parte, a ceifa é abundante…”

Assim, o Padre Libermann dizia: “ fizestes-vos negro com os negros” e eu digo: “eu me farei Moçambicano com os Moçambicanos”.

Padre Crislão Bienvenue BINTSITOU, CSSp, Comunidade de Inhazonia

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...