Homilia do Domingo de Páscoa em Itoculo
Este
ano a celebração da Páscoa é diferente.
Todos
sabemos porquê.
Mas
todos os anos a Páscoa é diferente, não se repete.
Não
há repetição em cada Páscoa,
ela
é sempre nova e traz novidade, é um memorial sempre atual,
é
a alegria da ressurreição sempre nova cada ano.
Também
já todos sabemos disso.
Mas
a nossa Páscoa em Itoculo ia ser MAIS diferente.
Não
só pela nova organização paroquial de 2020
que
ia trocar alguns caminhos de sempre,
ou
talvez seria apenas apanhar outros caminhos,
mas
também porque há novas caras, entre nós aqui, para lá chegar.
A
nova região de Monetaca ia possibilitar mais um centro
de
distribuição da Sagrada Eucaristia para as comunidades,
mais
um polo de irradiação onde Cristo Ressuscitado
iria
brilhar na grande Noite da Vigília Pascal em cada comunidade.
A
nova zona da Senhora da Graça
também
ficaria mais agraciada com a luz pascal de Cristo Ressuscitado
percorrendo
os caminhos de Napepele e Muhikinikini
até
ao centro da localidade de Murruto.
Os
irmãos da zona de Cristo-Rei
vendo
diminuídas as suas comunidades
teriam
de comparecer em maior número para não sentir tal mudança,
e
manifestar que, de facto, Cristo é Rei na zona de Cristo-Rei.
Na
zona de Hamade a presença real de Cristo na Sagrada Eucaristia
seria
certamente um alívio e alento para a luta contra a cólera
que
mata famílias e deixa casas vazias, como acontece em Muacotaia,
onde
parece haver menos preocupação com esta velha doença
do
que com esse novo mal do coronavírus, que mata muito e longe,
mas
aqui ao perto parece que ninguém faz nada com a velha doença.
Os
irmãos da zona de Thamela não estariam tão distantes e isolados
mas
iriam sentir-se mais próximos, mais em comunhão,
não
só pelas visitas dominicais dos animadores regionais,
mas
também pela própria celebração pascal que congrega os irmãos
que
suaviza as distâncias e aproxima os corações.
Em
Namatite o fogo da noite pascal iria acender com forte vigor,
como
já aconteceu em anos passados.
A
escuridão da noite iria contrastar com o lume novo.
Cristo
vivo e ressuscitado seria a luz de cada cristão-novo.
Os
irmãos da zona de Naiopa prolongariam o canto
da
entrada triunfal do Domingo de Ramos até ao mês de Junho.
Certamente
que a alegria da Páscoa nãos lhes faltaria
como
já começa a faltar a água de cada dia.
Em
Mavule, como em todas as comunidades, a intercessão dos santos:
São
Martinho, Apóstolo São Bartolomeu,
Santa
Teresinha do Menino Jesus, Nossa senhora do Rosário…
seriam
uma invocação de proteção e animação da fé,
porque
neles se encontra um verdeiro exemplo de discípulo fiel.
Na
zona de Namahite, e arredores,
o
canto do Aleluia Pascal iria abafar o boato difamador,
a
suspeita e o medo, a acusação e o engano dos «comprimidos da cólera»…
E
Jesus Cristo ressuscitado tornar-se-ia a causa maior para falar e seguir.
Os
irmãos de Reno estariam todos reunidos na noite Santa,
uma
noite de luar, mas à volta do mesmo fogo,
também
pedindo a chuva para as plantas da machamba
para
assim conseguir uma produção agrícola que este ano está sofrida.
Em
Carracane o domingo de Páscoa seria abençoado com os
Sacramentos
do Batismo, Eucaristia, Confirmação, Confissão e Matrimónio.
Seria
um grande dia mas que hoje se celebra de maneira diferente
nesta
nova sede de zona paroquial onde está o Centro de Monetaca
à
espera de algo novo que possa acontecer.
Em
Santa Madalena, de Pajó a São Miguel, chegando até Namina e Namakete
Os
irmãos iriam ter uma Pascoa sem catecúmenos,
também
esta seria diferente dos outros anos.
Os
irmãos da zona de Nicane,
espalhados
ao longo do caminho da feira dominical até Filipi,
sempre
tentados a trocar o essencial pelo secundário,
iriam
anunciar aos viajantes: Cristo Ressuscitou! Aleluia!
Em
Ramiane, por entre os extensos campos de sisal,
rodando
por Mwatikiti até Mueri e Congo,
a
força dos irmãos reunidos cantando ao ritmo do batuque,
com
Cristo ao centro e em primeiro lugar,
a
Páscoa seria verdadeiramente festa universal.
Na
zona de Mueravale, no corredor da estrada alcatroada,
muitas
famílias estariam em grande festa pelo dom do Sacramento matrimonial,
novos
lares seriam abençoados com a graça de Cristo ressuscitado.
Os
irmãos da zona de Namiro estariam animados e esperançados.
Depois
de ficarem mais reduzidos pela saída da comunidade de Filipi,
teriam
um novo alento com os irmãos de São Francisco de Nawawane.
A
esperança continuará forte para eles.
Aqui
em Namalima, na comunidade da sede paroquial, São José,
ficamos
reduzidos a pouco mais de uma dúzia,
nós
aqui que fazemos parte da Equipa Missionária.
Os
nossos irmãos, aqui ao lado, a rezar em casa e a igreja vazia,
que
espanto, que dor, que privação, que sentimento estranho…
Aqui
em Itoculo a nossa Páscoa ia ser MAIS diferente!
Talvez
não! Talvez a Páscoa fosse a mesma…
Mas
nós é que ficamos MAIS diferentes.
Diferentes,
não porque ficamos privados do encontro e do convívio,
da
proximidade e do aperto de mão sincero,
mas
diferentes porque Cristo ressuscitou verdadeiramente em nós.
E
isso é novo cada ano, para nos dar um novo olhar,
um
novo sentir, um novo pensar e um novo agir.
Cristo
ressuscitou, venceu a morte! Ele vive, é o Senhor!
O
nosso Deus está vivo e quer de nós pessoas vivas
com
essa vida que faz vencer todas as formas de morte
social
e pessoal, física e psicológica, presente e futura…
O
nosso Deus está vivo! Aleluia!
Ele
ressuscitou! Aleluia!
Isto
nos basta saber para encontrar nova forma de viver.
Sim,
a nossa Páscoa este ano é MAIS diferente
porque
nós também somos e estamos MAIS diferentes,
mas
principalmente porque nós nos deixamos encontrar
por
Cristo ressuscitado nesta manhã da Ressurreição.
Amém.
Aleluia!