6 de abril de 2020

"Entrada messiânica, benção Urbi et Orbi"



Do nada Este aparece caminhando sozinho nas ruas, muito debilitado, pois, por razões de quarentena obrigatória, nem o jumento escapou; o Outro, acompanhado por uma dúzia de pessoas e por causa do cansaço, veio montado num jumento emprestado (um rei que nem um jumento tem, ao menos para constar no testamento); para Este não estava ninguém no local à espera, a não ser umas dezenas de câmaras e o silêncio, representando milhões; para o Outro estavam umas centenas de pessoas à espera, com ramos e cânticos: "hossana Ó Filho de David"; Este beijou a cruz e rezou (alguém já o tinha feito antes); o Outro lavou os pés, rezou, bebeu do cálice, e embriagado, carregou a cruz; Este, provavelmente, vai ser preso por desacato das ordens das autoridades, pois, quarentena obrigatória é para todos, mas Ele esteve a andar pelas ruas; o Outro foi preso, julgado e condenado; Este deu a bênção Urbi et Orbi; o Outro morreu, dando a vida Urbi et Orbi. Ora, o Espírito Santo está muito mais perto de nós do que imaginamos. Mas....

O mundo anda virado ao avesso, ninguém percebe e consegue explicar esta confusão toda e também constato que a crença das pessoas, num período crucial da história, também anda completamente baralhada. Uma das razões é quando estás em casa a verificar a carteira e a recheias de notas para ir a mais uma sessão de cura do pastor, e vês os teus amigos da assembleia partilhando na tua página uma informação que diz que o pastor suspendeu a sessão de cura por causa de uma doença que, infelizmente, não tem cura e que ele ainda não descobriu a reza que cure a tal doença. E grito: “Pastor, precisamos de ti para nos livrares desta doença” e o pastor diz “Eu não sou Deus; se queres a cura, fica em casa, mas mantém-te ligado à TV e à NET para acompanhar todas as atualidades”. Continuo, insistindo: "Mas nós pagamos-te pelas curas", mas o pastor realça: “O dinheiro não é mais importante do que a vida, meu servo fiel, portanto, fica em casa, guarda o teu dinheiro e acompanha as atualidades pela NET ou TV". Pois, as atualidades... Vejamos as atualidades.

 De Roma vem o pedido do Supremo Pastor, marcando uma data e hora, para a oração do Pai-nosso em comunhão com toda a igreja católica e os seus fiéis, especialmente pelas vítimas do grande inimigo invisível que anda vagueando pelo mundo. Mas será que, das inúmeras vezes, em que rezei o Pai-nosso fui egoísta? Não era em comunhão com todos os fiéis católicos da igreja?
De Roma vem também a "bênção urbi et Orbi" do Supremo Pastor e a situação de pânico agravou-se. Mau! A intenção do Pastor era de acalmar o pânico dos seus fiéis, seguidores, amigos, simpatizantes, etc. Sei que milhões tiveram a preocupação de acompanhar pela NET e pela TV; confesso que eu esqueci desta "cena" que o Pastor pediu, espero que não agrave o meu cadastro com S. Pedro.
Mas agravou o pânico porquê?
Simples! Vou explicar. Em primeiro lugar, estava a falar com alguém que me disse que esteve a acompanhar a "bênção urbi et orbi" e que foi uma grande seca, e, pela voz da pessoa, percebi o desespero e a dimensão da desilusão. Claro, nunca vais encontrar Deus na televisão, muito menos, os pedidos que Lhe fazes vão ser transmitidos em direto. O lugar de Deus é o teu coração, só aí, palpando o silêncio, podes conectar e comunicar com Ele em direto. Esta não é a primeira, não é a segunda e nem a terceira "benção urbi et orbi" que o Supremo Pastor já deu, enquanto aquece a cátedra de S. Pedro. Ah! Mas este é especial. Especial? Que tem este de especial? A indulgência plenária e a intenção pelo fim da pandemia Coronavirus. Oh! Desde há muito que nós andamos em pandemia, não sabias!? Acorda... Sem dúvida, esta bênção talvez tenha tido mais impacto, mais visualizações, porque, ao fim e ao cabo, ninguém quer morrer e o medo de morrer cedo, sem realizar os sonhos, as vontades, o desejo do fim da pandemia para retomar a vida normal, obriga as pessoas a invocar Deus, a rezar a Deus, por desespero. Nada mal, mas não é de livre e espontânea vontade, não é com o coração, não é com a alma, até porque, passando a pandemia, muitos dos que hoje estão fervorosos na fé vão fechar Deus no cacifo, e isto faz toda a diferença. Mas percebe-se, estamos numa situação em que a fé é comunicada mais no real virtual e digital. O problema que isso vai trazer, e acredito que ainda não estamos conscientes disso, são as versões da fé que venham a surgir, porque sabemos que, no real virtual, a cada dia temos novas versões que nos obrigam a atualizar mesmo que estejamos conformados com a nossa versão herdada de Abraão. E isto pode levar a fé ao esgotamento, ainda mais numa realidade em que o sistema é instável, vai sempre abaixo. Deus não precisa de microfones, de megafones, de equipamentos radiofónicos para comunicar connosco; "Fala, Senhor, que o teu servo escuta"(1 Sm 3, 9); Deus precisa é de falar mais no coração de cada um. Este barulho dos media nesta pandemia tem só atrapalhado a obra de Deus no meio de toda esta bagunça. O pensador Jesus Cristo dizia, em Mt 6, 6: "Tu, porém, quando partes, entra no teu quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu pai, pois ele, que vê o oculto, há de recompensar-te". O isolamento e o silêncio têm uma preciosa ajuda para combater este inimigo invisível. Mas o barulho que andamos a fazer e o caos que temos provocado, através dos media, não ajuda em nada.

Segundo, é que, como faço parte do mundo (penso eu), se calhar alguém roubou a minha bênção e, por isso, estou em pânico; vou ficar privado das Graças que esta bênção contém, porque acho que a bênção não chegou a mim. E a propósito disso já começo a questionar-me a mim mesmo se tenho fé ou não. E acho que muitos, neste momento, já começam a questionar-se e, no mais extremo, a abandonar a fé. O abandono da fé é uma das possíveis consequências desta passagem do Covid19. Embora, o otimismo nos leve a crer que o Covid19 vai recuperar a pedra angular, porém, rejeitada para a construção de muitas vidas que, com o tempo, os agentes erosivos destruíram. Portanto, estou baralhado.

Em terceiro lugar, o mundo, neste caso, os crentes, os cristãos, esperam pelo milagre; valia-nos mais uma aparição de Nossa Senhora. Mas será que é desta que vamos registar mais uma teofania na história? Não sei. Mas sei que o milagre que tanto se espera é que cada um se volte para si mesmo, bata à porta do seu coração até ela se abrir, entrar, reconciliar-se e fazer tudo de novo. Haverá milagre maior do que este? Duvido! Contudo, os cristãos dos novos tempos, sim; mas cristãos de modas, não.

Abraço fraterno do vosso amigo eleito
GDB, bênção urbi et orbi, 28.03.20 
#rumoaumcristianismomaisautêntico#

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