22 de abril de 2009

a minha primeira Páscoa em macua


Raul Viana
Itoculo



Na alegria de Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado partilho a vivência da minha primeira Páscoa entre os macuas e em macua. Não há nada de especial, apenas em jeito de simples partilha missionária marcada pelo curto tempo, mas intensamente vivido, deixo aqui algumas palavras sentidas nesta Páscoa.

Na verdade, já lá vão dois meses e meio, por isso, começava a ser tempo de arriscar. A ausência inesperada de um padre colega aqui na paróquia fez com que tivesse de assumir as Celebrações da Semana Santa e da Páscoa. Quando recebi esta notícia estremeci, pois não me sentia minimamente à vontade para presidir às grandes Celebrações Pascais numa língua completamente nova. Mas com treino intensivo lá fui afinando o ouvido e a língua de forma a ser entendível! Só sei que no Domingo de Páscoa à noite dormi muito bem!!!

Tudo isto começou no Domingo de Ramos. Aqui celebrei a minha primeira Missa em macua, que coincidia com o Encontro Paroquial de Jovens. É verdade que este tempo agora ainda é quente e húmido, mas a transpiração não era devida apenas ao clima!...

Na Quarta-feira Santa tivemos a nossa Missa Crismal na Sé Diocesana da cidade de Nacala com o nosso Bispo D. Germano e todo o Clero (32 padres Diocesanos e Missionários). Celebramos o dia do Sacerdócio que culminou com um almoço convívio entre todos nós: asiáticos, latinos e norte-americanos, europeus e africanos. Esta diversidade geográfica, cultural e juvenil dos sacerdotes, foi um dos pontos que me chamou a atenção.

Quinta-feira Santa: Presidi à Celebração da Última Ceia que teve como particularidade a Consagração Eucarística que posteriormente seria distribuída por toda a Paróquia. O altar ficou cheio de Cibórios que, depois, no sábado seriam distribuídos pelas diferentes comunidades cristãs que iriam celebrar a Vigília Pascal sem Padre. Foi uma sensação de muita comunhão que apenas Jesus Eucaristia é capaz de fazer.

Na Sexta-feira Santa, a Celebração da Paixão do Senhor foi às 15h numa comunidade do interior, a 45km do centro da Paróquia, para o qual foram precisas 2:30h de viagem. Uma grande comunidade de cristãos nos esperava à sombra de uma Mangueira onde decorreu a Celebração, para a qual também foram precisas mais 2:30h. Já de noite regressamos a casa para um descanso merecido.

No Sábado Santo, de manhã, fui levar o Santíssimo à região de Djipwi a 30Km do centro. Aí nos aguardavam os Ministros da Comunhão que receberam devidamente os Cibórios e logo partiram para as suas comunidades para celebrarem a Vigília Pascal. À noite na sede da Paróquia presidi à Vigília Pascal onde os cristãos se congregaram à volta do Lume Novo, da Palavra de Deus, da Fonte Baptismal e da Eucaristia da Ressurreição.

No Domingo de Páscoa todas as celebrações foram nas comunidades do interior da Paróquia. Nesta altura as capelas são demasiado pequenas, por isso nos reunimos sempre debaixo de uma Mangueira, sentados no chão ou em troncos de árvores. Foi a minha primeira Celebração Eucarística em macua com Baptismos e Primeiras Comunhões. Ao fim da tarde, após um tempo de Adoração Eucarística, toda a Equipa Missionária de Padres e Irmãs nos reunimos para o jantar pascal onde não faltou a alegria e uma mesa mais recheada que o normal.

Enfim, esta partilha apenas tem de especial a novidade do primeiro impacto de quem é novato nestas terras e para quem se deixa surpreender com pouca coisa! É uma impressão inicial, que vale apenas por isso mesmo. Outras coisas me vão interpelando, tais como o rigor e exigência que pedem a cada cristão que na sua simplicidade acatam e colaboram. Da mesma forma, o esforço que fazem para participar na formação e celebrações cristãs, revela um bom e grande compromisso com Jesus e a Sua Igreja. Ressalta ainda uma grande dependência material, que mais parece um vício adquirido no passado, contra o qual estamos lutando no sentido de buscarem formas de auto-sustento. Mas na verdade, são imensas as limitações e muitas dificuldades por que este povo passa, que de forma resignada vai aceitando as contrariedades da vida.
Termino com uma saudação muito fraternal e de plena comunhão na Vida e na Missão. Que Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado tal como apareceu e se encontrou com seus Discípulos também nos encontre reunidos como Igreja viva e comprometida com a causa dos mais desfavorecidos e com vontade de O seguir generosamente. Seja Ele a iluminar cada um de nós e cada família na fé, esperança e caridade.

4 comentários:

Vale da Sancha:LIAM. disse...

Parabéns...isto de falar e ser entendivel, não é para todos... a mensagem precisa desse "canal".Ficámos muito contentes e...cá vamos acompanhando e rezando...convosco.

laura

Unknown disse...

Salama mestre, como era de esperar vejo que muteko não lhe falta. :)
Deixo um abraço espiritano com muita saudade. Partilhe este abraço com os restantes padres e com as irmãs. :P

Estamos juntos em Cristo

Anónimo disse...

Com calma e estupidez natural tudo se consegue Mestre!
Fico feliz por saber que partilhamos o mesmo sentimeno quando se tratar de anunciar que Cristo Ressuscitou.
Beijos a todos por aí.
Ana Rita

Miguel Ribeiro disse...

Um padre anglófono que gostava de arriscar quando aprendia uma língua tinha chegado há pouco tempo a Angola e anunciou com muita alegria a eleição do Papa João Paulo II dizendo: "Temos uma Papa nova!" O que é certo, é que nunca vi um anglófono falar tão bem português como ele. Por isso, apesar dos suores e da tremideira, de certeza que continuando a arriscar na língua, vais conseguir cada vez melhor anunciar o Ressuscitado com as palavras que o Criador colocou na cultura desse povo.
Um grande abraço

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