Estes tempos e em
particular esta semana, muito se vai falando e também vivendo e que, direta ou
indiretamente, nos conduz à festa da Páscoa, que temos vindo a preparar há já
algum tempo. Várias são as perspetivas a respeito desta grande festa (umas mais
católicas do que outras), por parte de pessoas religiosas e não só. Este
artigo, pretende apresentar uma pequena e simples reflexão sobre a Páscoa.
Começo por manifestar a
minha admiração pela caminhada que fizeram os primeiros discípulos de Jesus. É
lindo ver a disponibilidade destes homens, que na margem do lago da Galileia ou
no posto de cobrança de impostos, deixaram tudo para se abandonar nos braços
deste cativante desconhecido, sem fazer ideia do porto onde isso os conduziria.
Assim nasceu uma multidão de discípulos de Jesus, até aos dias de hoje.
Contudo, neste momento,
ocorre-me falar sobre uma etapa particular da sua caminhada com o Mestre: a
paixão, morte e ressurreição de Jesus. Imagino o quão difícil de entender foi
aquele momento em que todos eles se apercebem que Aquele por quem tudo deixaram
e se confiaram, arriscando tudo, está preso, humilhado, escarnecido e, pior
ainda, na eminência de ser condenado à morte (e uma morte infame). Sim! Isto é
escandaloso! O que teria passado pelas suas cabeças, naquelas horas? Muitas
vezes, apontamos o dedo e os condenamos (se calhar injustamente) por causa da
sua falta de coragem, pois todos fugiram e se dispersaram; dois deles ainda o
seguiram, mas um o negou por três vezes numa mesma noite. Se calhar eu também
teria feito o mesmo.
Nesta situação em que
cada um (a começar pelo próprio Cristo) é colocado diante da miséria e da
fragilidade humana, o fim se apresenta como uma realidade eminente. Parece que
tudo acabou, mas há uma réstia de esperança. Um discípulo vai até ao fim e está
presente com o seu mestre no instante derradeiro. Aqueles que se tinham dispersado
se juntam de novo, embora fechados e amedrontados (pudera!? Depois de tudo o
que tinham visto acontecer com o Mestre…), como se ainda esperassem qualquer
coisa: pois é, a esperança não desapareceu completamente. Tudo muda quando umas
mulheres (sempre as mulheres) vêm dar um novo alento a esta esperança. Elas
tiveram a coragem de ir ao sepulcro e por isso viram que além da morte e
sepultura do Mestre algo aconteceu, mesmo se não conseguem perceber bem o que
foi. A sua surpresa diante da realidade da ressurreição não deve ter sido menos
que a que tinha experienciado na paixão e morte de Cristo! É assim que tudo (re)começa.
A nossa vida é um constante
recomeço e estamos continuamente a experimentar a morte e a ressurreição. Na
maior parte das vezes nem nos apercebemos que isso acontece, mas em cada
escolha e em cada opção é uma parte de mim que morre para dar lugar a uma nova
etapa. Diante de cada obstáculo e dificuldade experimentamos a morte pois nos
encontramos face-a-face com a miséria e impotência do ser humano. Sempre que
conseguimos vencer os obstáculos e avançamos na vida dá-se a ressurreição na
nossa vida. É deste modo que o madeiro da cruz se torna árvore da vida para
cada um de nós.
Eu me pergunto se esta
Páscoa vai ser para mim mais uma Páscoa, simplesmente, ou vai ser uma
ressurreição, no verdadeiro sentido desta palavra. Na nossa missão de Itoculo,
o tempo da Páscoa é o momento de batismos de jovens e adultos. O que nós
exortamos nestas ocasiões é que cada pessoa procure fazer esta experiência de
se mergulhar com Cristo na morte para tomar parte com Ele na ressurreição. Essa
não é uma exortação só para os que serão batizados, mas todos nós temos na
nossa vida coisas ou experiências que precisamos de deixar morrer – egoísmos,
ódios, inimizades, intolerância, vinganças, prepotência – e outras que
precisamos de fazer crescer ou de ressuscitar, como o amor ao próximo, a
tolerância, a paciência, a fidelidade, o perdão e muito mais.
Termino fazendo
referência a uma estrofe de um dos hinos da liturgia das horas do tempo pascal:
«Não há ressurreição sem haver morte, nem triunfo se não houver batalha:
saibamos nós morrer em cada dia e ser o homem novo».
Uma feliz e santa
Páscoa a todos e que Cristo ressuscitado opere muitas maravilhas na vida de
cada um de nós.
2 comentários:
Obrigado, ao Edy, pela sua interptretação do mistério pascal.
De nada... Espero que esta reflexão contribua para melhor vivermos em cada dia o mistério da nossa redenção
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