Raul Viana
3. Os tempos e contratempos sociopolíticos e religiosos
A constituição da quási-paróquia
de Itoculo A e B aconteceu durante um tempo de grande instabilidade
sociopolítica e também eclesial. Na verdade, a breve história da Igreja e da
evangelização de Itoculo ficou bem marcada pelos tempos difíceis do fim do
colonialismo, da implantação do marxismo e da guerra entre a Frelimo e Renamo.
Podemos dizer que foram vinte anos de difícil inserção missionária e sucessiva
evangelização, e ao mesmo tempo uma espécie de prova e resistência da fé
cristã.
Logo no início podemos
recordar a hostilidade do regime colonial a todos os estrangeiros,
especialmente os missionários que confrontavam e expunham as injustiças até
então cometidas. Isto levou a uma manifestação pública por parte da Igreja
através do «Imperativo de Consciência» que provocou a expulsão de alguns
missionários e do próprio Bispo D. Manuel Vieira Pinto, então nosso Bispo.
Após a independência nacional
três acontecimentos marcam este tempo: as nacionalizações das estruturas e
missões, o internamento dos missionários no Centro catequético do Anchilo e a
interdição dos missionários de visitar as comunidade por um período de três
anos. Neste tempo foi expulso o P. Sílvio Caselli pela Frelimo, um dos
missionários que percorreu as terras e comunidades de Itoculo.
Neste tempo do regime contra a
Igreja católica os missionários estavam impedidos de visitar as suas
comunidades, ou apenas faziam após obtenção de «guias de marcha». Do mesmo
modo, as comunidades ficaram privadas dos seus espaços de culto, sendo
obrigadas a celebrar debaixo do cajueiro ou da mangueira, muitas vezes fugindo
para a mata. Itoculo não foi exceção e viveu de perto este tempo de perseguição
religiosa, como relatam alguns testemunhos vivos de cristãos das nossas
comunidades.
No decorrer da guerra civil, Itoculo estava dividido entre a base de Mariri de influência da Renamo e as restantes áreas de influência da Frelimo. As narrativas do P. Gino Pastore acerca dos acontecimentos desastrosos que a população viveu nestes tempos, marcam uma página dura e trágica da história de Itoculo. Aldeias queimadas, casas assaltadas, famílias divididas, pessoas mortas, e muitos outros males que só a guerra é capaz de provocar. Tudo isto ainda está bem vivo na memória do povo e necessita ser digerido para não mais voltar a acontecer tamanha desgraça.
Consequência destas desgraças
foram as mortes de dois missionários, Ir. Teresa Paola Delle Pezze (03-01-1995)
e o Ir. Alfredo Fiorini (24-08-1992) em Mueravale, apanhados em emboscadas pelas
milícias na estrada N8. Para memória destes acontecimentos, e em união com
todos os que foram vítimas da guerra civil, a comunidade cristã construiu aqui
uma capela que hoje é a sede da zona de Mueravale, sob a proteção de Nossa
Senhora da Paz.
4. A paz desejada e a chegada dos Missionários Espiritanos
Em 1992 terminou o conflito armado e foi assinado o Acordo Geral de Paz. Poucos anos antes tinha havido a vista do Papa João Paulo II, e um nomo tempo despontava para todo o povo e a Igreja. Entretanto novas Congregações Religiosas chegam a Moçambique, entre as quais se situam também os Missionários Espiritanos (1996).
Assim, os Missionários Espiritanos
chegaram à paróquia-missão de Netia, e pouco tempo depois foi-lhes atribuído também
a parte de Itoculo B. Na verdade, ao chegarem a Moçambique eles já sabiam que
iam residir em Netia, mas que outra paróquia lhes seria atribuída. Por isso,
pouco tempo depois da sua chegada foram introduzidos na quási-paróquia de Itoculo
B. Com verdade se pode afirmar que Itoculo esteve no horizonte pastoral dos
Espiritanos desde o princípio. Deste modo, de 1997 a 2004 uma parte da quási-paróquia
(Itoculo B) ficou à responsabilidade
dos missionários espiritanos de Netia, e outra parte (Congo, correspondendo a Itoculo A) continuou a ser apoiada a
partir da Carapira pelos missionários combonianos.
Nesta nova organização,
aconteceu que nos primeiros anos da presença espiritana, o P. Alberto Tchindemba
assumiu a paroquialidade de Netia, enquanto o P. Pedro Fernandes estava mais
centrado em Itoculo. Todos residiam em Netia e, durante vários dias por semana
(no mínimo, sexta-feira, sábado e domingo), o P. Pedro garantia presença
pastoral em Itoculo sempre (ou quase sempre) acompanhado pela Ir. Maria do
Socorro Ribeiro, comboniana a viver em Netia. Sobretudo em épocas de batismos
ou sacramentos, muito trabalho foi também feito pelos P. Lawrence Nwaneri e P. Alberto
Tchindemba.
A partir de 1999, a equipa
espiritana reorganizou-se: o P. Lawrence Nwaneri foi transferido para outra
missão (Inyazónia-Chimoio) e chegou o P. Damasceno dos Reis. O trabalho começou
a ser assumido inteiramente em equipa e, a partir daqui, todos os projetos
foram concebidos e executados em conjunto. Pouco depois, os espiritanos recebem
um primeiro jovem estagiário (diocesano de Nacala - (Pilali Mwatresse de Sousa), logo
seguido de estagiários espiritanos (Tiago Barbosa de Portugal e António Luís Matias
de Angola).
Já no início de 2001, recebe também um primeiro missionário leigo,
francês (Christophe Héveline) que permaneceu na equipa três anos e desenvolveu
muito trabalho de assistência itinerante de saúde nas comunidades de Itoculo. Este
leigo mudou-se para Itoculo, quando os espiritanos deixaram Netia para ali se
instalarem. A partir daqui, a equipa missionária espiritana nunca deixou de ser
reforçada com jovens estagiários espiritanos (Nota: Saturnino Afonso (cabo-verdiano) – 2003/04; Adelino Tony Tiago (Diácono Moçambique-Pemba) –
2005; Ricardo Maia - (português) – 2006/07;
Edmilson Semedo (cabo-verdiano) – 2008/09; Elson Lopes (cabo-verdiano) – 2009/10;
Vincent Ntrie-Akbabi (ganês) –
2010/11; e Bernardino Semedo (cabo-verdiano) 2013/14.) e com leigos
missionários (Nota: Os voluntários que passaram
pela paróquia de Itoculo são: Christophe Héveline (enfermeiro - francês que veio
de Netia) - 2004); Celeste Reis (engenheira
civil - portuguesa) – 2004/05; Hugo Rodrigues (professor de português - português)
– 2005/06; Joana Pedro (engenheira do ambiente - portuguesa) – 2008/09;
Ernestina Falcão (professora de biologia - portuguesa) – 2010/11; Joana Cruz (bibliotecária
e arquivista - portuguesa) – 2012. Clemence Vaillant (enfermeira - francesa) –
2013/14; Rita Coelho (terapeuta da fala - portuguesa) – 2013/14; Alexandra
Martins (animadora sociocultural – portuguesa) – 2013/14. A par das muitas
visitas amigas a Itoculo, estão também as “Pontes” dos Jovens Sem Fronteiras de
Portugal durante o mês de Agosto de 2000, 2007 e 2013.).
Paralelamente, os espiritanos
tinham vindo a organizar a abertura de uma nova presença missionária na cidade
de Nampula, contando para isso com o desmembramento da comunidade espiritana de
Itoculo. A partir de Setembro de 2004, os espiritanos, já residindo eme Itoculo,
organizaram-se para criar condições logísticas em Nampula e, entre Setembro e
Outubro, o P. Alberto Tchindemba deixou a equipa de Itoculo para se fixar em
Nampula, assumindo, como pároco, a paróquia de S. João de Deus.
Em 2003, tinha chegado o P.
Guillermo Gil Torres, espiritano do México, que em meados de 2004 foi também
transferido para a comunidade de Inyazónia, na diocese do Chimoio. Desde este
momento até 2006, ficaram em Itoculo, como espiritanos, os Padres Pedro
Fernandes e Damasceno dos Reis. Nesse ano, juntou-se ao grupo o P. Cayetano
Hernandez Micaela, que ficou na missão até Abril de 2009, altura em que foi
transferido para o México. Nesse ano, em Janeiro, chegou o P. Raul Viana e
também nesse ano, em Julho, foi transferido para Portugal o P. Pedro Fernandes.
Outros espiritanos chegaram entretanto, o P. Desmond Arigho da Irlanda
(2011-2012) e o P. Urbain Makimba da RD Congo (2012-2014).
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