19 de outubro de 2012

Centro Regional de Xihire

 
Raul Viana
Itoculo


No dia 7 de Outubro de 2012 fez-se a bênção e inauguração dos novos espaços de Xihire, tal como confirmam as imagens da postagem anterior a esta. Aqui apenas queremos ressaltar algumas partes do Relatório final apresentado nesse dia. Na verdade, foi um dia de festa porque se concluía um processo longo e custoso, bonito e necessário.

 
LONGO

Foi um processo «longo», porque iniciamos em 2010, precisamente a 24 de Maio de 2010 contatamos o P. Cláudio Belo, Pároco de Santo André de Vitorino dos Piãos, S. Tiago de Poiares e Santíssimo Redentor de Navió (Ponte de Lima – Portugal). Apresentamos-lhe a situação da inexistência de um espaço digno para reuniões dos cristãos e animadores desta Região. Pouco tempo depois, a 2 de Julho ele nos respondeu dizendo: «Em relação à obra não te preocupes que faço aqui um peditório e leio a tua mensagem. Pouco ou muito conta sempre com ajuda deste povo». E na verdade a 19 de Julho de 2010 as comunidades paroquiais nos deram uma oferta de 3.020,00€. Hoje queremos expressar a todos esses cristãos, irmãos nossos, um grande sentimento de gratidão, porque partilharam connosco uma grande oferta.

 
Então, a 16 de agosto do mesmo ano iniciamos os trabalhos fazendo formas para fabricar os adobes para queimar, no qual todas as comunidades da Região participaram. Vendo que seria insuficiente, e procurando uma solução mais sólida, a 29 de Outubro optamos por fazer blocos de areia e cimento.

O projeto visava restaurar a casa-cozinha já existente mas em estado decadente e fazer um novo salão e sala anexa. Mais tarde vimos a necessidade de recuperar a Capela e fazer uma latrina melhorada com laje de cimento. Assim, a 4 de Março de 2011 fizemos o primeiro contrato com o pedreiro Sr. Domingos Wasseya para restaurar a cozinha. E porque ele nos deu bons sinais de confiança lhe entregamos, a 15 de Julho, a construção do novo salão, juntamente com outro pedreiro chamado Mário, que se encontra atualmente enfermo.

Enfim, foram mais de dois anos de trabalho que tivemos aqui nesta Região e que agora vemos os resultados.

 
CUSTOSO

Um projeto «custoso», porque envolveu muito dinheiro e muito esforço humano. A grande ajuda veio do exterior, como já referi, dos cristãos de Vitorino, Poiares e Navió, e também de outros amigos da Paróquia de Nossa Senhora del Encuentro da Espanha e de Portugal. Somando um total de 6.175,00€ (=216.125,00MTM). Outra parte surgiu do esforço daqui, das comunidades, em especial a comunidade de Xihire, e de muitas outras pessoas que trabalharam para que isto acontecesse. Assim gostaria de mencionar o Sr. Régulo que nos deu a areia, os homens que partiram pedra, os que fizeram os blocos, os que trouxeram as tábuas e barrotes, e principalmente os pedreiros e ajudantes. De todos eles sentimos muito esforço e dedicação que também queremos agradecer.

Assim, o resumo das contas foi de 29.640,00Mtc para recuperar a casa-cozinha; 9.200,00Mtc para recuperar a capela (com a participação de 500Mtc da comunidade de Xihire); 8.380,00Mtc para fazer a latrina melhorada; e 168.905,00Mtc para o salão e sala anexa. Junto com tudo isto está também o concerto e entrega da bomba de água da fontenária de Xihire em 27 de maio de 2011 onde gastamos 2.040,00 Mtc.
 
BONITO

Uma obra «bonita», porque ao olhar agora para o Centro Regional de Xihire está todo ele mais bonito e completo. As fotografias de ontem e as de hoje têm um grande contraste. Mas queremos que as fotografias de amanhã sejam ainda mais bonitas, onde se possa ver muitas pessoas a frequentar este Centro, a usar estes espaços e a cuidar deles para que todos se sintam bem, em melhores condições.

A beleza deste espaço será ainda maior quando estiver cheio de pessoas, animadores dos diferentes ministérios, a participar nos encontros de formação humana e cristã. Não nos interessa ter casas bonitas e vazias, novas e abandonadas, grandes e sem pessoas. Por isso, fica aqui um apelo renovado a toda a Região de Xihire, e a cada ministério em particular, para participar ativamente nos encontros aqui agendados.

 
NECESSÁRIO

Um espaço «necessário», porque estávamos limitados nos espaços para as nossas reuniões. Agora, quer faça sol, chuva ou vento, podemos fazer os nossos encontros e receber a formação necessária para os nossos ministérios e as nossas comunidades cristãs. Antes estávamos mais limitados nos nossos espaços de encontro, aproveitando as sombras dos cajueiros ou das mangueiras, mas agora já temos outras condições que nos permitem fazer mais e melhor.

Estas infraestruturas podem ser o ponto de partida para outras iniciativas locais em vista do desenvolvimento integral de toda a Região. Assim mesmo, manifestamos aqui a nossa vontade de trabalhar juntos com as autoridades locais em vista do bem comum, respeitando as diferenças e trabalhando pela unidade e a paz, quer a nível religioso, quer a nível social. Neste sentido, agradeço as autoridades aqui presentes, desejando, sempre que possível, que juntos possamos fazer coisas boas e bonitas, capazes de trazer mais dignidade e qualidade de vida para cada pessoa e todas as famílias.

 
Enfim, caros cristãos de Xihire, o vosso Centro Regional tem agora melhores condições que os outros Centros Regionais da nossa Paróquia. Porém, queremos que tudo isso corresponda também a um maior empenho de toda a Região na vida da Paróquia e na animação de cada comunidade. Obrigado pela presença e participação de cada um vós, e que Nossa Senhora do Rosário que hoje celebramos vos acompanhe sempre no vosso caminhar e vos fortaleça no compromisso e seguimento do Seu Filho Jesus Cristo.

12 de outubro de 2012

XIHIRE novo e renovado

Sala de formação e Salão de Reuniões com capacidade para grandes celebrações, construído de raiz.


Pouco a pouco foi crescendo...


Assim ia ganhando forma...


Por fim veio a «formusura»...



CAPELA de Xihire datada de 1954.



CASA-Cozinha para apoio a toda a Região.



Por fim, uma latrina melhorada para necessidades básicas...


Xihire, 7 de Outubro de 2012.



XIHIRE em FESTA

Mensagem alusiva ao dia 7 de Outubro de 2012
Data da Padroeira desta Região de Xihire, Nossa Senhora do Rosário.

Nesta Festa da nossa Padroeira, hoje também coincidiu a inauguração das nossas salas e Centro Regional de Xihire.

Boas vindas…

Nesta nossa festiva que hoje celebra aqui na nossa Região, estamos contentes porque é pela primeira vez que a nossa Região aqui vai celebrar. É uma festa inaugurativa. Um Centro fundado no ano de 1954 pelos missionários Combonianos que vinham conduzir-nos antigamente. Os Padres que fundaram o Centro foram o Padre João e o Padre Martinho. Nesse tempo os nossos irmãos sofreram muito pelas distâncias que corriam para Mueria onde era na Paróquia. Era difícil ter uma celebração Eucarística, nem Celebração da Palavra tinham. Nos domingos rezavam o Terço. Nestas celebrações incluía por 6 Regulados. Todos os cristãos rezavam aqui mesmo no Centro Regional de Xihire.

Nesta data agradecemos muito aos missionários Espiritanos que olharam e pensaram de construir novas salas e reabilitar a Capela e a cozinha do Centro Regional de Xihire. Estamos ainda a agradecer aos missionários Espiritanos pela força do Espírito Santo que existe no meio deles, quando na parte de evangelizar assim como dos sacramentos e formações que recebemos em todos os dias. Missionários que não se cansam, mesmo no tempo chuvoso.

Nos anos atrás sofríamos nos dias chuvosos na sala do encontro coberta de capim. Agora já temos sala de encontros coberta de chapa de zinco. Por essa força, pedimos a Deus que nos leve para a frente. Agradecemos muito aos Padres e Irmãs da nossa Paróquia de Itoculo, e pedimos que essa iluminação que seja contínua.

Agradecemos também às Missionárias Espiritanas que sempre conseguem instruir as mamãs da nossa Paróquia, seja nas cerimónias femininas, na costura e nos nossos lares, da forma como educar os nossos filhos, na religião, na escola assim como na saúde mesmo na sociedade. Agradecemos pelo Congresso das Mamãs realizado este ano.

Por último estamos a agradecer aos animadores regionais, zonais, anciãos, catequistas assim como todos os responsáveis de vários ministérios e cristãos desta Região de Xihire que em conjunto colaboramos a única fé de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que seja a fé contínua olhando os 10 Mandamentos da Lei de Deus.

Obrigado
Animadores do Conselho Regional
Xihire aos 7 de Outubro de 2012.

8 de outubro de 2012

MOÇAMBIQUE
20 anos de paz

Raul Viana

Itoculo

Cada ano em Moçambique o dia 4 de Outubro é sobejamente festejado para celebrar o tempo da paz, o fim da luta armada nacional. Este ano celebramos o vigésimo aniversário (1992-2012) deste grande dia de bênção para todo o povo moçambicano.
 
Na nossa Paróquia de S. José de Itoculo, Diocese de Nacala, começamos por recordar uma das vítimas mortais antes de chegar esse grandioso dia. Trata-se do Irmão Alfredo Fiorino, missionário comboniano, médico de profissão, que no dia 24 de Agosto de 1992 foi atacado e morto por guerrilheiros quando regressava a casa. Foi a última vítima missionária da luta armada nacional moçambicana.
 
Alguns anos antes, nesse mesmo lugar, uma outra irmã comboniana, Teresa, também foi vítima de uma emboscada semelhante, juntamente com 22 pessoas locais. Pouco tempo depois, os cristãos dessa zona pastoral, chamada Mweravale, para recordar o sangue derramado dos missionários mortos durante a guerra civil, construíram aí uma capela, que hoje serve como centro de culto nessa mesma zona pastoral.

 
Dia nacional da paz

Os 20 anos de paz são expressão de um tempo bonito e próspero. É um acontecimento que está marcado na memória de todo o povo, visto que enorme foi o sofrimento que a guerra provocou no seio das famílias e em muitas aldeias. Ainda hoje não deixa de ser impressionante a maneira como as nossas comunidades cristãs vibram quando entoam o canto da paz na celebração dominical. 
 
Mas celebrar 20 anos de paz é também o momento para contemplar e avaliar as mudanças produzidas em todo o país e em todos os sectores da vida social. Desde o campo político e económico, passando pelo social e cultural, culminando no plano religioso e missionário, muitas transformações se operaram como expressão de uma paz tão ansiada.
 
É verdade que nem tudo foi conseguido como seria desejado. Muitos desafios permanecem e têm de ser enfrentados para que a paz seja de verdade um tempo próspero para todos. A situação de pobreza extrema em que muitas pessoas se encontram são a expressão mais forte desta urgência desta paz efetiva.
 

 
Paz e desenvolvimento
 
Apesar de vivermos num país democrático com eleições livres, não deixa de ser questionável a confusão entre partido no poder e respetivo ato governamental. Igualmente, uma oposição política alternativa é essencial em todo este processo. Mesmo assim, se notamos que há muito caminho a percorrer neste campo político, também é verdade que muito já foi conseguido, ainda que a «Primavera árabe» pareça algo de temível.

Um olhar atento da realidade atual mostra também que Moçambique vive uma situação social e política aparentemente estável. Já o mesmo não se pode dizer no plano económico. O país está invadido por multinacionais em busca do carvão de Tete, do gás natural de Inhambane, das areias pesadas de Moma (Nampula), do petróleo na bacia do Rovuma (Caba Delgado), de pedras semipreciosas, de madeira exótica, etc… Tudo isto, porém, contrasta com o 184º lugar do ranking mundial de desenvolvimento em que o país se encontra.

Sendo que a verdadeira paz envolve tudo e todos, facilmente percebemos o número excessivo de excluídos. A pobreza extrema ainda é uma realidade bem presente nestas terras, mesmo que o Governo tenha como objetivo erradicá-la até 2015, de acordo com os Objetivos do Milénio. Porém, não deixa de ser também um sinal evidente de uma paz ainda em construção.

Segundo Mia Couto, um dos maiores escritores moçambicanos, e também uma das vozes críticas atuais da sociedade, «a maior pobreza de Moçambique hoje é não conseguir produzir um discurso inovador. Este discurso sobre a pobreza é um discurso pobre, repetitivo, feito de estereótipos e de frases populistas. Por isso não atinge a realidade, não convence as pessoas, não vai ao fundo do problema». Ou seja, parece que é preciso encontrar um novo estilo e método para consolidar a paz para que seja verdadeiro desenvolvimento.

Por sua vez, urge «fazer acontecer» o desenvolvimento, o que implica necessariamente uma ação e atitude participativa. Como afirmaram os Bispos moçambicanos é importante uma «nova catequese realista, mais ativa e participativa». Ou seja, os cristãos como parte integrante deste processo terão de ser verdadeiramente «sal da terra» e «luz do mundo» (Mt 5,13-14).

 
A paz que desafia

O papel da Igreja em todo o processo para a obtenção da paz foi determinante e peculiar. Esta é uma bandeira conquistada que trouxe prestígio e credibilidade, um crescimento e estabilidade da prática religiosa, inclusive a possibilidade de criar instituições próprias nos vários campos da educação, da saúde e na formação dos seus agentes de pastoral.

Porém, se durante o tempo da luta armada os cristãos perseguidos manifestaram grande coragem e firmeza de fé, já o mesmo parece que não se verifica neste atual tempo de paz. Na verdade, a voz profética da Igreja e dos Missionários, segundo o parecer de alguns membros mais críticos, parece ter resfriado um pouco.

Logo que a paz chegou, a Igreja Católica empenhou-se em recuperar os seus bens perdidos do tempo marxista. De imediato se dedicou a construir e reconstruir seminários e casas de formação, a voltar-se mais sobre si mesma. Neste sentido, a liberdade religiosa parece ter sacrificado o espírito de denúncia profética e o verdadeiro sentido de ser e fazer missão. Por sua vez, este silêncio da Igreja consentiu o desabrochar da corrupção exagerada aos mais altos níveis, uma corrida fácil e generalizada ao poderio e riqueza individual, entre outras coisas que se verificam na atualidade.

Deste modo, grandes desafios se apresentam a toda a Igreja em Moçambique: presença crítica onde proliferam as multinacionais, participação no meio do povo e ao serviço dos mais pobres, empenho contra todas as formas de pobreza, luta por um futuro sustentável, promoção da reconciliação, justiça e paz, capacitação dos agentes pastorais, entre outros elementos de referência.

 
Espiritanos em tempo de paz

Com a instauração da paz nacional muitas Congregações Religiosas e Missionárias entraram e se instalaram em Moçambique. Por exemplo, na nossa Diocese de Nacala no início da década de 90 existiam 5 Institutos Religiosos, hoje ultrapassam as duas dezenas.  O mesmo se verifica a nível nacional onde já atingimos o total de 116 Institutos de Vida Consagrada. Por sua vez, Moçambique é também o país onde se encontra o maior número de voluntários missionários portugueses.

Nós, Missionários Espiritanos, somos parte integrante deste tempo novo. Iniciamos a nossa presença missionária em Moçambique a 29 de Novembro de 1996, em pleno tempo de construção da paz moçambicana. Apanhamos o germinar e desenvolver da árvore frondosa que não cessa de crescer neste jardim cultural de Moçambique.

O nosso compromisso missionário onde nos encontramos pretende ser um sinal vivo e eficaz da construção da verdadeira paz que encontra em Jesus o modelo mais sublime. Não temos outro projeto a não ser o das Bem-aventuranças, «dos pacíficos que serão chamados filhos de Deus» (Mt 5,9), onde os mais pobres são escutados e onde tentamos colmatar a dificuldade pela falta de obreiros do Evangelho.

A exigência e o rigor da missão que assumimos com este povo são grandes e desafiantes. Dificuldades não faltam, como também é grande a confiança e o apoio recebido. Por isso, resta expressar um sentimento de imensa gratidão por tantos sinais de verdadeira comunhão missionária e continuar a acreditar que a paz gera transformação.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...