Numa partilha à mesa sobre a situação da rápida propagação
do Covid19, o meu colega fez uma observação muito pertinente, diz ele: “Engraçado,
os ateus não acreditam em Deus, (...) mas no Covid19 sim!". Pus-me a
pensar (algo que gosto de fazer)... um ateu diz não a Deus e uma das razões
talvez seja por Deus ser invisível; um cético duvida de tudo, se Deus existe,
se Ele é tão bom e misericordioso, por que é que não elimina o Covid19?; ora, um
cristão, não só aceita a existência de Deus, como lhe atribui toda criação, dos
visíveis aos invisíveis. Posto isto, só faltava culpar os cristãos como
responsáveis pela pandemia, se calhar portaram-se mal e foram castigados, e
todos devemos juntamente com eles sofrer o castigo... Ainda bem que o Covid19
não é um castigo de Deus. Hoje todos acreditam na força e no poder do
invisível!
Falar do Covid19 e de Deus é falar da guerra dos
invisíveis. Um tira a vida, o outro dá a vida. O Covid19 é
"invisível" a olho nu, e Deus também é invisível, mesmo a “olho
vestido”. E, simultaneamente, Ele é tão visível, ao ponto de as objetivas do
microscópio recusarem capitá-Lo. Para começar, parece-me, e espero estar
enganado, que Deus não pode fazer muito por nós se não acreditamos Nele. Esta
pandemia Covid19 tem produzido um efeito estranho nos donos da casa, isto é,
fazer com que eles limpem o pó do nome de Deus.
O grande mestre revolucionário Emanuel (não o francês,
Emanuel Macron), popularmente conhecido por Jesus Cristo, usava sempre uma
expressão no fim de cada obra que ele realizava, que hoje nos deixa confusos:
"A tua fé te salvou!” Será que a nossa fé pode salvar-nos desta pandemia, Covid19?!
Este mesmo mestre, Jesus Cristo, num belo dia, desiludido com a crença dos seus
discípulos, que não conseguiram expulsar o demónio de um jovem epilético, repreendia-os
assim: "Em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda,
direis a este monte: 'muda-te daqui para acolá', e ele há de mudar-se; e nada
vos será impossível"(cf. Mt 17, 20). Se tivéssemos um grãozinho de fé,
acredito que hoje estaríamos livres da pandemia. Por causa de uma fé
<demasiado grande> (diria Tomás Halík), já se começa a ver Deus nesta
pandemia do Coronavírus. Por favor, não metam Deus onde não é o Seu lugar!
Convém sermos obedientes "e não invocar o Santo nome de Deus em vão".
No livro, A noite do
confessor, de Tomás Halík, somos chamados a atenção do perigo de termos uma
fé demasiado grande: "Por vezes, a «pouca fé» pode conter mais vida e
confiança do que a «grande fé». Será que não podemos aplicar à fé aquilo que
Jesus disse na parábola acerca da semente, que tem de morrer a fim de produzir
grandes benefícios, porque desapareceria e não prestaria para nada se
permanecesse imutável?" O grande risco dos cristãos é que isto de pandemia
pode converter-se num panteísmo. Já se vê Deus nos médicos, enfermeiros, etc… Certo…
Logo vai-se ver Deus nos ventiladores, nas vacinas, nas ambulâncias, nas camas,
porque não?! E não me admirava nada que alguém me dissesse que o próprio Deus,
por não obedecer as autoridades, saiu de casa e andou vagueando em todos os
lados, foi infetado pelo novo coronavírus, mau!
Pistolas sem balas, cristãos sem fé; logo, Deus fica
desarmado. E eis que o inimigo está a dominar tudo. Terá que vir o Gabriel e
companhia de novo para acordar todos os Josés do sono e interromper a leitura
de todas as Marias para lhes dizer que são a arma de Deus e que devem agir como
tal. Mas vejo que o Gabriel está atrasado… mau! Uma das hipóteses que tenta justificar
este atraso é o ensaio do coro dos anjos. Como o Gabriel é o organista mor,
deve estar à espera do Miguel e ambos estão indecisos e com algumas
dificuldades em descobrir se pertencem à naipe dos tenores, contraltos, sopranos
ou barítonos. Enfim, coitados, percebem mais de "travar batalhas"
contra o demónio do que cantar a vozes... mas ele virá! Paciência nesta
quarentena por causa do atraso do Gabriel... ou talvez ele já tenha vindo e tenha
sido ignorado! Aí a quarentena vai demorar mais um bocadinho, até que venha o
mestre, que, como já está velhinho, demora mais tempo no caminho! Vale-nos a
milícia celeste nesta luta contra o inimigo Covid19!
O Papa Francisco é, realmente, um homem de fé e humildade.
Acredito que ele não age por iniciativa própria, mas, pela ação do Espírito
Santo. Prova disso, foi o pedido da oração do Pai-nosso que ele fez a todos os
cristãos. Perante esta calamidade, ele podia estar todos os dias a produzir
orações, a gravar vídeos, etc. Mas, simplesmente, pede para rezar a oração do Pai-nosso,
que é a oração de Jesus, que, para afiliação daqueles que não sabiam rezar,
ensinou-os a rezar. A oração do Pai-nosso é a oração dos pobres, dos simples,
dos humildes, dos fracos, dos menos intelectuais. E, nesta quarentena, basta a
oração do Pai-nosso, mais nada. Estávamos a ver e a acompanhar que tudo que é
feito pelo homem, pela sua iniciativa própria, corre mal; Coronavírus é um
deles. É inútil andarmos a montar as palavras em forma de orações pedindo a
proteção de Deus. Só o Pai-nosso nos basta quando é rezado com uma fé pequenina,
igual a um grão de mostarda.
Abraço
fraterno do vosso amigo eleito!
GDB, Pistolas sem
balas, Deus desarmado, in pro-missão VIII; 26.03.20
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