EM MOÇAMBIQUE
(3ª Parte)
Alberto Tchindemba
(em França)
5. Reflexão sobre o redimensionamento da presença espiritana
A reflexão sobre uma eventual solução no que diz respeito à questão da coesão e da falta de comunicação entre as duas comunidades foi colocada ao Conselho Geral dois anos depois da nossa chegada a Moçambique. A comunidade de Netia, refletindo sobre o assunto dirigiu-se ao Conselho Geral dizendo: «Constatamos, ao analisarmos a nossa situação nesta diocese de Nacala, que nos encontramos numa das Paróquias mais desenvolvidas e amadurecidas da diocese, que agora começa a poder contar com os seus primeiros padres diocesanos. O critério aqui é atribuir aos padres diocesanos as paróquias “mais fáceis”, melhor preparadas para a autossuficiência. Por essa razão, vários foram os missionários a quem desagradou que a paróquia atribuída aos espiritanos fosse justamente a de Netia. Aliás, a paróquia de Nacarôa (vizinha de Netia e em situação semelhante), fundada e conduzida por combonianos, foi a estes pedida pelo bispo, que agora pretende, num futuro próximo, vir a entregá-la aos padres diocesanos. Tudo isto nos faz pensar que a nossa presença em Netia não deverá ser superior a mais cinco ou seis anos. Nessa altura, prestaremos melhor serviço à diocese se entregarmos a paróquia aos cuidados dos padres locais. Ora, nessa altura, tudo se poderá repensar, já que nada obriga a que os espiritanos assumam outra paróquia nesta diocese. Se a presença espiritana em Moçambique não é para ser muito numerosa, não seria melhor concentrar, nessa altura, as nossas comunidades no centro e sul do país, onde as visitas e contatos entre nós seriam facilitadas?» (Carta da comunidade espiritana de Netia dirigida ao Superior Geral e seu Conselho, 16.04.1998). Salientamos que esta proposta não teve resposta imediata, pois na ótica do Conselho Geral era preciso dar um pouco mais de tempo para amadurecer a ideia do redimensionamento da nossa presença em Moçambique.
Três anos depois da primeira correspondência com o Conselho Geral sobre a possibilidade de deixar a Paróquia de Netia para os padres diocesanos, a comunidade espiritana de Netia dirigia-se ao Superior Geral e seu Conselho dizendo: «Conforme conversámos com o P. Jerónimo Cahinga, a comunidade espiritana de Netia, a partir de diálogo com o D. Germano Grachane (nosso bispo) e o P. John Kingston, está em processo de transferência para Itoculo, uma área missionária vizinha, que aliás já assistimos pastoralmente. Iniciámos já o longo caminho para aí criarmos condições de residência (…)» (Carta da comunidade espiritana de Netia dirigida ao Superior Geral e seu Conselho, 21.09.2001). O Conselho Geral viria aprovar o projeto de Itoculo através do relatório do P. Jerónimo Cahinga depois da visita canónica efetuada ao Grupo Espiritano de Moçambique em 2001: «O Conselho Geral felicita-vos pelo entusiasmo que revelais em relação a esta nova paróquia de Itoculo e encoraja-vos a prosseguir com as obras já iniciadas. O subsídio para a compra do mobiliário está a ser considerado positivamente pelo Ecónomo Geral» (Relatório do P. Jerónimo Cahinga, 30.10.2001).
Depois da aprovação do projeto da abertura de Itoculo, uma nova fase rumo à solução do problema da distância entre as comunidades põe-se em marcha. Partindo das reflexões anteriores sobre a abertura da terceira comunidade espiritana, o Conselho Geral escrevia o seguinte: «O Conselho Geral gostaria de saber um pouco mais concretamente as razões e os objetivos dessa comunidade e onde vos parece (a todos) prioritário colocá-la. O próprio Conselho Geral seria favorável ao estabelecimento de uma tal comunidade na Beira, por ser central em relação a Inhazónia e a Nampula. Essa mesma comunidade poderia assumir a responsabilidade dos candidatos à Congregação ou mesmo dum Postulantado (Carta do P. Jerónimo Cahinga às comunidades de Inyazónia e Netia, 20.05.2003). Esta carta via correio eletrónico do P. Jerónimo Cahinga tinha como objetivo saber o que cada comunidade pensava acerca da abertura de uma terceira comunidade que servia para os interesses do Grupo.
6. Decisão do Conselho Geral para a abertura de uma terceira comunidade
A decisão do Conselho Geral para a abertura da terceira comunidade espiritana seguiu às propostas apresentadas por cada comunidade. Inyazónia defendia que se devia abrir a terceira comunidade na Beira (infelizmente não temos o texto), ao passo que Netia, numa das suas reflexões dizia «Em suma, Nampula poderia ser um excelente compromisso entre os vários desafios e solicitações que nos são colocados: seria uma resposta algo positiva à necessidade de formação no seminário e ao pedido dos bispos; seria uma comunidade espiritana em boa concertação com a comunidade já existente na vizinha diocese de Nacala; seria uma comunidade missionária em consonância com o nosso carisma; ofereceria, em acréscimo, condições ótimas para o acolhimento de Postulantes» (Reflexões da Comunidade Espiritana de Netia sobre a terceira comunidade, 12.06.2003).
Ouvidas as propostas das duas comunidades, o Conselho Geral respondeu: «Sobre a terceira comunidade o Conselho Geral está de acordo que se instale em Nampula, comunidade esta que se dedicaria à pastoral urbana e à formação dos nossos candidatos. Ao mesmo tempo um ou outro membro dessa comunidade poderia eventualmente estar disponível para colaborar com os combonianos no Seminário interdiocesano, a nível de aulas ou outra tarefa que fosse necessário. Aliás esta tinha sido a proposta que o P. Schouver tinha feito ao arcebispo de Nampula, quando este pediu a colaboração da Congregação. Logo em seguida, quando essa comunidade fosse instalada se poderia pensar numa 4ª comunidade mais ou menos próxima da de Inhazónia. Em todo este projeto, porém, procure-se manter a unidade física e psicológica do Grupo» (Carta do Conselho Geral às Comunidades Espiritanas de Inyazónia e Netia, 30.10.2001). Portanto, foi na sequência desta carta que a 18 de Outubro de 2004 deu-se a abertura da comunidade espiritana de Nampula, ficando por abrir a quarta comunidade para servir de apoio à comunidade espiritana de Inyazónia.
Conclusão
À guisa de conclusão queremos dizer que apesar de tudo a missão espiritana em Moçambique vai dando os seus passos, respondendo aos apelos de um povo sedento de Deus. Vários foram os confrades que passaram por Moçambique e que de uma ou de outra maneira deixaram a marca do seu trabalho generoso para o anúncio da Boa Nova.
O Grupo espiritano tem pela frente alguns desafios próprios de um Grupo novo que, cheio de entusiasmo vai dando resposta certa no momento certo. O importante é esperar pelo momento de Deus. Olhando para a nossa dedicação e serviço missionários, estamos certos de que o Senhor nos chama a ficar em Moçambique para partilhar com o povo a alegria de sermos todos irmãos.