31 de outubro de 2017

VIDAS MISSIONÁRIAS

Ao terminar o Mês Missionário (Outubro), onde fizemos as nossas reflexões centradas nos temas da oração, sacrifício, partilha e vocação, queremos concluir com aquilo que marcou este mês na Missão de Itoculo. Trata-se, essencialmente, da chegada e partida de pessoal missionário.


O início do mês ficou marcado pelo envio missionário da Ir. Argentina Alfredo para o Haiti (América Central). Foi o primeiro envio missionário que aconteceu nesta paróquia-missão. Uma celebração simples em Itoculo-sede marcou este envio para fora de Itoculo-paróquia, para fora de Nacala-diocese, para fora de Moçambique-país, e até para fora de África-continente. Desejamos que esta irmã jovem possa viver aí uma excelente missão junto dos irmãos haitianos.

A meio deste mês missionário chegaram dois reforços à missão de Itoculo. Primeiramente o jovem estagiário Gilberto Borges, seminarista espiritano de Cabo Verde que vem experienciar no concreto a vida missionária, ainda que com tempo determinado devido à sua etapa de formação. Poucos dias depois chegou também a Ir. Paula Caluvi, espiritana de Angola. Depois de ter passado por Cabo Verde e pela Guiné Bissau, onde esteve nove anos como missionária, vem agora dar a sua contribuição na Missão de Itoculo. São dois reforços marcados pela descoberta e a expectativa de quem inicia este tipo de vida, e também pela experiência sólida e serena de quem já percorreu os caminhos da missão. Aos dois desejamos as boas-vindas e boa integração missionária nesta Igreja particular de Nacala.

Agora que termina o mês de Outubro, a nossa equipa missionária despede-se do jovem estagiário espiritano Alexandre Gomes que vai regressar à sua terra de Cabo Verde. Daí irá prosseguir a sua caminhada vocacional e consagrada como jovem espiritano. Foi apenas um ano de presença e acção em Itoculo, mas ficou bem marcado pelo apoio que deu ao Lar de estudantes Beato Daniel Brottier, à formação dos jovens estudantes em preparação para o Crisma, à assistência e formação do ministério da Justiça e Paz nas três regiões da paróquia, ao apoio junto das escolas comunitárias, ao serviço de secretaria e cartório da paróquia, etc... Muito obrigado pelo serviço prestado, pela presença discreta, pela comunhão missionária e amiga. Desejamos continuação de uma boa caminhada e aqui esperamos de volta como padre missionário.

Enfim, estamos numa missão e assim mesmo vivemos este mês missionário. Outras coisas bonitas, muitas e boas, marcaram o ritmo das nossas vidas em Itoculo. Não conseguimos dizer tudo, mas estas são aquelas coisas que quisemos partilhar. Viva a missão. Estamos juntos.

25 de outubro de 2017

Vocação Missionária

VOCAÇÃO MISSIONÁRIA
A principal missão da Igreja (a Igreja entende-se como comunidade de todos os crentes e não tanto como estrutura ou hierarquia) é para ser o sacramento universal da salvação. A Igreja tem obrigação de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo a toda gente para que Deus seja tudo em todos. Devido à sua missão, a Igreja por sua natureza é missionária. Mas quem é a Igreja? Se Igreja designa o povo de Deus, então, pela graça de Deus e pelo dom precioso do nosso baptismo somos missionários. Assim, identidade fundamental de cada baptizado é pertencer a Cristo e sentir-se empenhado a testemunhar o Reino de Deus anunciando-o com a palavra e com os gestos concretos. Pelo baptismo, recebemos a vocação para participar na tríplice missão de Cristo: profeta, sacerdote e rei. Jesus Cristo é o enviado, o missionário por excelência, e todos nós baptizados somos convidados a ser missionários e partilhar a sua missão na comunhão de sua Igreja. Ser cristão é simplesmente estar em missão.

A palavra vocação implica um acto de chamamento. Quem chama e capacita para missão é Deus. Ao Homen como destinatário cabe apenas responder SIM ou NÃO a esta inciativa de Deus. Assim, a vocação missionária não é um chamamento sem opção mas é simultaneamente chamamento e opção. Não é uma espécie de toque mágico que alguns tiveram privilégio de ter nem é para os bons. A vocação missionária é um dom de Deus é a nossa entrega; é uma experiência de amor e fruto de um diálogo. A nossa decisão de assumir o nosso compromisso baptismal para ser colaboradores na missão de Cristo significa não viver em autogestão, por conta própria, mas como embaixadores, como apóstolos de Cristo. Assim, ser missionário, de nome e de facto, exige fidelidade a Deus, que nos chama e nos envia em missão para os mais diversos campos.

Infelizmente, muitos cristãos ainda pensam que os missionários são só os padres, consagrados e consagradas que deixam os seus países de origem ou terra natal para realizar uma missão. Cada cristão na sua maneira e modo de viver é chamado a dar continuidade ao trabalho salvífico de Cristo. Dentro da Igreja existem maneiras diferentes e específicas de colaborar na missão de Cristo. Enquanto alguns são chamados a viver a vida Consagrada ou Laical, outros no sacramento de Matrimónio ou de Ordem. Em qualquer situação que vivemos, nas famílias, com amigos ou na profissão que praticamos devemos sempre ser guiados e motivados pelo amor a Deus e amor pela humanidade. Um verdadeiro missionário vive com paixão pelo Deus que se manifesta na paixão pela humanidade, sobretudo os pobres, os doentes, os pecadores, os marginalizados e todos que sofrem injustiça. Viver a missão sem manifestação concreta do amor a Deus e ao próximo é impensável.

Ao aceitar o desafio de assumir o compromisso da nossa vocação baptismal, aceitamos também as consequências da nossa escolha. Nos textos bíblicos, sublinhamos três atitudes fundamentais dos que foram chamados a realizar missões específicas: a) “Deixar” uma situação ou partir (atitude de partir não deve ser vista só como movimento geográfico, mas também espiritual), b) “Assumir” uma missão e c) “Viver” uma aliança ou compromisso. Missão exige uma caminhada ou saída de nós mesmo ao encontro com Deus, a fonte da nossa missão. O missionário deve acreditar em Jesus Cristo, ter intimidade com a sua palavra, interiorizar e transformar a palavra em actos concretos e evangelizar a partir dessa palavra. Um cristão que não vive a cumprir a sua missão, vive em demissão. Assim, o nosso compromisso precisa de uma
renovação constante e permanente.

O mês missionário e a celebração do Dia Mundial das Missões no penúltimo domingo de outubro recordam-nos que temos que ser missionários de Cristo onde vivemos e no que fazemos. A força para permanecer e cumprir a missão vem de Deus, mas exige a nossa colaboração. Perante a humanidade que grita pela liberdade, justiça, paz, felicidade, igualdade, ambiente saudável etc, não podemos ser indiferentes e apáticos. O mundo precisa os nossos serviços e generosidades. Com a esperança e alegria no coração, vamos, cada um na sua maneira ser autênticos missionários e agentes das mudanças que queremos ver no mundo. O mundo espera-nos.  
 Vin

20 de outubro de 2017

Água é vida

Este fim-de-semana é o dia mundial das missões e decidimos escolhê-lo como mote para o nosso novo projeto: “Água é vida”. 

Quanto tempo tens de andar para ter acesso a água? Aqui na zona de Thamela em Itoculo, as famílias têm de andar em média2/3h para ter acesso a uma fonte de água potável. Consegues imaginar a tua vida sem água?! Este projeto tem como objetivo aproximar das pessoas um bem tão essencial como a água. 

Como é que podes ajudar?


Lá tem toda a informação que precisas, assim como um vídeo que melhor explica o nosso projeto. 
Um projeto de crowdfunding tem várias vantagens, podes fazer um donativo de qualquer valor a partir de 1€ e se o projeto não conseguir atingir 100% de financiamento o dinheiro é devolvido aos apoiantes. 

Estamos a contar com o teu donativo e com a tua partilha do projeto.

Não esperes pelo Natal para ajudar quem mais precisa.

Muito Obrigada!

17 de outubro de 2017

A PARTILHA DO MISSIONÁRIO

O missionário, pelo dom da sua vida aos outros, é chamado a viver uma profunda e contínua experiência de partilha: ele partilha a vida, a fé, o pão, a fome, a voz, os limites e fraquezas… tudo o que ele possui e o seu próprio ser é um dom de Deus e deve ser dom para os outros. A vida é um constante dar e receber, que a todos enriquece.
Quando se fala de partilha a tentação é, inevitavelmente, pensar em coisas materiais. Contudo, esta semana do mês das missões nos convida a explorar outros horizontes de partilha onde cada um tem algo para dar e para receber. O missionário é chamado a partilhar a sua vida com os irmãos, a sua voz com aqueles que não têm voz nem vez na sociedade, o seu rosto com os anónimos da nossa civilização, o sorriso com os que estão tristes, o pão com os que têm fome e são vítimas da pobreza; mas também ele partilha o sofrimento e a dor dos que sofrem, a impotência dos que não podem resolver todos os problemas e desafios que a vida e a sociedade apresentam. Dito de outra forma, o missionário partilha a sua presença no meio do povo onde ele é enviado, independentemente das circunstâncias ou do mérito individual.
O mês de Outubro nos convida, cada ano a fazer a festa da missão, da proximidade e da comunhão. Porém, como fazer a festa sem ter em conta o irmão que sofre e chora ao meu lado? Como permanecer indiferente face à luta dos irmãos que procuram justiça e respeito pelos seus direitos e pela sua dignidade? Como ser missionário sem partilhar estas circunstâncias que nos circundam no dia-a-dia? O missionário tem que ter olhos e braços abertos para acolher estas situações e estes irmãos. Mas ter as mãos abertas não é suficiente para definir o missionário, pois a missão não limita em dar coisas materiais. O que constitui o ADN de um missionário é ter um coração aberto onde os mais humildes, fracos e abandonados podem encontrar um refúgio, um abrigo e aceitação. Um coração aberto, inevitavelmente, faz abrir as mãos para assistir o irmão e dar duas moedas ao estalajadeiro para cuidar dele e dizer: o que gastares a mais pagar-te-ei quando eu regressar (cf. Luc 10,35). 
Ser missionário é um estilo de vida: por isso, o coração do missionário deve inclinar-se naturalmente para o outro, obrigando as mãos a proporcionar a assistência necessária e ajudar a aliviar o seu sofrimento. Partilha material qualquer pessoa pode fazer, mas a grande diferença está na atitude, ou seja, partilhar por (e com) amor. Qualquer dom (independentemente do tamanho ou do valor monetário) que não tenha saído do fundo do coração perde o seu sentido e valor missionário. Ainda que nem todos o façam, ser missionário ou ter um coração missionário está ao alcance de todos e cada um está convidado a sê-lo no dia-a-dia sem ter que sair para muito longe de casa. Contudo, não podemos esquecer os irmãos que estão mais longe e que somos chamados a nos fazer próximos, eliminando as barreiras que nos faz sentir estranho ou inimigo diante do outro.

A pergunta «quem é o meu próximo?» não pode ser calada no agir de qualquer cristão, nem a nossa responsabilidade pelo irmão pode ser condicionada pela distância geográfica, principalmente nos nossos dias em que o mundo está cada vez mais globalizado. Este mês missionário é para todos nós uma oportunidade de reavivar o verdadeiro sentido de partilha e nos ajudar a fugir do grande perigo de transformar as oportunidades de estender a mão para o irmão necessitado em aproveitamento do outro para o nosso próprio interesse. Isto constitui um grande desrespeito pela dignidade da pessoa humana.

9 de outubro de 2017

O SACRIFÍCIO DO MISSIONÁRIO

Nesta segunda semana do mês de OUTUBRO refletimos e rezamos sobre o SACRIFÍCIO.


A vida missionária também tem a sua dimensão de sacrifício, e não se pode negar. O próprio Jesus já tinha dito aos discípulos e a toda a multidão: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la». (Marcos 8,34-35).

O seguimento de Jesus é universal e exigente, proposto e possível para todos, tendo em vista a opção pelo Reino que traz a salvação da vida presente e futura. Trata-se do caminho da cruz, de quantos aceitam descobrir o que significa ser discípulo de Jesus, entregando-se totalmente, como Ele mesmo o fez, sem qualquer tipo de masoquismo, isto é, de procurar o sofrimento pelo sofrimento. Este exemplo de vida e entrega de Jesus é também a referência principal para o missionário.

Mais do que sacrifício, a vida missionária é opção preferencial. Qualquer privação humana e material, própria da vida missionária, tem em primeiro lugar uma escolha de sentido e nível superior, próprio de uma dimensão espiritual. Quando optamos pela vida celibatária, significa que o amor de Deus e o amor aos irmãos já preencheu o nosso coração. Ou quando escolhemos o desprendimento material, significa que Deus é o nosso tesouro. De outro modo a missão seria filantropia e o sofrimento acabaria connosco.

Com isto não significa que negamos as saudades da família, dos amigos e conterrâneos, nem o conforto de um lar ou o bem-estar de outros ambientes sociais mais atraentes. O esforço por compreender uma cultura, hábitos e língua diferentes, a coragem de estar próximo de quem nos é estranho, a tentativa de reduzir as distâncias com amigos e familiares, a insegurança diante do desconhecido, o desconforto pela carência de bens essenciais, entre outras coisas, trazem um sentimento de dor, por vezes interior.

Na vida missionária esta dor encontra remédio na oração diária, feita na intimidade com Deus, e na relação pacífica com os demais. Não se trata de abafar ou ignorar o que sentimos, mas canalizar e encontrar uma forma adequada para estar em paz e com equilíbrio emocional. Significa dar primazia ao espiritual sem negar a dimensão humana e material, mas transfigurando-a para um outro plano que a fé ilumina e faz entender.

Então, o compromisso pastoral em vista de uma Igreja de comunhão e proactiva, a preocupação de empreender projetos de desenvolvimento sustentável, a vontade de virar o mundo ao avesso para defender os mais fracos, e o sentimento de impotência e incapacidade diante de muitas situações limite, são verdadeiros desafios missionários que não nos fazem desesperar, mas permanecer firmes no compromisso transformador. Deste modo, aquilo que aparece como sacrifício ganha um novo contorno de entrega e dedicação carregado esperança, paz e mudança.


Senhor Jesus, neste mês missionário,
aceita o nosso sacrifício missionário,
transforma-o em semente de paz e bem
capaz de mudar o mundo e o nosso coração. 

3 de outubro de 2017

A oração do missionário

Nesta primeira semana do Outubro Missionário deixo aqui uma partilha sobre a oração.


1. Significado da oração

Oração é falar com Deus, é esse o significado que aprendi na catequese desde quando frequentava a 3ª etapa. A sua origem etimológica é oratione, e significa invocação a Deus ou dos santos; reza; meditação que inclui prece e contemplação. Nos documentos oficiais da Igreja a oração é um meio de santificação, elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens que nos são convenientes. A oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo.

Muitos cristãos fizeram esta experiência pessoal com Deus, entre eles está Santa Teresa do Menino Jesus que nos diz que “a oração é um anelo do coração, um simples olhar para o Céu, um grito de reconhecimento e de amor, no meio da provação, como no meio da alegria.”

E para mim, a oração é ligar o meu coração com o coração de Jesus, para ter as mesmas atitudes que Ele, acolhendo o outro na humildade e na simplicidade.

2. Oração de Jesus (Lc 11, 1 - 4)

Jesus pertencia a um povo que sabia rezar. Ele mesmo rezava e ensinou os discípulos a rezar. O Evangelho de São Lucas salienta bem a oração de Jesus, sempre ligada com os momentos mais importantes da sua vida e missão. Ela era a fonte da sua atividade curativa, rezava e depois curava, rezava e depois fazia milagres, rezava e depois multiplicava. A sua vida pública era acompanhada de frequentes retiros em lugares desérticos, no cimo do monte, sozinho, de madrugada, à noite... uma oração de especial intensidade.

3. Oração como motor da missão

Assim como o motor faz o carro andar, assim o missionário precisa da oração na sua vida de cada dia. Se na vida missionária faltar a oração, certamente, que ele vai “desaguentar”. Daí a importância da oração para uma vivência missionária intensa.

Aqui na missão, em comunidade, começamos o dia com a oração de Laudes. Depois quando chegamos nas comunidades ou no centro regional para a formação cristã, a oração é o ponto de partida. A meio do dia, em comunhão com toda a Igreja, rezamos a Hora Intermédia. Ao concluir a jornada celebramos a Eucaristia com Vésperas integradas. Semanalmente temos um tempo de Adoração Eucarística no final de cada domingo. E em cada tempo litúrgico temos momentos de recolecção e retiro espiritual.

A nível da oração pessoal para mim também tenho outros momentos onde me encontro a sós com Deus, louvando, pedindo e agradecendo por todos os benefícios recebidos. Da minha oração faz parte, também, uma prece pelos meus familiares e amigos, e todos os benfeitores que estão em comunhão com a missão. Juntamente com a oração do Terço, a leitura orante da Palavra de Deus e outras devoções particulares, são para mim o dinamismo que me faz avançar.



Ó Maria, Rainha das missões, dai-nos muitos e santos missionários.



26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...